Beato Francisco Palau y Quer O.C.D. (1811-1872) |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
para hoje, para amanhã,
e para o fim dos tempos
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
a irrupção de Satanás anunciada no Apocalipse
O bem-aventurado Francisco Palau y Quer O.C.D. nasceu no dia 29 de dezembro de 1811 em Aitona, na província espanhola de Lérida, e faleceu em 20 de março de 1872 esgotado pelo socorro prestado às vítimas de uma epidemia em Tarragona.
Fundou em Barcelona a “Escola da Virtude”, modelo de ensino catequético. Em 1860-61 fundou congregações de irmãos e irmãs carmelitanas terceiras, que deram origem posteriormente às congregações de Carmelitas Missionárias Teresianas e às Carmelitas Missionárias.
Pregou missões populares e difundiu a devoção a Nossa Senhora. Foi beatificado em 24 de abril de 1988. Sua festa litúrgica se celebra em 7 de novembro.
Gruta de Aitona, onde foi ermitão, hoje é local de romaria |
Na Espanha daqueles dias, pronunciar votos religiosos equivalia a atrair o martírio:
“Quando eu fiz minha profissão religiosa, – escreveu anos mais tarde – a Revolução já tinha em sua mão a tocha incendiária para incendiar todos os estabelecimentos religiosos e o temível punhal para assassinar s indivíduos refugiados neles.
“Não ignorava eu o perigo ameaçador a que me expunha, nem as regras de prudência para me subtrair dele, mas me comprometi com votos solenes a um estado, cujas regras acreditava poder praticar até a morte, independente de todo humano acontecimento” (“La vida solitaria”, in Obras Selectas, Ed. Monte Carmelo, 1988, Burgos, 918 págs., pág. 212).
Em 25 de julho de 1835 as turbas republicanas, socialistas e comunistas incendiaram os conventos e as casas religiosas, inclusive o convento do Beato em Barcelona.
Ele teve que partir para o exílio e usou o resto de sua vida o hábito carmelita por baixo de uma batina de padre secular.
Escolheu para morar uma gruta a dois quilômetros de Aitona, hoje conhecida como Cueva del Padre Palau e transformada em santuário mariano.
Mas a perseguição chegou até ali. Ele sofreu atentados de morte e teve que se exilar na França, onde ficou por onze anos até 1851. Na França, a sua fama de santidade se espalhou entre o povo e a nobreza. Isso foi tomado como pretexto para também ser perseguido pelo anticristianismo.
Voltou à Espanha em 13 de abril de 1851.
Nomeado diretor espiritual do seminário diocesano de Barcelona, ele organizou a “Escola da Virtude” na paróquia de Santo Agostinho.
O extraordinário sucesso da Escola em tirar o povo da influência revolucionária anticristã motivou arruaças socialistas e comunistas.
O governo liberal então fechou a Escola e desterrou o Beato Palau para a ilha de Ibiza.
Ali ele permaneceu durante seis anos e fundou uma ermita e um oratório consagradas à Mãe de Deus do Carmo. A igreja hoje restaurada, em sua época foi um centro de romarias na ilha.
É autor de vários livros. No fim de sua vida retornou a Barcelona, após ser inocentando pela Justiça das difamatórias acusações contra ele levantadas.
Mas a Escola da Virtude continuou proibida pelo governo liberal. Logo España entrou em guerra civil. Os religiosos que saíssem na rua com suas batinas ou hábitos podiam ser assassinados.
Então, ele concebeu, dirigiu e foi o principal redator do semanário “El Ermitaño” de categórica posição católica e contrarrevolucionária. Nele publicou até morrer suas reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja. Seus escritos se destacam pelas suas luzes proféticas.
Nos anos finais da vida, o Beato Palau trabalhou muito como exorcista. Até concebeu o projeto de uma Ordem de exorcistas e enviou ao Concilio Vaticano I um amplo escrito sobre o tema.
Muitas das formulações mais caras ao Beato encontram-se incluídas no exorcismo para uso público e privado aprovado por S.S. Leão XIII em 18 de maio de 1890 (Cfr. Acta Sanctae Sedis vol. XXIII, pp. 743-746).
O famoso Pe. Gabriele Amorth, exorcista de Roma recentemente falecido, teria se inspirado no Beato Palau na prática e na apologia do exorcismo.
Em seu jornal “El Ermitaño”, o Beato Palau tratou especialmente dos eventos de sua época.
Ele via os problemas religiosos, políticos, sociais, econômicos – e até tecnológicos – como fazendo parte de um só e imenso movimento que, animado por Lúcifer e seus sequazes, procurava derrubar a Igreja Católica e a ordem social cristã.
Arguto e intenso analista das informações que chegavam a Barcelona através dos telégrafos e dos jornais, ele teceu visualizações da política humana inspiradas pela Fé e pelos seus estudos teológicos às quais é difícil recusar uma inspiração profética.
Sua linguagem, como era usual em seu tempo, utiliza muitas figuras e símbolos.
Por exemplo, no artigo citado a continuação, intitulado “Um cometa”, publicado em 25 de agosto de 1870 em seu boletim “El Ermitaño”.
O cometa simboliza a Satanás livre para fazer ao mundo o dano previsto no Apocalipse:
“Eu vi um cometa, o mesmo cometa, aquele sinal misterioso, sobre o qual fiz tantas reflexões.
Exilado a Ibiza, ia ao rochedo Vedrà o fazer retiro espiritual
“Sua cauda tinha forma de espada, de uma espada de fogo que lançava bolas de fogo em direção à terra.
“Eu fiquei atento olhando para a espada. Horrivelmente fiquei tomado de espanto, porque apareceu uma mão misteriosa que empunhou a espada,
“e na hora pelo orbe inteiro se ouviram hinos de guerra: guerra no mundo oficial político, guerra entre os reis, guerra por razões de interesse puramente material.
“Enquanto eu olhava a mão que empunhava a espada de aço voltada contra a cabeça dos reis, saiu do cometa outra cauda, e apareceu na hora uma outra mão que pegou a cauda do cometa que era toda de fogo e em forma de espada,
“e entre trovões e relâmpagos a espada jogava raios e faíscas contra o globo terrestre, e as duas espadas, batendo entre elas, acendiam sobre a terra a mais encarniçada guerra que os séculos já viram: na política e na religião: uma guerra universal. (...)
“O cometa era um sinal colocado no firmamento do mundo espiritual. Ele joga uma luz que ilumina a história presente e vindoura deste mundo material visível onde acontece a atividade humana. (...)
“A luz desse cometa ilustra o cumprimento desta profecia: ‘Satanás será solto da prisão. Sairá dela para seduzir as nações dos quatro cantos da terra’ (Apoc. cap. XX, 7-8).
“À luz deste cometa se vê a obra de Satanás, aquele mistério de iniquidade que começou a se tramar contra a Igreja, quando Ela estava ainda em seus primórdios.
A obra suprema de Satanás é uma trama contra Cristo e sua Igreja: a Revolução.
“Satanás desencadeado seduziu todos os reis e todos os príncipes da terra; ele voltou suas espadas e cetros contra a Igreja: esta é a sua obra.
“O cometa mostra duas mãos e as duas empunham uma espada, e as duas vão contra Cristo e sua Igreja, e anunciam uma guerra igual à dos primeiros séculos, porém mais horrorosa, sem comparação. (...)
“Satanás desencadeado consumou sua maldade, porque obteve nesta ordem material política a apostasia de todos os reis e governos.
“Eu, o Ermitão, percebendo este fato, peguei dois pedaços de madeira, fiz uma Cruz e escrevi nela Quis ut Deus? (...)
“O cometa significa e desvenda o desencadeamento e a libertação do diabo e, em consequência, a apostasia predita pelo apóstolo: um reino de trevas e de maldade, uma época de incredulidade e de erros.
“O cometa descobre anátema, maldição, morte, guerra anarquia social, dias de luto e pranto; e quando o Ermitão vir este sinal, quer dizer, o diabo desencadeado, vos dirá, e vos repetirá sempre a mesma coisa, certo de que o tempo confirmará a verdade destes fatos.”
Beato Francisco Palau y Quer O.C.D. (1811-1872) |
As suas previsões referentes aos dias de hoje são surpreendentemente detalhadas, abrangentes, fruto de longos estudos dos autores sagrados, Doutores e grandes teólogos da Igreja.
O Beato via os eventos históricos futuros imediatos se desenvolvendo segundo uma sequência fundamental:
1°. A marcha do mundo em direção à dissolução social e ao estabelecimento de uma anti-ordem caótica como fruto de uma Revolução anticristã;
2°. A denúncia dessa Revolução por um enviado de Deus e seus discípulos, seguida da justa punição divina da iniquidade;
3°. A restauração da Igreja e das nações por obra do Espírito Santo e o advento de um período em que as pessoas imbuídas do espírito do Evangelho dariam uma glória a Deus historicamente inigualável. Esse período histórico duraria até o fim do mundo.
instiga uma Revolução análoga na Terra
Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma |
Pe. Gabriele Amorth, famoso exorcista de Roma (1925 - 2016) sobre o Beato Palau:
“Eu procuro seguir a linha iniciada por um santo espanhol, o Beato Francisco Palau, carmelitano, que já em 1870 veio a Roma falar sobre o exorcismo com o Papa Pio IX.
“Voltou depois a Roma durante as sessões do Concílio Vaticano I, para que se tratasse da necessidade de exorcistas.
“Com a interrupção daquele Concílio em razão da tomada de Roma, o assunto sequer foi levantado.”
Lamentava a demolição da moralidade e dos estilos de vida tradicionais, minados pela revolução industrial. Condenava a derrubada das formas tradicionais de governo por constantes golpes políticos.
Não aceitava que todas essas demolições convergentes fossem resultado do acaso. Pelo contrário, a variedade imensa das crises era para ele resultante de uma causa única.
Ele se perguntava se por detrás delas, no comando, não havia alguma inteligência forçosamente diabólica.
Sim, respondia ele, o próprio Lúcifer, que seduziu um terço dos anjos no céu, apoderou-se do coração de uma série de homens-chave na Terra e mais uma vez ergueu a bandeira da revolta.
Esse novo Non serviam (“Eu não servirei”) é a grande causa das crises no mundo, concluía. E essa para ele tinha um nome: “Revolução”.
“O que é a Revolução? – explicou – É hoje na Terra aquilo mesmo que aconteceu no Céu quando Deus criou os anjos: Satanás (...) seduziu todos os reis e governos da terra e com a bandeira ao vento dirige seus exércitos na guerra contra Deus, (...) isto é revolução, isto é anarquia entre os homens e guerra contra Deus” (“Triunfo de la Cruz”, El Ermitaño, Nº 125, 30-3-1871.).
“Satanás é o pai da Revolução – ensinava, parafraseando um célebre escrito de Mons. de Ségur –, essa é a obra dele, iniciada no Céu e que vem se perpetuando entre os homens de geração em geração.
“Por primeira vez após seis mil anos ele teve a ousadia de proclamar diante do Céu e da Terra o seu verdadeiro e satânico nome: Revolução!
Nossa Senhora das Virtudes, grande devoção do Beato Palau
“A Revolução tem como lema, a exemplo do demônio, a famosa frase: não obedecerei! Satânica em sua essência, ela aspira a derrubar todas as autoridades e seu objetivo derradeiro é a destruição total do reino de Jesus Cristo sobre a terra” (“Adentros del catolicismo – abominaciones predichas por Daniel profeta en el lugar santo: Apostasía”, El Ermitaño, Nº 21, 25-3-1869.).
Segundo o bem-aventurado, essa Revolução realiza os anúncios das Sagradas Escrituras relativos à apostasia dos últimos tempos. A análise racional, tranquila e vigorosa dos acontecimentos sociopolíticos contemporâneos o confirmava nesta sua convicção.
No século XIX a humanidade imergia de modo displicente e veloz na anarquia, impelida pelas tendências desordenadas que alimentam a Revolução, especialmente o orgulho e a sensualidade.
Por isso, o Beato Palau concluiu que a dinâmica revolucionaria impulsiona o mundo de modo implacável ao caos e ao desaparecimento da ordem social.
O beato usava como exemplo um acidente ferroviário que abalou seus contemporâneos. Um temporal derrubara uma ponte na Catalunha, e um trem expresso – naquela época símbolo embriagador do progresso industrial – sem saber do acontecido, precipitou-se no abismo durante a noite.
Ele viu no acidente uma parábola do mundo superficial e despreocupado, portador de restos de cultura e religião, sendo conduzido pela Revolução rumo a uma catástrofe que o bem-aventurado desejava evitar, mas que ninguém queria ouvir falar:
“Uma horrorosa catástrofe anunciada pelos profetas, por Cristo, pelos Apóstolos e por todos os porta-vozes mais autorizados do catolicismo. A sociedade atual, conduzida em massa pelo poder das trevas e pelo poder político, subiu num trem.
Guerra Civil Espanhola: um passo na marcha da Revolução
“Mas os maquinistas a levam para os infernos. A estação de onde saiu chama-se Revolução, a próxima estação chama-se Catástrofe Social.
“Agora o trem circula entre uma estação e outra. Os passageiros não pensam, o Ermitão dá berros fortíssimos: ‘Parem, voltem atrás!’.
“Mas essa voz, que é a própria voz do catolicismo, é sufocada pelo ruído do trem. (...) A tempestade levou a ponte. Era noite e o trem que partiu de Gerona ia em frente. Os viajantes não sabiam do perigo, mas a ponte não estava ali.
“As trevas escondiam o risco, até chegar no abismo. A locomotiva deu um pulo e não tinha asas, faltavam os trilhos, só havia o precipício. Ela caiu, arrastando consigo os carros e os passageiros. E as águas os engoliram.
“Eles não acreditaram no perigo, mas ele existia, era verdadeiro, e a incredulidade não os salvou, mas os perdeu.
“Os maquinistas e condutores do trem para onde vai a sociedade atual estão ébrios, perderam o juízo. Não vedes que não acertam uma?
“Descei enquanto puderdes, e jogai-vos nos braços da Igreja vossa Mãe, e assim vos salvareis" ("Catástrofe social", El Ermitaño, Nº 40, 5-8-1869).
Conspiração de Claudius Civilis, Rembrandt (1606 – 1669), Nationalmuseum, Estocolmo |
Ele expunha suas conclusões através de uma linguagem rica em imagens, visando torná-las acessíveis aos leitores de seu jornal “El Ermitaño”.
Assim, ele apresentou uma conversação figurada do personagem principal de sua revista – “o ermitão” – com o próprio Deus, sobre o Concílio Vaticano I, que tantos benefícios trouxe para a Igreja.
Nela, o Beato põe nos lábios de Deus a seguinte explicação:
“Por causa da corrupção dos costumes [Satanás] se introduziu no Sancta Sanctorum e, enquanto comanda todos os reis e poderes políticos da terra em batalha contra Mim desde o exterior da Cidade Santa, paralisa de dentro a minha ação, entorpece minhas empresas e frustra meus projetos” (“Roma vista desde la cima del monte”, El Ermitaño, Nº 58, 9-12-1869).
Entre os instrumentos desta ofensiva interna contra a Igreja ele apontava uns estranhos “sacerdotes” do demônio:
“Alguns destes homens e mulheres exibem uma virtude religiosa aparente, vão se confessar, ouvem a missa, comungam com frequência, mas o que há com eles? Horror!
“Recolhem as formas eucarísticas, levam-nas para casa e as apresentam em sessões satânicas para serem espezinhadas. Esses são os Judas dentro do próprio santuário, que introduziram os demônios no local onde não tem direito, e encheram o templo de Deus de abominações” (“El maleficio”, El Ermitaño, Nº 103, 27-10-1870).
Sabat das bruxas. Francisco Goya (1746 – 1828),
Museu del Prado, Madri
“Satanás entrou no santuário – acrescentava o religioso carmelitano – e o encheu de abominações, sustentado por poderes que se intitulam católicos, e que de dentro do próprio santuário fazem guerra contra nós, uma guerra atroz, a mais perigosa que a Igreja já teve que enfrentar. (...)
“(...) porque ao inimigo convém nos combater a partir de dentro da fortaleza, e por isso ele usa a roupagem e o nome de católico, e com essa fachada se apresenta em certos atos religiosos para fascinar as turbas e criar confusão até no céu” (“Campamento de epidemia en Vallcarca”, El Ermitaño, Nº 99, 29-9-1870).
Em 1968, S.S. Paulo VI afirmou que “a fumaça de Satanás entrou no lugar sagrado” (Discurso ao Pontifício Seminário Lombardo, 7-12-68, Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, 1968, vol. VI, p. 1188; e Homilía “Resistite Fortes in fide”, 29-6-1972, ibid., 1972, vol. X, p. 707).
Cem anos antes, o bem-aventurado carmelita já denunciava com horror esta infiltração na Igreja.
Esse grandioso local ficou associado à santidade e à visão profética do santo carmelita a respeito de sua época, de nossos dias e do fim do mundo.
Judas negocia a traição de Jesus, Giotto |
Em numerosas ocasiões, o bem-aventurado alude à existência de um “Judas” enquistado na Igreja.
Com esta expressão ele não se referia a um indivíduo em particular, mas a uma espécie de estirpe espiritual que ao longo dos séculos trabalha dentro da Igreja contra Ela.
Segundo ele, essa linhagem do mal se manifestou de modo patente em certos heresiarcas, mas na maior parte do tempo agiu em segredo, escondida da massa do clero e dos fiéis.
No quê consiste essa estirpe? Como entrou na Igreja sacrossanta? Como pôde manter-se n’Ela? Como age? Qual é o seu sinal distintivo?
O santo religioso não se estendeu muito em pormenores históricos. Ele via, porém, que ao longo dos séculos sempre houve manobras diabólicas para infiltrar agentes e organizá-los dentro da Igreja.
O primeiro instrumento foi o próprio Judas Iscariotes, que dá o nome a esta estirpe do mal.
Mas o Iscariotes acabou se autodenunciando quando vendeu o Cordeiro Imaculado ao Sinédrio.
Porém, poucos anos depois, nos tempos apostólicos, este filão da perdição já estava agindo.
É o que diz São João em sua primeira epístola:
“18. Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora.
“19. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isto se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos.” (I Jn, II, 18-19)
O Apostolo amado acrescenta que “o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, já está agora no mundo”. (I Jn, IV, 3)
Simão o Mago subia aos céus e São Pedro (de joelhos) o fez se espatifar no chão na presença do imperador Nero (no trono). São João faz o sinal da cruz. Bennozo Gozzoli |
O bem-aventurado carmelita atribui a gestação dos erros e desordens na Igreja a esta estirpe de Judas:
“Judas e o diabo se combinaram contra Cristo, mas os dois foram expulsos do colégio apostólico. (...) o diabo buscou então portas para entrar no seio do catolicismo, e as encontrou nos heresiarcas. As portas lhe foram abertas pelos próprios cristãos que lhe entregaram as chaves da incredulidade e da corrupção das doutrinas.
“Agora ele está dentro. Desejais vê-lo? Entrai, e o que vereis?
“Vereis homens que se intitulam católicos, mas blasfemam como demônios e perseguem com furor o catolicismo. (...)
“Vereis o diabo dentro do próprio santuário, desafiando a onipotência de Deus com blasfêmias proferidas diante de seus altares.
“Vereis no povo católico as abominações prenunciadas por Daniel profeta. Vereis o anticristianismo instalado no poder.
“Vereis que o diabo se introduziu no lugar sagrado, e corrompe, perverte, tenta, prova” (“El suicidio”, El Ermitaño, Nº 87, 7-7-1870).
O Beato punha na boca de um demônio as seguintes palavras, falando desta linhagem de heréticos:
“Nossa obra que com tanta cautela urdimos desde Judas traidor até esta data, encobrindo o plano com que foi concebida e que com sumo prazer vemos consumada na apostasia de todas as nações” (“Un misterio de iniquidad”, El Ermitaño, Nº 111, 22-12-1870).
Martinho Lutero, máscara mortuória
Esse plano – segundo a profética previsão do frade carmelitano – iria atingir sua plenitude por uma misteriosa permissão divina:
“Ermitão, (...) escuta: deixa que o diabo e o ímpio completem o mistério de iniquidade que ele iniciou dentro do próprio santuário com Judas traidor” (“Adentros del catolicismo”, El Ermitaño, Nº 21, 25-3-1869).
Contra essa pérfida linhagem lutaram os grandes santos da Igreja, sem nunca terem conseguido extirpá-la completamente.
São Pio X, na célebre encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 8 de setembro de 1907, condenou com luxo de detalhes a conspiração dos heréticos modernistas, antecessores diretos dos atuais progressistas.
A descrição feita pelo Santo Pontífice da conjuração modernista concorda admiravelmente com a ideia que o Beato Palau havia formado dessa sibilina estirpe de Iscariotes:
“Os fautores do erro – ensina São Pio X – já não devem ser procurados entre os inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.
“Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, blasonam, postergando todo o comedimento, de reformadores da mesma Igreja;
São Pio X denunciou a conspiração modernista,
mas não teve tempo para extinguí-la
“e cerrando ousadamente fileiras se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à craveira de um puro e simples homem. (...)
“Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja.
“Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem.
“Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado. (...)
“(...) continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar (...) com tal dissimulação que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há consequências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos (...)
“Acrescente-se-lhes ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera.
“Finalmente, e é isto o que faz desvanecer toda esperança de cura, pelas suas mesmas doutrinas são formadas numa escola de desprezo a toda autoridade e a todo freio; e, confiados em uma consciência falsa, persuadem-se de que é amor de verdade o que não passa de soberba e obstinação” (São Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis).
Beato Francisco Palau y Quer O.C.D. (1811-1872) |
O bem-aventurado Francisco Palau y Quer O.C.D. nasceu no dia 20 de dezembro de 1811 em Aitona, na província espanhola de Lérida, e faleceu em 20 de março de 1872 socorrendo as vítimas de uma epidemia em Tarragona, Espanha.
Fundou em Barcelona a “Escola da Virtude”, modelo de ensino catequético, e em 1860-61 as congregações de irmãos e irmãs carmelitanas terceiras, que deram origem às congregações de Carmelitas Missionárias Teresianas e às Carmelitas Missionárias.
Pregou missões populares e difundiu a devoção a Nossa Senhora. Foi beatificado em 24 de abril de 1988. Sua festa litúrgica se celebra em 7 de novembro.
O Beato Palau professou seus votos na Ordem do Carmo em 15 de novembro de 1833, tempo de perseguição religiosa.
Em 25 de julho de 1835 as turbas republicanas, socialistas e comunistas incendiaram os conventos e as casas religiosas, inclusive o convento do Beato. Ele se exilou numa gruta conhecida como Cueva del Padre Palau que hoje é santuário mariano objeto de romarias.
Mas tendo ali sofrido atentados de morte, ele partiu para o exílio na França, onde residiu por onze anos, até 1851, e sua fama de santidade atraiu a perseguição do laicismo anticristão.
Voltou à Espanha em 13 de abril de 1851. Nomeado diretor espiritual do seminário diocesano de Barcelona, ele organizou a “Escola da Virtude” nos bairros operários.
O extraordinário sucesso da Escola para tirar o povo da influência revolucionária anticristã motivou arruaças socialistas e comunistas.
O governo liberal desterrou então o Beato Palau para a ilha de Ibiza, onde residiu durante seis anos e fundou um eremitério consagrado a Nossa Senhora das Virtudes, primeiro santuário mariano da ilha.
Autor de vários livros, no fim de sua vida criou e foi o principal redator do semanário “El Ermitaño”, onde publicou suas reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja.
Seus escritos se destacam pelas luzes proféticas. Sua linguagem utiliza muitas figuras e símbolos.
Também no fim de vida o Beato fez muitos exorcismos. Até concebeu o projeto de uma mobilização em massa do clero para exorcizar os demônios que possuem o mundo. Enviou ao Concilio Vaticano I uma raciocinada petição sobre o tema.
Em “El Ermitaño” o Beato Palau tratou dos eventos de sua época, do futuro e do fim do mundo.
Ele via os problemas religiosos, políticos, sociais, econômicos – e até os tecnológicos – como fazendo parte de um só e imenso movimento que, animado por Lúcifer e seus sequazes, procurava derrubar a Igreja Católica e a ordem social cristã.
Arguto e intenso analista das informações que chegavam a Barcelona através de jornais e telégrafos, ele teceu panoramas inspirados pela Fé e pela teologia nos quais é difícil recusar a inspiração profética.
O bem-aventurado Palau julgava que o conhecimento da Revolução, de sua existência, suas metas, seus métodos e agentes, é a chave para decifrar o aparentemente tão caótico acontecer moderno.
Ele dizia que se não se considerasse a realidade à luz dela, perder-se-ia a noção do que se está dando em torno de nós.
Mas seus contemporâneos mal viam a Revolução. Esta tinha cegado suas vítimas, estava se apossando dos poderes temporais e espirituais e imprimia o rumo dos fatos na terra. Explicava ele:
“o miserável mortal não vê (...) que há uma combinação para o mal, (...) sustentada e defendida por todos os poderosos da terra, animados, dirigidos e ordenados sob as ordens de um só príncipe, que é o diabo.
“Não vê esse anjo revolucionário que, executando um plano coerente que vai percorrendo os séculos, conseguiu fazer-se coroar com a glória e o poder de todos os reis do mundo civilizado” (“El reino de Satán sobre la tierra”, El Ermitaño, Nº 32, 10-6-1869).
O bem-aventurado deplorava que as boas iniciativas sofressem frustrações uma após outra. A causa disso radicava em que os seguidores das causas justas não atinavam para a unidade e a universalidade da Revolução:
“O que é a revolução da Espanha? – Um chifre, uma coroa sobre uma das sete cabeças do dragão infernal, essa cabeça se tornou visível nos atos de demolição e destruição de toda a ordem social; (...)
“essa cabeça vai formando um mesmo corpo de delito com as demais nações, formando em todas elas uma maldade única, um exército único, um só dragão, uma coisa só, e essa unidade e sustentada pelo príncipe tenebroso” (id. ibid).
“Se a revolução da Espanha é olhada segundo os cálculos da política, seu triunfo não tem explicação. Se julgamos com as leis da prudência humana aquilo que noticia a imprensa, tudo aparece tenebroso, incerto e movediço.
“Porém, se consideramos que a Revolução está combinada desde séculos passados com a da Itália, com a da França, com a dos protestantes, (...) nossos juízos e cálculos serão mais acertados e proveitosos” (“España: la esperanza de los católicos”, El Ermitaño, Nº 10, 7-1-1869).
Queda dos anjos rebeldes, detalhe. Pieter Bruegel "O Velho" (1525/1530 — 1569), Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica, Bruxelas. |
Tampouco é um fenômeno apenas prático surgido do nada ou do jogo dos interesses da política e da economia humanas.
Ela é o resultado de um longo processo histórico que tem profundas raízes teológicas e morais.
É uma tentativa de revanche do príncipe das trevas contra a obra inefável da Redenção da humanidade decaída com o pecado original, a qual nos obtida pelo Filho de Deus no alto do calvário.
Ele explicava que o fruto específico da Redenção foi a conversão de numerosos povos à verdadeira religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Oriente e no Ocidente.
Porém, vista desde a perspectiva anticristã, a Redenção pratica um “roubo” ao império de Satanás.
Então, ele não podia fazer outra coisa senão “recuperar” seu reino de perdição. Foi quando excogitou a Revolução na Terra.
A Revolução é o assalto de Satanás contra a Igreja e a Cristandade |
Retrospectivamente, o Beato Palau identificava quatro grandes ofensivas históricas sucessivas perpetradas pelo inferno contra a Igreja e a Civilização Cristã, visando erradicar os efeitos abençoados da Redenção.
1. A primeira consistiu no islamismo. Por meio dele, o inimigo da humanidade conseguiu arrebatar da Igreja a Terra Santa e enormes extensões cristianizadas da Ásia e da África.
Essa ofensiva continua, mas como não conseguiu completar sua meta na História por meio dela, o demônio desencadeou uma ofensiva diversa.
2. A segunda grande ofensiva foram os cismas – principalmente o grego –, que desgarraram da Igreja colossais setores da Cristandade outrora pertencentes ao império greco-bizantino com sede em Constantinopla e a totalidade da Rússia.
Salvo gloriosas exceções, o Oriente evangelizado sucumbiu aos assaltos. Porém ainda ficava o Ocidente.
3. Veio então o terceiro grande assalto infernal. A ponta de lança foi o protestantismo, que arrastou na sua revolta a maior parte da Europa do Norte e importantes setores da Europa Central.
Sem embargo, nações católicas como a França, a Itália, a Espanha, a Áustria e outras resistiram.
4. A ofensiva final começou com a Revolução Francesa de 1789, que é um desdobramento do protestantismo na ordem política e social.
Essa Revolução teve como filho o malfadado movimento socialo-comunista, o qual, por sua vez, deverá preparar o caos final que é o ambiente em que se manifestará o Anticristo.
“[1º] no século VI – explicou o bem-aventurado – Satanás saiu de seu cárcere em pé de guerra e apresentou batalha contra a Igreja. Fundou o império da Turquia. (...)
Na batalha das Navas de Tolosa, os reis espanhóis
conseguiram segurar a ofensiva islâmica com sobrenatural vigor militar
[2º] Depois desse combate, Satanás apresentou outro sob forma diversa. (...) Tendo-se adentrado no próprio santuário, promoveu um cisma. (...) então o Oriente se separou da Igreja latina e sobre essas ruínas ergueu seu segundo império ainda mais terrível que o primeiro, quer dizer, o da Rússia.
[3º] Satanás passou despercebido nessas duas primeiras batalhas e preparou um terceiro ataque contra o centro da Europa católica. Lutero foi o escolhido; (...) o protestantismo erigiu no seio da Europa o terceiro império de Satanás (...)
[4º] Triunfante nessas três batalhas, montou o quarto ataque. A Itália, a Espanha, a França: essas três nações tinham se salvado, e a Áustria ainda não havia sucumbido. (...)
“o catolicismo ainda se mantinha firme sobre essas quatro colunas. Satanás organizou todas suas legiões e deu o assalto. E depois da luta mais sangrenta jamais vista, ele venceu.
“Sobre as ruínas da Igreja na França apareceu no fim do século passado [N.T.: século XIX] uma bandeira: e era aquela mesma que ondejou no Céu sobre as cabeças das legiões revolucionárias: Guerra a Deus! Revolução!” (“Una ilusión funesta”, El Ermitaño, Nº 156, 2-11-1871).
Paris incendiada pelos "communards" (adeptos do comunismo) em 1871. |
Mas entre a terceira, a quarta e suas derivadas, a conexão é patente, segundo o bem-aventurado. Ele considerava o protestantismo como o verdadeiro pai da Revolução Francesa e esta a verdadeira mãe do comunismo.
E via que no futuro – portanto hoje, nos presentes dias – o comunismo geraria o caos universal, preparando a vinda do Anticristo.
Ele explicou essa geração progressiva de revoluções comentando o esmagamento da Comuna de Paris – primeira revolução comunista da História – pelas tropas republicanas:
“Desaparecerão de Paris os Vermelhos, mas ela [N.R.: a Revolução] tornar-se-á rainha e senhora dos vencedores, adorada por todos os que na aparência a combatem.
“Por acaso o vermelho [N.R.: o comunismo] e o tricolor [N.R.: o seguidor da Revolução francesa] não são filhos de uma mesma mãe?
“Essa mãe cruel que queima vivos seus filhos não é a Revolução Francesa de 1793, concebida no século XV pelo protestantismo alemão?” (“La Revolución en París”, El Ermitaño, Nº 135, 8-6-1871).
Profanação das igrejas durante a Comuna (1ª revolução comunista) de Paris |
“A Revolução que estourou na França acaba de receber um golpe, à primeira vista mortal.
“Mas não é assim: a Revolução tem cabeça de serpente, que permanece oculta, escondida nos clubes maçônicos, e desde ali ataca toda autoridade visível.
“Como lei fundamental, a Revolução não tem rei nem cabeça, porque seu rei e sua cabeça é o diabo.
“O diabo encarnado no protestantismo alemão, vendo que Napoleão III dava forma de império à Revolução sua filha (...) invadiu a França e com pasmo e admiração do orbe inteiro, num abrir e fechar de olhos pôs a rodar pelo chão estrangeiro essa cabeça [N.T.: de Napoleão III] e agora apresenta sua obra tal como ela é. Isto é, sem cabeça, sem rei, com a forma que ele lhe deu quando nasceu em 1792” (“La causa de la religión: defensa”, El Ermitaño, Nº 126, 6-4-1871).
Na reunião da quase totalidade dos chefes de governo do mundo na Rio+20 (2012) cerimônias esotéricas para atrair "energias escuras" sobre os políticos reunidos |
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“Dominados os reis, as massas do povo indo atrás de seus governos, resulta que neste mundo político material visível voltou a se constituir o paganismo antigo, embora acomodado em sua forma à especialíssima situação da época” (“Relaciones entre los espíritus y el hombre”, El Ermitaño, Nº 117, 2-2-1871).
Essas afirmações podiam parecer ousadas no século XIX, que avançava alegremente deslumbrado pelo progresso das invenções. Mas ainda não se proclamava abertamente o culto de Gaia – a deusa terra dos ecologistas.
Tampouco se generalizavam, como agora, os sombrios cultos pagãos do Oriente – budismo, hinduísmo etc. – nem as práticas e crenças supersticiosas ou fetichistas de tribos africanas ou americanas sob o rótulo de uma Nova Era.
E os arraiais “católicos-progressistas”, missionários comuno-tribalistas ou carismáticos, não andavam em busca de “novas formas” de oração ou energias vindas das profundezas, ou nas tribos mais primitivas da Amazônia!
Para o Pe. Palau, adotar os decadentes cultos pagãos representa uma apostasia radical do doce jugo de Nosso Senhor Jesus Cristo. E o bem-aventurado comparava essa deserção de massa a um novo deicídio executado na pessoa da Igreja:
“As nações (...) disseram oficialmente pela boca de seus representantes: ‘não reinarás’. Disseram isso a Cristo e à sua Igreja, a Cristo e ao Papa, o dizem ao catolicismo e, abusando de seu poder e autoridade, expulsam ignominiosamente de seu seio, isto é, do mundo oficial, a Esposa do Cordeiro Imaculado. (...)
“Não é isto um matricídio? Sim. É um matricídio cem vezes mais feio e abominável que o deicídio cometido pelos judeus” (“Adviento de 1871”, El Ermitaño, Nº 161, 7-12-1871).
Dom Cristian Contreras, bispo de Melipilla (Chile), ajoelhado diante do altar com os sacrifícios oferecidos por um bruxo andino à Pachamama, 17 de janeiro 2015 |
Renunciar à luta contra a Revolução ou se omitir equivale a se render ao mundo, ao demônio e à carne, a abandonar a Igreja num lance decisivo:
“Pois não é possível transigir nem concordar, salvo para nos prepararmos uns e outros para um golpe decisivo. Entre estes dois extremos não há meio termo: ou a Revolução acaba com o catolicismo, ou este devora a Revolução” (“Cuento de mi sombra”, El Ermitaño, Nº 28, 13-5-1869).
Desde um prisma meramente material, a Revolução parece obra de minorias ativas, capazes de remover com astúcia e vigor que excedem as forças naturais, os obstáculos que encontra em seu caminho.
Se assim fosse – perguntava o Pe. Palau – como explicar que minorias revolucionárias possam impressionar e mudar o destino de nações inteiras?
Como interpretar a espécie de fatalidade e as estranhas coincidências e casualidades que sistematicamente, nos momentos decisivos, se voltam contra as boas iniciativas e favorecem as piores?
O efeito não pode ser maior que a causa e a fatalidade não existe.
Logo, concluía, devem existir potências impalpáveis muito superiores ao homem que influenciam decisivamente as vitórias da Revolução.
Sem elas, os agentes revolucionários não perpetrariam seu labor demolidor com a velocidade e a sincronização com que o fazem:
“Há entre nós, – explicava – residindo no próprio ar que respiramos, um vastíssimo império, cujos príncipes reconhecem um rei, e é um rei absoluto. (...)
“são espíritos puramente tais, inteligências que subsistem como o homem, mas independentemente da matéria, superiores ao homem em força física e espiritual, considerando o homem enquanto ser puramente natural. Excedem ao homem em ciência, inteligência, malícia e astúcia. (...)
“o homem que vive na terra, desde que apostata de Deus e da Igreja Católica, forma com esses seres espirituais família, povo, nação, império, transformando-se em súdito de seu poder.
“Esses homens, apóstatas de Deus, soldados de Satanás, em união com os demônios, constituem na terra o reino visível da maldade que chamamos mundo. (...)
“os príncipes e potestades superiores regem a partir dos ares os reis da terra que se renderam a eles pela apostasia, e os conduzem a uma anarquia completa, a uma dissolução social universal, e à guerra contra Cristo e sua Igreja” (“El reino de las tinieblas”, El Ermitaño, Nº 122, 9-3-1870).
Do ponto de vista natural, não faz sentido que as obras revolucionárias se mantenham em pé, desafiando as leis da natureza, observava o P. Palau.
A anarquia deveria produzir desabamentos irreparáveis na Babel revolucionária. Porém, esta sobe, sempre mais caoticamente, escarnecendo toda lógica e razão:
“Esses poderes políticos – perguntava – que impuseram aos povos um jugo tão pesado, (...) quem lhes dá esse poder?
Estátua de Satanás concebida para ser montada em local aberto
diante da prefeitura de Oklahoma City nos EUA
“Que força os sustenta, não um, mas muitos anos, escravizando, destruindo, desorganizando, dissolvendo até a ordem da natureza?
“Como podem prevalecer na Espanha 200 mil homens em pugna contínua contra 18 milhões?
“Como a massa de povos não se levanta qual mar enfurecido e afunda essa frágil piroga onde navegam uns quantos homens tidos em abominação e execração pela multidão?
“Explicai-me este enigma. Sem a fé católica é impossível! (...)
“Esses homens famosos, (...) que vemos à testa da Revolução na Espanha, na Itália e na França, formam um só corpo moral, um só exército, um só e mesmo império com aqueles anjos rebeldes que no Céu empíreo fundaram a Revolução.
“A única diferença é que essas inteligências, por serem superiores ao homem que venceram, são as potestades e os poderes verdadeiros que dirigem essa guerra.
“E o homem alucinado pela sedução é um instrumento que serve para a execução de projetos combinados muitos séculos atrás por esses espíritos de maldade” (“La causa de Don Carlos”, El Ermitaño, Nº 78, 5-5-1870).
O bem-aventurado esclarecia que nem todo e qualquer sequaz da Revolução entra em contato explícito e formal com demônios que se apresentam enquanto tais.
Pelo contrário, um importante número de revolucionários se horrorizaria, e talvez abandonaria a Revolução, caso lhes fosse proposto semelhante relacionamento.
Por isso o bem-aventurado afirmava que os espíritos das trevas se comunicam diretamente apenas com um número restrito de líderes da Revolução.
Esses geralmente não aparecem dirigindo a política, mas submetidos a essas inteligências tenebrosas e respaldados por seu influxo ativo, comandam a Revolução com maligna precisão.
Para o bem-aventurado, essa categoria seleta e oculta constitui uma espécie de sacerdócio da Revolução. E age como uma caricatura monstruosa e antagônica do único sacerdócio verdadeiro, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Assim como o Verbo encarnado tem seus sacerdotes e um pontífice para se relacionar oficialmente e se comunicar por seus órgãos aos povos e nações, [assim também] os demônios, nossos adversários, têm estabelecido (...) uma espécie de sacerdócio para entrar por meio dele em relação oficial com a sociedade humana” (“Programa del Ermitaño”, El Ermitaño, Nº 33, 17-6-1869).
"A festa das bruxas", detalhe. Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828)
Museu de Lázaro Galdiano, Madri, Espanha.
Para a Revolução, esta categoria de súditos tem importância análoga à dos magos do paganismo.
“Destruída a idolatria – escreveu o beato – e levantada publicamente a religião católica das ruínas, os demônios conceberam outro plano de ataque contra a Igreja.
“Não lhes convinha apresentar seu sacerdócio de público e oficialmente, porque não seria tolerado pelo poder da Igreja. Foi assim que começou a fundação do maçonismo. (...)
“Conveio aos desígnios de Satanás esconder o seu sacerdócio; não tendo ele cor oficial, assumia e assume formas várias e esconde o seu operar nas trevas da noite, lá dentro das cavernas da terra.
“Então as pessoas não acreditam que existem e não os conhecem, e seu agir está a coberto do braço da lei e da autoridade.
“Existem falsos sacerdotes, falsos doutores e escritores, existem agora mais do que nunca maléficos magos que dispõem de exércitos invisíveis que matam, envenenam, corrompem, seduzem e pervertem” (“El maleficio”, El Ermitaño, Nº 103, 27-10-1870).
O Beato Palau sofreu atroz perseguição das forças das trevas, angélicas e humanas. Teve larga experiência pastoral com as possessões |
Suas manobras políticas ou sociais embutem bruxedos que funcionam como anti-“sacramentos” revolucionários, portadores de uma influência de Satanás.
O Ritual Romano (Rituale Romanum, Titulus XI, caput I, De exorcizandis obsessis a daemonio, n. 20, Desclée et socii, Romae-Tornaci-Parisiis, 1926, p. 446) adverte que nos casos de malefícios, possessões e práticas mágicas, o mago ou a feiticeira manda entregar à vítima algum fetiche ou objeto embruxado.
A esse objeto está unida tal o qual influência diabólica. Certos chefes revolucionários que estão em contato com os demônios recorrem a práticas análogas.
Mas eles não se servem de feitiços vulgares. Em lugar disso, a influência diabólica está ligada a leis ou normas anticristãs ou antinaturais.
Isso não é de espantar. Por exemplo, em nossos dias, Lucien Greaves, porta-voz do grupo Satanic Temple dos EUA, reivindicou o “casamento” homossexual como um “sacramento” da religião diabólica, segundo informou o site LifeSiteNews.
Assim explicava o bem-aventurado Palau:
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
“Se o malfeitor é um homem da política, (...) eis o malefício político. Consiste ele em danificar não o indivíduo ou a família, mas diretamente uma nação inteira.
“Como? Por meio de leis ímpias, bárbaras, que despojam a nação de tudo quanto há nela de santo e sagrado. Desses centros procedem os decretos emitidos contra os prelados, contra as Ordens religiosas, contra a religião. (...)
“o malefício político tem o apoio do poder dos demônios de hierarquia superior. (...) o malefício político é o mais terrível porque pega em massa uma ou mais nações, o mundo inteiro” (“El dogma católico con referencia a la redención de la sociedad actual”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
Nas camadas mais subterrâneas do “sacerdócio” revolucionário, a entrega da alma ao demônio é voluntaria:
“Nesta associação abominável o segredo de tudo quanto se pratica é imposto sob pena de morte, sendo os demônios encarregados de castigar o perjuro. O sigilo raras vezes é rompido.
“Esses homens e essas mulheres são uma espécie de energúmenos, mas voluntários, e porque já em vida fizeram entrega de sua alma, corpo, pessoa e bens ao diabo, é raro o caso de que algum deles possa se converter a Deus” (“Relaciones entre los espíritus e el hombre”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
O P. Palau identificava o centro desse sacerdócio na atividade de sociedades secretas.
O Beato Pio IX alertou muitas vezes sobre as conspirações secretas contra a Igreja |
O Papa Leão XIII, de feliz memória, resumiu o ensino dos Papas sobre a maçonaria nos seguintes termos:
“’Dois amores formaram duas cidades: o amor de si mesmo, atingindo até o desprezo de Deus, uma cidade terrena; e o amor de Deus, atingindo até o desprezo de si mesmo, uma cidade celestial’ [Santo Agostinho].
“Em cada período do tempo uma tem estado em conflito com a outra, com uma variedade e multiplicidade de armas e de batalhas, embora nem sempre com igual ardor e assalto.
“Nesta época, entretanto, os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo, e estar combatendo com veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada e difundida chamada os Maçons.
“Não mais fazendo qualquer segredo de seus propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus.
“Eles estão planejando a destruição da santa Igreja publicamente e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade, se isso fosse possível, das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador. (…)
“Os Pontífices Romanos nossos predecessores, em sua incessante vigilância pela segurança do povo Cristão, foram rápidos em detectar a presença e o propósito desse inimigo capital tão logo ele saltou para a luz ao invés de esconder-se como uma tenebrosa conspiração; e, além disso, eles aproveitaram e tomaram providências, pois a eles isso competia, e não permitiram a si mesmos serem tomados pelos estratagemas e armadilhas armadas para enganá-los.
“A primeira advertência do perigo foi dada por Clemente XII no ano de 1738, e sua constituição foi confirmada e renovada por Bento XIV.
“Pio VII seguiu o mesmo caminho; e Leão XII, por sua constituição apostólica, Quo Graviora, juntou os atos e decretos dos Pontífices anteriores sobre o assunto, e os ratificou e confirmou para sempre. No mesmo sentido pronunciou-se Pio VIII, Gregório XVI, e, muitas vezes, Pio IX.
“Tão logo a constituição e o espírito da seita maçônica foram claramente descobertos por manifestos sinais de suas ações, pela investigação de suas causas, pela publicação de suas leis, e de seus ritos e comentários, com a frequente adição do testemunho pessoal daqueles que estiveram no segredo, esta Sé Apostólica denunciou a seita dos Maçons, e publicamente declarou sua constituição, como contrária à lei e ao direito, perniciosa tanto à Cristandade como ao Estado; e proibiu qualquer um de entrar na sociedade, sob as penas que a Igreja costuma infligir sobre as pessoas excepcionalmente culpadas.
“Os sectários, indignados por isto, pensando em eludir ou diminuir a força destes decretos, parcialmente por desprezo, e parcialmente por calúnia, acusaram os soberanos Pontífices que os passaram ou de exceder os limites da moderação em seus decretos ou de decretar o que não era justo.”
(Leão XIII, Encíclica Humanum Genus, 20 de abril de 1884, apud Acción Católica Española, Colección de Encíclicas e documentos pontificios, 4ª ed., Publicaciones da Junta Técnica Nacional, Madrid, 1955, LXI+1644+351 págs., págs 36 e ss. No site do Vaticano).
“Nos antros tenebrosos das lojas, os franco-maçons constituem com os demônios uma família e uma sociedade, comunicando-se com eles sob mil formas e meios.
“O diabo-rei está com o Grande Oriente à testa da franco-maçonaria como Cristo com Pio IX à frente de toda a Igreja: Pio IX é a cabeça visível da Igreja, e Cristo é a cabeça invisível.
“O Grande Oriente é a cabeça visível do império do mal, e o diabo-rei é sua cabeça invisível. Não há soberano na terra que não esteja iniciado nos segredos da franco-maçonaria” (“Milagros del espiritismo”, El Ermitaño, Nº 138, 29-6-1871).
Também de modo mais difuso, porém mais perceptível ao homem comum, dito “sacerdócio” se exerce através das práticas supersticiosas e mágicas que procuram entrar em contato com espíritos do além.
Estas últimas apresentavam no século XIX formas que hoje se metamorfoseiam. E também incluem a camaleônica proliferação de satanismo, com rótulos genéricos como New Age e suspeitas “medicinas alternativas”.
“O espiritismo – dizia o bem-aventurado – é o sacerdócio do paganismo moderno, e seus apóstolos fazem coisas deveras prodigiosas. Entre outras, têm o poder de curar, não pela graça, mas um poder comunicado por Belzebu, príncipe de todos os demônios” (id. ibid.).
Monumento público ao Anjo Caído, Madri, Espanha |
Em geral, os que se apossam dos corpos humanos pertencem a categorias menos relevantes.
Os demônios de um grau superior tomam conta de figuras revolucionárias de destaque como, por exemplo, Lutero, Robespierre ou Lenine.
Por fim, a terceira e pior categoria está em conúbio com os máximos dirigentes da Revolução, que habitualmente agem despercebidos do comum dos homens e inclusive de muitos revolucionários.
“Eu vejo – explicava – todas as forças inimigas divididas em três grandes corpos de exército: cada um dele dispõe de milhões de combatentes.
“Um deles está alojado nos corpos humanos, (...)
“Outro corpo de exército ocupa (...) as altas regiões da política. Destronados todos os Reis católicos, seus tronos estão ocupados por homens possuídos pelo diabo (...)
“Há outro exército, que é o que dirige os dois primeiros. Seu quartel-general está montado numa sociedade de homens que se intitulam espíritas, ou com o nome de magos e maléficos. (...)
“Os demônios (...) dirigem desses clubes maçônicos todas suas forças engajadas na batalha contra Cristo e sua Igreja” (“Crónica del teatro de la guerra”, El Ermitaño, Nº 85, 23-6-1870).
A experiência pastoral, especialmente a prática de exorcista, permitia ao B. Palau denunciar com documentos e exemplos concretos essa colusão de homens e demônios.
Em numerosos artigos de “El Ermitaño” estão descritos exorcismos praticados pelo Beato Palau com confissões dos demônios possuidores, e/ou a transcrição de pactos com Satanás.
A consideração do recurso revolucionário aos demônios em nada desanimava o bem-aventurado que, acreditava firmemente que os anjos da luz combatem do lado do bem.
Tais anjos, além de seus incalculáveis poderes naturais, são portadores da graça divina.
E acima deles o Beato Palau venerava a Santíssima Virgem, Rainha dos Anjos e general supremo, que ordena as milícias celestes a iniciarem os movimentos para o esmagamento da Revolução, de seus chefes e sequazes.
Se os fiéis se voltarem para Ela e para as coortes celestes invocando o seu socorro, terão aliados invencíveis.
As mencionadas associações mais ou menos secretas estavam amplamente disseminadas e articuladas na sociedade civil, a partir da qual se introduziram na esfera eclesiástica.
Detalhe do Juízo Final. Stefan Lochner (1410-1451), Wallraf-Richartz-Museum, Colônia |
“Pela corrupção dos costumes [Satanás] entrou no Sancta Sanctorum, e enquanto dirige todos os reis e poderes políticos da terra em batalha contra mim lá no lado de fora da cidade santa, de dentro de meu próprio alcácer paralisa minha ação, entorpece minhas empresas e frustra meus projetos” (“Roma vista desde la cima del monte”, El Ermitaño, Nº 58, 9-12-1869).
Referindo-se aos aludidos “sacerdotes” do demônio, escreveu:
“alguns desses homens e mulheres apresentam uma virtude religiosa aparente, confessam, ouvem missa, comungam frequentemente.
“Mas, o que digo? Horror! Recolhem as hóstias, levam-nas para casa e as apresentam em suas satânicas funções para pisoteá-las.
“Esses são os Judas dentro do próprio santuário, que introduziram os demônios no lugar que não lhes corresponde, e enchem o templo de Deus de abominações” (“El malefício”, El Ermitaño, Nº 103, 27-10-1870).
“Satanás entrou no santuário – acrescentava –, e o encheu de abominações, sustentado por poderes que se dizem católicos, e de dentro do próprio santuário faz a guerra contra nós, uma guerra atroz, a más perigosa que a Igreja jamais teve de travar. (...)
“porque convêm ao inimigo nos combater de dentro da própria fortaleza, por isso leva o uniforme de católico, e o nome, e com o nome apresenta certas realizações religiosas, para fascinar as turbas e levar a confusão até o Céu” (“Campamento de epidemia en Vallcarca”, El Ermitaño, Nº 99, 29-9-1870).
Em 1968, S.S. Paulo VI afirmou que “a fumaça de Satanás entrou no lugar sagrado” (Discurso para o Pontifício Seminário Lombardo, 7-12-68, Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, 1968, vol. VI, p. 1188; e Homilia “Resistite Fortes in fide”, 29-6-1972, ibid., 1972, vol. X, p. 707).
Cem anos antes, o Beato Palau já denunciava com horror essa penetração na Igreja.
Triunfo da morte, detalhe. Prefigura da marcha enlouquecida da Revolução. Pieter Bruegel (1525-1530 — 1569) Museo del Prado, Madri. |
“o império do mal pegou velocidade, e corre com tanta maior rapidez quanto maior é o crime que pesa sobre ele, tendo-lhe ficado impossível se deter.
“Na sua corrida, quebra, esmaga, destrói, esfrangalha, vence todos os obstáculos que lhe opomos para fazer que retroceda.
“Progresso! Para frente! Progresso! Bradam seus condutores” (“Faraón y el Anticristo”, El Ermitaño, Nº 77, 28-4-1870).
O B. Palau não tinha ilusões. Se o mundo encharcado de orgulho e sensualidade não se convertesse, a catástrofe prefigurada pelo desastre do trem de Gerona tornar-se-ia espantosa realidade.
Quando sucederia isso?
Ele não estabelecia datas, mas antecipava sinais certeiros. Entre eles, a reação dos homens quando o desastre fosse iminente:
“Na medida em que a sociedade humana se aproximar do cataclismo, sentirá convulsões, comoções horríveis, terá um pressentimento seguro, que lhe anunciará a desgraça.
“Dirá em voz baixa, surda, mas forte: Estamos indo mal! (...) Atrás! Alto! Parem o trem!
“Clamará aos condutores da sociedade inteira, com voz rouca e de trovoada: Alto!!! Estou perdida! Deitai-vos, maquinistas, pisai no freno! Ai de mim! Perco-me!
“e os motoristas contestarão em tom arrogante: Não! Maldita, tu vens conosco aos infernos: nós te formamos à imagem dos vícios que te merecem este castigo (...)
“o fogo voraz de tua concupiscência é o que produz na máquina o vapor de tuas doutrinas ímpias, obscenas, impuras, blasfemas, e esse vapor, que tu mesma respiras, essa respiração imunda é o motor que fornece impulso a todo o trem aonde tendes subido. Desce, raça maldita, comigo ao abismo!” (“¡Horrorosa Catástrofe!”, El Ermitaño, Nº 40, 5-8-1869).
Procissão na Universidade de Harvard, EUA, pedindo o cancelamento de "Missa Satânica" no local de estudos. O ato luciferino foi suspenso. |
Quando o caos parecer total, a Revolução terá atingido um auge. Porém, ao mesmo tempo, o horror que ela provocará vai gerar condições máximas para a sua ruína.
Prevendo este dilema mortal, a inteligência propulsora da Revolução teria preparado uma cilada: suscitar um pseudo salvador ou pseudo profeta.
Este surgiria como que “miraculosamente”, oferecendo-se como única opção para evitar o caos. Em troca de uma miragem de ordem, pediria a rendição das vontades a seu influxo pessoal.
As redes de comunicação irradiariam ao mundo os desiderata do pseudo salvador. Ele manipularia perspectivas enganosas de paz e prosperidade e sugeriria poderosamente aos últimos fiéis cessarem a resistência à Revolução, convidando-os a adorar seu ídolo.
Na prática, semelhante poder estaquearia o reinado da Revolução, que ameaçaria desabar.
O imperador Napoleão I, que espalhou as doutrinas e derrubou as monarquias, como tinha desejado sem consegui-lo a Revolução Francesa, foi prefigura de uma manobra do gênero.
Segundo o bem-aventurado, no tempo dele estavam postas quase todas as premissas para que a Revolução alcançasse esse sinistro objetivo: uma ditadura universal e a adoração coletiva do ser mais oposto a Cristo que haverá na História.
Porém, no século do bem-aventurado, o XIX, faltava que o progresso nas comunicações e nos transportes permitisse uma conexão tão instantânea e global que um só ente – seja um homem ou uma organização sem rosto – pudesse comandar o planeta com a ascendência de um supremo guia universal.
“As ferrovias e os fios elétricos – explicava o P. Palau – aproximaram os povos uns dos outros, (...) de maneira que hoje um só homem pode governar e dirigir toda a sociedade humana com mais facilidade do que outrora um rei reger uma só nação.
A inauguração do túnel de São Gotardo, na Suíça, o maior do mundo,
foi feita com um ritual de tipo satânico em 1 de junho de 2016.
“Aproximadas as nações umas às outras, a união jogará entre si todos os programas, tanto em política como em religião.
“E o choque no mundo das ideias e da moral será como o dos trens que chocam vindos de direções opostas e provocam uma explosão horrorosa.
“sendo livres e fáceis a imprensa, a litografia e outros meios de comunicação, criar-se-á uma confusão tal de doutrinas, que podemos afirmar sem temor de sermos desmentidos, que a sociedade humana atingiu a meia-noite no momento que foi descoberto o vapor e a eletricidade.
“A confusão de ideias nas inteligências deu como resultado a revolução em todos os países. Sobre a ruína das monarquias se levantam repúblicas, (...)
“cada nação percebe em seu seio horríveis convulsões, causadas por programas de governo que se destroem mutuamente.
“Um rei não pode confiar na palavra de outro rei, e olhando-se como inimigos uns dos outros, se armam até os dentes, excogitando novas máquinas de morte.
“Para evitar um conflito convocam-se congressos europeus, e neles não se entendem nem se põem de acordo, e saem deles em desacordo, e cada um faz por si próprio preparativos de guerra que arruínam a nação.
“E essa ruína é a miséria do país. O país se insurge em revolução e nesta situação a sociedade humana anda de mal a pior. (...)
“Aqui tendes tudo quanto convinha preceder o estabelecimento de um império universal no orbe.
“O advento ao trono de um imperador que reduza a uma todas as nações do globo, e a um só todos os programas políticos e religiosos que agora nos dividem, será o ponto final de todas estas revoluções que agitam horrivelmente os povos e os chafurdam pelo chão como como serpentes feridas de morte.
“Um só Deus, um único rei, uma religião só: este é o programa que gravado nas bandeiras imperiais, encherá um dia de espanto o mundo inteiro, e no dia seguinte lhe dará a paz e a prosperidade.
O anticristo quererá reinar como rei e ditador universal.
Vitral na igreja de Santa Maria, Frankfurt, Alemanha.
“Esse dia está tão perto, como perto sentimos estar a dissolução social universal em todos os sentidos e em todas as partes do corpo social” (“La cuestión del Oriente: un imperio universal”, El Ermitaño, Nº 11, 14-1-1869).
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
Por vezes, o B. Palau qualifica como “império” o ilusório e enganador regime final da Revolução.
Visa assim caracterizar seu perfil ditatorial.
Mas outras vezes o define como uma república federal universal, para ressaltar a nota de recusa a toda forma de autoridade e desigualdade legítima.
A coexistência contraditória do absolutismo odioso com o espírito libertário radical é intrínseca à Revolução.
Essa contradição é uma das características da tirania caprichosa e desapiedada de Satanás sobre o caos da eterna noite infernal.
Com uma mão ele persegue os bons e com a outra favorece os maus.
Podem-se ver exemplos nos momentos ápices das revoluções: no anabatismo de Münster, no Terror durante a Revolução Francesa ou nos extermínios em massa do regime stalinista na ex-URSS.
Há hoje um ecumenismo imprudente que parece caminhar para esse fim.
“Oficialmente não haverá outra religião senão a do Estado. Um só Deus, uma só religião. E esse Deus será o Anticristo, e essa religião, a anticristã” (“Incendio de barracas en Barcelona”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872), escreveu.
Nela deverão se amalgamar todas as crenças, numa convergência caótica favorecida e até estimulada pelas transformações globalizantes que acontecerão na esfera temporal.
Tudo isso sem muitas preocupações pela verdade ou pelo erro, pelo que é moral ou imoral, no ambiente consagrado pela expressão “ditadura do relativismo”.
Mas, previa o B. Palau, essa confluência não trará a verdadeira paz.
Pelo contrario, disfarçada de conhecimento e compreensão recíproca entre religiões, seitas e filosofias, levará o desentendimento e a discórdia da humanidade ao paroxismo, beirando o desespero:
“Unidos pelo vapor e pela eletricidade num mesmo vagão, ficarão o cristão, o mouro, o judeu, o protestante, o cismático, o missionário, a monja, o frade, a prostituta.
Adoração pagã de ídolos censados representar a Pachamama, ou 'Mãe Terra', nos jardins vaticanos presidida pelo Papa Francisco
“Postos lado a lado todos os programas religiosos de todas as nações, na religião será inevitável outro choque, mais terrível sem comparação que o político.
“Essa guerra religiosa jogará o pai contra o filho, um vizinho contra outro, um povo contra outro povo e uma nação contra outra.
“Completar-se-á a dissolução social no orbe inteiro a partir do seio da família, e chegará até o trono do rei nos palácios” (id. ibid.).
O bem-aventurado Palau discerniu o fundo satânico dessa religião universal num convite lançado pelo espiritismo:
“Essa seita acaba de fazer um convite geral a todas as religiões por ordem dos espíritos superiores, para que todas, inclusive o catolicismo, se unam e constituam uma só religião sob a direção dela.
“Podemos chegar mais longe? O que é que é isto? Aonde iremos a parar?” (“Plan del espiritismo”, El Ermitaño, Nº 29, 20-5-1869).
Um século antes da perfuração do túnel debaixo do Canal da Mancha, o bem-aventurado comentou um projeto de unir a Grã-Bretanha ao Continente:
“Pensa-se criar uma ponte gigantesca entre Calais e Douvres, que porá a Inglaterra em comunicação com o continente. Segundo o plano apresentado pelo engenheiro francês M. Boutet, a ponte se apoiará sobre vinte e nove arcos, e se tem completa segurança de colocar os pilares correspondentes, rodeados além do mais de cabos, que em vez de serem um perigo, servirão de abrigo para os buques nas terríveis tempestades do estreito.
Em encontro ecumênico, ídolo de Buda sobre o sacrário do altar. Assis, 27 de outubro de 1986.
“No Istmo de Suez será inaugurado um canal que põe em comunicação as águas do Mediterrâneo com o mar das Índias, em outubro do ano em curso.
“Damos estas noticias porque os fatos a que se referem desenvolvem e explicam as profecias relativas ao império universal, primeiro sobre a terra do Anticristo, e depois de Cristo e de sua Igreja.
“Pela monstruosa ponte teremos a Inglaterra unida às demais nações da Europa, e pelo canal de Suez o presidente da república federal comunicará com as quatro partes do globo” (“Monarquía democrática”, El Ermitaño, Nº 32, 10-6-1869).
Na inauguração do Canal de Suez, o bem-aventurado registrou outro indício premonitório dessa religião universal:
“O canal de Suez já foi aberto para a navegação de todas as nações. No momento de comunicar o Mediterrâneo com os mares da Índia, as águas foram abençoadas simultaneamente por um sacerdote católico, um pope grego, um pastor protestante, um armênio, um ulema e um budista” (“El Istmo de Suez”, El Ermitaño, Nº 58, 9-12-1869).
Um século antes, o B. Palau discernia em gestos como esse – hoje repetitivamente banais – um ecumenismo imprudente, penetrado pelo espírito da Revolução.
O fim último da religião planetária em gestação não era levar todas as almas para a única Igreja verdadeira.
Pelo contrario, gestava-se uma falsa convergência ecumênica que preparava para adorar Satanás como que habitando em alguma figura que se fará conhecer como sumo representante da Revolução.
Como é que conceitos como “ecumenismo” podem ser distorcidos a ponto de transmitir o oposto do que significam? A este respeito veja-se a obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira Baldeação ideológica inadvertida e diálogo, Editora Vera Cruz, 5ª ed. 1974.
“A palavra “ecumenismo” – explica o Prof. Corrêa de Oliveira – tem, de si, um sentido excelente.
“No entanto, ela é susceptível também de um significado irênico. Admitidas todas as religiões como “verdades” relativas, postas entre si num diálogo hegeliano, o ecumenismo toma o aspecto de uma marcha dialética de todas elas para uma religião única e universal, integrada sinteticamente pelos fragmentos de verdade presentes em cada uma, e despojada das escórias das contradições atualmente existentes.
“Visto assim, o ecumenismo é uma imensa preparação de todas as religiões, feita através do diálogo hegeliano, para, uma vez unificadas, entrarem em ulterior diálogo com a antítese comunista.” (op. cit., p. 101).
Para o clarividente Beato Palau, a república federal universal que estava sendo preparada consistiria num estado de coisas edificado em desafiante abstração do Criador.
Contemplando a imensa – mas periclitante – Babel revolucionária, fruto de suas mãos, os homens seriam tomados de uma autossatisfação raiando na adoração.
Essa república universal sem fronteiras e sem autoridades respeitáveis seria a realização mais ousada do “Não servirei!” de Lúcifer, entoado por vozes humanas.
Surgiria um mundo que se levanta caprichosamente segundo leis dadas pelos homens a si próprios, desconhecendo a autoridade do Legislador Supremo.
Assim sendo, o bem-aventurado estava certo de que os tempos do Anticristo profetizados no Apocalipse estavam se tornando realidade já na sua época, mas que haveria de atingir sua plenitude proximamente:
“Aquilo que São João viu em visão profética [N.R.: Apocalipse] nós o olhamos com os nossos próprios olhos. Satanás, diz no capítulo XX, será desencadeado, sairá de seu cárcere e seduzirá as nações que vivem nas quatro partes do mundo Essa corrupção, sedução e apostasia é já um fato consumado” (“Antonia”, El Ermitaño, Nº 81, 26-5-1870).
O império ou república universal concretizaria o sonho do filho da perdição previsto por São Paulo na sua segunda epístola aos Tessalonicenses (II Tess, 1-12).
Veja o comentário de Santo Tomás de Aquino a essa epístola em: O Anticristo, segundo Santo Tomás de Aquino
Comentando essa epístola, o Beato Palau escreveu:
“No que se refere à vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo (...) antes deve vir a apostasia e deve se manifestar o homem da iniquidade, o filho da perdição, que se opõe e se insurge contra tudo o que se chama Deus ou é adorado, até se sentar no templo de Deus e se proclamar Deus a si próprio” (II Tes, II, 1-12).
Na encíclica E supremi apostolatus, de 4 de outubro de 1903, São Pio X ensina:
“Quem pesa estas coisas tem direito de temer que uma tal perversão dos espíritos seja o começo dos males anunciados para o fim dos tempos, e como que a sua tomada de contato com a terra, e que verdadeiramente o filho de perdição de que fala o Apóstolo (2 Tess 2,3) já tenha feito o seu advento entre nós, tamanha é a audácia e tamanha a sanha com que por toda parte se lança o ataque à religião, com que se investe contra os dogmas da fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar toda a relação do homem com a Divindade!
“Em compensação, e é este, no dizer do mesmo Apóstolo, o caráter próprio do Anticristo, com uma temeridade sem nome o homem usurpou o lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o que traz o nome de Deus.
“E isso a tal ponto que, impotente para extinguir completamente em si a noção de Deus, ele sacode entretanto o jugo da sua majestade, e dedica a si mesmo o mundo visível à guisa de templo, onde pretende receber as adorações dos seus semelhantes.
“Senta-se no templo de Deus, onde se mostra como se fosse o próprio Deus (2 Tess 2,2)”.
(San Pio X, Encíclica E supremi apostolatus, in Escritos Doctrinales, Ediciones Palabra, Madrid, 4ª ed., 1975, 557 págs., pp. 19-21).
Para os espíritos superficiais, desinteressados face à existência e aos objetivos da Revolução, a instalação desse poder de atração universal terá algo de repentino.
Para dar uma ideia de um fato tão surpreendente, o B. Palau apelava para os exemplos das fulgurantes campanhas militares de Napoleão I e de Guilherme de Prússia.
O mundo ainda não conhecia as conquistas desconcertantes de que a guerra psicológica revolucionária é capaz, nem os bruscos surgimentos de líderes políticos e mudanças da opinião pública operadas pelos meios de comunicação social:
“O Anticristo vai nos pegar de surpresa – dizia.
“Hoje somos aquilo que somos, mas amanhã na hora de acordar ser-nos-á anunciado que um gênio guerreiro desfez as potências mais fortes do globo, e que tendo nós perdido a nacionalidade, estamos sob o seu domínio.
“No dia seguinte um decreto imperial anunciará a supressão do culto católico em todo o universo.
“Em outro dia serão publicadas as penas em que incorrem aqueles que não se rendam às leis do imperador” (“Roma”, El Ermitaño, Nº 12, 21-1-1869).
O Anticristo recebe as instruções de Lúcifer. Luca Signorelli (1445 - 1523), basílica de Orvieto, Itália |
Ele sabia objetar contra seus próprios raciocínios e fazia seu o melhor dos contra-argumentos.
Nada de mais contrário a ele do que as simplificações fáceis ou os panoramas alegremente descolados da realidade ou do razoável.
Por isso mesmo abordava os assuntos mais delicados e complexos, que pedem a mais cautelosa e matizada resposta.
Entre esses temas estava discernir de modo prudente mas preciso o perfil do Anticristo, para o qual a Revolução prepara os caminhos.
Seus escritos refletem a diversidade de opiniões existentes sobre o assunto entre os melhores intérpretes tradicionais das Escrituras.
Para ele, era indubitável que o Anticristo receberá, numa paródia da Encarnação, o poder de Satanás. Mas essa paródia blasfema de Cristo poderia se realizar num indivíduo ou também num grupo:
“O Anticristo é o triunfo do diabo e do pecado em guerra contra Cristo e sua Igreja no terreno da política e da força brutal. É o diabo encarnado e tornado visível no poder comunicado a homens” (“El Anticristo”, El Ermitaño, Nº 16, 18-2-1869).
Não espanta, pois, que em muitas ocasiões ele chame de Anticristo ao conjunto da Revolução e seus seguidores, considerando-os um só ente moral:
“O Anticristo é o império do mal sobre a terra, protegido, escudado, e auxiliado pelos poderes políticos dos reis. O Anticristo é o dragão encarnado neles, personificado em suas doutrinas e em sua autoridade.
'El Ermitaño' foi o jornal do Beato nos últimos anos de vida. Na foto o nº 59
“E o Anticristo se revela e se revelará cada dia mais em signis et portentis mendacibus, entrando em comunicação familiar com todos aqueles que queiram encontrar abrigo sob suas bandeiras” (“El dragón”, El Ermitaño, Nº 46, 16-9-1869).
O B. Palau supunha também que um indivíduo de carne e osso haveria de ser exaltado como expressão suprema da Revolução. A ele se aplicaria por antonomásia o nome de Anticristo.
O demônio é um puro espírito e, enquanto tal, não pode ser percebido fisicamente pelos homens.
Para fazer-se adorar por uma humanidade ateizada e carnal na etapa última da Revolução, ele precisa se manifestar através de algum ser visível e palpável.
O demônio, então, escolheria um ser humano no qual faria transparecer suas energias infernais como sendo “divinas”. Seria uma paródia extrema e blasfema da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por causa disso é estigmatizado como Anticristo.
De onde sairia esse demiurgo? Assim responde, falando sobre os revolucionários iniciados nas artes que manipulam energias ocultas:
“Esses homens têm suas escolas normais ou lojas (...) e nelas os demônios se tornam visíveis não enquanto tais, mas sob a aparência de anjos de paz, guardiães dos interesses sociais. Dessas lojas sairá treinado o Anticristo. (...)
“Essa sociedade maléfica (...) terá sempre maior incremento, até que apareça sem máscara, visível, à testa do Anticristo” (“El dogma católico con referencia a la redención de la sociedad actual”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
Terá, pois, íntimas relações com formas de satanismo tipo Nova Era ou certas “medicinas alternativas” mais ou menos empapadas de parapsicologia ou ocultismo.
Procederá da estirpe de Judas enquistada na Igreja? Não encontramos no bem-aventurado nada que permita afirmá-lo ou negá-lo taxativamente.
Numa cova em Aitona, Espanha, o Beato montou sua ermida perseguido pelo ódio anticlerical. |
Veja o comentário de Santo Tomás de Aquino a essa epístola em: O Anticristo, segundo Santo Tomás de Aquino
Por isso aparecerá como um mago ou grande ilusionista, que fascinará e/ou deixará perplexas as almas através de influxos comunicados pelo rei da ambiguidade infernal.
Essa faculdade enfeitiçadora voltar-se-á especialmente para aqueles que não caíram nas rédeas da Revolução.
Inclusive suas imposturas prodigiosas poderão ser confundidas com virtude, ou derivadas de poderes como os eclesiásticos podem conferir:
“O Anticristo será o mago mais famoso e célebre que jamais houve” (“Milagros del espiritismo”, El Ermitaño, Nº 138, 29-6-1871), dizia.
“À frente e à cabeça desses magos famosos está para chegar aquele célebre homem, de quem foi profetizado que se apresentará ao mundo in omni operationi Satan, com signos portentosos para seduzir até aqueles que têm seus nomes inscritos no livro da vida, se possível fosse” (“Cosas de mi pueblo”, El Ermitaño, Nº 139, 6-7-1871).
Ser-lhe-á concedido um breve tempo para tentar os últimos fiéis, segundo o bem-aventurado.
Sobre a personalidade do Anticristo, São João Damasceno ensina:
“Não será o diabo encarnado, mas sim um homem filho da fornicação, que será formado no segredo e estabelecerá subitamente seu reino. De início fingirá santidade; mas logo arrancará a máscara e perseguirá a Igreja de Deus”
(São João Damasceno, La fé ortodoxa, IV, 26, Patristiche Texte und Studien, Berlin-New-York, 12, p. 232-234, apud, Écrits sur l'islam – Présentation, commentaires et traduction par Raymond Le Coz, Les éditions du Cerf, París, 1992, 269 págs., p. 90).
Antes desse grande enganador se exibir descaradamente aos últimos homens de fé, o Beato Palau também designava com o rótulo de Anticristo o corpo moral da Revolução que lhe prepara o advento:
“A Revolução é todo o poder político dos governos da terra, e sua cabeça é o Anticristo. Vemos já todo o corpo, isto é, todos os reis da terra ligados por uma única ordem: Guerra a Deus!
“Só falta que apareça a cabeça, e essa vai receber seus poderes vindos do diabo. No Anticristo, o diabo atingirá o poder no mais alto degrau que lhe pode ser consentido sobre a terra” (“Crímenes y atrocidades de la magia maléfica”, El Ermitaño, Nº 33, 17-6-1869).
“Isto é o que temos em vista: vemos o corpo do Anticristo; sua cabeça não aparece ainda, mas sim vemos já formado seu império”, a Revolução (“Fin del mundo: aparición de Elías Tesbites”, El Ermitaño, Nº 120, 23-2-1871).
Olhando para o Anticristo, as revoluções anteriores – Revolução protestante, Revolução Francesa, Revolução bolchevique e Revolução de Maio de 68 – se reconhecerão nele e sentir-se-ão interpretadas e realizadas.
Isso lhe atrairá a confiança das diversas formas de revolucionários, inclusive dos indispostos entre si, que se aglutinarão em torno de sua maléfica figura.
As falsas religiões descobrirão nele traços da divindade que adoram e em volta dele se dará uma convergência ecumênica universal.
Quando se revelará ele aos homens? Virá em nossos dias?
Ou só veremos a manifestação de alguma prefigura?
O bem-aventurado achava que a marcha extremamente avançada da Revolução prepara diretamente sua iminente aparição.
Um ecumenismo imprudente será explorado pelo Anticristo para impor sua religião universal panteísta |
Porque Deus, na sua misericórdia – dizia ele –, enviaria alguém revestido da missão de Elias profeta, para converter as nações e lhes conceder um derradeiro período de paz e de ordem.
Quase meio século antes das aparições de Nossa Senhora em Fátima, o bem-aventurado pressentia profeticamente aquilo que Nossa Senhora anunciou aos três pastorzinhos:
depois de grandes castigos corretivos, o mundo se converterá e terá paz. Quer dizer, virá o reino triunfal do Imaculado Coração de Maria.(Cfr. Antonio Augusto Borelli Machado, Fátima – Mensagem de tragédia ou de esperança?, ArtPress, SP, 46ª ed., 1997).
Nesta perspectiva, tudo o que toca ao Anticristo está num suspense. Para tentar decifrá-lo, o Beato Palau voltava sua mente para os mistérios que envolvem o grande profeta do Carmo e sua vinda futura.
Ele não pensava na agitação mesquinha dos políticos profissionais ou dos jornais de seu tempo, mas da Política com P maiúsculo.
Ou seja, aquela na qual se debate o mais precípuo dos fins terrenos do homem: o bem comum na prática das virtudes e seu destino eterno no Céu, ou, por oposição, o caos revolucionário e a perdição irrevogável no inferno.
Segundo ele, a política é por excelência um assunto para as inteligências. Nela não participam os seres sem intelecto.
Mas insistia que os ímpios e os míopes supõem que nela só participam as inteligências humanas, quando na realidade participam também as angélicas e as demoníacas. E, por cima de todas elas, o Juiz Supremo do universo e sua Corte celeste.
Sendo a Revolução a questão política central da qual depende o destino do mundo, o Beato Palau fazia estas interrogações:
O que fará Deus? Deixará tudo ser tragado pela Revolução? Destruirá o mundo em virtude do pecado revolucionário? Ou, pelo contrário, em atenção a Suas promessas, o resgatará da conjuração de Satanás?
O bem-aventurado tinha certeza de que Deus preparava a restauração do mundo. Como o faria? Quando? O que faltava? Que fatores apressavam ou retardavam o momento em que Nosso Senhor dirá “basta” à Revolução?
Para ilustrar essa problemática, o bem-aventurado recorria à imagem do Consistório divino.
Este tem como ponto de partida uma realidade teológica básica: nada foge ao entendimento divino, que tudo vasculha e conhece.
O universo dos atos virtuosos ou pecaminosos está continuamente presente diante Deus como um imenso mosaico vivo.
Todos e cada um — inclusive os mais insignificantes ou ocorridos no mais íntimo das consciências — estão presentes ante a Majestade Infinita.
Inclinando-a uns à misericórdia, outros reivindicando maiores margens de manobra para a Revolução e seus agentes, para flagelo e desespero dos homens.
O bem-aventurado apresentava esta realidade como um Parlamento, ou Consistório congregado aos pés do trono divino e do qual participam todas as criaturas inteligentes do Universo.
Tudo o que acontece entre seres inteligentes está sendo visto por Deus e pesa na balança de Sua Justiça e de Sua Misericórdia. Detalhe do Juízo Final. Igreja da Companhia de Jesus, Quito, Equador. |
Cada um pesa com seus méritos, orações e sacrifícios — deméritos e pecados em sentido contrario —, inclinando num sentido ou outro os pratos da balança da Justiça Divina.
A imagem desse Consistório com suas discussões está claramente inspirada no livro de Jó (I, 6-ss).
Este livro sagrado apresenta Satanás comparecendo ante a Corte de Deus e desafiando o Altíssimo a propósito do justo Jó.
Após uma discussão com o príncipe das trevas, Deus permite que o demônio se assanhe contra o justo, tirando-lhe quanto possui.
Por fim, Jó vence as tentações e Deus o restabelece em seu estado cumulado de bênçãos, descendência e bens.
O Beato Palau figurava discussões nas quais cada ser inteligente pedia a palavra, defendia sua causa e era interpelado por seus opositores.
Nessas polêmicas, ele representava Satanás alegando os pecados de uma nação para arrancar de Deus permissão para perdê-la mais espantosamente.
Em sentido oposto, o anjo protetor desse povo defendia-o, e pedia a confusão do demônio que tentava sua condenação. Deus, como Juiz Soberano, concedia ou não a palavra e ditava a sentença final.
Eis um exemplo ilustrativo. A sombra do ermitão disputa com Satanás, defendendo a humanidade decaída:
Senhor, temos pecado, nós, os católicos, povo e sacerdotes, e nossos reis e príncipes, e todas as nações da terra. Justa é vossa ira, e largamente merecidos os castigos.
El Ermitaño nº 1 5 de novembro de 1868 PROSPECTO
Em justiça procedestes entregando-nos ao furor dos demônios.
Por nossas maldades nós nos entregamos voluntariamente ao domínio de Satã.
Justo sois, e justos são os vossos juízos.
Senhor, contra as nossas maldades apelo para o trono de vossa clemência.
A redenção das nações atualmente existentes na terra é um contrato celebrado e consumado no Gólgota entre Vós e vosso Filho, e renovado noite e dia no orbe inteiro em milhares de altares erigidos para vossa glória.
Em virtude do sacrifício perene e perpétuo, o título sobre o qual a Igreja Católica vossa filha fundamenta seus direitos, conserva toda a sua força e vigor, não obstante as maldades e os crimes dos homens.
Contra esse título é falso e nulo tudo quanto alegam em seu favor os demônios, que não podem pacificamente possuir, nem apresentar título de posse (...)
Satã! – disse o Juiz (...) Defende-te, porque se não tua causa está perdida. (...)
[Satanás:] Trazei as balanças de vossa justiça: pesai o deicídio e a incredulidade dos judeus, a pertinácia das nações pagãs à pregação do Evangelho, o cisma dos gregos e russos, a apostasia dos protestantes, as horríveis blasfêmias com que Vos desafiam a França, a Espanha, a Itália e os demais países revolucionários, a corrupção dos costumes dos católicos. E, no que diz respeito aos vossos sacerdotes, pesai....
Ponde no outro prato os méritos e virtudes dos que Vos servem, e vereis de qual parte se inclinará a agulha... Deixaríeis de ser justo, ó Deus, se não castigardes o criminoso!
Além do mais, quem peca voluntariamente, infringindo a vossa lei, rende-se voluntariamente à minha bandeira, o mando me pertence, porque pelas suas maldades submeteu-se voluntariamente às minhas ordens; e por esse motivo minha posse é legítima (“Noticias del cielo: vuelta de mi sombra”, El Ermitaño, Nº 8, 24-12-1868).
Como soberana das milícias celestes, Maria Santíssima dispôs que sob o comando de São Miguel, as coortes angélicas entrem na batalha.
Por sua vez, conhecendo este ditame irrevogável, Satanás e a Revolução estimulam toda classe de pecados, especialmente os coletivos — revoluções, decretos ímpios, separação entre a Igreja e o Estado, leis danosas à Igreja, blasfêmias oficiais ou generalizadas —, com a finalidade de adiar o quanto possível o dia da Misericórdia para os bons e da justa Ira divina para os revolucionários.
Santo Elias primeiro devoto de Nossa Senhora no Monte Carmelo |
Todos aguardavam o instante em que Deus enviaria alguém investido de uma missão para libertar as almas boas que se sentem cada vez mais oprimidas pela Revolução inspirada pelo inferno.
Quem executaria essa missão na Terra? Será o profeta Elias, como fazem entender passagens bíblicas e a opinião de Doutores da Igreja?
Ou será alguém que agirá com os poderes do próprio Santo Elias, provavelmente secundado por discípulos?
O profeta Elias, cujo nome significa “Deus é o Senhor”, é um dos maiores do Antigo Testamento. Sua importância cresceu porque ele não teria morrido, mas foi levado aos céus em um carro de fogo (2Reis 2).
Pela sua importância, o profeta Malaquias diz: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor” (Malaquias 3,23)
A Bíblia assim apresenta o profeta: “Elias, tesbita, um dos habitantes de Galaad...” (1Reis 17,1) Sua gesta é contada a partir do capítulo 17 de 1Reis. Elias não teria morrido e habita num local desconhecido que os teólogos discutem.
O nome tesbita provém de sua cidade natal Tesba, ou Tisbé, em Galaad, hoje desaparecida.
Elias volta a aparecer na Transfiguração de Cristo e, segundo opinião dominante, é uma das duas testemunhas que comparecerão no fim do mundo para pregar contra o Anticristo.
O Beato Palau considerava que em virtude da decadência da fé e da moral, as meras forças humanas e as vias ordinárias da graça eram insuficientes para derrubar a Revolução.
Somente uma intervenção extraordinária determinada pela Divina Providência poderia iluminar e resgatar os fiéis desconcertados e próximos de serem devorados pelo caos revolucionário:
“Sendo impotente [n.r.: a sociedade atual] para se salvar com o auxilio ordinário de sua graça, Deus lhe enviará uma missão e será a missão derradeira. (...)
Estátua de Santo Elias exterminando os profetas do ídolo Baal.
Monte Carmelo, Terra Santa, Israel
“içada aquela mesma bandeira, que no Céu (...) inscreveu em seu pano este lema guerra a Deus! segurada nada menos que pelo anjo supremo que subjugou todas as nações em nossos dias (...)
“Contra essa bandeira é impotente Pio IX, segundo o curso regular e ordinário das coisas; e o é igualmente o bispo, o é o pároco, o são as ordens religiosas, o é o clero católico, o é o povo, o é a Igreja.
“Confessemos humilhados nossa impotência. (...) [n.r.: a Igreja] necessita de uma missão extraordinária.
“Quem serão esses homens escolhidos por Deus para Lhe oferecer o triunfo conquistado na batalha? (...) Repetiremos o mesmo: virá um apostolado (...)
“Será tão estupenda a última missão que Deus prepara para sua Igreja, que a voz dos apóstolos calará a política” (“Un rayo de la aurora boreal”, El Ermitaño, Nº 172, 22-2-1872).
“Satanás entrou no seio do catolicismo, e nos combate por dentro. (...)
Ídolo fenício 'Moloch' é exibido no Coliseu em Roma.
Na Antiguidade criançças vivas eram queimadas nas suas entranhas.
“Para expulsá-lo de dentro do santuário, não bastam nossas forças ordinárias.
“Deus, em sua providência, tem preparado um auxilio extraordinário, e esse está tanto mais perto quanto mais se agrava o mal” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870).
Desenvolvendo a figura do Consistório celeste, nosso autor põe na boca do ermitaño as seguintes palavras:
“Vejo (...) o consistório celeste congregado ante o trono de Deus. (...) Aqui ante o trono do legislador supremo foi julgada a causa da sociedade atual. (...)
“Vejo ante o trono de Deus a Elias o tesbita, já armado e preparado para entrar em batalha.
“A serpente infernal também foi citada a comparecer ante Moisés, Pedro e Elias.
“E esta é a sentença fulminada pelo juiz supremo: Dæmones effugate ecce ego dedi vobis potestatem, foi condenado a ser esmagado e encerrado no abismo com a Revolução, de quem é autor e cabeça.
“E Elias é o encarregado de executar esta sentença” (“La Igreja Católica y la Revolución”, El Ermitaño, Nº 79, 12-5-1870).
O caos criado pela Revolução seria agravado pela eventual aparição do Anticristo ou mais provavelmente de alguma de suas prefiguras.
Na imensa confusão universal que tenta engolir a Igreja, como podem se orientar os que ficam fiéis? Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010, Folio295r |
A pergunta é cruciante se se considera que em qualquer uma dessas hipotéticas intervenções de algum campeão do mal, este será um homem ambíguo dotado, segundo São Paulo, de grande capacidade de fraude:
“A vinda do iníquo será acompanhada do poder de Satanás, de todo gênero de milagres, sinais e prodígios enganosos, e de seduções da iniquidade para os destinados à perdição, porque não aceitaram receber o amor da verdade que os salvaria.
“Por isso Deus lhes envia um poder enganador, para que acreditem na mentira e sejam condenados todos aqueles que, não acreditando na verdade, se aprazem na iniquidade” (II Tes, II, 8-12).
O próprio Apocalipse nos ensina que, ao chegar a consumação dos tempos, duas testemunhas (Elias e Enoque, segundo a interpretação predominante nos exegetas) conservadas em vida na presença do Altíssimo serão enviadas à terra para uma pregação póstera antes do encerramento da História (Ap, XI, 3-ss.).
Acresce que Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu ao pé do monte Tabor que
“Elias, na verdade, está para chegar, e restabelecerá tudo” (Mt, XVII, 11).
Confirmou assim o que dissera o profeta Malaquias: “Eis que eu enviarei Elias, o profeta, antes que venha o dia de Yavé, grande e terrível.
“Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos aos pais, para que não aconteça que eu venha e entregue a terra toda ao anátema” (Mal, IV, 5-6).
Desses passos das Escrituras o bem-aventurado concluía que se tornava necessária a manifestação de Elias para restaurar a Igreja e o mundo:
“a máquina do corpo social marcha com a velocidade do trem rumo a sua dissolução. Ou Deus acaba com o homem, ou o redime de novo e o restaura” (“Anarquía social”, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
Santo Elias aguarda a ordem para vir à Terra.
Mas, ele virá num contexto de fim da História da Salvação? Ou virá para restaurar todas as coisas e inaugurar uma nova era histórica em que reinará Nossa Senhora, de quem Elias foi o primeiro devoto?
“(...) no primeiro caso deve vir logo Elias o tesbita, precursor do Juiz supremo, para anunciar ao mundo seu fim.
“No segundo caso, deve vir também, porque é o restaurador prometido” (“Anarquía social”, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
Em qual desses dois casos nos encontrariamos?
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
Santo Elias raptado num carro de fogo diante de Santo Eliseu. Juan de Valdés Leal (1622 - 1690), Nossa Senhora do Carmo, Córdoba, Espanha. |
De acordo com as Escrituras, o profeta Elias foi raptado aos Céus num carro de fogo na presença de seu discípulo e sucessor Santo Eliseu:
“eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num turbilhão.
“Vendo isso, Eliseu exclamou: Meu pai, meu pai! Carro e cavalaria de Israel! E não o viu mais.” (II Re, 2, 11-12)
O arrebatamento do profeta teria acontecido no ano 914 a. C., quando Elias tinha não menos de 46 anos.
É doutrina líquida entre os Padres e Doutores da Igreja que Santo Elias não morreu mas que se mantém em vida por disposição divina, aguardando para voltar no fim dos tempos e lutar contra o Anticristo.
Junto com ele, se encontraria Santo Enoque (escreve-se também: Enoc e Henoc), do qual a Bíblia ensina igualmente que foi levado vivo da Terra:
“Após o nascimento de Matusalém, Enoque andou com Deus durante trezentos anos, (...) Enoque andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou.” (Gen, 5, 22-24) eEnoque teria sido levado da Terra por volta do ano 3.019 a.C., 987 anos após a criação de Adão, quando tinha 365 anos (viveu antes que Deus diminuísse a duração da vida dos homens).
“Enoque agradou a Deus e foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência” (Eccl, XLIV, 16).
Onde se encontram? Como vivem? Têm contato com a Terra? Em quais condições vão regressar?
O assunto tem apaixonado a doutores e santos da Igreja. O eruditíssimo e famosíssimo comentarista das Sagradas Escrituras, Pe. Cornelio a Lapide S.J., resume as opiniões de maior peso e conclui:
“o lugar onde se encontram Elias e Enoque é incerto. Em qualquer caso, seja um local terrestre ou etéreo, Elias leva una vida quieta e santa, na contemplação de Deus, (...)
“São Gregório Magno diz: “Elias foi elevado ao céu aéreo, para ser imediatamente levado a uma região secreta da terra, e ali viver numa grande quietude da carne e do espírito, até que volte no fim do mundo e pague o débito da morte” (Hom. 29, in Evang.).
Elias e Enoque, ícone do século XVII, Museu Histórico, Sanok, Polônia
“Elias e Enoque já são candidatos à eternidade, habitantes do paraíso (...) e estão confirmados em graça, segundo Suárez.
“E embora não vejam a Deus, nem gozem da beatitude celeste, recebem muitas luzes e consolações divinas, pois estão como que “no átrio da casa do Senhor”. Pelo que são visitados pelos anjos com muito maior frequência que os outros homens, e com eles conversam.
“Vivem da palavra divina, sem alimento nem bebida para o corpo, porque Deus lhes conserva incorruptos (assim como suas roupas, como conservou as vestes dos judeus durante quarenta anos no deserto), sãos, alegres, ágeis, gozosos, exultantes com sua situação, estado e missão.
“E dão graças a Deus, porque só eles dois – entre muitos milhões de homens – foram escolhidos para lutar por Nosso Senhor no fim do mundo contra o Anticristo, converter as nações e os judeus e ser coroados com um martírio glorioso.
“E, por causa de seu rapto, incorruptibilidade e longevidade, comunicar aos homens a fé e a esperança na ressurreição” (R. P. Cornelio a Lapide SI, Commentaria in Scripturam Sacram, Ludovicus Vivès Bibliopola Editor, Paris. In Librum IV Regum, Cap II, 11).
Santo Tomás de Aquino também conclui: “Enoque foi levado para o paraíso terrestre, onde se crê que, juntamente com Elias, viverá até que ocorra a vinda do Anticristo”. (Suma Teológica, Parte III, questão 49, artigo 5, objeção 2).
Elias e Enoque se encontram com a idade que tinham na Terra quando foram levados.
Segundo o Gênesis, Enoque tinha 365 anos quando deixou a Terra.
Segundo Cornélio a Lapide, Elias tinha 46 anos pelo menos quando foi arrebatado (id. ibid.). Em 20 de julho de 2017, a Igreja comemorou o 2931º aniversário do rapto de Elias.
Santo Elias, século XVIII. igreja do Santo Anjo, Sevilha, Espanha. |
O próprio Pe. Cornelio a Lapide, após analisar abundantes opiniões de teólogos e doutores, conclui:
“Elias, portanto, escreveu a carta no paraíso, para increpar mais rigorosamente o ímpio e convertê-lo, assim como para tornar patente quanta solicitude têm ele e os santos pelos homens fiéis, ainda depois desta vida” (Cornelio a Lapide, id. ibid, In Librum II Paralipomenon, Cap. XXI).
E acrescenta: “Vemos que Elias, pese a ser morador do paraíso, mantém acesso seu prístino zelo por Deus, cuidando dos assuntos dos homens mortais, solícito pela salvação de seu povo” (Cornelio a Lapide, id. ibid., In Ecclesiasticum, cap. XLVIII, 1-12).
O Eclesiástico também diz de Elias: “Tu que foste escolhido pelos decretos dos tempos para amenizar a cólera do Senhor, reconciliar os corações dos pais com os filhos, e restabelecer as tribos de Jacó” (Eclesiástico, 48, 10) .
Sobre isso comenta Cornelio a Lapide: “Deus decretou com juízo justo e sapiencial que, após muitos milhares de anos, num tempo determinado, num certo ano, mês e dia, Elias voltará para lutar por Cristo contra o Anticristo. (...)
“É como se dissesse: ‘está prescrito e predito que, num determinado tempo previsto e decidido por Deus, tu voltarás para Lhe aplacar a ira’.” (Cornelio a Lapide, id. ibid).
As duas testemunhas lutarão contra o Anticristo. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek |
Após avaliar grande número de opiniões, Cornelio a Lapide da a interpretação mais recorrente:
“essas duas testemunhas indicam aqueles dois varões que lutarão por Cristo contra o Anticristo. Todos concordam que um deles será Elias. (...) se depreende das palavras de São João que eles aparecerão na terra de modo súbito e inopinado.
“Sem embargo, como virão, se transportados visivelmente pelos ares por um carro de fogo, ou por uma nuvem, ou por qualquer outro meio; como aparecerão imperceptível e subitamente em Jerusalém, ou em algum outro local, nem a Escritura, nem os Padres explicam” (Cornelio a Lapide, id. ibid. In Apocalypsin, cap XI, 3-19).
Numa conferência célebre transcrita em livro que impressionou profundamente a Santa Teresinha do Menino Jesus, o Pe. Charles-Marie-Antoine Arminjon (1824-1885) imaginou a aparição desses dois profetas no auge das trevas – ou luzes enganosas – da iniquidade.
“No momento em que a tempestade é mais violenta, quando a Igreja estará sem piloto, onde o sacrifício sem sangue cessará em todos os lugares, onde tudo parecerá desesperador humanamente, veremos, diz São João, duas testemunhas.
“Essas duas testemunhas serão dois homens estranhos, aparecendo de repente no meio do mundo, sem que ninguém possa contar de onde eles vieram, seu nascimento, sua origem ou família. (...)
“Nenhuma língua pode expressar a estupefação de que os homens serão tomados à vista desses dois homens, estranhos às nossas paixões e assuntos, que viveram um por seis mil anos, o outro trinta séculos, em alguma região etérea, sob firmamentos e esferas inacessíveis aos nossos sentidos e à nossa compreensão.
As duas testemunhas, Emetrius, Maestro da Escola de Távara, Gerona, século X. Archivo Histórico Nacional, Madri |
“Uma dessas tochas e dessas duas oliveiras é Enoque, o bisavô de Noé, o antepassado direto de toda a raça humana.
“O outro é o profeta Elias, que, como o Salvador disse, está destinado a restaurar todas as coisas.
“Ele vem pela segunda vez para reprimir o dilúvio de impiedade, mais impetuoso e mais transbordante do que no tempo de Acab. É também a hora da redenção de Israel.
“O grande profeta convencerá os descendentes de Abraão da vinda do Messias, para tirar a banda de ignorância e escuridão que tem habitado nos seus olhos durante dezenove séculos.
“Qual será o exterior e a atitude desses fantasmas de outra era?
“Que majestade antiga brilhará em suas pessoas?
“Que acentos inspirados surgirão de seus lábios?
“Isso é o que a Escritura não nos diz. Ensina-nos que profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidos de saco e com a imagem da humildade e da penitência em seus traços”.
(Pe. Charles-Marie-Antoine Arminjon (1824-1885), “Fin du monde présent et mystères de la vie future”, Office Central de Lisieux, 1970).
Santo Elias, Monte Carmelo, Terra Santa, mosteiro de Elias, estátua onde exterminou os profetas de Baal. |
Mas reconhecia que poderia não tratar-se dele próprio, mas de alguém revestido de seu espírito e de sua missão.
Quer dizer, de outra pessoa que merecesse ser chamada de Elias por semelhança de perfil moral, virtudes e tarefa providencial.
“Será Elias o tesbita, aquele próprio que profetizou durante o reinado de Acab e Jesabel, reis de Israel? Não sabemos.
“Mas não tem nada contra a fé acreditar que seja um homem qualquer, um pescador como Pedro, o filho de um marceneiro como Jesus, um pobre homem, ignorante segundo a ciência do mundo, mas sábio para sua missão” (“Cálculos del Ermitaño”, El Ermitaño, Nº 163, 21-12-1871).
“Virá ele próprio, o tesbita — refletia em outra ocasião —, ou antes seu espírito e sua missão em um Moisés. Não nos atrevemos a emitir um juízo.
“Talvez seja sua missão, e não sua pessoa, e em tal caso cairiam muitos em erro, porque diriam dele o que disseram de Jesus, filho de um marceneiro e de uma mulher chamada Maria (...)
“um homem com missão especial de Deus: esse homem, quer se chame Elias, Enoque, ou o que quiserdes, será o Restaurador” (“La Restauración”, El Ermitaño, Nº 154, 19-10-1871).
“Esse apóstolo será Elias, o Elias prometido, seja qual for o nome que ao parecer lhe será dado.
“Chame-se João, Moisés, Pedro, o nome importa pouco; a missão de Elias restaurará a sociedade humana porque assim Deus, na sua Providencia, tem ordenado” (“Anarquía social”, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
A distinção entre a pessoa de Elias e seu espírito e missão é fundamental. Mas apresenta dificuldades que a relação entre São João Batista e Santo Elias ajuda a esclarecer.
O profeta Zacarias comparou São João Batista a Elias e anunciou que seria o precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo:
São João Batista increpa o rei Herodes, Giovanni Fattori (1825 – 1908)
“Caminhará diante do Senhor no espírito de Elias para conduzir os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos a fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc, I, 17).
Por sua vez, quando os discípulos indagaram a Nosso Senhor como entender aquelas palavras de que seria precedido por Elias, o Divino Mestre respondeu:
“Eu vos digo: Elias já veio, e não o reconheceram, pelo contrário, fizeram com ele o que quiseram; (...) Então os discípulos entenderam que lhes falava de João o Batista” (Mt, XVII, 12-13).
Dessa maneira, em sentido simbólico-místico, São João Batista foi o Elias anunciado para antes da primeira vinda de Nosso Senhor.
Enquanto tal, é distinto do Elias histórico, que profetizou nos tempos de rei Acab e que retornará à terra antes da segunda vinda de Nosso Senhor e do Juízo Final.
O espírito e a virtude de Elias
em outros enviados de Deus
O acatadíssimo comentarista das Sagradas Escrituras, Padre Cornelio a Lapide SJ, explica no que consiste o “espírito de Elias” e como pode existir num outro enviado de Deus:
São Lucas, capítulo I: 16 E [João Batista] converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; 17e irá adiante dele com o espírito e a virtude de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos, e os incrédulos à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo perfeito.
Comentários do Pe. Cornélio a Lápide SJ
17E irá adiante dele com o espírito e a virtude de Elias
São João Batista precedeu a Cristo com 'o espírito e a virtude de Elias'.
Pintura em St-Mary-Thornham-Parva, Suffolk, Inglaterra.
São Lucas não diz “com a alma de Elias”, comenta Orígenes, mas sim “in spiritu et virtute Eliæ”, porque como ensina Stº. Agostinho, nunca existe espírito sem a virtude, nem virtude sem o espírito, pois toda força e virtude provêm do Espírito Santo, segundo aquela passagem: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” (Luc. I, 35).
“E o precederá”, e irá adiante do Senhor Deus, isto é, de Cristo Filho de Deus. Com efeito, João precedeu a Nosso Senhor:
1º) ao nascer;
2º) ao batizar;
3º) ao pregar a penitência, para preparar-Lhe as vias;
4º) ao apontá-l'O como Messias e Cordeiro de Deus;
5º) ao morrer mártir;
6º) ao descer até o limbo.
Com o espírito e a virtude
Ou seja, com o espírito da virtude, isto é, da força e da eficácia. Com efeito, em grego virtute [com a virtude] é dynamei [com a força] e não aretei [com a virtude, enquanto predicado moral].
Trata-se aqui de uma hendíadis, como se se dissesse:
“Assim como Elias foi outrora magnífico por seu espírito forte e eficaz, e o será também no fim do mundo para lutar contra o Anticristo e converter a Nosso Senhor os demais judeus, assim também João será excelente no mesmo espírito de fortaleza, de modo a levar à penitência os judeus de coração duro, tanto por sua pregação quanto pelo exemplo de sua vida santíssima. E assim os preparará para receber o batismo e a graça de Cristo”.
O espírito da fortaleza de João foi semelhante ao de Elias:
1º) Pela austeridade de vida. Como Elias, João alimentava-se de gafanhotos e vestia-se com pele de camelo, como cilício;
2º) Ambos viveram na solidão e eram eremitas;
3º) Pela pobreza e desprezo do mundo;
4º) Mais ainda, pelo zelo, pela audácia e ardor ao pregar, com os quais conduziram muitos ao arrependimento e à conversão a Deus e a Cristo Nosso Senhor.
Zelo com que Elias ainda converterá os judeus no fim do mundo, segundo o versículo do Eclesiástico:
“E surgiu Elias como fogo e suas palavras ardiam como tocha”. De maneira semelhante, Nosso Senhor se refere a João Batista: “Ele era um lâmpada ardente e luminosa” (Jo. V, 35).
Este é o espírito da fortaleza de Elias;
5º) Pela fortaleza e pela paixão.
Assim como Elias lutou com grande fortaleza contra os sacerdotes de Baal e seus fautores, os reis Acab e Jezabel (III Re. XVIII, XIX) — e novamente no fim do mundo lutará contra o Anticristo e seus asseclas, até que seja morto pelo Anticristo, e receba a coroa do martírio — assim também São João enfrentou Herodes e Herodíades e, sendo decapitado por ordem deles, alcançou a palma do martírio.
Logo, o espírito de fortaleza significa duas coisas: o poder e a eficácia para bem agir, e portanto para avançar fortemente contra qualquer obstáculo.
Este espírito foi semelhante em Elias e em João Batista.
Porém, aqui João é mais comparado ao Elias que virá do que com o Elias que já veio, porquanto, assim como Elias precederá com grande força de espírito e eficácia a segunda vinda de Cristo, de modo a debelar os infiéis e convertê-los à fé, assim também João, com o mesmo espírito e a mesma eficácia, precedeu a primeira vinda de Cristo “para converter o coração dos pais aos filhos, e os incrédulos à prudência dos justos”.
São João Batista se consumiu de zelo pela causa de Deus
e preparou o caminho para a vinda de Cristo.
Retábulo de Gante (detalhe), Jan van Eyck (1390 — 1441). Catedral Saint Bavo.
Comentam com clarividência este trecho Stº. Ambrósio, São Beda, Teofilato, Tito e São Gregório Magno (hom. 7, in Evangel.), o qual explica as palavras “com o espírito e a força de Elias”, como querendo dizer:
“Assim como fiz daquele o precursor do Juiz, assim também constituí a este o precursor do Redentor”.
Ouvi Stº. Ambrósio:
“'In spiritu et virtute Eliæ', porquanto Elias dispôs de uma grande fortaleza e de uma enorme graça para fazer com que as almas dos povos retornassem da perfídia à fé; ele possuiu a virtude da castidade e da paciência e o espírito de profecia.
“No deserto, Elias; no deserto, João.
“Aquele era alimentado por corvos, este por espinheiros, depois de ter calcado aos pés os atrativos da volúpia, abraçando a parcimônia e desprezando o luxo.
“Aquele não procurou obter as boas graças do rei Acab; este desdenhou Herodes. Elias dividiu as águas do Jordão; João transformou-o em fonte salutífera.
“Este conviveu com o Senhor na terra; aquele aparecerá com o Senhor no dia da Glória.
“Este foi o primeiro; aquele será o segundo precursor do Senhor”.
Por fim, para dar a João este espírito de virtude — ou seja, a fortaleza — foi-lhe enviado o anjo Gabriel, que em hebraico significa “a fortaleza de Deus”, a fim de lhe infundir sua própria fortaleza, haurida de Deus.
(Autor: Pe. Cornelio a Lapide SJ, “Commentaria in Scripturam Sacram”, Ludovicus Vivès, Paris, 1861; notas de J. M. Pérrone, SJ e A. Crampon, SJ).
Por tudo isso, se não vier Elias em pessoa, o bem-aventurado deduzia lógica e firmemente que viria um enviado de Deus dotado da força e da eficácia do grande profeta do Carmelo para restaurar a Igreja e a civilização cristã.
ou já é o Fim do Mundo?
O beato fazia seus exames de consciência anuais no rochedo 'Es Vedrà'. Instalou nesse contexto as personagens literárias do 'El Ermitaño' |
Porém, ele tinha certeza de que Deus, a rogos da Santíssima Virgem, teria piedade da humanidade pecadora e que Sua clemência suavizaria os castigos infligidos pelo pecado de Revolução.
Em consequência, a misericórdia divina abriria um parêntese histórico: uma era de esplendor sem igual da Igreja e da civilização cristã.
A parte do castigo devida por Justiça ficaria pendente como uma espada de Dâmocles: quando os homens reincidissem na Revolução, Deus encerraria o parêntese e se desencadeariam os episódios trágicos e grandiosos do fim do mundo.
Desta maneira, o bem-aventurado refletia habitualmente sobre dois horizontes históricos distintos, mas muito semelhantes:
1. O dos castigos, também anunciados em nossa era por Nossa Senhora em Fátima; e
2. O fim do mundo.
Aquilo que se diz de cada um desses horizontes pode-se aplicar ao outro por analogia e com as necessárias adaptações.
Os grandes momentos da punição da Revolução e da glorificação da Igreja podem ser vistos como uma “avant-première” dos últimos dias da trajetória humana na História.
Por sua vez, o que está escrito sobre o dia futuro em que os céus se enrolarão como um pergaminho (Ap, VI, 14) ilumina a intelecção do que sucede em nossos dias.
Interior da 'Cueva de Aitona': gruta que foi ermida do carmelita perseguido porque não se dobrou ante a Revolução anticristã. Hoje é local de romaria, Aitona, Espanha. |
Em vários artigos, o Beato Palau mostra estar convencido de que, em qualquer hipótese, o enviado de Deus para nos livrar da Revolução virá em nossos dias:
“Já dissemos várias vezes que é infundada a opinião daqueles que acreditam que esses dois profetas [n.r.: Elias e Enoque] virão ao mundo nas vésperas de seu fim.
“Não é assim. Será, é verdade, o fim, porque o mundo ainda pode durar um século, meio século, e nesse intervalo as nações verão o triunfo da Cruz” (“Las tinieblas”, El Ermitaño, Nº 166, 11-1-1872).
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
Na primeira hipótese, no apogeu da Revolução, o profeta Elias viria em pessoa. Sua gesta precederia uma ação do Espírito Santo revivificadora da Igreja e das nações.
Tal ação inauguraria um período histórico que coincide com o Reino de Maria profetizado por São Luís Maria Grignion de Montfort e com a vitória do Imaculado Coração de Maria prometida por Nossa Senhora em Fátima.
A conversão das nações acarretaria o adiamento do fim dos tempos. O mundo prestaria então ouvidos ao anúncio da segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mas, tão logo dele se esquecesse, desencadear-se-iam os fatos conclusivos da peregrinação humana no tempo.
Em muitas outras oportunidades o bem-aventurado refletiu sobre a segunda hipótese, de que agora viria um Restaurador com a incumbência de cumprir idêntica tarefa, mas que não seria Elias profeta em carne e osso.
Este último só viria quando a iniquidade revolucionária voltasse a tomar conta dos homens.
Portanto, precedendo imediatamente a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a convocação do Juízo Final e o encerramento do tempo.
Ambas as hipóteses têm uma estrutura comum:
1. Missão de um enviado de Deus que derrotará a Revolução em nossos dias;
2. Uma época de fé e florescimento dos povos convertidos;
3. Um novo pecado coletivo, Juízo Final e fim do mundo.
Santo Elias, Convento de La Encarnación. Ávila, Espanha |
Ele raciocinava sobre esses futuros possíveis com inteiro desapego, achando que o tempo e as circunstâncias se encarregariam de esclarecer qual se efetivará.
Na perspectiva palauciana, o “espírito de Elias” sempre permaneceu vivo na Igreja, identificando-se com o espírito militante.
Ele o achava presente no Beato Pio IX e na Hierarquia eclesiástica em luta contra os espíritos instigadores da Revolução:
“Elias é Pio IX, Elias é o bispo, Elias é o pároco de uma aldeia. Vês? Vês em suas mãos o báculo pastoral? Vês em Pio IX algumas chaves?
“É o símbolo do poder sobre toda potestade inimiga: tem uma missão alta e sublime, Deus lhe diz: Te dou potestade: expulsai os demônios.
“Ligado e encadeado o príncipe e o rei de todos os hereges, ímpios e blasfemos, vencido e preso aquele que dirige a revolução no mundo, serão salvas todas as nações” (“Fray Onofre — Cuento de mi sombra”, El Ermitaño, Nº 29, 20-5-1869).
Aconteça o que acontecer, ele ponderava que o extremo atingido pelo pecado e pela conjuração da Revolução clamava por uma intervenção tão intensa, que exigiria algo do porte do profeta do Carmelo.
Para o Pe. Palau, se for algum outro homem encarregado dessa “missão”, será alguém da linhagem espiritual do grande fundador da Ordem do Carmo:
“Quando os apóstolos desceram do monte [Tabor], perguntaram a seu mestre sobre a missão de Elias, e Jesus respondeu: Elias em verdade virá, e quando vier, restabelecerá todas as coisas (São Mateus, cap. XVII).
“Eis o restaurador, preparado para a lei de graça, como Moisés o foi da lei escrita. Este restaurador vive? Afirma-o a tradição, e assim devemos crer.
“No século XVI escolheu uma espanhola, a grande Teresa de Jesus, e a escolheu para restaurar o Carmelo. Apareceu-lhe muitas vezes, garantindo-lhe que nos últimos tempos sua Ordem se apresentaria com grande força ao combate” (“El Carmelo”, El Ermitaño, Nº 154, 19-10-1871).
Se esse restaurador vive, onde está?
“No Carmelo, isto é, entre os carmelitas, que herdaram pelas mãos de Eliseu sua capa, e com sua capa seu espírito, e sua missão” (“El Carmelo”, El Ermitaño, Nº 154, 19-10-1871).
“12. Estando uma vez em oração com muito recolhimento, suavidade e quietude, parecia-me estar rodeada de anjos e muito perto de Deus. Comecei a suplicar a Sua Majestade pela Igreja.
“Deu-se-me a entender o grande proveito que, nos últimos tempos, há-de fazer uma Ordem e a fortaleza com que seus filhos hão-de sustentar a Fé.
“13. Estando uma vez rezando perto do Santíssimo Sacramento, apareceu-me um Santo cuja Ordem tem estado um tanto decaída:
“Tinha nas mãos um grande livro, abriu-o e disse-me que lesse umas letras, que eram grandes e muito legíveis e diziam assim:
“‘Nos tempos vindouros florescerá esta Ordem; haverá muitos mártires’.
“14. Outra vez, estando no Coro em Matinas, apareceram-me e se puseram diante dos [meus] olhos seis ou sete religiosos que me parece seriam desta mesma Ordem; com espadas na mão.
“Penso que nisto se dá a entender que hão de defender a Fé; porque, de outra vez, estando em oração, se me arrebatou o espírito e pareceu-me estar num grande campo onde muitos combatiam, e estes, os desta Ordem, pelejavam com grande fervor.
“Tinham os rostos formosos e abrasados e deitavam muitos por terra, vencidos, e a outros matavam. Parecia-me que esta batalha era contra os hereges.
“15. Tenho visto algumas vezes este glorioso Santo, e tem-me dito algumas coisas, e agradecido pela oração que faço pela sua Ordem e prometido de me encomendar ao Senhor.
“Não declaro as Ordens, para que não se agravem outras; se o Senhor for servido, que se saiba, Ele o declarará.
“Mas cada Ordem, ou cada membro de per si, deveria procurar que por seu intermédio fizesse o Senhor tão ditosa a sua Ordem que, em tão grande necessidade como agora tem a Igreja, a servissem. Ditosas vidas que nisto se acabarem!”
(Santa Teresa de Jesus O.C.D., “Libro da Vida”, cap.40, apud Obras Completas, BAC Nº 212, Madrid, 1979, 6ª ed. revisada, 1184 págs, pp. 186-187).
Algumas Ordens religiosas reivindicaram, a diversos títulos, a honra dessa missão. O grave historiador P. Jerónimo de San José (Historia do Carmen Descalzo, l. 1, c. 21, n. 5, p. 214-215), após ponderar os argumentos em favor de umas e outras, conclui que se trata da Ordem do Carmo, e acrescenta:
‘Estas conjecturas bastam para ter por certo aquilo que já dissemos; porém, palavra mais certa e testemunho de sua verdade temos na própria Santa, que ainda em vida declarou e disse que se referiam à sua Ordem do Carmo de acordo com a nova reforma; e isso com tanta segurança e ênfase, que a um religioso filho seu que a interrogou, chamado frei Angel de San Gabriel, ela respondeu com simplicidade e amor de mãe: «Bobo, de quem se deveria entender, senão da Nossa Ordem?».
“Isso constou sempre dela e permanece sem controvérsia como coisa lisa e assentada, garantindo-o as próprias pessoas que ouviram da boca da Santa (cfr. Santa Teresa de Jesus, id. ibid. nota 3, p. 215).
Ver também: Santa Teresa de Jesus e os Apóstolos dos Últimos Tempos
A pequena barca de Pedro, agitada pelas furiosas ondas dos pecados e erros, está em iminente perigo de naufragar. Jesus dorme na popa da nave.
Que se há de fazer para que a barca não vá ao fundo e cesse a tempestade? Habilidade humana para isto não há.
Os marinheiros, fatigados de tanto remar, se rendem e esperam o momento em que se desfaça a barca para agarrar-se a uma tábua e ver se com ela se poderão salvar.
Já não há outro recurso, a menos que Jesus Cristo o ordene com a virtude onipotente de sua palavra.
Mas em tal apuro por que não se desperta e o faz? Ignora talvez o que acontece? O que, pois, espera?
Espera que lhe peçam devidamente seus discípulos; espera que devidamente pronunciemos com o coração aquela breve oração:
Domine, salva nos, perimus. 'Senhor, salvai-nos, pois perecemos' (São Mateus, 8, 25).
Santo Elias |
Entre outras coisas, perguntava-se se ele viria sozinho, ou acompanhado de Enoque. O se antes viria um deles e depois o outro?
Também indagava se seria um indivíduo ou, pelo contrário, um Elias coletivo, quer dizer, um grupo de apóstolos que cumpririam sua missão (cfr. “Guerra a Deus!”, El Ermitaño, Nº 40, 5-8-1869).
Analisadas todas as hipóteses que passaram ante seu reflexivo espírito, o bem-aventurado julgava mais proveitoso descrever a seus leitores o perfil moral e religioso do Restaurador prometido.
Aquele que preenchesse os requisitos desse perfil seria o salvador de que a Igreja e o mundo têm premente necessidade.
Para esse perfil escolheu um nome: Moisés da Lei da Graça. A Lei da Graça é o Novo Testamento.
Será um Moisés porque foi prefigurado pelo profeta Moisés que liberou os judeus do cativeiro dos egípcios.
O Moisés da Lei da Graça terá o perfil – que pode incluir discípulos organizados – de quem libertará os católicos oprimidos pelo jugo da Revolução:
“Busquemos na historia um modelo, uma figura da situação atual da Igreja, e nela veremos talvez os meios que a Providência dispôs para nos salvar.
“Encontramos tudo quanto apetecemos na missão dada por Deus a Moisés para salvar seu povo escravo no Egito” (“El triunfo da Iglesia”, El Ermitaño, Nº 160, 30-11-1871).
“Assim como Deus salvou Israel da escravidão do rei do Egito pelas mãos de Moisés e de Aarão, assim salvará com seu braço onipotente a sociedade humana do inimigo que agora a escraviza, servindo-se de um apostolado, dando-lhe para isso uma missão a mais extraordinária que tenham visto os séculos” (“París e Roma Guerra!”, El Ermitaño, Nº 98, 22-9-1870).
Vejamos algumas características essenciais que permitem definir e identificar esse Moisés da Lei da Graça.
Moisés conduz o povo eleito para fora do jugo dos egípcios, vitral da igreja paroquial de Henley-on-Thames, Inglaterra |
Os Magos, que por meio de suas artes mágicas mantinham seduzido o povo escolhido, eram prefiguras dos sacerdotes da Revolução. O Faraó prefigurava os poderes políticos que hoje governam a terra.
O Restaurador prometido terá o dom de denunciar ante os homens o que é a Revolução, exorcizar seus chefes diabólicos, confundir seus sequazes humanos e frustrar suas manobras.
E assim como os Magos egípcios realizaram falsos prodígios contra Moisés, assim também os chefes da Revolução desencadearão contragolpes que o Moisés da Lei da Graça repelirá.
2ª - Despertará os católicos para a Revolução instalada na Igreja: ele fará com que os católicos percebam verdadeiramente a abominação da desolação entronizada no próprio santuário de Deus (cfr. Dan, IX-27), quer dizer, na Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Tal denúncia será determinante na renovação da Igreja:
“Elias recomporá as coisas eclesiásticas em sua devida ordem com mão potente, banirá do seio da Igreja os falsos políticos, anticristãos, essas falanges de escritores e doutores que em nome de Cristo seduzem os povos, e limpará o templo de Deus das abominações com que o emporcalham os maus católicos” (“La guerra al imperio universal”, El Ermitaño, Nº 102, 20-10-1870).
3ª - Chegará quando todos terão perdido a esperança de uma resgate: o Pe. Palau não queria fixar data para a vinda do Restaurador que anunciava. Imaginava que sua irrupção se daria quando o resto dos fiéis estivesse desesperançado e deprimido:
“Não há dia nem hora. Quando ninguém, nem sequer os carmelitas, o aguardarão, nem acreditarão nele” (“Tres días de tinieblas”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
Moisés, com Aarão a seu lado, enfrenta o faraó e derrota os sacerdotes do demônio. Gravura de Gustave Doré (1832 — 1883) |
4ª - Organizará o resto dos bons contra a Revolução: virá especialmente para insuflar novo ânimo aos restos de catolicismo, vai organizá-los no mundo inteiro e pô-los em ordem de batalha contra a Revolução:
“O objeto principal da missão de Elias será arregimentar todos os elementos católicos fiéis a Deus” (“Cálculos del Ermitaño”, El Ermitaño, Nº 163, 21-12-1871).
“Seguindo o seu exemplo, os elementos católicos que tiverem perseverado em meio às provas terríveis a que serão expostos, recuperarão vida, virtude, força.” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870).
5ª - Pregará penitência: não terá as aparências lisonjeiras do mundo e da carne. Conclamará indivíduos e nações a adorarem o Deus verdadeiro que haviam abandonado, e queimarem o ídolo da Revolução. Quer dizer, pregará penitência:
“Não aguardeis da política outra coisa senão enganos e traições. A restauração não virá daqui: virá do Céu, e nos será trazida por homens que vestidos de uma tosca túnica de pano, anunciarão ao mundo penitência” (“La Restauración”, El Ermitaño, Nº 141, 20-7-1871).
Suas palavras e seu exemplo terão a singular virtude de reavivar o espírito das nações, revigorar suas elites, restaurar seus princípios fundamentais e conduzi-las poderosamente assim à conversão:
“se vem a restauração verdadeira, que consiste na conversão a Deus de todas as nações e de seus reis, o restaurador não pode ser um rei, mas um apóstolo” (“Anarquía social”, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
“Restabelecerá a ordem social sobre suas próprias bases” (“El Carmelo en 16 de julio de 1870”, El Ermitaño, Nº 89, 21-7-1870).
6ª - Será perseguido, inclusive pelos falsos cristãos: o Beato Palau não forjou uma ideia triunfalista da vida e do apostolado do Moisés da Lei da Graça prometido. Pelo contrário, dava por certo que ele seria incompreendido e perseguido pela Revolução.
Também nisso será semelhante a Nosso Senhor Jesus Cristo:
“A política farisaica prometia ao povo judeu um Messias. A Fé verdadeira dos profetas da Igreja prometia também um Messias.
Moisés, vitral da catedral de Edimburgo, Escócia
“Veio o Messias, e a política não o reconheceu, não era aquele que estavam aguardando, não era o que desejavam. Não era o deles, e o crucificaram.
“Assim acontecerá agora: (...) Virá o Restaurador, e não sendo aquele que a política promete, deseja, quer e espera, não sendo um rei que distribui honrarias, dignidades, empregos, dinheiro, mas um profeta, um mártir que nos acompanha ao martírio, a política farisaica lhe fará uma guerra atroz” (“La noche del año 1872”, El Ermitaño, Nº 165, 4-1-1872).
Os maus católicos não quererão saber nem de penitência nem de sacrifício. Entrarão em combinações com a Revolução para impedir ou deturpar a obra do Moisés da Lei da Graça e, por fim, confabularão para persegui-lo, a ele e seus seguidores:
“será desprezado e horrivelmente perseguido pelos próprios católicos, porque são esses os que perderam o mundo com sua incredulidade.
“Os eleitos se unirão a ele e os maus católicos formarão contra ele uma liga juntamente com os reis apóstatas” (“El Carmelo en 16 de julio de 1870”, El Ermitaño, Nº 89, 21-7-1870).
Ela se encontra em diversos escritos de inspiração profética e em visões ou revelações recebidas por almas virtuosas ou santas.
É interessante comparar, a este propósito, os escritos do bem-aventurado com a visão da Venerável Madre Mariana Francisca de Jesus Torres e Berriochoa, abadessa do convento da Imaculada Conceição de Quito (Equador). Ao que tudo indica, o Pe. Palau não teve conhecimento nem foi influenciado por essa revelação privada, acontecida séculos antes num continente remoto.
No dia 2.2.1634, estando em oração, a Serva de Deus viu apagar-se a lamparina do Santíssimo. No momento em que ia se levantar para reacendê-la, a Santíssima Virgem do Bom Sucesso, muito venerada no mosteiro, apareceu-lhe e disse:
“A lamparina que arde diante do altar e que viste apagar-se tem muitos significados:
"O primeiro é que no fim do século XIX, avançando por grande parte do século XX, várias heresias se propagarão nestas terras, então, república livre.
"E com o domínio delas, apagar-se-á nas almas a luz preciosa da Fé, pela quase total corrupção dos costumes. Nesse período haverá grandes calamidades físicas e morais, públicas e privadas.
"O pequeno número de almas que conservará oculto o tesouro da Fé e das virtudes sofrerá um cruel, indizível e prolongado martírio. Muitas delas descerão ao túmulo pela violência do sofrimento e serão contadas como mártires que se sacrificaram pela Igreja e pela Pátria.
"Para a libertação da escravidão destas heresias, aqueles a quem o amor misericordioso de meu Filho Santíssimo destinará para esta restauração, necessitarão de grande força de vontade, constância, valor e muita confiança em Deus.
“Para pôr à prova esta fé e confiança dos justos, haverá ocasiões em que tudo parecerá perdido e paralisado. Será, então, o feliz princípio da restauração completa". (...)
"Ora com instância, clama sem cansar-te e chora com lágrimas amargas no segredo de teu coração, pedindo a nosso Pai Celeste que, (…) Se compadeça de seus Ministros e ponha termo quanto antes a tempos tão nefastos, enviando a esta Igreja o Prelado que deverá restaurar o espírito de seus Sacerdotes.
“A esse filho meu muito querido amamos, meu Filho Santíssimo e Eu, com amor de predileção, pois o dotaremos de uma capacidade rara, de humildade de coração, de docilidade às divinas inspirações, de fortaleza para defender os direitos da Igreja, e de um coração terno e compassivo, para que, qual outro Cristo, assista o grande e o pequeno, sem desprezar o mais desafortunado que lhe peça luz e conselho em suas dúvidas e amarguras. (..).
“Em sua mão será posta a balança do Santuário para que tudo se faça com peso e medida e Deus seja glorificado.
"Para evitar que venha logo este Prelado e Pai, concorrerá a tibieza de todas as almas consagradas a Deus, no estado sacerdotal e religioso.
"Esta, aliás, será a causa de o maldito satanás apoderar-se destas terras, onde ele tudo obterá por meio de gente estrangeira e sem Fé, tão numerosa que, como uma nuvem negra, toldará o límpido céu da então república consagrada ao Sacratíssimo Coração de meu Divino Filho.
"Com essa gente entrarão todos os vícios, que atrairão, por sua vez, toda sorte de castigos, como a peste, a fome, disputas internas e com outras nações, e a apostasia, causa da perdição de um considerável número de almas, (...)
"Para dissipar essa nuvem negra, que impede a Igreja de gozar o claro dia da liberdade, haverá uma guerra formidável e espantosa, na qual correrá sangue de nacionais e de estrangeiros, de Sacerdotes seculares e regulares, e também de religiosas. Esta noite será horrorosíssima, porque, humanamente, o mal parecerá triunfante.
"Será chegada, então, a minha hora, em que Eu, de forma maravilhosa, destronarei o soberbo e maldito satanás, calcando-o debaixo dos meus pés e acorrentando-o no abismo infernal.”
A Sinagoga também tentou truncar a missão redentora de Jesus. Detalhe do Cristo do Soberano Poder ante Caifás, Sevilha, Espanha |
A esse respeito, extraía o melhor de sua inspiração da meditação dos versículos do Apocalipse relativos à morte das duas testemunhas enviadas por Deus.
Com efeito, Santo Elias e seu companheiro pregarão no fim do mundo o tempo necessário para se fazerem ouvir pelas almas sensíveis à voz do Altíssimo que restarem sobre a face da terra.
O Anticristo urdirá mil insidias contra os porta-vozes de Deus, mas estes as desbaratarão com os poderes extraordinários recebidos para cumprir sua missão. Porém, nos lances derradeiros o Anticristo lhes fará guerra e lhes dará morte (cfr. Ap, XI, 3-ss.).
Esses versículos se aplicam diretamente à luta de Elias e de seu companheiro contra o próprio Anticristo no fim do mundo.
Mas o bem-aventurado considerava que em nossa época aconteceriam fatos prefigurativos daqueles magnos eventos futuros.
Caso não venha agora o próprio Elias, mas sim um Restaurador com a “missão de Elias”, o bem-aventurado raciocinava que ele deveria enfrentar alguma prefigura do Anticristo.
Portanto, dar-se-iam alguns episódios análogos à luta anunciada no livro do Apocalipse.
A morte do Moisés da Lei da Graça prefigurará o assassinato de Elias e Enoque pelo Anticristo, Oxford, Ms. Douce 180, pág 36 |
Mas isso só aconteceria “quando todos os elementos católicos já estiverem organizados” (“La Restauración”, El Ermitaño, Nº 154, 19-10-1871).
E quando se produzisse a morte do Moisés da Lei da Graça, este já teria deixado discípulos que completarão a sua obra: “já terá quem sustente a luta” (id. ibid.).
Esse episódio diferirá da morte de Elias no Fim do Mundo também neste ponto: a morte do Moisés da Lei da Graça é um marco miliário dentro de uma guerra que se prolonga com a vitória da Igreja e a conversão de povos inteiros.
Mas, no Fim do Mundo, a morte das duas testemunhas é um dos lances finais da História, que se encerra logo com o retorno de Nosso Senhor Jesus Cristo em pompa e majestade e o Juízo Final.
Em uma interpretação teológico-moral da História, o Beato Palau considerava que a Igreja, fiel ao exemplo do Divino Redentor, subiu com Ele o caminho da Via Sacra.
Espiritualmente pregada na Cruz, conquistou os povos para Nosso Senhor Jesus Cristo e assim os governou desde os tempos apostólicos.
Mas, transcorridos alguns séculos, aqueles que tinham por vocação manter a Igreja sempre unida à Cruz, acreditaram que o poder da Esposa de Jesus Cristo já estava estabelecido de maneira suficientemente sólida.
Supuseram então erroneamente que poderiam relaxar a ascese e gozar das delícias da paz e da hegemonia conquistadas.
A partir desse momento histórico-psicológico — que o bem-aventurado coloca no fim da Idade Média — começou uma decadência contínua.
Proporcionalmente à distensão e ao relaxamento crescente da hierarquia eclesiástica e dos costumes na sociedade civil, o demônio foi encontrando as portas abertas à sua penetração entre as pessoas chaves do santuário e da civilização.
Ele pode cativar pessoas paradigmáticas, articular a Revolução e precipitar a humanidade no caos em que esta hoje afunda como numa descida aos infernos.
Postos esses antecedentes, para que a Igreja e a civilização possam reerguer-se esplendorosamente, impõe-se uma inversão de rumos.
É necessário que a Igreja militante — clero e povo —, que durante séculos foi se afastando do sacrifício e do holocausto, volte a abraçar a Cruz, refazendo o caminho do Calvário.
Os sofrimentos, incompreensões, perseguições e morte que o Moisés da Lei da Graça padecerá, atrairão poderosamente os fiéis sinceros de volta às vias ensinadas pelo Divino Redentor com Sua Paixão e Morte.
“Se Deus, nos altos desígnios de sua Providência, escolheu como centro do catolicismo o Monte Calvário, chegada a hora ali irá, ali chegará a Igreja coronada de espinhos, e ali será crucificada, e ali o mundo será de novo remido.
“Aqui, neste mundo, a Esposa do Cordeiro receberá ao pé da Cruz todas as nações novamente remidas pelo sangue de Jesus e dos últimos mártires” (“La Iglesia coronada de espinas”, El Ermitaño, Nº 156, 2-11-1871).
Seguindo o exemplo do Moisés da Lei da Graça sob o acosso opressor da perseguição revolucionaria, a Igreja militante subirá de novo até o alto do Calvário, para dali voltar a reinar, refulgente de glória e santidade, sobre o orbe renovado.
A imensidade de pecados acumulados ao longo dos séculos de Revolução só tem feito provocar a ira de Deus.
Deus recorre a castigos a fim de exercer Sua Justiça, a qual se impõe para que os homens caiam em si.
Cristo em Majestade no Juízo Final, Fra Angelico (1395 – 1455), catedral de Orvieto, Itália. |
“Vejo — dizia o Beato Palau— pairando atualmente sobre nossas cabeças a ira de Deus no Céu, provocada pelos crimes dos homens. Os demônios não se rendem, porque são a vara de ferro com que [Deus] açoita as nações e os povos criminosos.
“Deus parece proteger os demônios como o juiz [protege] o instrumento de vingança ante a lei, como igualmente a revolução dirigida pelos anjos maus” (“Importancia del ministerio del exorcistado, el dogma católico”, El Ermitaño, Nº 24, 15-4-1869).
E acrescentava:
“É o fogo da ira de Deus que, aceso pelo sopro do diabo e do homem corrompido, arde sempre, produzindo em suas erupções revolução sobre revolução, ruínas sobre ruínas e uma dissolução social universal” (“El Estado, y la Iglesia en España: divorcio”, El Ermitaño, Nº 27, 6-5-1869).
Quando, em união com os méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, subir até o mais alto dos Céus o sacrifício de bom odor da missão eliática — argumentava o B. Palau —, o Altíssimo sentir-se-á movido a trocar Sua ira em misericórdia.
Quando isso acontecer, Deus deitará por terra os instrumentos de castigo de que Se serve – quer dizer, o diabo e seus sequazes –, que serão desprezados, pisados e expulsos do mundo pelos católicos fiéis:
“Deus, para acabar com a Revolução, não precisa fazer outra coisa senão abandoná-la a si própria. Abandonada à sua própria malícia, ela cai sem outras armas senão seu próprio peso” (“El paganismo en España”, El Ermitaño, Nº 25, 22-4-1869).
Segundo o estreito modo de ver humano, a morte do Moisés da Lei da Graça afigurar-se-á como a instalação do império revolucionário para sempre.
Porém, paradoxalmente para os homens de pouca fé, ela precipitará a derrocada da Revolução e de qualquer eventual prefigura do Anticristo:
“Satanás (...) também venceu a Cristo e a São Pedro, mas corporal e momentaneamente, e o sangue de Cristo foi a redenção do mundo” (“Dos grandes profetas”, El Ermitaño, Nº 101, 13-10-1870), explicava o bem-aventurado.
Santo Elias, Irmandade de Nossa Senhora do Carmo Coroada, Sevilha |
Ela teria o caráter de uma prefigura do assassinato de Elias e Enoque pelo fim do mundo.
Para ele, em qualquer caso, era certo que o sacrifício da “missão de Elias” seria acompanhado pelo de outros fiéis:
“Elias (...) é a cabeça, o chefe de todas as vítimas que com seu sangue vão aplacar a ira de Deus, e juntamente apresentada com a de Jesus merecerá essa paz que agora se procura em vão” (“La guerra: imperio universal”, El Ermitaño, Nº 102, 20-10-1870).
Tais martírios completariam o sacrifício do enviado de Deus. Eles têm, portanto, um número limitado, conhecido só pela Providência.
O Beato Palau viveu em décadas de perseguição anticlerical sanguinária, da qual ele próprio foi vítima. Imaginava, em consequência, que as arbitrariedades do Anticristo ou de seus representantes atingiriam o paroxismo.
O frade carmelita não conhecia as formas refinadas de pressão e de tortura moral elaboradas no século XX.
E considerava que após o falecimento do Moisés da Lei da Graça, a Revolução, representada por alguma prefigura do Anticristo, julgaria ser possível realizar seus delírios megalomaníacos.
Tentaria então dispersar ou aniquilar os fiéis que restassem, porque o obstáculo que o impedia não está mais na terra:
“então começará a época dos martírios, não nesta ou naquela nação, mas no mundo inteiro; e essas são as vítimas de propiciação que estão marcadas e numeradas pelo supremo sacrificador para aplacar a ira de Deus irritado pelos crimes enormes dos homens.
Martírios na Índia:
“Elas obterão os méritos da redenção para essa sociedade que por suas maldades é escrava do diabo e dos reis atuais” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870).
“Só permanecerão firmes aqueles que Deus escolheu para uma missão especial” (“Ermitaño alerta!”, El Ermitaño, Nº 63, 13-1-1870).
Essas vítimas somarão seus méritos para atrair a misericórdia sobre os homens e precipitar a extinção da Revolução que os aflige:
“Consumado o sacrifico de expiação e degolada a última de todas as vítimas que Deus na sua previsão já tem marcadas, o braço de Deus onipotente, voltando as iras de sua justiça contra o instrumento das provas, acabará com ele de um modo muito mais terrível do que usou contra Napoleão I, e III” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870).
No contexto palauciano, a expressão “época dos martírios” não sugere uma fase historicamente prolongada, mas sim uma sucessão marcante de padecimentos e holocaustos recebidos por fidelidade à mensagem do Moisés da Lei da Graça prometido.
O sacerdócio e o papel central da Santa Missa para aplacar a ira de Deus
Como zeloso sacerdote, o Beato Palau tinha uma ardente devoção ao Santo Sacrifício da Missa, que é o centro da Historia e o ponto de irradiação das graças da Redenção sobre a pecadora hereditariedade de Adão e Eva.
Por isso mesmo, ele via na renovação incruenta do Sacrifício do Gólgota a alma da resistência à Revolução e às falácias e obras dolosas do Anticristo e de suas prefiguras:
“A batalha se dá nesta ordem: do altar luta o sacerdote, e com o sacerdote o povo, contra a ira de Deus provocada pelo crime. (...)
“o triunfo da fé relativo à redenção de todas as nações, obtido sobre o altar mediante a oração e o sacrifício, traz consigo a vitória na segunda parte do acampamento, aquela ocupada pela magia maléfica, pelo espiritismo e pelos demônios visíveis nos corpos dos energúmenos. (...)
“Vencido o príncipe do mundo ante o trono de Deus, a partir do altar (...) fica o mundo sem rei e se dissolve como um cadáver” (“Programa”, El Ermitaño, Nº 41, 12-8-1869).
Por essas razões, a perseguição revolucionária lançará mão dos recursos mais rebuscados para suprimir o Santo Sacrifício — centro do culto católico — e dissuadir aqueles que queiram celebrá-lo.
O Beato Palau tinha adquirido a firme convicção de que o culto católico nunca cessará, embora na aparência a religião universal anticristã o tenha banido dos templos e das cerimônias oficiais.
Será o único a não se dobrar ante a Revolução. Também nisso se diferenciará radicalmente dos falsos cultos, resplandecendo em santidade, veracidade e luz divina.
“Não sendo possível acabar com o culto católico — afirmava —, este será o único que sustentará a luta contra os decretos do imperador.
“O culto católico desaparecerá como ato público e se sustentará nas catacumbas, desertos e lugares escondidos” (“Incendio de barracas en Barcelona”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
Os mundanos dançam sobre os cadáveres das testemunhas de Deus. Biblioteca de Toulouse (1220-1270) |
Mas essas testemunhas ressuscitarão, para confusão dos participantes do clima enganoso de riqueza e de distensão do Anticristo.
O Apocalipse acrescenta que ambos os profetas subirão aos Céus ao serem chamados por uma grande voz.
Assunção que será seguida de um terremoto no qual muitos malvados deverão perecer, e dos que sobreviverem muitos ficarão tomados de temor e darão glória a Deus.
Para compor um cenário possível para este acontecimento, o bem-aventurado recorria à disputa entre Simão Mago e São Pedro em Roma, narrada pela historia eclesiástica e reproduzida em quadro da Basílica Vaticana.
São Pedro havia operado milagres e portentos que encheram de admiração a capital imperial. Simão Mago, espécie de pontífice do paganismo e prefigura do pseudoprofeta quis comprar seus poderes espirituais e São Pedro e repeliu com vigor (Atos 8, 9-24).
Uma lenda piedosa acrescenta que em Roma, o mago desafiou-o, garantindo que se elevaria ao céu por forças próprias diante da multidão.
No dia marcado, no anfiteatro romano, com a assistência de imenso gentio, o mago subiu pelos ares por influência diabólica. São Pedro exorcizou os demônios, e o embusteiro sucumbiu por efeitos da queda.
Simão o Mago se precipita a terra, capitel na igreja de Saint-Lazare, Autun, séc XII. São Pedro segura as Chaves e o demônio se desespera. Símbolo da queda da Revolução. |
Com efeito, o fim do Anticristo não terá lugar por mão humana, mas por intervenção divina. No auge de sua sedutora influência, quando todos os recursos do bem parecerem esgotados, o sopro de Deus lhe dará o castigo merecido:
“Morto Elias, o Anticristo perecerá como o blasfemo Senaquerib pela ação imediata de Deus” (“Anarquía social”, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
Senaquerib, rei de Nínive, sitiou Jerusalém. Desafiou a Deus com blasfêmias de refinada perfídia e ousadia.
Quando Jerusalém parecia quase em suas mãos, durante a noite um anjo de Deus exterminou cento oitenta e cinco mil de seus homens. Levantou o sítio e voltou a Nínive.
Ali, quando se prosternou no templo do deus que adorava, seus filhos assassinaram-no (cfr. II Re, XVIII, 13-ss.).
“Essa ação imediata de Deus consiste em que (...) o homem em uso do poder que recebeu de Deus para expulsar de todas as partes os demônios e em uso de uma missão fundamentada no preceito expulsai os demônios (São Mateus 10, 8), manda com império, com fé, com autoridade, (...) o anjo bom intervém intimando da parte de Deus a rendição aos mandatos do homem.
“Resistindo o demônio a um e a outro, Deus intervém, e por Si e ante Si, sem mediar criatura alguma, executa o mandato dado pelo homem a Satanás” (“El dogma católico con referencia a la redención de la sociedad actual. Dios y el diablo. II”, El Ermitaño, Nº 169, 1-2-1872).
Caso Elias não venha agora em pessoa, o bem-aventurado considerava que poderia acontecer algo análogo em favor do Moisés da Lei da Graça.
Por ocasião de sua morte, o mundo revolucionário regozijar-se-á. Mas num momento que ninguém previu, a vontade de Deus fará refulgir de modo assombroso a vocação divina do Moisés da Lei da Graça.
Caso alguma prefigura do Anticristo tenha querido parodiá-lo, será fulminada pela ação imediata de Deus.
O fim súbito do filho da perdição, ou de alguma prefigura, soará como toque de finados para a Revolução.
Satanás compreenderá que seus planos foram desfeitos e que sua causa está perdida. Frustrado e enlouquecido, dará livre curso à sua cólera furiosa contra os últimos fiéis:
“Satanás (...) sentindo-se fadado às correntes que emanam da mão de Deus Onipotente, bramindo de furor, sabendo que lhe fica pouco tempo para operar a maldade, vendo-se descoberto pela fé dos últimos apóstolos, (...) declarará a guerra, guerra aberta à Igreja organizada, restaurada e preparada para o combate” (“El apostolado y un ejército”, El Ermitaño, Nº 123, 16-3-1871).
Satanás vendo seus planos desfeitos dará vazão à sua cólera, destruindo sua obra
Essa fase póstera da perseguição revolucionaria revelará o fundo mais recôndito dos corações dos homens:
“Os hipócritas e falsos católicos se afastarão dos verdadeiros, a luz deixará de se confundir com as trevas, e então principiará aquela perseguição em massa horrenda anunciada por toda a tradição contra a Igreja, contra esses eleitos para os últimos tempos” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870).
O Beato acrescentava que o desvario em que cairá Satanás o levará a destruir suas próprias obras com toda espécie de cataclismos.
Esse será o monstruoso pagamento aos homens que acreditaram em suas promessas.
Também o bem-aventurado previa que o demônio se assanharia contra seus cúmplices humanos.
Fá-lo-ia especialmente contra aqueles que negando a existência dos espíritos das trevas, desmobilizavam as resistências dos católicos e aplainavam a estrada para o avanço da Revolução.
Agirá em tudo como instrumento revoltado, mas servil, da Justiça celeste, não podendo fazer nem mais nem menos do que aquilo que Deus permitir:
“Quando naqueles tenebrosos dias o Anjo da justiça de Deus entrar nas casas dos católicos para castigar sua incredulidade, encontrará nelas fé na existência dos demônios?
“Aqui estou eu, dirá, revelando-se ao incrédulo com figuras horripilantes. Aqui estou eu. Me vês?
“Acreditas porque me vês.
“Tarde acreditaste: venho não como apóstolo para pregar minha existência, mas como verdugo para castigar tua incredulidade.
“Vem comigo, serás meu companheiro de infortúnio nos infernos” (“Lluvia de estrellas”, El Ermitaño, Nº 158, 16-11-1871).
A derrota da Revolução e a restauração da Igreja em nossos dias será prefigura do triunfo final de Cristo Cristo glorificado no Céu, Fra Angelico, National Gallery of Art |
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
O bem-aventurado Palau constatou em vida os maus resultados da mediocridade e da imprevidência.
Uma e outra vez foi alvo de incompreensão, e inclusive de difamação, quando prenunciou fatos lamentáveis.
Sentiu também ao vivo a ingratidão dos que poderiam ter-se beneficiado de seus avisos, quando viram que se cumpriam. Temia com razão que essa atitude nefasta se repetisse no dia do castigo de Deus.
Numerosas eram as pessoas que viviam tranquilas e otimistas na falsa paz e na prosperidade da república universal revolucionária de seu século, sem assestarem os olhos em todo mal incubado. Tais pessoas não queriam saber nem pensar em castigos.
Quando os acontecimentos previstos pelo santo carmelita tomarem corpo, eles aparecerão para os imprevidentes como uma surpresa súbita.
Ausentes, desarmados, desatentos ou instintivamente adversos à pregação do Moisés da Lei da Graça, não se interessarão seriamente pelos seus conselhos e advertências.
Terão continuado a levar indolentemente sua vida quotidiana, sem querer prestar atenção no perigo que se avolumava e o que haveria de suceder.
Então, cegos e desnorteados, sofrerão a tragédia que lhes fora anunciada e contra a qual não quiseram se precaver, trabalhar ou evitar. Ela virá como algo repentino, incompreensível e pasmoso:
“a última perseguição cairá sobre nós numa época que todos acreditaremos ser de paz; e pegará de surpresa a multidão de católicos insensatos que não acreditam nela, e que vão perder a fé, porque sua fé não está de acordo com a caridade” (“Roma y Jerusalén”, El Ermitaño, Nº 63, 13-1-1870).
Para o bem-aventurado, a Revolução adquiriu tais dimensões que seu desabamento será tremendo:
“a obra do diabo não pode cair sem uma estrepitosa e ruidosa catástrofe social universal” (“Noticias de Roma”, El Ermitaño, Nº 73, 24-3-1870).
“A prisão do diabo no mundo oficial político onde ele reina, será a catástrofe mais horrenda de quantas tenham presenciado os séculos” (“El Papa, Carlos, Enrique”, El Ermitaño, Nº 106, 17-11-1870).
Queda dos anjos rebeldes, Nicolás Francés (1390 - 1468), Cincinnati Art Museum |
“Elias e Enoque (...) são os apóstolos novíssimos que Deus tem preparados para restaurar o mundo” (“Dos grandes profetas”, El Ermitaño, Nº 101, 13-10-1870).
Em segundo lugar, ele as aplica aos discípulos do Restaurador, que secundarão sua epopeia e perpetuarão sua obra até que o telão da História desça definitivamente:
“Vejo descer do Céu uma ordem de apóstolos: são os novíssimos, e por meio deles Satanás será expulso da sociedade humana, e o mundo se converterá pela sua pregação” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 97, 15-9-1870)
“Elias virá, e virá numa ordem de apóstolos, ou missionários” (“Fray Onofre — Cuento de mi sombra”, El Ermitaño, Nº 29, 20-5-1869)
A esperança profética da vinda desses Apóstolos dos Últimos Tempos ardeu em numerosas almas virtuosas, algumas das quais a Igreja elevou à honra dos altares.
São Vicente Ferrer aconselhava meditar sobre esses apóstolos vindouros (San Vicente Ferrer, Tratado de la Vida Espiritual, in Biografía y escritos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid, 1956, 730 págs., pp. 539-541.).
São Boaventura os comparava aos serafins e previa que fariam sua aparição quando o mundo estivesse submerso em grandes tribulações (São Boaventura, Colaciones sobre el Hexaemeron, in Obras Completas, BAC, Madrid, 1972, 698 págs., 3ª ed., p. 522.).
Santa Teresa de Jesus O.C.D. os viu combatendo destemidamente com uma cruz no peito e São Francisco de Paula denominou-os “crucíferos”. Confira: Estamos nos Últimos Tempos ou já é o Fim do Mundo?
O grande pregador da devoção a Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, os descreveu profeticamente com estes termos:
“o Altíssimo e sua santa Mãe devem suscitar grandes santos, de uma santidade tal que sobrepujarão a maior parte dos santos, como os cedros do Líbano se avantajam às pequenas árvores em redor.
“Estas grandes almas, cheias de graça e de zelo, serão escolhidas em contraposição aos inimigos de Deus a borbulhar em todos os cantos, (...)
“combaterão, derrubarão, esmagarão os hereges com suas heresias, os cismáticos com seus cismas, os idólatras com suas idolatrias, e os ímpios com suas impiedades, (...)
“Maria deve brilhar, como jamais brilhou, em misericórdia, em força e graça; (...) Maria deve ser, enfim, terrível para o demônio e seus sequazes como um exército em linha de batalha, principalmente n esses últimos tempos, pois o demônio, sabendo bem que pouco tempo lhe resta para perder as almas, redobra cada dia seus esforços e ataques.
Triunfo do Imaculado Coração de Maria, montagem baseada no
'Triunfo de Cristo sobre o paganismo', Gustave Doré (1832 — 1883),
The Joey and Tobey Tanenbaum Collection, por www.schmalen.com
“Suscitará, em breve, perseguições cruéis e terríveis emboscadas aos servidores fiéis e aos verdadeiros filhos de Maria, que mais trabalho lhe dão para vencer.
“É principalmente a estas últimas e cruéis perseguições do demônio, que se multiplicarão todos os dias até ao reino do Anticristo, que se refere aquela primeira e célebre predição e maldição que Deus lançou contra a serpente no paraíso terrestre. (...) (Gen, III, 15) Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar. (...)
“O poder de Maria sobre todos os demônios há de patentear-se com mais intensidade, nos últimos tempos, quando Satanás começar a armar insídias ao seu calcanhar, isto é, aos seus humildes servos, aos seus pobres filhos, os quais ela suscitará para combater o príncipe das trevas.
“Eles serão pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixados diante de todos como o calcanhar em comparação com os outros membros do corpo.
“Mas, em troca, eles serão ricos em graças de Deus, graças que Maria lhes distribuirá abundantemente.
“Serão grandes e notáveis em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura, por seu zelo ativo, e tão fortemente amparados pelo poder divino, que, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o triunfo de Jesus Cristo.
“(...) Serão “sicut sagittae in manu potentis” (Sl 126, 4) – flechas agudas nas mãos de Maria toda-poderosa, pronta a traspassar seus inimigos. (...)
“Serão nuvens trovejantes esvoaçando pelo ar ao menor sopro do Espírito Santo, que, sem apegar-se a coisa alguma nem admirar-se de nada, nem preocupar-se, derramarão a chuva da palavra de Deus e da vida eterna.
“Trovejarão contra o pecado, e lançarão brados contra o mundo, fustigarão o demônio e seus asseclas, e, para a vida ou para a morte, traspassarão lado a lado, com a espada de dois gumes da palavra de Deus (Cf. Ef 6, 17), todos aqueles a quem forem enviados da parte do Altíssimo.
“Serão verdadeiros apóstolos dos últimos tempos, e o Senhor das virtudes lhes dará a palavra e a força para fazer maravilhas e alcançar vitórias gloriosas sobre seus inimigos; (...)
“Eis os grandes homens que hão de vir, suscitados por Maria, em obediência às ordens do Altíssimo, para que o seu império se estenda sobre o império dos ímpios, dos idólatras e dos maometanos.
“Quando e como acontecerá?... Só Deus o sabe!”(São Luís Maria Grignion de Montfort, “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, 19ª edição – Editora Vozes – Petrópolis, 1992).
Por fim, convém insistir na distinção essencial entre “últimos tempos” e “fim dos tempos”.
A primeira expressão indica as fases finais da História, que podem abarcar vários séculos, dependendo da fidelidade ou da infidelidade dos bons.
A expressão “fim dos tempos” indica os episódios que encerrarão definitivamente a História, e que, por definição, serão breves e conclusivos.
Leia em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Lea en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
O “fim dos tempos” é o encerramento dos “últimos tempos”.
Quando começam ou começaram os “últimos tempos”?
Há divergência quanto à data marco.
Em todo caso, na perspectiva palauciana, os dias do Moisés da Lei da Graça prometido nos imergem plenamente nessa era histórica que tal vez – e muito provavelmente – é a nossa.
Chegamos ao Fim do Mundo?
Nossa Senhora em La Salette e Fátima, muitos santos, como São Luis Grignon de Montfort, Santa Teresa de Jesus ou o Beato Palau afirmam categoricamente: NÃO É O FIM!
Anjo com a Lança da Paixão sobre a Ponte de Sant'Angelo, Roma |
Isso já aconteceu historicamente. Por exemplo, o Papa São Gregório VII assediado pelas tropas do imperador Henrique IV teve que se exilar em Monte Cassino primeiro, e depois em Salerno, onde faleceu e está enterrado.
Suas últimas palavras foram: “Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio” — “Dilexi iustitiam et odivi iniquitatem, propterea morior in exilio” (Herbert Edward John Cowdrey, “Pope Gregory VII, 1073-1085: 1073-1085”; Oxford University Press, 1998, 743 pp., p. 680).
“O que será de Roma? Lactâncio, Tertuliano. S. Jerônimo, Santo Agostinho, Orósio, Andreas, Cesariense, Aretas, Victoriano, Sixto, Senense, Lindano, Bellarmino, Bozóo, Suárez, Salmerón, Pererio, Prado, Cornelio a Lapide, Alcázar, citados por Tirini, aplicam a Roma não à Igreja nem ao Papa, mas sim à cidade de Roma, à cidade de Roma capital da Itália, a Roma pagã, tudo quanto se lê nos capítulos VII e VIII do Apocalipse.
“Roma será destruída (...)
“É possível que o Papa traslade sua cadeira para outra parte? Não há lugar a dúvidas: ubi Petrus, ibi Ecclesia ... Várias vezes foi forçado a fugir de Roma.
“É possível que se instale em Jerusalém? Sim. Da mesma maneira que se transladou a Avignon (França) pode se estabelecer por mais ou menos tempo em Jerusalém. (...)
“Roma, quer dizer, a Igreja Católica não desfalecerá na fé, mas Roma como cabeça das nações gentias, sim, pode apostatar de Deus e de Cristo.
Corpo embalsamado do Papa São Gregório VII na catedral de Salerno, Itália
“Pode voltar ao paganismo. Se isso vier a suceder aonde irá a parar?
“Está escrito dela: et tu excideris, também tu serás cortada da árvore da vida, como foram outrora os judeus, se não permaneces na fé, e és ingrata aos favores de Deus” (“La Iglesia coronada de espinas”, El Ermitaño, Nº 156, 2-11-1871.).
Esta possibilidade era sumamente viva nos tempos do B. Palau. Os Estados Pontifícios eram objeto de campanhas militares e de subversão armada das forças revolucionárias.
Roma acabou ocupada pela soldadesca do rei Vitor Manuel II e do carbonário Garibaldi.
A vida do Pontífice assim como a do Clero romano corria sérios riscos.
As arengas anticlericais mais extremistas reivindicavam a destruição dos templos romanos, o extermínio ou banimento dos religiosos e a extinção do catolicismo pela violência.
Esses sinistros propósitos não se concretizaram em toda a sua radicalidade, mas denunciavam o fim último anelado pela Revolução.
“Roma, não a Igreja Católica, mas os católicos falsos, traidores, será castigada. Deus derramará sobre ela o vaso de sua ira com mais severidade que sobre Paris.
Saque de Roma em 1527. Anônimo italiano séc. XVI-XVII, col. priv.
“Esse é o juízo formulado por ‘El Ermitaño’ a respeito de Roma” (“París y Roma”, El Ermitaño, Nº 99, 29-9-1870.), escreveu o Beato pouco antes dos desmandos da Comuna de Paris e da invasão de Roma consumada no dia 20 de setembro de 1870.
“O que será de Roma? — indagava — O que será do trono pontifício?
“O trono do Sumo Pontificado jamais cairá em ruínas. Sente-se nele Pedro, Paulo ou Pio, esteja em Roma ou em Jerusalém, subsistirá até o fim dos séculos.
“Ainda que dentro de uma gruta ou sobre uma pedra tosca e fria! Pouco importa.
“Ali onde está Pedro, ali está seu trono. Se Pedro se senta num deserto sobre o tronco de uma árvore, esse tronco tosco é seu trono, e se é crucificado seu trono é a cruz” (“Esclavitud de las naciones”, El Ermitaño, Nº 132, 18-5-1871.).
As ameaças revolucionárias contra a Cátedra de Pedro o levavam a vaticinar que um dia o Vigário de Cristo deveria ter que se esconder em alguma espécie de catacumba:
“uma ordem de coisas que a mão do homem não pode segurar conduz a sociedade humana à abolição do culto público religioso católico, substituído no mundo oficial pela Religião do Estado.
Tropas revolucionárias invadem Roma pela Porta Pia, 20-9-1870.
Museu Torre di San Martino della Battaglia.
“Assim o Papa voltará às catacumbas” (“Las tinieblas: eclipse total de sol en el mundo oficial”, El Ermitaño, Nº 145, 17-8-1871.).
Na perspectiva do bem-aventurado, a confusão e o caos na Igreja poderão vir a ser de tal magnitude, que seria indispensável uma intervenção extraordinária de Deus para deixar claro quem é o legítimo sucessor de Pedro:
“Derrotado o Anticristo, (...) então Deus, Ele próprio, nomeará um Papa que esteja de acordo com Seu Coração” (“Tres días de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871.).
Uma eventual série de perseguições e humilhações, portanto, precederá uma retumbante glorificação do Papado.
A tempestade ameaçava afundar a barca de Pedro, mas Jesus dormia, Rembrandt van Rijn (1606 – 1669), Isabella Stewart Gardner Museum.
“23. Subiu ele a uma barca com seus discípulos.
24. De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande,
que as ondas cobriam a barca.
Ele, no entanto, dormia.
25. Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo:
Senhor, salva-nos, nós perecemos!
26. E Jesus perguntou: Por que este medo, gente de pouca fé?
Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar,
e fez-se uma grande calmaria.
27. Admirados, diziam:
Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?”
São Mateus, 8, 23-27. |
O fato enlouquecerá o chefe do processo revolucionário, que desatará seu ódio.
Por ocasião dos desesperados furores persecutórios de Satanás, a Igreja buscará refugio em lugares menos ao alcance da tempestade.
Ali resistirá aos assaltos agônicos do furor revolucionário.
Nesses momentos extremos de aparente esmagamento e risco de extinção, ponderava o bem-aventurado, o Espírito Santo enviará seu sopro regenerador sobre a Igreja perseguida.
E Ela, renovada por graças extraordinárias, empreenderá a contraofensiva:
“A Igreja mudará uma segunda vez a face do mundo, mas antes terá que descer ao silêncio dos sepulcros.
“Com seus templos arruinados, Ela se recolherá na solidão das montanhas.
“Ali receberá o Espírito Santo na plenitude dos dons que precisa para salvar a sociedade moderna” (“La Internacional”, El Ermitaño, Nº 147, 31-8-1871.).
Tal ação do Espírito Santo terá notável analogia com a descida do Paráclito sobre os Apóstolos no Cenáculo.
Mas desta vez aconteceria entre perseguições e martírios, em plena luta contra a Revolução desvairada. Condições bem opostas às festeiras comemorações “carismáticas” mais ou menos identificadas com irenismos relativistas interconfessionais:
“O Espírito Santo desceu sobre o Monte Sinai entre trovões, relâmpagos e tempestades para anunciar ao povo a lei do Decálogo que havia olvidado.
Pentecostes, bordado pelas dominicanas de Stone, Staffordshire, Inglaterra.
[Nota: “18. Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas; o fumo que subia do monte era como a fumaça de uma fornalha, e toda a montanha tremia com violência”. (Êxodo, 19, 18)
“O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos numa tempestade [Nota: “2. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
“3. Apareceu-lhes então umas espécies de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles”. (Atos dos Apóstolos, 2, 2-3)].
“Em tempestade descerá mais uma vez, e jogará no abismo o espírito mau, ímpio, espírito tenebroso revolucionário, que possui o corpo moral da sociedade humana e que a agita a partir destes ares que respiramos, em horríveis convulsões políticas” (“La Tempestad”, El Ermitaño, Nº 149, 15-9-1871.).
A Igreja sob o impetuoso sopro renovador do Espírito Santo iniciará o contra-ataque.
Ela denunciará por todas as partes a Revolução, seus chefes e sequazes. Tal pregação terá um vigor irresistível:
“Após reconhecer como fato histórico que Satanás dirige a obra da Revolução, a sustenta, lhe confere força, poder e forma, a Igreja será consequente: atacá-lo-á em guerra ofensiva e o vencerá” (“Incendio de barracas en Barcelona”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
“A Igreja (...) sozinha se apresentará impávida no campo de batalha em guerra ofensiva, sozinha lutará, sozinha vencerá, e só a Ela suas filhas, as nações. darão glória e honra” (“Esclavitud de las naciones”, El Ermitaño, Nº 132, 18-5-1871).
“Não será a Revolução que se pronunciará oficialmente contra a Igreja, mas será Esta que acometerá contra aquela” (“Las tinieblas: eclipse total de sol en el mundo oficial”, El Ermitaño, Nº 145, 17-8-1871).
Diante do olhar atônito das multidões, os discípulos do Restaurador prometido — os apóstolos dos últimos tempos — expulsarão os verdadeiros mentores da Revolução, denunciando seus artifícios e seus verdadeiros objetivos.
Obrigá-los-ão a se reconhecerem como tais e lhes ordenarão inapelavelmente cessar de fazer mal aos homens e a abandonar a Terra:
“Quando virdes uma ordem de apóstolos ou missionários que lançam os demônios e os põem a descoberto, (...)
Beato Palau. No fundo: o monte Vedrà
“no ato, publicamente nas praças, ruas e casas; quando virdes que as enfermidades causadas nos corpos humanos ficam curadas na hora;
“quando virdes que os demônios já não mais resistem, mas fogem até de nossa sombra (...)
“Enxotado o princeps hujus mundi do santuário, expulso o rei das trevas do convívio dos filhos e filhas do povo de Deus; vencido esse em seu próprio terreno, que é o da força eclesiástica puramente espiritual,
“esse triunfo trará como resultado infalível o da Igreja no campo da política e da força material; a revolução do mundo vai cair” (“Elías y el Anticristo”, El Ermitaño, Nº 22, 1-4-1869).
O diabo sendo acorrentado. Nossa Senhora de Quito, col.part. |
“acorrentarão o príncipe tenebroso que corrompeu todos os reis da Terra; arrancarão dos falsos pastores a pele de ovelha e exibirão sua hipocrisia ante todo o rebanho” (in “Obras Selectas”, Editorial Monte Carmelo, Burgos, 1988, pp. 916, p. 583).
Dessa maneira, segundo o Beato cujo pensamento ora expomos, na derrubada da Revolução resplandecerá de modo incomparável o poder de Deus, que durante os dias da Revolução parecia estar de braços cruzados:
“A ira de Deus, que agora castiga invisível e espiritualmente a raça de Adão, permitindo o triunfo do erro, tornar-se-á visível e tão visível, que ninguém, absolutamente ninguém, poderá duvidar da onipotência do Deus que agora os católicos invocamos e que parece fazer-se de surdo. Esse dia virá quando ninguém acreditar nele” (“La noche”, El Ermitaño, Nº 169, 1-2-1872).
Os espíritos das trevas ficarão sobremaneira confundidos e desconjuntados. Procurarão fazer vingança em seus cúmplices humanos, que são seus instrumentos por permissão de Deus:
“Com ira, anátema e maldição — explicava — Deus visitará o incrédulo, e, entre os incrédulos, aquele que diz ser católico, (...)
“católico da raça daqueles que escarnecem de tudo quanto ensina o catolicismo sobre a justiça divina e sobre os demônios, que são seus executores.
“A esses dirigirá o inferno todos seus furores” (“Preservativo para las casas y campos contra el fuego de la ira de Dios”, El Ermitaño, Nº 144, 10-8-1871).
O grande incêndio de Londres, 2 a 5 de setembro de 1666, Museum of London.
As obras revolucionárias, que se erguiam contrariando a ordem natural em virtude da influência de potências infernais, cairão de vez, estrepitosamente.
Inclusive o bem-aventurado supunha que regiões inteiras sacudirão na hora de serem abandonadas pelos demônios que as possuíam:
“Assim como os espíritos enviados para possuir os corpos humanos substituem nessa posse a alma racional, assim estes outros [n.r.: espíritos das trevas] possuem a natureza, e (se Deus lhes conceder permissão) manipulam suas propriedades contra o homem.
“Por essa razão será horrendo o dia em que esses espíritos de erro e de maldade forem jogados no abismo, porque será Deus quem, como autor da ordem natural e social que transtornam, os vomitará servindo-se da própria natureza. (...)
“O orbe inteiro, ao expelir de seu seio tanta maldade, dará sinais que ninguém ignorará o que significam” (“Signos en el cielo y sobre la tierra”, El Ermitaño, Nº 143, 3-8-1871).
“A natureza em vômito jogará no abismo esses anjos de maldade numa daquelas horríveis convulsões, que para o incrédulo será mais terrível que o dia do dilúvio” (“El reino de las tinieblas”, El Ermitaño, Nº 122, 9-3-1870.).
Diante de tão grandes comoções, muitos poderão acreditar que se trata de desastres puramente naturais.
Mas os apóstolos dos últimos tempos obrigarão os demônios a confessar sua operação e sua culpa, para edificação dos homens de pouca fé.
Os espíritos tenebrosos deixarão claro qual foi e é seu papel na Revolução. A própria “estirpe de Judas”, que vinha corroendo a Igreja na escuridão, será denunciada, exposta em toda sua evidência e execrada:
“O diabo fez perder a fé, toda a fé referente à sua obra de maldade, que está urdindo sobre a terra em união com o homem mau.
Gargouille de Notre Dame de Paris com fundo de fogo
“E na hora de ser precipitado no abismo, ele próprio vai reparar com seu poder esse dano.
“Ele vai dar testemunho de sua existência e do poder que comunicou a todo um exército de homens.
“Ai desse dia! Ai daqueles que agora advogam por ele e combatem essa fé! Ai desse homem!
“Ai do Judas, que desde o santuário entrega ao diabo o templo de Deus, vende suas ovelhas e protege os lobos para que as devorem a seu bel-prazer!” (“Triunfo de la Cruz”, El Ermitaño, Nº 125, 30-3-1871).
O bem-aventurado esperava que os apóstolos dos últimos tempos realizassem portentos que completariam a extinção da Revolução e todos os males que ela causa às almas:
“Naquele dia à voz dos profetas abrirá a terra, e o inferno tragará vivos os apóstolos da mentira à vista dos povos, (...)
“naquele dia os profetas enviados por Deus para a redenção das nações, rechaçarão a força bruta do homem com a força divina.
“A pedido de sua voz descerá fogo do céu, e à vista dos povos reduzirá a cinzas o poderoso que tente impedir sua missão” (“Cataclismo social”, El Ermitaño, Nº 148, 7-9-1871).
Por maiores e tremendos que sejam esses castigos, muito maior será a glorificação da Igreja, cuja ofensa constituiu a suprema razão de ser desses castigos:
“Será tão estupenda a última missão que Deus prepara para a sua Igreja, que sua voz, a voz dos apóstolos calará a política.
“Será com voz de trovão, como trombeta de arcanjo, a qual não poderá abafar o estampido do canhão nem o brado dos guerreiros” (“Un rayo de la aurora boreal”, El Ermitaño, Nº 172, 22-2-1872).
segundo as Escrituras e autênticos depoimentos de santos
Corpo da Beata Anna Maria Taigi, igreja de São Crisógono, Roma. |
Eles têm um fundamento bíblico e foram objeto de comentários e/ou visões de almas santas ou privilegiadas.
A revelação particular mais famosa sobre esses três dias de trevas é atribuída à Bem-aventurada Ana Maria Taigi (1769-1837). Veja: A contemplativa da luta entre a Luz e as Trevas
Nos tempos do Bem-aventurado essa visão já tinha notoriedade. Sua versão mais autorizada se lê no processo de beatificação da Beata Taigi.
Encontra-se no testemunho de Mons. Raffaele Natali, confidente da vidente e anotador de suas visões durante décadas. Ele depôs nestes termos:
“No ano de 1818, a Serva de Deus me descreveu a revolução de Roma e tudo o que aconteceu, e em seguida me falou muitas vezes, de um modo muito mais espantoso, dizendo que havia sido mitigada em atenção às orações de muitas almas amadas por Deus, as quais se tinham oferecido a Ele para satisfazer a Justiça Divina.
“Mas [que viria um dia em que] a iniquidade iria marchar em triunfo e muitos crentes 'bons' haveriam de tirar a máscara.
“Que o Senhor queria denunciar a cizânia, porque logo a seguir Ele saberia o que fazer com ela.
“Que as coisas chegarão a um ponto tal, que o homem não será mais capaz de pô-las em ordem, mas que o braço onipotente de Deus haveria de remediar tudo.
“Que Nosso Senhor não o tinha comunicado nem às suas almas mais amadas na terra. Que haveria de chegar inesperadamente e que os ímpios haveriam de ser destruídos.
“Mas que antes de dito castigo, todas as almas que na sua época gozavam de fama de santidade teriam sido sepultadas.
“Que numerosos milhões de homens haveriam de morrer por causa do ferro nas guerras, outra parte em conflitos e outros milhões em mortes imprevistas — entende-se que por todo o mundo.
“Que, em consequência, nações inteiras haveriam de retornar à unidade da Igreja Católica, muitos turcos, gentios e hebreus haveriam de se converter e que os cristãos haveriam de ficar estupefatos, confundidos e admirados vendo seu fervor e observância.
“Numa palavra, ela me disse que o Senhor queria purgar o mundo e Sua Igreja, para o qual preparava uma nova safra de almas que, desconhecidas, haveriam de realizar grandes obras e surpreendentes milagres.
“Disse-me que, depois de a terra ter sido purificada com guerras, revoluções e outras calamidades, começaria o castigo do Céu, o qual culminaria com uma convulsão geral de fenômenos meteorológicos dos mais espantosos trazendo grande mortalidade.
“A Serva de Deus me disse várias vezes que o Senhor lhe fez ver no misterioso Sol o triunfo universal da nova Igreja, tão grande e surpreendente que não podia explicá-lo”
(Proc. Ord. fol. 695-696 apud Mons. Carlo Salotti, “La Beata Anna Maria Taigi secondo la storia e la critica”, Libreria Editrice Religiosa, Roma, 1922, 423 págs., pp. 340-342).
Durante grande parte de sua vida, a bem-aventurada Taigi teve sempre presente diante de si um disco dourado, semelhante a um sol, no qual via representados acontecimentos presentes ou futuros.
(cfr. Mons. Carlo Salotti, “La Beata Anna Maria Taigi secondo la storia e la critica — Madre di famiglia e terziaria dell'Ordine della Ss. Trinità”, Libreria Editrice Religiosa, Roma — Scuola tipografica italo-orientale S. Nilo , Grottaferrata, 1922, 423 pp.).
“O fato, escreveu, se anuncia da seguinte forma: enquanto num dia claro e sereno o sol estará em seu percurso, repentinamente se farão trevas tão densas que poderão ser apalpadas e tocadas, as quais cobrirão a face da terra.
“O céu se apresentará sob um aspecto tão espantoso que, vendo-o, as pessoas fugirão e se esconderão no mais recôndito de suas casas, fechando portas e janelas como no momento de uma tempestade arrepiadora.
“Espectros horripilantes aparecerão nos ares, dando uivos espantosos. Se por um momento a lua abrir caminho entre as trevas, apresentar-se-á vestida de sangue para quem tenha coragem de olhá-la.
“Esses serão dias de ira e de maldição, dias em que o anjo exterminador, como a morte montada em corcel acompanhado pelo inferno, visitará a casa do ímpio, do incrédulo, desse homem que cheio de arrogância desafia a onipotência de Deus, assim como visitou o Egito matando numa noite seus filhos varões primogênitos.
“Perecerão de espanto muitíssimas pessoas, que acreditarão ter chegado o mundo a seu fim, e sentir-se-ão envolvidas por uma noite eterna.
“Horrendas convulsões da natureza anunciarão que Deus seu autor está irritado, e à maneira como uma mulher energúmena se contorce quando o espírito de maldade é expulso de seu corpo, assim a natureza, no ato de expelir de seu seio esses anjos revolucionários, que unidos ao homem iniquo transtornam todas as leis, fará sentir que chegou a hora suprema da renovação.
“Entrando nas casas do ímpio, a morte passará velozmente e com seu alfanje segará anciãos, crianças, homens, mulheres.
“Quem ficar com vida, procurará luz para ver os cadáveres, e o relâmpago descobrirá o rosto amarelo da esposa, da filha, do irmão, do pai.
“Tentará auxiliar o moribundo, procurará fogo, e este se negará a dar luz e calor.
“O justo, aquele que acredita, acenderá a luz e esta arderá ante o Senhor, enquanto orará prosternado por terra, aguardando que o Deus das vinganças conclua sua visita e venha a sua misericórdia.
El Ermitaño nº119, carátula
El Ermitaño nº 119, três días de trevas
“Fechará portas e janelas, e recolhido no oratório com sua família, fazendo jejum, oração e penitência, humilhar-se-á ante o Juiz que castiga o delinquente, enquanto o ímpio perecerá com sua impiedade.
“Nesses três dias será Deus quem batalhará contra os insensatos que agora insultam a sua onipotência.
“O orbe inteiro acompanhá-lo-á montado, para confirmar a verdade católica.
“E retirando-se do campo de batalha, vencedor e triunfante sobre as trevas, jogará os espíritos que as produzem ao fogo eterno do inferno”. (“Tres días de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
E no número 155 de El Ermitaño, o bem-aventurado carmelita retomava o tema:
“Do processo da própria venerável Taigi foi tirada a predição dos dois grandes castigos, um do céu e outro da terra.
“Terminado este último, que consistirá em guerras, revoluções e outras calamidades, virá o do céu, que segundo outra profecia da mesma Taigi, se explica assim:
“Grandes trevas deverão vir e estender-se por todo o mundo durante três dias e três noites.
“Serão tão espessas, que não se verá absolutamente nada, sendo ao mesmo tempo pestilenciais, e ferirão sobretudo aos inimigos da Religião, sem que por isso se acredite que o açoite atacará somente a esses.
“Enquanto durar, luz alguma fornecerá claridade, fogo algum poderá brilhar e só as pessoas que tiverem velas bentas poderão ver.
“Recomenda-se não tratar de penetrar na escuridão do céu durante as trevas, porque toda pessoa que se puser na janela ou sair de sua casa para tentar descobrir o que está acontecendo no firmamento, ficará fulminada no ato.
Paris em ruínas. Conceito artístico
“Durante todo o tempo que durar a prova se deverá passar em oração, e sobretudo rezar o santo Rosário e aguardar, num estado de prova e de humilhações, que o Senhor nos conceda de novo a sua misericórdia.”
“O próprio diretor espiritual da venerável Taigi, Mons. Raffaele Natali, dizia, em agosto de 1864:
“É muito verdadeiro que a venerável Serva de Deus anunciou o açoite dos três dias de trevas espalhado sobre toda a terra...
“Nestas circunstâncias, as janelas deverão ficar fechadas, devendo-se evitar debruçar sobre elas, e será imperioso rezar o santo Rosário e fazer oração.”
“Ignoramos que caráter têm essas predições, porque não sabemos o que a Igreja, única autoridade na matéria, declarou sobre elas.
“É certo que Deus não precisa de meios extraordinários para dar o triunfo à Igreja, mas também é verdadeiro que em seus inescrutáveis desígnios pode querer confundir com prodígios a soberbia e a maldade de seus inimigos.” (“Tres dias de tinieblas”, El Ermitaño, Nº 155, 26-10-1871)
Primeiros “três dias de trevas”: a nona praga do Egito (capítulo X do Êxodo)
Indagava então o santo carmelita: “Isto prega a venerável Taigi. Acontecerá? Poderá ser? Quando? Se vai suceder, em que época se dará?
“Responderemos expondo simplesmente a nossa opinião, filha de profundas meditações.
“1º) Isso aconteceu uma vez, logo pode vir a ser em outra época em que convenha à gloria de Deus. Lê-se no cap. X do Êxodo: Disse Deus a Moisés, estende tua mão ao céu e desçam trevas tão densas que possam ser apalpadas.
“Estendeu Moisés sua mão em direção ao céu, e apareceram horripilantes trevas sobre todas as regiões do Egito, e duraram três dias, de maneira que cada um ficou imóvel onde se encontrava.
“Um homem não via o outro. Só havia luz onde moravam os filhos de Israel”. (“Tres dias de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
21. O Senhor disse a Moisés: “Estende a mão para o céu, e que se formem sobre todo o Egito trevas (tão espessas) que se possam apalpar.”
22. Moisés estendeu a mão para o céu, e durante três dias espessas trevas cobriram todo o Egito.
23. Durante esses três dias, não se via um ao outro, e ninguém se levantou do lugar onde estava. Ao passo que todos os israelitas tinham luz nos lugares onde habitavam.
24. O faraó mandou chamar Moisés e disse-lhe: “Ide fazer vossas devoções ao Senhor. Somente vossas ovelhas e vossos bois ficarão neste lugar; podeis levar convosco vossos filhinhos.”
25. Moisés respondeu: “Tu mesmo nos porás nas mãos o que precisamos para oferecermos sacrifícios e holocaustos ao Senhor, nosso Deus.
26. Além disso, nossos animais virão conosco; nem uma unha ficará, porque é deles que devemos tomar o que precisamos para fazer nosso culto ao Senhor, nosso Deus. Enquanto não tivermos chegado lá, não sabemos de que nos serviremos para prestar nosso culto ao Senhor.”
27. Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, que não quis deixá-los partir. (Êxodo, 10, 21-27)
Moisés estende os braços e o Egito se enche de trevas durante três dias e três noites infestadas de espectros enlouquecedores. Gustave Doré (1832 — 1883) , gravura para o Antigo Testamento |
Sabedoria, 17
1. Em verdade, grandes e impenetráveis são vossos juízos, Senhor; por isso as almas grosseiras caíram no erro.
2. Por terem acreditado que podiam oprimir a santa nação, os ímpios, prisioneiros das trevas e encarcerados por uma longa noite, jaziam encerrados nas suas casas, tentando escapar à vossa incessante vigilância.
3. Depois de terem imaginado que, com seus secretos pecados, ficariam escondidos sob o sombrio véu do esquecimento, eles se viram dispersados, como presa de um terrível espanto, e amedrontados por alucinações.
4. Mesmo o canto mais afastado em que se abrigavam não os punha ao abrigo do terror: ruídos aterradores ressoavam em torno deles, e taciturnos espectros de lúgubre aspecto lhes apareciam.
5. Nenhuma chama, por intensa que fosse, chegava a iluminar. E a luz brilhante dos astros era impotente para alumiar esta noite sombria.
6. Mas aparecia-lhes de súbito nada mais que uma chama aterradora, e, tomados de terror por esta visão fugitiva, julgavam essas aparições mais terríveis ainda.
7. A arte dos mágicos se mostrou ilusória, e esta sabedoria, a que eles pretendiam, evidenciou-se vergonhosamente como falsidade.
8. Aqueles que se jactavam de banir das almas doentes o terror e a perturbação, eram eles mesmos atormentados por um ridículo temor.
9. Mesmo quando nada de mais grave os aterrorizava, a passagem dos animais e o silvo das serpentes punham-nos fora de si, e eles morriam de medo. Recusavam até mesmo contemplar essa atmosfera à qual nada podia escapar;
10. porque a maldade, condenada por seu próprio testemunho, é medrosa, e, sob o peso da consciência, supõe sempre o pior,
11. pois o temor não é outra coisa que a privação dos socorros trazidos pela reflexão,
12. porque, quanto menor for em sua alma a esperança de auxílio, tanto mais penosa é a ignorância daquilo de que se tem medo.
13. Eles, durante essa noite de impotência, saída dos recantos do Hades impotente, dormiam num mesmo sono,
14. agitados, de um lado, pelo terror dos espectros, e paralisados, de outro, pelo desfalecimento da alma; pois era um pavor repentino e inesperado o que se abatera sobre eles.
15. E todo aquele que caía sem força, ficava como que preso e encerrado num cárcere sem ferros.
16. Fosse ele camponês ou pastor, ou o operário que se afadiga sozinho no seu trabalho, uma vez surpreendido, tinha de suportar a inevitável necessidade, porque todos estavam ligados por uma mesma cadeia de trevas.
17. O silvo do vento, o canto harmonioso dos passarinhos nos ramos espessos, o murmúrio da água correndo precipitadamente, o estrondo das rochas que se despenhavam,
18. a carreira invisível dos animais que saltavam, os urros dos animais selvagens, o eco que repercutia nas cavidades dos montes: tudo os paralisava de terror.
19. Enquanto o mundo inteiro era alumiado de uma brilhante luz, e sem obstáculo se entregava às suas ocupações,
20. somente sobre eles se estendia uma pesada noite, imagem das trevas que mais tarde os deviam acolher; e eram para si mesmos um peso mais insuportável que esta escuridão.
Os "três dias de trevas" que estão para vir segundo os profetas Isaías, Ezequiel e Joel
“Aquilo que Deus fez pelas mãos de Moisés no Egito pode agora renová-lo no mundo inteiro pelas mãos de um outro homem?, perguntou-se o Beato Palau. E respondeu:
Isaías profeta. Vitral da catedral de Edinburgo, Escócia.
“Sim, pode. Fá-lo-á? Sim. Como se sabe?
“Ouçamos os profetas.
Diz Isaías, cap. XIII: ‘Eis que vem o dia do Senhor, cruel, cheio de indignação, ira e furor. Reduzirá a terra a uma solidão, e exterminará dela os maus.
“As estrelas negarão sua luz, o sol no momento de nascer ficará nas trevas e a lua se vestirá de luto.
“Nesse dia visitarei a maldade do orbe inteiro e minha visita será contra a iniquidade do ímpio. Cessará a soberba dos infiéis, e humilharei a arrogância dos fortes’.
“Ezequiel cap. XXXII, descrevendo o castigo do ímpio, diz: ‘o céu ficará encoberto e as estrelas encapotadas com um véu negro.
“A nuvem esconderá o sol e a lua não dará luz, desaparecerá a luz de todos os astros do céu e espalharei as trevas sobre tuas terras’.
“Joel, cap. II: ‘haverá no céu prodígios grandes e a terra se encherá de sangue, fogo e vapor de fumaça.
“O sol se converterá em trevas, e a lua se vestirá de sangue, antes que venha o dia do Senhor grande e horrível” (“Tres dias de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
O B. Palau supunha que o demônio interviria de modo destacado no início dos castigos como instrumento dos mesmos.
Mas, na medida em que eles avançassem, a participação angélica e do próprio Deus se tornariam dominantes. Esses três dias de trevas acontecerão na parte final dos castigos.
E sua mais profunda razão de ser consistiria em confirmar a missão do enviado de Deus:
“De que serviriam os três dias de trevas tais como os prediz a venerável Taigi, se não fossem sinais para dar crédito a uma missão, como o foram as trevas que Moisés atraiu contra os egípcios?
“Sem a mão de um profeta produziriam o mesmo efeito que as epidemias e as guerras.
“Para que o ímpio não as atribua à pura obra da natureza, será necessária uma voz apostólica que as mande e as retire para dar crédito à onipotência do Deus dos católicos, e a verdade do poder da Igreja” (“La cruz”, El Ermitaño, Nº 159, 23-11-1871).
Nessa perspectiva, os três dias de trevas constituiriam o lance determinante da vitória final da Igreja.
Jesus Cristo exorciza o demônio. Detalhe da porta de bronze da catedral de Pisa |
Quanto mais a marcha revolucionária progride, mais o demônio se assenhoreia da sociedade e a empurra para maiores pecados e desgraças. Estes, por sua vez, aceleram a pressa da Revolução, como num círculo vicioso.
À medida que os dias do aparente triunfo final da Revolução se tornem realidade, essa possessão vai se intensificar. O Anticristo, ele próprio, ostentará o máximo poder de maleficiar.
Por isso, o bem-aventurado julgava imperiosa uma ação que envolvesse a utilização sistemática e generalizada do poder conferido por Nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos: o ministério do Exorcistado.
O ideal do B. Palau era que, sob as ordens do sucessor de Pedro, os sacerdotes se lançassem em sistemática cruzada contra os demônios que infestam o mundo:
“Este é nosso ideal — explicava —: que sob a direção do Papa se organize e se ponha na ordem que merece o ministério do Exorcistado. Então o efeito será infalível.
Jesus exorciza legião de demônios que tinham possuído dois gadarenos (Mateus 8;28-34).
Marfim no Hessisches Landesmuseum Darmstadt, Alemanha.
“Esse efeito é a prisão de diabo, a ruína de seu império e o triunfo do catolicismo pela conversão dos reis que agora nos combatem.
“É isto um sonho dourado do El Ermitaño? Ou antes uma realidade?
“Se é uma realidade, poderá demorar um pouco mais ou um pouco menos de tempo, mas por esse meio o mundo será renovado.
“Uma potencia espiritual prenderá o diabo, e sua prisão será a liberdade das nações.
“Qual é essa potência?
“Aquela que opera no Exorcistado: esse é o ministério que tem o poder imediato e direto sobre os demônios” (“Observaciones sobre energúmenos”, El Ermitaño, Nº 65, 27-1-1870).
Santo Antônio Maria Claret. |
Esse zeloso defensor da Igreja diante dos ataques da Revolução apoiou ativamente o B. Palau quando a Escuela de la Virtud foi iniquamente fechada.
Numa carta sobre o assunto, o B. Palau escrevia ao santo arcebispo, que também era o confessor da Rainha da Espanha:
“Acredito que o senhor é um instrumento providencial, um órgão do Espírito de Deus a quem nesta matéria devo consultar” (Francisco Palau OCD, Obras selectas, Editorial Monte Carmelo, Burgos, col. Maestros Espirituales Carmelitas Nº 7, 1988, 818 pp., carta Nº 35/44, p. 714).
Porém, os dois divergiam sobre o número de possessos e sobre a atitude pastoral diante desses casos. Santo Antonio Maria Claret deu conselhos aos sacerdotes da congregação que ele fundou divergentes dos pontos de vista do beato carmelita.
O B. Palau manifestou ao santo arcebispo suas opiniões com o estilo claro, viril e caritativo de que gostavam essas duas grandes almas.
A disputa é um exemplo da categoria e da elevação com que duas almas santas abordam suas dificuldades na plenitude do espírito católico:
“Estamos divididos em opiniões sobre matérias controversas — escreveu o beato catalão — com pessoas respeitáveis e que amamos; não é coisa rara nem estranha, porque não haveria debates nem discussões dentro da aula conciliar, se ali os prelados opinassem todos de igual modo.
“Enquanto todos reconhecermos um tribunal infalível e nos submetermos humildes à sua definição, a discussão não pode prejudicar.” (“El Ermitaño ante el Concilio”, El Ermitaño, Nº 77, 28-4-1870).
Infelizmente ambos faleceram pouco depois, em datas muito próximas, e o debate, que teria conduzido a grandes progressos doutrinários e pastorais, não teve conclusão.
Não é raro, aliás, polêmicas entre santos movidas por um amor ardente pela Igreja.
A mais famosa, truculenta e frutuosa foi aquela travada por São Jerônimo e Santo Agostinho, Padres e Doutores da Igreja:
“Nem tu comigo nem eu contigo: calemos aquilo que em nossas cartas possa nos chocar, com a intenção, claro está, de que não se afaste ante os olhos de Deus na caridade fraterna”, respondeu numa ocasião a Águia de Hipona (Santo Agostinho) ao Leão de Belém (São Jerónimo) (“Cartas de San Jerónimo”, BAC, Madrid, vol. II, 1962, carta 116, p. 389).
Nosso Senhor exorciza jovem possesso por um demônio mudo (Marcos 9;17-29). |
É um arrazoado sobre a necessidade de se colocar em pé de guerra contra o demônio todos os sacerdotes do mundo. Eles deveriam ser mobilizados no Exorcistado sob as ordens do Papa e dos bispos.
Esse plano não se realizou. O B. Palau faleceu em 20 de março de 1872 em Tarragona, após esgotante atendimento aos doentes de uma epidemia. Enquanto no dia 7 de fevereiro de 1878, na Cidade dos Papas, partia para o Céu o Beato Pio IX.
Poucos anos depois da morte de ambos, o novo Papa, Leão XIII, acrescentou no fim da Missa uma oração a São Miguel Arcanjo, que é um verdadeiro exorcismo (cfr. P. Alejo de la Virgen del Carmen O.C.D., Vida del R. P. Francisco Palau Quer, 1933, pp. 316-317).
Em 18 de maio de 1890, o próprio Leão XIII promulgou o Exorcismus in Satanam et angelos apostaticos, cujo conteúdo — observa a Positio do processo de beatificação do P. Palau — “entronca diretamente com o pensamento de Francisco Palau. Não deixa de surpreender a identidade de doutrina e até de linguagem” (Cfr. Sacra Congregatio Pro Causis Sanctorum. Tarraconem. Canonizationis Servi Dei Francisci a Jesu Maria Joseph - Positio Super Virtutibus, Roma, Tipografia Guerra, 1985, vol. II, pp. 541-542.).
Mas os recursos ordinários do Exorcistado não foram mobilizados do modo sistemático indispensável para acorrentar o poder do demônio e da Revolução, como o bem-aventurado desejava.
Oração a São Miguel Arcanjo a ser rezada após a Missa
“São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio.
“Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos; e vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no Inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém”.
Excerto da oração inicial do Exorcismus in Satanam et angelos apostaticos de Leão XIII
Eis que o inimigo antigo e homicida se ergueu com veemência. Transfigurado em anjo de luz, com toda a caterva de espíritos maus, circundou e invadiu toda a Terra, para que nela destruísse o nome de Deus e de seu Cristo, e roubasse as almas destinadas à coroa da glória eterna, e as prostrasse e as perdesse na morte eterna.
São Clemente, primeiro bispo de Metz acorrenta o demônio |
As hostes astuciosíssimas encheram de amargura a Igreja, Esposa imaculada do Cordeiro, e inebriaram-na com absinto; puseram-se em obras para realizar todos os seus ímpios desígnios.
Ali onde está constituída a Sede do Beatíssimo Pedro e Cátedra da Verdade para iluminar os povos, aí colocaram o trono de abominação da sua impiedade, para que, ferido o Pastor, se dispersassem as ovelhas.
Vinde, pois, general invictíssimo, e dai a vitória ao povo de Deus, contra as perversidades espirituais que irrompem.
A Santa Igreja vos venera como seu guarda e protetor, glorificai-vos como defensor contra as potestades abomináveis da Terra e dos infernos; confiou-vos o Senhor a missão de introduzir na felicidade celeste as almas resgatadas.
Rogai, pois, ao Deus da paz que esmague Satanás sob nossos pés, a fim de que ele não mais possa manter cativos os homens e fazer mal à Igreja.
Apresentai ao Altíssimo as nossas preces, a fim de que sem tardar o Senhor nos faça misericórdia, e vós contenhais o dragão, a antiga serpente, que é o demônio e satanás, e o lanceis encadeado no abismo, para que não mais seduza as nações (Apoc. 20).
Nossa Senhora destrói o pacto que o monge Teófilo tinha assinado com o demônio |
Esse auxílio extraordinário só viria quando se tivessem esgotado os recursos ordinários:
“Os meios ordinários que a Providência tem para prender e encadear a Satanás encontram obstáculos insuperáveis, é verdade.
“Mas também é verdade que Deus, na sua Providência para salvar sua Igreja da voracidade do lobo infernal, estenderá seu braço onipotente, e o expelirá do próprio interior do santuário junto com toda a incredulidade dos católicos incrédulos” (“La acción inmediata de Dios”, El Ermitaño, Nº 116, 26-1-1871).
Ele imaginava que esses meios extraordinários seriam concedidos à missão de Elias, e que seriam partilhados por seus discípulos.
Revestidos de poderes exorcísticos que não se encaixam nas formas canônicas, os apóstolos dos últimos tempos esmagarão a Revolução na terra, secundados pela ação do Arcanjo São Miguel e das legiões angélicas.
“A Revolução — dizia — na terra vai morrer pela mesma mão que a degolou no céu (...) pelo ministério dos anjos e dos homens não revolucionários” (“Venció la Reina?”, El Ermitaño, Nº 152, 5-10-1871).
O Exorcistado jogará então um papel decisivo na vitória da Igreja:
“O Exorcistado vai ser no mundo o ministério da guerra da Religião, que armará os católicos verdadeiros para enfrentar a luta direta contra Satanás, assim como os Reis Católicos investiram contra Maomé, Fócio e Lutero com o poder das armas.
São Miguel Arcanjo, Mestre de Zafra (por volta de 1499-1500).
Madri, Museu del Prado.
“Esse ministério está instituído para a guerra contra o Anticristo, e embora sempre tenha servido à Igreja, na última perseguição será posto em ordem de batalha com a plenitude de forças contra a Revolução.
“E seu efeito será a prisão de Satanás e a ruína de seu império, desse império que ele tem sobre a terra” (“El dogma católico con referencia a la redención de la sociedad actual”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
“O poder que envolve em si o ministério do Exorcistado, (...) prenderá Satanás, o atará e, atado, o precipitará no abismo, fechará as portas e as selará, para que nunca mais volte a sair de seu cárcere, senão para comparecer ante o juiz supremo no dia do juízo universal.
“Então o mundo terá paz, então a sociedade humana aceitará a Lei, ouvirá os preceitos do Decálogo e se renderá à pregação do Evangelho” (“Esclavitud de las naciones”, El Ermitaño, Nº 132, 18-5-1871).
Em carta ao bispo de Barcelona, Mons. Pantaleón Monserrat, datada 1º de março de 1870, o bem-aventurado destacava a razão especial pela qual se interessava pelo Exorcistado.
Para ele, o objetivo mais importante era expulsar da terra o verdadeiro pai da Revolução, de todo o caos e de todas as desgraças que essa acumula sobre os homens.
O bem meramente individual dos possessos de Satanás — pelos quais o religioso carmelita se sacrificava denodadamente — ocupava um lugar menos acentuado.
“Se o exorcistado — escreveu — fosse um ministério ordenado apenas ao bem individual ou de certo número de famílias, talvez eu não teria podido manifestar o meu desacordo.
“Porém, o exorcistado não se limita a isso.
“O poder engajado sob o véu da fé está ordenado nada mais e nada menos que a prender “directe et inmediate” [de forma direta e imediata] a potência armada que dirige a revolução do mundo e que mantém todas as nações sob seu domínio por meio de governos apóstatas.
“Sua prisão ou sua liberdade depende do uso ou não uso do exorcistado, desses dois pontos depende a ruína ou a salvação do mundo” (Francisco Palau, Obras Selectas, Ed. Monte Carmelo, 1988, Burgos, col. Maestros Espirituales Carmelitas Nº 7, 918 pp, Carta 139, p. 880).
São Wolfgang submete o diabo, Michael Pacher (1435 — 1498).
Antiga Pinacoteca de Munique
Num diálogo didático para explicar esta posição, ele imaginava uma disputa com os anjos que protegem a Igreja e a Cidade Eterna.
Ele apresenta os anjos com suas espadas na bainha e as mãos em gesto de piedosa oração, imersos em surpreendente tranquilidade.
O Beato então lhes reclama pela passividade diante das vitórias dos demônios que se apossaram dos líderes das nações e dos países.
Os anjos lhe respondem que aguardam que o Papa, os bispos e os sacerdotes se engajem na batalha contra os demônios. Então, sim, eles entrarão em auxílio deles e decidirão a vitória da Igreja.
O B. Palau revida dizendo que os anjos são muito mais poderosos que os sacerdotes e que um só golpe de sua espada basta para desfazer a conjura dos demônios.
E que, portanto, se o clero não se mobiliza, eles devem entrar em ação passando por cima dos homens sagrados para trucidar a iniquidade.
Os anjos respondem que Jesus Cristo instituiu uma hierarquia na Igreja por cima da qual nem eles podem passar.
Segundo essa ordem hierárquica instituída por Deus, o poder de exorcizar Satanás e os anjos rebeldes foi conferido por Cristo aos Apóstolos: “demones ejicite” – “expulsai os demônios” (São Mateus, 10, 8); e “ecce ego dedi vobis potestatem calcandi supra serpentes et scorpiones et super omnem virtutem inimica” – “Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do inimigo” (São Lucas, 10, 19).
O Beato então redarguiu que, assim sendo, a promessa de Cristo de que as “portas do inferno não prevalecerão” (São Mateus 16, 18) não será cumprida, porque os bispos impedem o exorcismo. Portanto, o demônio teria triunfado sobre a Igreja, coisa que é inadmissível.
Elias e Enoque. Ícone do século XVII. Museu Histórico Sanok, Polônia |
O religioso fica surpreso com a resposta, como se lhe soasse inesperada.
Então o anjo completa: está nas Escrituras que há duas testemunhas na presença de Deus que são como duas oliveiras e dois candelabros aguardando que o Juiz Supremo lhes ordene descer à terra para combater o Anticristo.
“3. incumbirei às minhas duas testemunhas, vestidas de saco, de profetizarem por mil duzentos e sessenta dias. 4. São eles as duas oliveiras e os dois candelabros que se mantêm diante do Senhor da terra” (Apocalipse, 11, 2-4)
O Beato Palau entende se referir a Santo Elias e Santo Enoque, que comandarão os apóstolos dos últimos tempos e decidirão os lances derradeiros (“Mis relaciones con la Iglesia”, in “Obras Selectas”, Editorial Monte Carmelo, Burgos, 1988, p. 916, pp. 585-591).
Essa intervenção inesperada, que sai das vias ordinárias, é a via extraordinária anunciada nas Escrituras sagradas.
Detalhe da catedral de York, Inglaterra. |
“O mesmo Espírito do Senhor soprará sobre as nações. Elas se levantarão como uma mulher sã e robusta.
“O pecado do deicídio terá sido expiado, o império turco terá sido aniquilado.
“A Palestina voltará a Deus com todas suas tribos.
“Desde o Gólgota, a Santa Cruz será o sinal dessa regeneração social, e a partir desse monte Deus Homem regerá todas as nações e seus reis” (“El tiempo en Jerusalén, Roma, Babilonia”, El Ermitaño, Nº 62, 6-1-1870).
“O Espírito de Deus soprará sobre esse corpo social que já fora cadáver em dissolução e ele retornará à vida.
“Assim acreditamos que será, assim aguardamos que seja, assim pedimos que aconteça logo” (“Cataclismo social”, El Ermitaño, Nº 148, 7-9-1871).
O bem-aventurado via esse renascer das nações prefigurado na gesta de Josué.
Assim como depois da missão profética de Moisés foi necessária a campanha de Josué, da mesma maneira logo depois da “missão eliática” reerguer-se-ão as nações guiadas por seus príncipes e líderes legítimos:
“Por trás de Moisés veio Josué, por trás de Pedro, Constantino Imperador.
Josué atravessa o Jordão com a Arca da Aliança.
Benjamin West (1738-1820), Art Gallery of New South Wales.
“Por trás do restaurador virão os reis católicos.
“Eles não vencerão nem ascenderão a seus tronos até que o restaurador, com a força de Deus, tenha confundido a força material do homem mau e de seu iníquo rei” (“El triunfo de la Iglesia”, El Ermitaño, Nº 160, 30-11-1871).
Representantes das elites legítimas se porão à testa dos povos católicos ou recém-convertidos e trabalharão estreitamente unidos aos apóstolos dos últimos tempos.
Certos trechos do bem-aventurado fazem pensar em um monarca único, como o Grande Monarca de que falam outras revelações.
Outros evocam o renascer de um número indefinido de líderes naturais. Na realidade, ambas as possibilidades não se opõem.
“Derrotado o Anticristo, e com ele todo o poder dos reis do mundo (...)
“enquanto se reerguem à uma e num mesmo momento os reis católicos tendo à frente um Josué, um Gedeão, um guerreiro suscitado pela mão de Deus, e com a força daquela ordem de crucíferos de que nos fala São Francisco de Paula em suas cartas...
“acabam rapidamente com os restos do império anticristão, levantando seus tronos sobre as ruinas do reino de Satanás” (“Tres dias de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871.).
O B. Palau se refere a profecias atribuídas a São Francisco de Paula e contidas em supostas cartas do Santo a Simão de Limena, publicadas no século XVII. No dia 10 de junho de 1659, a Santa Sé mandou retirar de circulação o volume com esse carteio.
Verificou-se que haviam sido introduzidas coisas apócrifas, falsas e inventadas. Entre a publicação e a retirada das bibliotecas, tais cartas foram lidas por pessoas da mais alta autoridade.
Entre elas podemos citar o célebre intérprete das Sagradas Escrituras Pe. Cornelio a Lapide SJ. Tais pessoas reproduziram alusões relativas aos “crucíferos”, futura ordem de cavalaria que restauraria a Igreja, ao que tudo indica os apóstolos dos últimos tempos.
São Jorge, catedral de Estocolmo |
(cfr. P. L. Joseph Célestin Cloquet, “Histoire révélée de l'avenir de la France, de l'Europe, du monde et de l'Église Catholique, d'après l'Écriture Sainte, les Saints-Pères, les Docteurs de l'Église, les Révélations modernes ou contemporaines, et de récentes prophéties inédites”, Bertin Éditeur, Paris, 1880, pp. 117-118).
A restauração das nações começaria pelo reerguimento de seus representantes naturais, ou herdeiros de antigas estirpes ou fundadores de novas.
Esses homens de destacada nobreza teriam um porte tal, que o Beato aludia a eles com figuras do Antigo Testamento e de reis santos como São Fernando III de Castela ou São Luís IX de França:
“Com o novo Moisés se levantarão de seus sepulcros Josué, Débora, Gedeão, S. Fernando, São Luís, esses grandes príncipes que a Providência conserva escondidos, e que se preparam para entrar na luta a um sinal que o céu lhes dará” (“El rey de España”, El Ermitaño, Nº 111, 22-12-1870).
O estudo e a meditação do Apocalipse comunicaram ao B. Palau a certeza de que após a plena realização da missão do Restaurador não viria o encerramento da História, mas se inauguraria uma época de paz.
A duração desta feliz era não está predeterminada, mas será variável em função da fidelidade dos homens à Lei de Deus.
Derrotada a Revolução e encadeado Satanás nos abismos eternos, a Igreja vitoriosa e as nações purificadas pelo castigo universal conhecerão um período de esplendor inigualado:
“Pois bem — argumentava —, ou Deus acaba com o mundo, ou o redime.
“Redimi-lo-á. Antes que o Juiz Supremo chame a juízo os homens no vale de Josafá, antes que a sociedade humana conclua sua existência sobre a terra, terá tempo para se preparar para receber o Juiz Supremo de vivos e mortos.
“Terá paz, e para que tenha paz, encadeará Satanás, que perturba a terra, e o encerrará nos infernos” (“La Revolução se hunde”, El Ermitaño, Nº 106, 17-11-1870).
Estátua de São Luis IX rei da França. Fundo: Sainte-Chapelle, Paris.
Numa outra ocasião, explicou:
“8.º Acreditamos que tendo a Igreja vencido o Anticristo, virá uma época de paz, na qual todas as nações com todos seus reis A servirão reconhecendo-a como rainha e mãe de todos os viventes.
“9.º Esta época pode ser mais ou menos longa: pode disfrutar das glorias de seu triunfo 100, 50, 20, 10 anos; até que, esquecendo-se mais uma vez de Deus, os homens serão surpreendidos pelo Juiz Supremo de vivos e mortos, cuja vinda terá sido anunciada muito proximamente pelo Tesbites” (“Tres días de tinieblas sobre el orbe entero”, El Ermitaño, Nº 119, 16-2-1871).
A vida da Igreja brilhará com renovado fulgor, particularmente em suas manifestações mais desprezadas pela Revolução.
O eremitismo — tão amado pelo bem-aventurado e tão odiado pela Revolução — lhe serviu para ilustrar a amplitude dessa colossal mudança.
Num diálogo figurado, explicava:
“esses homens [n.r.: os anacoretas ou ermitões] consagrados a Deus eram ouvidos nas grandes cidades como oráculos do céu.
“Deus, no momento de criar o mundo, ditou leis às quais Ele próprio quis se sujeitar, e era segurado à oração desses homens, e não podia castigar, mas tinha que perdoar o culpado.
Na basílica no local onde São Pedro deu a vida enfrentando o paganismo,
eclesiásticos implementam culto pagão.
“Passou essa época. Foi substituída por outra, e nesta outra época, que é a presente, visitei minhas ermidas, contemplei, espalhados pelos morros, os tijolos que formavam o oratório uns, outros uma estreita cela.
“Encontrei as paredes arrancadas em parte até os fundamentos, em parte ainda em pé, mas com rachaduras ruinosas. Porém, o local estava intacto, permanente, fixo.
”Chamei o Espírito que havia embelezado aquele morro, colocando sobre seu topo um edifício que pregava penitência, isolamento, oração, silêncio, menosprezo pelas vanglorias do mundo.
“E me respondeu de dentro daquelas ruínas, e me disse com voz triste: aqui moro.
“Quando eu dei forma a esses materiais que vedes aqui acumulados, a fé se ergueu, e desde o topo desta montanha, minha ermida e o ermitão pregávamos a oração, a penitência, a fé, quando a ermida estava constituída como deve, eu dizia aos que me visitavam: “estou aqui...”
“E agora que contestas? (...)
“Eu aguardo a restauração.
“Mais uma vez minhas ermidas serão reedificadas, mais uma vez se levantarão mosteiros de homens, e mais uma vez eles, desde os desertos, aplacarão a ira de Deus com a oração e a penitência” (“Las ruinas de mi ermita”, El Ermitaño, Nº 98, 22-9-1870).
São Luis, rei da França, é recebido pelo Papa Inocencio IV em Lyon. Louis-Jean-Francois Lagrenée (1724 - 1805) |
Renascerá a cultura e a civilização cristã, e se poderá parafrasear a Encíclica Inmortale Dei de S.S. Leão XIII a respeito da Cristandade medieval:
“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados.
“Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil.
“Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados.
“Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios.
“Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.” (S.S. Leão XIII, Encíclica Inmortale Dei, 1-11-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39).
“Sobre as ruínas do império anticristão — acrescenta o B. Palau — os reis católicos reerguerão seus tronos, e se estabelecerá no mundo universo o império da paz. Esta paz não será perturbada senão pelo fim do mundo” (“Cálculos del Ermitaño”, El Ermitaño, Nº 163, 21-12-1871).
Esta perspectiva coincide admiravelmente com o Reino de Maria previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort e com a promessa de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
Nessa época, os apóstolos dos últimos tempos ficarão como carcereiros do demônio, encarregados do que o profético carmelita qualificou de “ministério da guerra da Religião” (“El dogma católico con referencia a la redención de la sociedad actual”, El Ermitaño, Nº 170, 8-2-1872).
Vigiarão para evitar que o príncipe das trevas recomece com a Revolução que acarretou tantos males e desgraças aos homens.
Mas quando esse Reino de Cristo em Maria entrar em ocaso, o fim do mundo virá:
“A paz do mundo será perturbada pelo fim dos séculos, tendo concluído os dias de peregrinação da Igreja sobre a terra, condenada a maldade de todos os operários da revolução, encerrada nos infernos a maldade de todos seus operários,
”a Esposa de Cristo ascenderá cheia de imensa glória aos Céus, procedente do vale de Josafá” (“Elías y Henoch”, El Ermitaño, Nº 6, 9-12-1868).
Naquelas tremendas jornadas se consumará quanto foi exposto nas páginas anteriores em relação a Elias profeta e a seu companheiro Enoque.
Eles terão retornado em pessoa à terra para preceder imediatamente a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E o Rei dos Céus e da Terra descendo em pompa e majestade liquidará o Anticristo com a “espada que lhe sai da boca” (Ap, XIX, 21).
Cristo em Majestade no Juízo Final. Fra Angelico (1395-1455). Catedral de Orvieto, Itália |
O mundo voltará a ter paz? SIM! Mas, como?
Há esperança para nós?
Num diálogo figurado, o bem-aventurado carmelita Francisco Palau y Quer pondera um fator pouco falado mas essencial para o mundo não acabar e ter um período de paz.
A oração e a penitência dos religiosos e ermitões que intercediam por nós ante Deus.
Isso foi banido na crise da Igreja de hoje.
Mas o santo carmelitano de luzes proféticas prevé que essa realidade fundamental será restaurada.
Então o mundo terá uma época de paz antes de comparecer ante o Juiz Supremo.
o imperativo da guerra ao demônio
Congresso Francisco Palau, na Pontifícia Faculdade Teológica Teresianum, Roma. Com a palavra Soror Josefa Pastor CMT |
A série esta reunida numa só página: “Um profeta de ontem, para hoje, para amanhã e para o fim dos tempos”
Desde então, graças a Deus, constatamos nas repercussões e comentários recebidos que essa ausência de notoriedade diminuiu notoriamente.
Seu nome e seu rosto vão se tornando frequentes, sobretudo nas redes sociais
A ponto que uma dificuldade começou a ser mais sensível, em verdade sem muita força de convicção: não poderia haver da nossa parte um certo exagero na interpretação dos escritos do profético frade espanhol, especialmente de seus polêmicos artigos no “El Ermitaño”?
Texto completo em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Todo en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
Para dissipá-la, vieram a ser publicados felizmente em Youtube os vídeos do Congresso Francisco Palau, celebrado entre 26 e 28 de novembro de 2018, no Teresianum, Pontifícia Faculdade Teológica, Pontifício Instituto de Espiritualidade, em Roma, a sé dos Papas.
Desses três dias de palestras dedicadas à vida e à obra do bem-aventurado carmelitano, destacamos a conferência de Soror Josefa Pastor Miralles CMT, intitulada “O exorcistado segundo Francisco Palau”. Cfr. Youtube “O exorcistado segundo Francisco Palau”.
Desde uma perspectiva que não é a nossa, a religiosa trata de temas candentes que o Beato Palau enfrentou de cheio e que podem parecer tal vez carregados pelo zelo fogoso do carmelitano.
Porém, Soror Josefa Pastor exibe um profundo conhecimento dos escritos e da vida do religioso. E, a partir de seu ponto de vista, vem a corroborar e enriquecer tudo quanto temos publicado.
Por isso lhe dedicaremos o número de posts que seja necessário.
A religiosa começa abordando um ponto da ordem de universo e da doutrina católica que até não muitos anos era um “tabu”. Quer dizer, objeto de proibição irracional: a existência do demônio e da sua influência – necessariamente grande – nos eventos humanos.
É verdade que em anos mais recentes essa manifestação do poder infernal se vem tornado cada vez mais palpável. A procura de exorcistas – que, aliás, faltam em grande número – está aí para confirma-lo.
Sor Josefa: “Quem se atreveria a negar hoje a existência do demônio?” |
Ele respondeu com acurada e meticulosa análise das informações mais atualizadas e não só com raciocínios teológicos, em que se apoiou com abundância.
A teóloga que citamos pertence a um instituto fundado pelo Beato Palau. Ela abriu sua intervenção afastando diretamente a dificuldade. Perguntou:
“Quem se atreveria a negar hoje direta e explicitamente a existência do demônio? (...)
“É reconhecível a influência demoníaca no curso da História nos graves, tristes, violentos acontecimentos e ações que quotidianamente estão ante nossos olhos?”
Nossa Senhora enxotada,e os ídolos adorados no próprio Vaticano.
Ela desconsidera o respeito humano na hora de falar da atividade luciferina no mundo. E mostra a incongruência que há ao escamotear essa interferência dos antros infernais na modernidade, perguntando:
“A nosso mundo moderno e progressista, globalizado e empobrecido (...) de continuadas afluências migratórias, de fomes, de máfias sem piedade, pode se lhe apresentar a necessidade do ministério do Exorcistado como luta contra o diabo e como serviço de cura, liberação, redenção e reconciliação individual e social?”
Ela reconhece a crescente necessidade do Exorcismo sentida pela sociedade e pelos fiéis praticantes.
E, em sentido contrário, constata a fraca ação exorcística de parte do clero, carência que arrancava lágrimas de sangue a nosso Beato Palau:
“Em geral, disse a religiosa, o Exorcistado desperta certa expectativa, mas não se enfrenta e assume como missão evangélica e em toda sua importância e significado.
“No parecer e dizer do exorcista Francisco Palau, a razão primeira dessa impostação é que não se acredita no diabo nem na sua rebelião constante contra Deus e sua obra salvadora Cristo Jesus”.
No mesmo ato que o carmelitano registra essa entrada dos poderes infernais, ele confia na intervenção onipotente de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Os argumentos se multiplicam em seu jornal “El Ermitaño” desde 1868 até 1873 e confluem essencialmente na chegada do Reino de Deus, disse a conferencista.
“A queda dos demônios no inferno será o signo do triunfo da Igreja, palavras de Palau: “é mandato para o apóstolo seguidor de Jesus: daemones effugate, infirmos curate e tem fundamento na Fé da missão de Jesus a sua Igreja. Acreditai nesse poder”.
Santa Cruz de Vallcarca, capela atual sobre a de Els Penitents, demolida pelo ódio revolucionário |
Naquela casa, explica Soror Josefa, “sua luta se voltou contra o inimigo do gênero humano que continua atacando a Igreja com raiva e furor”.
Para o grande carmelitano o exorcismo não era apenas uma arma para aliviar casos pessoais, aliás tão dramáticos.
Ele via mais longe e discernia um fenômeno universal: o esforço das hostes infernais para se apossar dos povos, deforma-los, afasta-los do bom caminho que outrora percorriam animados pelo Espírito Santo através da Igreja e da Civilização Cristã e assim afunda-los na infelicidade.
Para ele, cada batalha contra um demônio possuidor é um episódio de uma grande guerra que o demônio e seus asseclas declararam contra Cristo, sua Igreja, as nações cristãs e os fiéis.
Diz a especialista: “Palau fala de ‘guerra horrorosa’, de ‘fato histórico ante o olhar de todos’ e pondera a especial agressão contra Jesus e sua Igreja.
“O diabo é o pai de todas as revoluções.
“Tem apresentado combate como cabeça de bilhões de anjos rebeldes e com seu grito ‘Revolução! Guerra a Deus!’ se atrincheira na maçonaria, no espiritismo, na magia maléfica, se apodera dos corpos energúmenos, vítimas de malefícios, possessos”.
Soror Josefa Pastor CMT, em conferência no Congresso Francisco Palau, Pontifícia Faculdade Teológica Teresianum, Roma, focou a “denuncia profética” dos escândalos do mal feita pelo Beato Palau para alertar o mundo:
“Os argumentos palautianos encabeçados pelo brado “Glória a Deus! Quem como Deus?” do arcanjo São Miguel foram denúncia profética dos escândalos de seu momento histórico, aproveitados pelo demônio para estender o reino do mal”.
Por isso mesmo o inspirado religioso pedia com urgência um esforço de guerra espiritual e sacerdotal contra as legiões infernais e contra suas conspirações em que tomavam parte muitos homens.
Guerra essa que pedia a organização em ordem de combate do ministério do Exorcistado comandado pelo Papa e os bispos e secundado pelo clero universal com o encargo específico de enxotar os espíritos imundos espalhados pela Igreja e pelas nações.
“A Igreja tinha no ministério do Exorcistado um instrumento ótimo e eficaz para combate-lo, diz literalmente Palau, para socorrer às famílias que em sua opressão procuram o auxílio da religião.
“Com apaixonada convicção asseverava: “constituído o Exorcistado em seu devido ordem e estado, o triunfo da Igreja é infalível. E esse triunfo é a conversão a Deus das nações e de seus reis”.
Aspecto da mesa principal do Congresso em Roma.
“Enganou-se o beato Francisco Palau?, pergunta Sor Josefa.
“Foi fanática sua crença?
“Foi uma visão desproporcionada da intervenção do diabo na vida da pessoa e dos acontecimentos da História?”
A resposta da teóloga é “não”. O beato Palau via muito melhor que sua época o mal que flagelava o mundo e empregava sua talentosa oratória para denunciá-lo.
“Entra pelos olhos adentro a linguagem tremenda e apocalíptica de Palau, mas também o lado radical e heroico de suas ações na assistência a doentes, necessitados e endemoniados. (...)
“No caos de uma florescente Catalunha industrial, de fortes raízes cristãs e arraigados costumes fetichistas e crenças espíritas, Palau sofreu sendo qualificado de excêntrico e de visionário.
“Conheceu o espiritismo de Allan Kardec e os centros de Barcelona onde se ensinavam, praticavam e propagavam doutrinas esotéricas em detrimento e perigo de aqueles que acudiam a eles procurando consolação, ajuda e solução para suas carências e doenças físicas e morais”.
À vista dos males causados, seu amor pelas almas e pela Igreja moveu-o a escrever com paixão ao bem-aventurado Papa Pio IX, em dezembro de 1866:
“Santíssimo Padre se estas minhas visões não têm objeto nem realidade, se são delírios, ilusões de meu espírito, são produzidas pela pena que me devora vendo o triunfo dos inimigos de Deus.
“Comunicando-as à Vossa Santidade cumpro um dever imposto pelo amor ao Sumo Pontificado e à Igreja Santa de que é cabeça visível sobre a terra”. (...)
“A Igreja é a Mulher que esmaga a cabeça da Revolução que é o diabo. A Mulher que salva o povo de sua opressão”.
Nossa Senhora de Quito esmaga o demônio. Bernardo de Legarda (1700-1773). Também conhecida como Virgem do Apocalipse. Museu Etnográfico de Berlim. |
Explicando a necessidade de organizar o clero em ordem de batalha para exercer esse exorcistado, assim concluía a extensa exposição que dirigiu por escrito ao Papa e a cada um dos bispos reunidos em Roma para o Concilio Vaticano I:
“A Revolução não cairá até que não seja esmagada sua cabeça, que é o diabo.
“Quem vai esmagar essa cabeça? Aquela de quem está escrito: uma mulher esmagará tua cabeça. Quem é essa Mulher? A Igreja”. (...)
“Defendemos o Exorcistado porque acreditamos que envolve entre sombras e profundos mistérios aquele terrível ato por onde a invicta Judite corta a cabeça do colosso Holofernes (...)
“ficando salvo de vez só o verdadeiro povo que hoje espalhado pela face da Terra geme na mais horrorosa escravidão”.
Já no século XIX grandes massas de católicos estavam penetradas por um conceito amolecido do catolicismo, que via a religião mais como uma respeitável sensibilidade e até um nobre discurso teórico teológico, mas afastado da luta contra o inimigo que estava dissimulado porém diante dos olhos dos que quisessem ver.
Nesse ambiente, as palavras profeticamente inspiradas do Beato Palau soavam a alguns como exageros “apocalípticos” no sentido desmerecedor do termo.
Percebendo a moleza ou tibieza desse tipo de católicos muito maioritários, o beato carmelitano escolheu uma linguagem literária florida que no hesitava em construir verdadeiros contos que fazem sorrir.
E explicou que pintava essas cenas pitorescas com o intuito de passar sua mensagem. Alguns sim entenderiam o significado profundo.
Mas, ele previa que um dia no futuro quando os cenários “apocalípticos” se acabariam tornando incontornável realidade, ali sim muitos católicos entenderiam e diriam: “o Padre Palau tinha razão”.
Sor Josefa nos falou também disso:
“Predominou em Palau a dimensão apocalíptica.
“O termo ‘noite’, ‘noite escura’, ‘noite tenebrosa’ é recorrente (...) na sua correspondência epistolar a referência à ‘noite’ se reveste de tons de dramática confissão pessoal: ‘noite negra’, ‘de noite’, ‘sem caminho’, ‘minha vida foi uma longa sucessão de penas’. (...)
“Apenas conhecia o sucesso, sua obra esboroava vítima de injustificadas confabulações e interesses políticos (...).
“Nessas conjunturas Palau via a intenção demoníaca”.
O mês de julho de 1865 foi especialmente trágico para Barcelona e redondezas. Uma grave epidemia de cólera se abateu sobre a população.
Foram fechadas as escolas públicas e privadas.
As estatísticas registravam entre 60 e 80 mortes diárias.
A população fugia em massa para áreas montanhosas, particularmente o Tibidabo, o ponto mais alto nas proximidades da cidade, e Horta, então cidade afastada do núcleo barcelonês.
Foi lendo os escritos do Beato Palau que o célebre Pe. Amorth, exorcista da diocese de Roma,, iniciou sua cruzada pelo exorcismo |
O beato discernia que os diabos sempre à procura de fazer mal ajudavam a espalhar a epidemia, que então era mortal em devastador número. A medicina não tinha ainda dado com um remédio definitivo.
A epidemia espalhada deu ocasião ao bem-aventurado para insistir ante o arcebispo em favor do Exorcistado.
“A cada dia, explicou a teóloga carmelita, ansiava receber resposta de seu prelado enquanto escutava a voz imperiosa de sua amada Virgem do Carmo, modelo perfeito da Igreja.
“’Jogarás fora Satanás da presença da imagem que me representa sobre o altar. Em meu nome expulsarás os demônios dos corpos que possuem e atormentam’”.
“A resposta episcopal chegou em 31 de julho de 1865.
“O bispo Dom Monserrat lhe impôs sérias medidas restritivas: fechar a capela logo após terminar a Missa, cessar o exercício de exorcismos, não acolher mais indigentes.
“A razão alegada foi que a concorrência de pessoas na capela de sua casa de Vallcarca podia dar lugar a maldosas interpretações”.
Igreja da Veracruz incendiada no centro de Santiago de Chile, 2019. O ódio demoníaco nas revoluções latino-americanas se patenteia. |
Mas, o Beato Palau já tinha sofrido muitas outras negativas episcopais quando se tratava de expulsar os diabos por meio do exorcismo.
Em seus escritos encontramos numerosas ocasiões em que ele eleva a Deus a trágica situação de impotência em que estava a Igreja e a massa dos fiéis pela inação daqueles que deviam defender o rebanho do pior dos inimigos.
Mas sua fidelidade à autoridade lhe deu forças para se manter submisso. Por isso disse Sor Josefa Pastor Meirelles:
“E obedeceu Palau, cessou sua atuação como exorcista e se limitou a assistir humanamente aos atribulados que já residiam na sua casa de Vallcarca.
“Foram inúteis as petições dos moradores para que o bispo revogara suas medidas proibitivas”.
O drama do fim da vida do santo religioso se aproximava.
Santo Elias arrebatado num carro de fogo. 1. Eis o que se passou no dia em que o Senhor arrebatou Elias ao céu num turbilhão: Elias e Eliseu partiram de Gálgala. 11. Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo os separou um do outro e Elias subiu ao céu num turbilhão. 12. Vendo isso, Eliseu exclamou: “Meu pai, meu pai! Carro e cavalaria de Israel!”. E não o viu mais. (II Reis, 2). (Domenico Fetti, 1589 - 1623. Buckingham Palace, Royal Collection Trust UK) |
As leis iníquas e até irracionais que são aprovadas, os costumes morais desfeitos, a família perseguida, a propriedade corroída por normas ou governos socialistas, a corrupção dentro e fora da Igreja, etc. etc.
O Pe. Palau já via isso e entrevia a tremenda piora universal que adviria. Via também a paralisia da maior parte do clero, bispos e cardeais incluídos, em face do inimigo de Deus e do gênero humano.
Mas, para o santo carmelita não estava tudo perdido. Pelo contrário quanto maior a degringolada social e religiosa mais próxima via a grande hora da intervenção salvadora de Deus.
Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma |
Pe. Gabriele Amorth, famoso exorcista de Roma (1925 - 2016) sobre o Beato Palau:
“Eu procuro seguir a linha iniciada por um santo espanhol, o Beato Francisco Palau, carmelitano, que já em 1870 veio a Roma falar sobre o exorcismo com o Papa Pio IX.
“Voltou depois a Roma durante as sessões do Concílio Vaticano I, para que se tratasse da necessidade de exorcistas.
“Com a interrupção daquele Concílio em razão da tomada de Roma, o assunto sequer foi levantado.”
Deus agiria diretamente?
Por meio de seus santos e anjos?
Por meio de enviados especiais?
A muitos santos, Deus mostrou, em visão, a futura vinda dos Apóstolos dos Últimos Tempos para restaurar a Igreja e a ordem das nações.
O profético carmelita vasculhava os Livros Sagrados e os ensinamentos de Padres e Doutores da Igreja a respeito.
Via algo disso?
Sim, e concluiu que a intervenção divina se faria pela mão do profeta Elias e de seus discípulos.
As Escrituras nos falam que Elias foi arrebatado por Deus num carro de fogo (II Reis, 2).
E é mantido vivo por vontade divina em algum local que desconhecemos aguardando o momento de voltar à Terra e dar fim ao anticristo e o reinado de Satanás e de seus sequazes.
A especialista na temática do Exorcistado que estamos citando, Sor Josefa Pastor Miralles CMT, destacou no Congresso em Roma que o beato
“Palau concatenava o tema do Exorcistado com a missão do profeta Elias e dos filhos dos profetas:
São Elias, Convento da Encarnação, Ávila, Espanha
“’recebereis [seus filhos] seu espírito. No espírito de Elias jogareis os demônios no inferno.
“’A queda dos demônios no inferno será o signo do triunfo da Igreja.
“’Elias, profeta grande, e os filhos de sua ordem, vós sois e em diante vós sereis o dedo de Deus e os combatentes nas batalhas de Deus contra os demônios e contra a Revolução’”.
Segundo o religioso carmelita o maior triunfo do tentador infernal é fazer acreditar que ele não existe.
Por isso Deus ordenava de forma peremptória que fosse desvendado que o diabo existe e está agindo de modo muito concreto na vida quotidiana, seja ele em pessoa, ou a través das legiões infernais ou de seus subalternos humanos.
“Qual era este maior triunfo?” pergunta Sor Josefa.
“Não acreditar que existe o demônio. Ou se se crê, achar que são casos raros que acontecem.
“Sugeria a criação de casas de asilo, de acolhida, segundo pedia a ordem de Deus: ‘em meu nome precipitarás os demônios, imporás as mãos sobre os enfermos e ficarão curados’”.
A ação diabólica nos fatos políticos ficou ainda mais patente para o santo carmelita a partir de setembro de 1868. Nessa data estourou uma sublevação militar que derrocou a monarquia e exilou a rainha Isabel II.
A revolução alimentou o furor anticatólico. O Beato Palau não podia sair às ruas de Barcelona com batina pois poderia ser morto no ato.
Do lado monarquista legitimista, ou carlista, se anunciava uma nova guerra civil.
El Ermitaño nº 1, 5 de novembro de 1868 |
O principal redator – ele próprio – assinava como um mítico ermitão morador do inabitável penhasco do Vedrà, junto à ilha de Ibiza.
Desde lá abria jogo sobre os verdadeiros instigadores infernais da Revolução que flagelava Espanha e o mundo.
“No primeiro número, de 5 de novembro de 1868, a primeira página era ilustrada com um frade ermitão com o brado provocador do arcanjo São Miguel ‘Quem como Deus! Glória a Deus’, cita a religiosa.
“Era uma resposta explícita ao público desafio do médico ateu e Prefeito de Barcelona, deputado nas Cortes, Francisco Suñer y Capdevila, público inimigo da religião católica e do clero que se apresentou precisamente nas Cortes com o cartaz ‘Guerra a Deus! Morte a Deus!’.
“A partir do número 17, 25 de fevereiro de 1869, estabelecidas as Cortes Constituintes, o semanário mudou o rótulo por ‘Lei – Autoridade – Liberdade’.
“Pero manteve o mesmo objetivo: o demônio em sentido católico assumiu e assume nos assuntos da sociedade uma parte importantíssima: sua ação considerada em relação com os indivíduos, famílias e nações faz a História.
“As denúncias contra o semanário ‘El Ermitaño’ se somaram ao acúmulo de perseguições contra o Pe. Palau e Santa Cruz de Vallcarca foi objeto de inspeções por parte de autoridades civis e sanitárias. (...)
“Os protestos continuados e constantes do Pe. Palau caiam no vazio, mas em sua condição de sacerdote não renunciava ao lema ‘Guerra contra o diabo e o pecado’”.
“El Ermitaño” acompanhava cuidadosamente as notícias dos jornais espanhóis e os telegramas das agências de prensa que chegavam a Barcelona.
A política e a teologia, El Ermitaño nº 127, 18 de abril de 1871 |
A engrenagem dos fatos políticos nacionais e internacionais; das revoluções que marcariam a História como a Comuna de Paris; dos pormenores da guerra franco-prussiana e das consequências que traria para o mundo; os detalhes do andamento do Concilio Vaticano I e os planos maçônicos contra a Cidade dos Papas; os grandes projetos e inventos, etc.: tudo fazia para ele parte de um imenso plano desenhado no inferno e executado por homens na Terra.
O objetivo final: o estabelecimento do império do Anticristo, a suprema revolta contra Deus e sua Santa Igreja.
“Dissemos e o repetiremos até o cansaço: um só deus, uma só religião, um único império universal, um só monarca: esse será o Anticristo.
“Aqui a Revolução atingirá seu termo e sobre as ruínas do império do mal, Cristo estabelecerá o Reino de sua Igreja”.
Isso posto, escreve Sor Josefa Pastor, o Pe. Palau decidiu apresentar um apelo extremo ao Concílio Vaticano I pela sistematização do ministério eclesial do Exorcistado e assim cortar a estrada à conjuração infernal-maçônica.
Assim resume a especialista os objetivos do apelo:
“Primeiro. Autorizar aos prelados ordinários para que em cada diocese fosse nomeado um número suficiente de presbíteros que exercessem como exorcistas.
“Segundo. Fundar casas nas quais fossem acolhidos os necessitados, doentes, maleficiados, energúmenos, oferecendo-lhes os auxílios pertinentes, após prévio discernimento e diagnóstico médico”.
O Pe. Palau partiu para Roma em 20 de janeiro de 1870 com seu documento impresso: “O Exorcistado. Influencia deste ministério sobre a ruína e salvação da sociedade atual”.
Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma |
Pe. Gabriele Amorth, famoso exorcista de Roma (1925 - 2016) sobre o Beato Palau:
“Eu procuro seguir a linha iniciada por um santo espanhol, o Beato Francisco Palau, carmelitano, que já em 1870 veio a Roma falar sobre o exorcismo com o Papa Pio IX.
“Voltou depois a Roma durante as sessões do Concílio Vaticano I, para que se tratasse da necessidade de exorcistas.
“Com a interrupção daquele Concílio em razão da tomada de Roma, o assunto sequer foi levantado.”
De retorno a Barcelona, mais uma vez, parecia que seus mais profundos anelos inspirados pela graça não haveriam de se realizar pela oposição do establishment eclesiástico.
Resume Soror Pastor:
“O sucessor do bispo de Barcelona Juan de Palau y Soler condenou de imediato e sem prévio aviso ao carmelita privando-lhe de todas suas licenças ministeriais.
“O ofício cominatório incluía a qualquer outro sacerdote que residisse em Els Penitens com expressa proibição do ato de exorcizar e ler o Evangelho sobre os energúmenos. (...)
“Nova epidemia assolou Barcelona e adjacências. O comando do exército ocupou Els Penitens cujos terrenos foram embargados.
“Em 30 de outubro de 1870 todos os residentes, 39 pessoas com o Pe. Francisco e seus irmãos foram conduzidos aos cárceres públicos de Barceloneta que precisamente haviam sido evacuados por causa da epidemia. (...)
“Um ano e meio depois morreu o Pe. Palau, declarado inocente e sem culpa juridicamente de todo indiciamento e delito.
Ruínas de Els Penitens, Santa Cruz de Vallcarca
“Duas de suas derradeiras frases no leito de morte: (...)
– “Eu amo a Igreja. Jamais me afastei de seu julgamento”
– “Já, já é a hora Teresa”.
Com estas palavras entregou sua alma a Deus, em Tarragona, 20 de março de 1872.
Foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 24 de abril de 1988.
que se tornaram servidores do demônio
Beato Francisco Palau y Quer, com 20 anos no seminário diocesano de Lérida. |
Mas, deixou profetizada uma próxima renovação da Igreja com a vinda de um Restaurador.
Postulou ardorosamente a instituição do Exorcistado durante o Concílio Vaticano I e em carta pessoal dirigida ao Papa Pio IX.
O santo carmelita pedia que a Igreja organizasse o clero da época em legião com o fim específico de exorcizar os demônios que infestam a Terra, as sociedades e a própria Igreja.
Só assim se conseguiria extirpar os males que a Revolução acometia contra a Igreja e a Cristandade e evitar os males que, aliás, nós hoje assistimos acabrunhados.
A petição não foi debatida na aula conciliar em virtude da invasão de Roma e a interrupção desse Concílio que foi, e poderia ter sido ainda mais benéfico para a Igreja.
O Concílio Vaticano II, segundo desejo formalizado pelo Papa João XXIII, não quis dar continuidade ao Vaticano I e adotou uma linha completamente nova.
A fervorosa atividade apostólica do bem-aventurado e suas advertências contra o socialismo e o comunismo, instrumentos de Satanás, as classes operárias em Barcelona aderiam à contrarrevolução. Por isso o governo anticlerical enviou o Pe. Palau para o na ilha de Ibiza.
Es Vedrà: “Aqui é aonde, por temporadas, me retiro para minha vida solitária” |
Nessa sugestiva ilhota passava breves períodos para meditação, exame de consciência e atualização da correspondência. O próprio sacerdote conta como era a gruta que aproveitava como éremo e onde se refugiava nesses dias:
“Desterrado em 1854 “propter verbum Dei” para as ilhas Baleares, a providência me preparou nelas um deserto tal qual meu coração desejava.
“Temos a oeste da ilha de Ibiza uma gruta sobre a beira de precipícios que tocam os mares, e uma légua adentro das águas o mapa marca sob o nome de Vedrà uma ilhota que tem uma légua de circuito.
“Seus picos, situados sobre o mais profundo do Mediterrâneo, se elevam até os céus e, para que nada faltasse ao solitário, abriu Deus uma fonte sobre o cume deste monte; o qual dá hospitalidade a todas as aves que vêm durante as noites recolher-se entre as aberturas das rochas.
“Separado da ilha da Ibiza, ninguém pode aproximar-se dele senão por barco; e suas colunas se levantam tão íngreme sobre as águas que não pode escalá-lo senão os experientes.
“Aqui é aonde, por temporadas, me retiro para minha vida solitária.
“A gruta tem um bote, os ermitões são pescadores, me deixam sobre as pedras e eu fico só, solitário, certo de não ver nem ser visto por pessoa humana.
“O clima é magnífico e o lugar é tão pitoresco que pode apetecer um solitário”.
Quando estava em oração o Beato Palau nos fala de uma inspiração que ele pôs na boca de um Anjo da seguinte forma:
“Pelo ano 1864, havendo-me retirado para este monte, uma grande voz, que há 20 anos me falava nos desertos sobre os destinos de nossa Ordem, a qual não sabia de onde procedia, me disse com grande força o que segue:
“Eu sou o anjo de que fala o capítulo XX do Apocalipse; a mim está confiada a custódia do pendão do Carmelo e a direção dos filhos desta Ordem.
“Eu guardo o trono pontifício de Roma e os muros desta cidade, frente aos demônios e à Revolução que a circunda.
“Venho a ti enviado por Deus para instruir-te sobre o futuro da Ordem a que pertences para que saibas a missão que hás de cumprir e sua forma.
“Eu vou abandonar Roma. Tirarei dela o trono pontifício e a cidade será entregue ao poder dos demônios e da Revolução.
“Roma não será mais o centro da religião de Jesus; degolará a seus sacerdotes e religiosos e outra vez se constituirá inimiga de Cristo e de sua Igreja.
“Os sacerdotes, ministros de meu Filho, pela sua má vida, sua irreverência e impiedade na celebração dos santos mistérios, pelo amor do dinheiro, das honrarias e dos prazeres, tornaram-se cloacas de impureza.
“Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças.
“Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho!
“Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança.
“E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo.
“Não há mais almas generosas, não há mais ninguém digno de oferecer a vítima imaculada ao [Pai] Eterno em favor do mundo”.
(Pe. René Laurentin e Pe. Michel de Corteville, Découverte du secret de La Salette, Paris, Fayard, 2002, p.59.
Ver mais em: O segredo de La Salette, texto completo em português
“O trono do Sumo Pontificado não voltará mais para ela, porque será trasladado para outro lugar”.
“Não podendo eu apenas crer o que via, acrescentou:
– Roma será severamente castigada e o dia está muito próximo, dia de pranto e de luto, de sangue e de fogo.
“E, para que vejas quão justas são as vinganças celestes, vem, sobe para o cume deste monte e de lá verás as abominações introduzidas no lugar santo, preditas por Daniel profeta”.
“Cheio de terror e espanto, eriçados os cabelos, horripiladas as minhas carnes, eu subi até o cume deste monte:
“Olha e observa bem o que há no santuário, observa, cala e guarda o segredo; o mistério da iniquidade está já consumado, eu vou a castigar aos culpados e o sangue dos justos aplacará a ira de Deus.
“As súplicas e orações pela Igreja santa são acolhidas aos ouvidos de Deus.
“Não rezes por Roma porque o decreto de Deus é irrevogável, o castigo dos culpados e a paciência dos mártires devolverá à Igreja santa sua liberdade, suas glórias e seu esplendor”.
“Eu rezava com grandes instâncias pela Igreja e [o anjo] contestou:
“Elias, grande profeta, e os filhos de sua Ordem sois, e adiante sereis meu dedo de Deus e meu braço nas batalhas contra os demônios e contra a Revolução.
“E para que a vossa fé no dia das batalhas não falte, Deus me enviou a ti que vives nos desertos, atento à minha voz para instruir-te sobre a matéria e objeto do exorcistado.
English full text Blessed Palau“Eu sou o anjo que tem nas mãos as cadeias e as chaves do abismo.
Texto completo em português: Beato Francisco Palau O.C.D.
Todo en español: Bienaventurado Francisco Palau y Quer
“A mim estão sujeitos todos os demônios do inferno e, para que saibas o modo de apresentá-los nas batalhas, devo manifestar-te um mistério.
“E é o seguinte:
“Criados os anjos e postos no empíreo, Deus nos propôs a Cristo, Deus humanado, por rei, cabeça e príncipe.
“O supremo de todos os anjos não quis sujeitar-se nem adorá-lo. Lhe seguiram na rebelião uma multidão, mais do que ninguém possa imaginar e foram todos precipitados aos infernos.
“Deus, para confusão sua e por ordem de sua providência, os deixou neste ar e sobre a terra, e servem de açoite contra os crimes e de prova de fidelidade do justo.
“É tão grande seu poder e tal sua malícia contra os homens, que Deus nos mandou guardá-los para serem salvos de sua perversidade.
“Sem nós não há homem que possa resistir a seus embustes e enganos e malícia.
“Nossa batalha contra os demônios começou no empíreo, prosseguiu no paraíso e, dividindo as famílias, os povos, as nações e todas as gerações em dois campos, segue e seguirá até o fim dos séculos.
“Os demônios guardam nas batalhas contra Cristo e sua Igreja una ordem, e esta não deve ser-te desconhecida.
“Se Deus há instituído o sacerdócio para que fosse medianeiro e ministro de suas graças ante os povos, os demônios instituíram a magia e por esta têm comércio, trato e relação com os homens, e se há feito e faz visível, combatendo publicamente a obra de Deus.
“Quando veio Jesus Cristo, pelo ministério destes (mágicos) se fazia adorar em todo o mundo.
“Jesus os venceu morrendo. Entende o mistério: Jesus ofereceu seu corpo e seu sangue sobre a cruz e, aceita a oferenda pela justiça de Deus, ficou livre o homem do poder dos demônios, e isto é o que se chama a Redenção.
“Ordenou Jesus Cristo que a Redenção fosse aplicada por mão apostólica e, com efeito, deu e comunicou como Deus todo poder sobre os demônios aos apóstolos e discípulos.
“E em virtude deste poder os demônios ficaram vencidos e escravos e sujeitos à mão apostólica.
“Os apóstolos, cheios de fé neste poder sobre os demônios, se dividiram todas as nações do mundo e, encadeados os demônios e vencidos por sua fé, estas se converteram a Deus. Venhamos a Roma.
“Pedro se dirigiu a Roma e pôs ali o trono do Sumo Pontificado.
“Cheio de fé no poder que Jesus lhe havia dado sobre os demônios, os venceu e lançou desta capital onde estavam os príncipes tenebrosos que dirigiam a idolatria do povo e império romano.
“A batalha se prolongou três séculos inteiros e venceu por fim a fé dos apóstolos no poder que Jesus Cristo lhes havia dado sobre o inferno.
“Triunfante a Igreja em Constantino imperador, comunicou todo seu poder aos sacerdotes e ordenou os exorcistas.
“E estes foram nosso dedo e nosso braço para mantê-los ligados e encadeados.
São Pedro precipita Simão o Mago por terra, capitel da igreja de Saint-Lazare, Autun, século XII.
“E a não ser assim, se os demônios houvessem ficado livres e desencadeados, poucos progressos faria a Religião.
“Correndo os séculos em seu curso, a fé sobre a existência dos demônios, sobre seu poder, malícia e influência nos destinos do mundo, sobre o poder comunicado aos exorcistas sobre eles, sobre a necessidade e importância do ministério destes, foi diminuindo porque nestas batalhas o jejum, a penitência e a oração há de acompanhar a fé.
“Entibiando-se o fervor da caridade, também se obscureceu aquela luz que descobre aos exorcistas e manifesta os demônios e suas obras de maldade.
“E ao passo que se obscureceu a fé sobre tudo o que é matéria e objeto do exorcistado, cessou o exercício deste ministério, e a proporção que este cessou, os demônios tomaram liberdade e força, poder e domínio sobre a terra”.
São Miguel Arcanjo, estátua no topo do Castel Sant'Angelo, Vaticano |
Na primeira carta, em linguagem figurada, imaginava o anjo do capítulo XX do Apocalipse que guarda o trono pontifício de Roma.
Esse lhe anuncia que a Cidade dos Papas ia ser castigada, e por essa via purificada.
Na segunda carta, o santo carmelita põe em boca desse anjo a instrução de visitar o Bispo de Barcelona e o Papa Pio IX para falar sobre a missão que recebera de Deus:
O padre Palau hesita, dizendo:
“Dirás ao bispo de Barcelona e ao Pontífice Pio IX: “a hora da batalha já soou, isto manda Deus, expulsai os demônios e curai os estragos e enfermidades causadas por eles.
“Se não te creem, te retirarás, obedece a seus mandatos, se não ouvem minha voz, eu me retirarei de Roma e entregarei a cidade em poder dos demônios péssimos que a rodeiam.
“Cumpre esta missão e marcha à tua gruta de Barcelona.
“Eu conduzirei ali todos os príncipes infernais do país que, visíveis nos corpos humanos desafiam visivelmente à luta o poder da Igreja.
“Lança tu os demônios ao inferno e ‘infirmos curate’.
“– Eu? Não, este ministério está reservado ao bispo.
Queda dos anjos rebeldes. Nicolás Francés (1390 - 1468). Cincinnati Art Museum.
“– És tu exorcista?
“– Sou.
“– Pois se és, tu darás conta do sangue e das vítimas que gemem e perecem entre as garras do dragão infernal.
“Cumpre teu dever, que consiste em denunciar à autoridade eclesiástica os demônios que visíveis nos corpos humanos provocam à luta os exorcistas...”
Nova hesitação do Padre:
“– Não há fé neste lugar. Os demônios e o mundo, todos em peso e em massa, se levantarão contra.Foi assim que no ano 1866, o Pe. Palau enviou cartas dirigidas diretamente ao Papa Pio IX.
“– Eu estarei contigo. Eu varri os céus dos anjos maus e saberei defender-te contra os homens.
“Antes de retirar-me de Roma e abandoná-la ao furor dos demônios, eu quero tentar e provar sua fé, quero revelar e descobrir a incredulidade, quero saiba o mundo até onde chegam as trevas...
“Acaso não foi dado à Igreja, representada nos exorcistas, plenitude de poder sobre todos seus inimigos?: “ecce ego dedi vobis potestatem super omnem virtutem inimici” (Lc 10, 19). Que uso se faz desta autoridade?
“Já o verás logo...”
Numa missiva datada de 17 de dezembro do mesmo ano, acrescentou três documentos que contêm seus argumentos sobre a necessidade de se criar o exorcistado para conter o avanço dos demônios e da Revolução.
A Europa estava em plena efervescência revolucionária e a Igreja sob ataque direto das forças secretas.
Em setembro de 1870, Roma foi invadida, o Papa se refugiou como prisioneiro na Cidade do Vaticano.
O Vaticano só voltou a ser reconhecido como Estado independente em 1929 pelo Tratado de Latrão.
O Beato Palau cumpriu sua missão: avisou as autoridades sobre a necessidade da institucionalização do exorcistado, mas não foi ouvido e as penosas consequências se fazem sentir em nossos dias.
Sob a luz deste imenso drama, as profecias que o Pe. Palau formulou sobre o Restaurador, que reproduziremos em próximos posts, adquiriram acrescida importância.
Sonho de São João Bosco |
Entretanto, previa cheio de fé a vitória do catolicismo e da cristandade.
Como isso poderia acontecer? Não é uma contradição?
Sem dúvida, respondia, aconteceria por uma intervenção do poder de Deus.
Após muito raciocinar sobre os modos de Deus fazer grandes intervenções na História como nos refere a Bíblia, ele chegou à conclusão de que Deus apelaria a um instrumento humano para restaurar todas as coisas.
Aliás, isso aconteceu muitas vezes no Antigo e no Novo Testamento, notadamente por mão de profetas.
Ninguém, observava o carmelita dotado de dons proféticos, está aguardando esse personagem.
Mas ele virá enviado por Deus e terá uma dimensão nos planos históricos divinos que poderia ser comparável à de Moisés libertando o povo eleito da escravidão dos egípcios pagãos.
O beato voltou muitas e muitas vezes ao tema. Eis alguns textos característicos de seu pensamento profético a respeito:
“Restaurará Deus a sociedade humana? Sim: e há de ser logo. Como? Quando?
“Para a restauração da sociedade atual, isto é o que infalivelmente há de suceder.
“1º a sociedade moderna cai, se liquefaz, se dissolve, morre, perecerá.
2º Deus e seu Cristo lançado fora do Estado, sairá como leão das covas, dos desertos e das catacumbas, ostentará a onipotência de seu braço, e aniquilará todo o poder dos poderosos. (...)
“O mundo será redimido uma segunda vez, porque Satanás que é seu verdadeiro tirano outra vez será solto, e livre porá as nações sob seu domínio cruel e despótico; e será redimido uma segunda vez sob a forma que o foi na primeira. (...)
“Quando será isto?
“Morto Jesus na Cruz, o orbe inteiro anunciou a Redenção na queda do tirano.
“O sol se cobriu de trevas, e essas cobriram a face da terra.
“As pedras se partiram chocando umas contra as outras em terremoto universal, abriram-se os sepulcros, a natureza deu testemunho da verdade.
“O dia, a hora em que outra vez fique preso o tirano, e seja precipitado no abismo, a liberdade das nações será proclamada à voz do Arcanjo, com a trombeta de Deus, e a lei do Evangelho.
“Será à mesma época anunciada por uma voz, caindo prostrados e rendidos ante o trono de onde procede a voz, os povos dirão horripilados:
“Senhor, não nos gritai mais, falai pela boca de nossos apóstolos ministros de vossa palavra”.
“Naquele dia a voz dos profetas abrirá a terra. O inferno tragará vivos os apóstolos da mentira à vista dos povos, como tragou Datan, Coré, Abiron sob as ordens de Moisés.
“Naquele dia os profetas enviados por Deus para a Redenção das nações, rechaçarão a força bruta do homem com a força divina.
“Pela sua voz baixará fogo do céu, à vista dos povos.
“Reduzirá a cinzas ao poderoso que tente impedir sua missão.
“Assim lutará a força bruta do homem contra a força de Deus, e essa contra aquela”.
(“El Ermitaño”, Ano III, nº 148, 7 de Setembro de 1871)
“...Que nos disse Deus sobre o futuro da sociedade humana?...
Cristo em Majestade no Juízo Final. Fra Angelico, (1395 - 1455). Catedral de Orvieto, Itália
“Tudo se reduz aos artigos seguintes:
“Primeiro: a formação de um império universal, o império do mal, o triunfo de satanás no terreno da força política e material.
“Segundo: a volta do Gólgota e da Palestina ao domínio dos católicos, e com a conversão a Deus destas tribos, a entrada em plenitude de todas as nações na Igreja com todos os reis que agora nos recusam.
“Terceiro: a destruição total e completa do império de satanás e dos poderes políticos que agora nos combatem pela ação imediata de Deus.
“Quarto: a conversão a Deus e à Igreja de todas as nações, e de seus reis, a vinda ao mundo de um restaurador com a missão de Moisés, “restituet omnia”, à frente de uma ordem de apóstolos, os novíssimos, que a Providência tem preparados para a última hora.
“Quinto: satanás desencadeado combatendo a Cristo e a sua Igreja à frente de todos os poderes políticos e materiais da Terra, sua prisão e encadeamento e em sua prisão a ruína de seu império, do império da maldade.
“...Para este dia, que anunciaremos com segurança como político se não tivéssemos a revelação, a Providência nos tem prometido um grande profeta, o Moisés da lei da graça e o choque será horrendo.
“Este dia terrível está perto, está próximo, o anunciam próximo os sucessos extraordinários que vemos”.
(“El Ermitaño”, Ano III, nº 95, 1º de Setembro de 1870)
Cardeal concorda com juízos do Pe. Palau
Satanás esmagado pelo arcanjo São Miguel. Vitral da igreja de Saint-Martin, Florac, Lozère, França. |
“A Igreja, que deveria ser um lugar de Luz, tornou-se um antro de Trevas”, escreve o cardeal altamente posicionado para emitir juízos sobre o assunto .
“Os cristãos estão desorientados, escreve. Todos os dias, recebo de todos os lugares pedidos de ajuda de pessoas que já não sabem em que acreditar.
“Todos os dias, recebo em Roma sacerdotes feridos e desanimados.
“A Igreja atravessa a experiência da noite escura. O mistério da iniquidade envolve-a e cega-a. (...)
“Como disse Paulo VI, o fumo de Satanás invadiu-nos.
“A Igreja, que deveria ser um lugar de luz, tornou-se um antro de trevas.
“Esta deve ser uma casa de família segura e pacífica, mas tornou-se um covil de ladrões!
“Como podemos suportar que os predadores se tenham introduzido nas nossas fileiras?
“(...) certos homens de Deus converteram-se em agentes do Maligno. (...) Eles humilharam a imagem de Cristo em cada criança. (...)
Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação do Culto Divino: “Como disse Paulo VI, o fumo de Satanás invadiu-nos. “A Igreja, que deveria ser um lugar de luz, tornou-se um antro de trevas”. |
“Na tarde da Quinta-feira Santa (...) o diabo já se tinha introduzido no coração de Judas (...) Interiormente, ele deve ter pronunciado a antiga palavra da revolta: ‘non serviam’, ‘não servirei’. Na Última Caia ele comungou (...) Aquela foi a primeira comunhão sacrílega da história. E ele traiu”.
“Sua sombra paira hoje sobre nós. Abandonamos a oração. (...) relativizamos o sentido do celibato (...) alguns chegam até exigir o direito a condutas homossexuais. Os escândalos se sucedem entre os sacerdotes entre os bispos”.
O Cardeal Sarah conclui porém, lembrando “A Igreja não morrerá. É promessa do Senhor e sua palavra é infalível” (Apud Infocatólica, 18/03/2019)
Essas expressões vindas de um Cardeal tão estrategicamente posicionado, nos fazem lembrar as proféticas previsões repetidamente anunciadas pelo Bem-aventurado Pe. Francisco Palau há mais de um século e meio.
O Cardeal Sarah nos fala com a linguagem de nosso tempo sobre fatos de nosso tempo. O beato carmelita nos fala com a voz de um profeta sobre eventos futuros. Não temos indícios de que o purpurado vaticano leu os apelos do carmelita espanhol.
Os dois nos apontam o mesmo fenômeno: o mistério de iniquidade introduzido na Igreja por uma misteriosa estirpe de homens que constituem a estirpe de Judas.
Para os dois eclesiásticos tão diversos sob tantos pontos de vista, o pior inimigo está identificado.
E a patética pergunta se lhes apresenta inteira diante da alma.
O que será de nós? Quem porá para fora da Igreja essa estirpe de Judas que parece tudo conquistar sem que alguém lhe possa apresentar resistência válida?
O Cardeal Sarah quase não fala disso. O beato carmelita espanhol prevê a esperança de salvação por meio de uma alma muito escolhida por Deus.
Escutemo-lo:
“Quem prenderá essa péssima fera? Quem a encadeará, e atado o encerrará no abismo outra vez, para que não seduza as nações?
Beato Francisco Palau y Quer O.C.D., fotografia seminarista diocesano
“Um homem.
“Que homem será este?
“O restaurador prometido por Jesus Cristo à sociedade já dissoluta e em completa anarquia, impotente por si mesma para constituir-se em ordem.
“Um apóstolo, um profeta, um Moisés, um Elias...
“Quem não vê que esta tempestade, que com trovões e raios ameaça lançar-nos no abismo, não pode por si acabar?...
“...necessitamos um Moisés por cuja mão Deus Onipotente rechace a força bruta do homem, sobre a qual se apoia o terror e a maldade, a rechace entrando a religião na batalha com forças pelo menos iguais, a rechace no choque, e a extermine completamente no dia da vitória.
“Necessitamos um Josué, porém sob as ordens de um Moisés.
“... Quem dentre os mortais se apresentará em batalha contra Satanás, que desencadeado há seduzido as nações, e à frente de seus reis dá assalto real ao castelo da Igreja Católica?
“Quem dentre nós se apresentará armado, o prenderá, o encadeará, o precipitará no abismo, e o prenderá ali para que não seduza mais as nações?
“Quem é este homem, anjo que armado não de aço senão de cadeias, de chaves, de fé, de força espiritual, apresente batalha ao Forte armado, que mantém na incredulidade todas nações?
“Há de ser um homem, porque Deus decretou que os demônios serão lançados por mão de homem, e Deus disse ao homem “lançai os demônios”.
“Quem será este homem?
“Um anjo baixado do céu, quer dizer, um homem com missão especial de Deus: este homem... será o Restaurador.
“Enquanto o Forte armado protege as portas da fortaleza, na paz possui tudo quanto há lá dentro, enquanto este anjo não desça do céu a revolução seguirá exterminando tudo quanto encontre no caminho...
Já não é tempo de calar, mas de combater.
La Bible historiatus de Pierre [le Mangeur],
BnF, Département des manuscrits, Français 155, fol 195r.
“Este é o sinal da vinda do Restaurador: os demônios serão expulsos de todos os terrenos que ocupam.
“O serão os dos ares que envenenam produzindo tão desastrosas epidemias, o serão os dos corpos humanos.
“E então o Exorcistado, e tudo quanto sobre este sagrado ministério pregamos será acreditado, e visto verdadeiro; imensas turbas de tolhidos, cegos, energúmenos, maleficiados, que agora em vão buscam consolo em banhos, em medicinas, e médicos, serão curados repentinamente.
“Quando vires isto, crês que o Restaurador está no meio de vós”.
("El Ermitaño", Ano III, nº 154, 19 de Outubro de 1871)
“De um momento para outro aparecerá um Moisés, um homem a quem obedecerão os infernos, os céus, os elementos, a natureza inteira.
“Os prodígios com que comprovará a divindade de sua missão serão tão estupendos, que os que operou Moisés perante o Rei do Egito não são senão uma sombra e figura.
“Às suas ordens os mares sairão de seu leito e inundarão cidades inteiras; a terra se cobrirá de trevas tão densas que nem sequer se verão na sombra os objetos mais perto.
“Pela sua voz baixará fogo, enxofre do céu, e abrindo-se a terra, tragará no inferno vivos aos modernos sacrílegos Datan, Coré, Abiron, e quantos combatam sua missão.
“Sob a direção deste homem o orbe inteiro batalhará contra os insensatos.
“Seguirão a este Restaurador os eleitos, só os eleitos, aqueles que têm escritos seus nomes no livro da vida, e os demais católicos apostatarão dividindo-se uns dos outros.
“O que está escrito do filho do homem, se cumprirá na pessoa deste restaurador “ut comtemnatur et multa placatur”, será desconhecido, perseguido, desprezado dos católicos cujos nomes não estão escritos no livro da vida...
“Satanás será encadeado no abismo pelo novo Moisés e por seus apóstolos, e será com ele sepultada no inferno a maldade da terra...
As duas testemunhas do Apocalipse enfrentam a besta.
Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek
“Se vem a restauração verdadeira que consiste na conversão a Deus de todas as nações e seus reis, o restaurador não pode ser um rei, senão um apóstolo.
“A guerra não converte, senão que arruína, e este apóstolo será Elias, o Elias prometido, seja qual for o nome que ao aparecer se lhe dê.
“Chame-se João, Moisés, Pedro, o nome importa pouco: a missão de Elias restaurará a sociedade humana, porque assim Deus o tem em sua Providência ordenado.
“Deus não obra a favor do homem sem o homem, e o homem escolhido por Deus, há de ser um dos que com quem vivemos.
“Quem será este homem tão extraordinário, que prenda ao diabo, o encadeie, o lance no abismo e salve por sua mão Deus as nações?
“Quem será este Restaurador?
“Já o temos dito: é Moisés da lei da graça! Que venha! Que venha logo!
“Deus nos há prometido para estes últimos tempos um restaurador: “restituet omina”.
“A história deste homem é de interesse social geral, de uma importância imensa.
“Não há que duvidá-lo, o império do mal não pode deter-se em seu rápido curso, porque marchando pela tangente que seus crimes se desvendam, o peso enorme que lhe arrasta para o abismo não permite volta atrás”.
("El Ermitaño", Ano IV, nº 115, 19 de Janeiro de 1871).
O BEATO PALAU E O FUTURO DA RÚSSIA:
FLAGELO DO MUNDO
E CONVERSÃO COMO SÃO PAULO
e dos planos do Anticristo
Soldados soviéticos destroem igreja. |
Foi nessa perspectiva que Nossa Senhora veio alertar o mundo em Fátima.
Ela própria assim o sintetizou:
“virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados.
“Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja;
“os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas;
“por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.
“O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”. Cfr. Antônio Augusto Borelli Machado “Fátima: Mensagem de tragédia ou de esperança?”
A Irmã Lúcia, confirmou em entrevista que concedeu ao especialista em Fátima William Thomas Walsh, em 15 de julho de 1946, já depois de terminada a II Guerra Mundial:
“Se isto for feito [a consagração da Rússia], Ela [a Santíssima Virgem] converterá a Rússia, e haverá paz.
“Se não, os erros da Rússia se propagarão por todos os países do mundo”.
— “Na sua opinião, perguntou Walsh, isto significa que todos os países, sem exceção, serão conquistados pelo comunismo?”
— “Sim”, respondeu a vidente”.
(“Our Lady of Fatima”, The Macmillan Company, New York, 4th printing, 1947, p. 226). Cfr. Antonio Augusto Borelli Machado “Fátima: Mensagem de tragédia ou de esperança?
A consagração até agora não foi feita nos termos por Nossa Senhora para sua validez.
Massacre da Família Imperial russa. Deus a Santa Faustina (no destaque) “Eu não aguento mais esse país” |
“Ofereci o dia de hoje pela Rússia; – escreveu a Santa em seu Diário tão conhecido – todos os meus sofrimentos e orações eu ofereci por esse infeliz país.
“Após a Sagrada Comunhão, Jesus me disse:
— Eu não aguento mais esse país; minha filha, não amarres minhas mãos.
“Eu entendi que, se não fosse pelas orações das almas amadas por Deus, essa nação teria sido totalmente aniquilada.
“Oh, quanto eu sofro por essa nação que expulsou Deus de suas próprias fronteiras!”.
Cfr.: Santa Faustina, apóstolo da Divina Misericórdia para um mundo cujos pecados clamam por punição
Em numerosas ocasiões, Nosso Senhor fez ver à Beata Elena Aiello, a Rússia como instrumento pavoroso para castigo dos homens que não querem cessar de ofender a Deus:
Temos citado isto abundantemente. Por exemplo, nos registros dos anos 1952-1953:
“A Rússia soltará todas as forças do mal sobre todas as nações e em dado momento destruirá a melhor parte de minha grei: esta passará pela purificação, que será tida como o mais grave flagelo na história do mundo.
“O materialismo avança [...]. Virá uma guerra que destruirá povos e nações, os homens caminharão sobre os cadáveres [...].
“A Igreja está ferida por dentro e externamente.
“Então, as trevas cobrirão a terra porque estão dominadas por Satanás. As forças do mal avançam, e as forças do bem retrocedem [...]” (Das mensagens de 1952/53).
Cfr.: Beata Aiello: a conspiração da imoralidade dos “falsos profetas”, o flagelo da Rússia e a intervenção de Nossa Senhora”.
São Maximiliano Kolbe não só viu a Rússia como látego da humanidade mas também anunciou a vitória de Nossa Senhora sobre aquele país que se efetivará por uma misericordiosa conversão.
Disse ele:
“Rezemos à Imaculada, confiemos na Imaculada,
“Ela é a vencedora, aguardemos cheios de fé o dia em que um cavaleiro da Imaculada vai hastear bem alto acima do Kremlin em Moscou o estandarte branco da Imaculada”.
Cfr.: Imaculada Conceição: “um cavaleiro vai entronizá-la no topo do Kremlin”, previu São Maximiliano Kolbe”.
A focalização desse aspecto principal da Rússia como látego, entretanto, não deve levar a uma opinião incompleta a respeito dessa nação.
Nós consideramos, na estela do pensamento do prof. Plinio Corrêa de Oliveira e dos anúncios de Fátima, que a Rússia tem reservada uma missão grandiosa e admirável para uma era futura.
Não importa as coisas que ela fez mal na História – aliás, quem não fez algo mau em sua vida?
A misericórdia de Deus lhe reservou uma vocação esplendorosa.
E não pensamos assim só por um raciocínio de fé.
O Beato Palau viu o comunismo emergindo das chamas da Comuna de Paris, mas viu também a misericórdia divina tirando a Rússia do abismo de seus pecados e heresias |
Há um plano de Deus para esse conjunto humano esmagado pela igreja cismática de Oriente primeiro, pelo comunismo bolchevista depois, e pela “URSS 2.0” de Putin agora.
E esse plano de Deus para a Rússia não pode ser frustrado pelo demônio.
A Rússia atingirá sua plenitude após, é claro, corrigir os rumos errados que adotou e fazer penitência.
Há muito queríamos falar dessa Rússia e dos povos que a compõem que estão nos planos de Deus.
A matéria é complexa e pede muito espaço. Por isso, prosseguiremos no próximo post com os panoramas profeticamente antevistos pelo Bem-aventurado Francisco Palau y Quer.
se converterá como São Paulo
A extensão de seus comentários em verdade nos tirava o fôlego antes mesmo de começar.
Mas repassando outros comentários, desta vez do prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre os escritos proféticos do carmelita espanhol tomamos coragem.
Iniciamos, pois, uma série de posts a respeito de este outro lado da alma russa, achincalhada pelo cisma, pelo comunismo e pela enganosa estratégia de Vladimir Putin.
Deus Juiz Supremo, catedral de São Salvador, Bruges, Bélgica, Artus Quellinus o Jovem (1625-1700). |
“Ouvi vozes poucos dias há, enquanto dirigia meus passos rumo a uma das colinas da minha solidão:
“Misericórdia! misericórdia! Senhor Vos sabeis que ainda quando a Rússia pode se incluir no número dos povos prevaricadores da Terra, entretanto merece uma bondosa acolhida em vosso peito misericordioso”.
“Essas palavras causaram uma profunda impressão em meu espírito”.
“El Ermitaño”, Ano IV, Nº 189, 22 de Agosto de 1872.
Sim, para o beato espanhol, a Rússia – ainda em pleno reino dos czares que eram cismáticos – se incluía entre as nações prevaricadoras.
Mas, vozes – que veremos ser de almas santas – imploravam misericórdia por esse país na iminência do juízo terrível de Deus.
Isto contém um enigma. E o santo carmelita o formula também com uma sugestiva imagem:
“E eis que se abriram sobre mim os céus como se se rasgasse um grande pedaço da abobada celeste sobre minha cabeça.
“E apareceu ante meus olhos uma enorme balança que pendia de uma mão misteriosa enquanto o fiel se encontrava em perfeito equilíbrio.
“Saiu logo um demônio deforme para desequilibrar os dois pratos e agitava para ambos os lados o fiel que voltava uma e outra vez ao equilíbrio na enorme balança enorme.
“depois de uma caverna profunda saíram mais dois outros demônios carregando um fardo terrível sobre suas costas negras como carvão, alastrando sua longa cauda e olhando para uma e outro lado agitando o enorme peso de seus eriçados chifres afiados como pontas de aço.
“O primeiro daqueles seres deformes jogou com furor seu pacote sobre um dos pratos.
“Nele estava escrito com letras que brilhavam como o fogo: “Pecados da Rússia”.
“O diabo que vinha depois se desenvencilhando de seu seu enorme pacote, o pôs como pode no prato da balança, (...). Logo saíram da cova outros demônios com mais pacotes, (...)
“Mas a voz repetiu: “Misericórdia para a Rússia!” (...)
“Vi o Salvador do mundo aparecer sobre nuvens repetindo com voz imponente e majestosa:
“Temerário! Por que me persegues?... dura coisa é para ti dar cozes contra o aguilhão”.
“El Ermitaño”, Ano IV, Nº 189, 22 de Agosto de 1872.
A introdução nos apresenta que por causa de seus pecados históricos e sociais, o império russo não se sustentaria na hora em que Deus fosse julga-lo.
Porém, o santo carmelita previa profeticamente a conversão e o perdão histórico da Rússia então czarista e cismática.
O Pe. Palau escrevia isto, 45 anos antes de Nossa Senhora aparecer em Fátima e falar em termos análogos da Rússia que estava sendo escravizada pela revolução bolchevista.
O texto completo da mensagem de Fátima redigido pela irmã Lúcia leva a data de 8 de dezembro de 1941, sendo o artigo do Pe Palau sobre a conversão da Rússia datado de 22 de Agosto de 1872.
Quer dizer, o país que seria um flagelo dos homens pela misericórdia de Nossa Senhora acabaria se convertendo.
Essa mudança estaria ligada a uma conversão maior de humanidade.
Porque em Fátima Nossa Senhora pediu que os homens abandonassem o caminho de perdição em que vão afundando cada dia mais. Se isto acontecesse, a Rússia se converteria e o mundo teria paz.
Ela deixou assim meio entendido que para o triunfo do Imaculado e Sapiencial Coração dEla se realizar, a Rússia deveria se converter.
Quantas almas não haverá na Rússia esperando essa hora de perdão?
Almas na Sibéria, almas em lugares terríveis, sofrendo frios inimagináveis. Mas almas que são sementes do Reino de Deus e que contêm em si as esperanças de Deus na Rússia.
A voz que o Beato Palau imagina clamando misericórdia revela a necessidade de rezar a Nossa Senhora especialmente por essas almas.
E, prosseguindo, o Pe. Palau imagina como poderia se dar essa conversão:
“Vi um rei poderoso que parecia ser o Czar e esse rei estava prostrado por terra derrubado como Paulo quando ouviu aquela poderosíssima voz na estrada de Damasco.
“Entendi logo que aquele poderoso imperador um certo dia haveria de abençoar a misericórdia do Deus que haveria de brilhar especialmente sobre aquelas regiões prisioneiras do diabo durante tantos séculos”.
“El Ermitaño”, Ano IV, Nº 189, 22 de Agosto de 1872.
O espanhol Beato Palau morreu em 20 de março de 1872. Portanto mais de vinte anos antes do nascimento do polonês São Maximiliano Kolbe em 8 de janeiro de 1894, que citamos no post anterior.
Mas anteviu o peso que teriam na balança da Justiça divina as orações de almas santas de poloneses como São Maximiliano Kolbe.
Ou mesmo de Santa Faustina para a misericórdia e a conversão da Rússia, que citamos no post anterior.
“E liguei que as lágrimas da Polônia, prossegue o Beato Palau, qual as de um outro Estevão haviam sido aceites ante o trono de Deus e que seus gemidos haviam penetrado a abóbada dos céus.
“Assim como as súplicas de Estevão conseguiram a conversão de Saulo num só dia, assim as da Polônia martirizada obteriam a bênção para a Rússia. (...)
Santa Ursula Maria Ledóchowska (1865 – 1939) Santa Úrsula Ledochowska, polonesa apóstolo da nobreza russa
Santa Úrsula Ledochowska, filha da nobreza polonesa, ingressou nas ursulinas. Foi abadessa até que São Pio X a enviou a São Petersburgo para fazer apostolado com as filhas da nobreza russa.
Ela atraiu para o catolicismo numerosas jovens de famílias cismáticas frequentadoras da Corte, ficando patente as possibilidades do retorno da Rússia à Igreja Católica.
Seu extraordinário apostolado não teria sido possível sem uma aguda intuição profética das revoluções e guerras que fez o bolchevismo.
(Fonte: “La Civiltà Cattolica”, 2.7.1983)
“E soube também que, dado que nela encontraram acolhida humildes sacerdotes perseguidos quando se levantava o furacão em volta do Santuário, esse é um dos grandes povos cuja conversão e regresso à verdadeira fé não demorará muito.
“(...) sem tardar, enviará o Senhor às dilatadas regiões daquele império vastíssimo os que anunciarão sua glória.
“Nos novíssimos dias o Senhor Deus fará florescer naquele dilatado império sua justiça e sua gloria ante o olhar das demais nações.
“Gloria a Deus! Quem como Deus!”
“El Ermitaño”, Ano IV, Nº 189, 22 de Agosto de 1872.
Nesta perspectiva grandiosa, mas profética, sobrenaturalmente ligada à mensagem de La Salette e Fátima, se inserem alguns comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que julgamos elucidativos.
Não foram formulados como resultado de visões nem de revelações.
São fruto da análise e do conhecimento refletido de fatos históricos e da experiência da vida quotidiana do ilustre professor de História Moderna e Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Prosseguiremos então com excertos de sua autoria.
se converterá como São Paulo
Patriarca cismático de Moscou Kirill. Fundo: O grande bode, Francisco Goya (1746-1828), Museu do Prado |
E, também, a categórica afirmação de que essa imensa nação se converterá por uma misericórdia de Deus conquistada por almas santas, especialmente polonesas, que rezaram pelo perdão do mundo russo.
O Beato Palau não podia conhecer a promessa da conversão da Rússia que Nossa Senhora fez em Fátima quase meio século depois.
O bem-aventurado espanhol não apelava apenas a uma percepção profética ou sobrenatural para discernir os grandes fatores de perdição da Rússia. Ele raciocinava – e muito – com base na arquitetura da História.
Para ele o império russo cismático é uma das engrenagens do processo do demônio que visa através dos séculos destruir a obra da Redenção que Nosso Senhor conquistou no alto do Calvário.
A Rússia virou a central de irradiação do cisma – com suas heresias e corrupção– iniciado em Constantinopla em 1054, ou grande cisma de Oriente.
Por ordem do czar, os bispos cismáticos de rito grego criaram um espúrio Patriarcado de Moscou para servir melhor ao patrão imperial, que cobiçava conquistar os vizinhos, e queria uma aprovação religiosa.
Mais tarde, o czar Pedro o Grande extinguiu autoritariamente esse Patriarcado que ficou fechado dois séculos.
Enviados do Patriarcado de Moscou comparecem ao Concílio Vaticano II para conferir que o comunismo não seja atacado. |
Desde então, e com sobes e desces, o Patriarcado de Moscou foi mera agência do comunismo internacional encarregada de atrair os cristãos desprevenidos à órbita da revolução promovida pelo Kremlin no mundo inteiro.
Eis como o Pe. Palau via essa participação da Rússia no imenso plano histórico de Satanás contra a Cristandade e sua mãe a Igreja Católica e que ele denominava, em letras maiúsculas, REVOLUÇÃO.
Ele imaginava o raciocínio de Satanás ébrio de orgulho e revolta contra Deus:
“Ao longo dos séculos, os enormes crimes cometidos pelas nações, seus reis e sacerdotes na presença de Deus, provocaram sua ira e os tornou merecedores de serem devolvidos a meu domínio.
“Por causa do crime de deicídio, tenho sob minha jurisdição a Palestina e o povo judeu;
“por meio de Maomé, apresentei batalha em vastas regiões da África e parte da Ásia e venci.
“As coroas da Grécia e da Rússia me pertencem por justiça,
“pelo protestantismo eu consegui fazer apostatar a maioria dos reis da Europa
“e, ultimamente, sem máscara e com rosto descoberto, escrevendo na minha bandeira o título REVOLUÇÃO! fiz uma insurreição geral na França, na Espanha e na Itália.
“O que é que vos ficou?
“A sociedade humana me pertence por direito;
“Todas as nações se renderam a mim e apostataram da Igreja Católica:
“eu fiz tremular minha bandeira e todos os reis da terra se emanciparam de vossa lei”.
(“Noticias del cielo: vuelta de mi sombra”, El Ermitaño, Ano I, nº 8, 24 de dezembro de 1868)
Comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Tendo ouvido esta e outras citações do Pe. Palau sobre a parte que cabe à Rússia na ofensiva universal de Lúcifer, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira teceu os seguintes comentários:
Para se compreender a história da Rússia é preciso sondar a grandeza e a miséria de Bizâncio.
Constantino cedeu Roma à Igreja e fundou Constantinopla. Mosaico em Agia Sofia, Bizâncio |
Mas percebeu que no mesmo território não cabiam dois soberanos supremos, um espiritual e outro temporal.
Que Roma com todas as suas grandezas e suas glórias deveria ficar como capital espiritual do mundo.
Os homens deveriam ter outra capital temporal. Para isso escolheu a cidade de Constantinopla.
Constantino entendeu que não valia a pena reviver as ruínas de Atenas e que era preciso fazer uma grande capital que contivesse algo de novo: a cultura católica. Essa pedia um panorama novo que enriquecesse a alma do país que ia nascer.
Constantinopla ficou a capital da Europa Oriental e da Ásia Menor com projeções sobre o Mediterrâneo e o território asiático.
Esse império foi mais majestoso, mais sério e mais refinado que o império romano de Ocidente.
Ali se instalou também a Igreja Católica e o patriarca de Constantinopla foi um dos grandes hierarcas da Igreja.
Deus deu à Igreja católica no Oriente a majestade de tudo quanto desce do Céu e a seriedade e a gravidade de tudo quanto procede de Deus.
Ali São João Crisóstomo criou um rito extraordinariamente rico, belo, majestoso, sério, recolhido e poderoso.
Nasceu um tecido de igrejas, palácios, mosteiros, ermidas e prédios eclesiásticos que a Rússia herdou desde o rio Neva no Báltico até perto do Japão no oceano Pacífico. Não se concebe quase um império maior do que este.
Esse império teve uma nota faustosa, grandiosa, de uma seriedade extraordinária que impregnou a vida religiosa e a monarquia.
O monarca único e absoluto de uma extensão daquelas podia levantar exércitos de um tamanho desmedido, etc.
Tudo isso dava à Rússia o caráter de uma guia a pairar sobre a Europa e sobre a Ásia com suas asas do Mar Báltico até o Oceano Pacífico.
Beato Francisco Palau y Quer OCD |
Poucos homens tinham tanto poder quanto o Czar. Diz o Beato Palau:
“O cisma é representado pela Rússia. Esse império está em ruínas?
“Não: tem quatro milhões de soldados preparados para o combate no estilo dos alemães, que dominam o norte e olham para o leste.
“Essa fera feroz ameaça devorar a Turquia, seu objetivo não é defender a Igreja Católica, mas aproveitar o Calvário para acabar com sua existência ali mesmo onde nasceu”.
(“La causa de la religión: defensa”, El Ermitaño, Ano III Nº 126, 6 de abril de 1871).
O Papa tinha um poder maior porque monarca absoluto das almas de milhões e milhões de súditos que acreditam nele com todas as suas forças.
Portanto tinha mais poder do que qualquer homem dono de exércitos, artilharia e o que for. Quem tem a bomba atômica, não tem o poder de um Papa.
Este poder cercou a Rússia de um prestígio universal enorme, e de uma beleza muito grande, que se pode notar nas admiráveis obras de arte do Kremlin
Mas, esse prestígio era, e continuou até hoje, um colosso de pés de barro.
Por que razão?
Revolução Bolchevista, Moscou 1917 |
Príncipe Ivan Sergio Gagarin (1814 -1882) já jesuíta, foto sem data |
“Quanto mais se desce ao fundo das coisas, mais se é levado a concluir que a única luta verdadeira é entre o Catolicismo e a Revolução.
“Quando em 1848 o vulcão revolucionário aterrorizava o mundo com seus rugidos e fazia tremer a sociedade abalada em seus fundamentos, o partido que se dedicou a defender a ordem social e a combater a Revolução não hesitou em inscrever em sua bandeira Religião, Propriedade, Família.
“Está-se em presença de apenas dois princípios: o princípio revolucionário, que é essencialmente anticatólico, e o princípio católico, que é essencialmente contra-revolucionário.
“Apesar de todas as aparências contrárias, só há no mundo dois partidos e duas bandeiras.
“De um lado, a Igreja Católica arvora o estandarte da cruz, que contém o verdadeiro progresso, a verdadeira civilização e a verdadeira liberdade; de outro, apresenta-se a bandeira revolucionária, em torno da qual se agrupa a coalizão de todos os inimigos da Igreja.
“Ora, o que faz a Rússia? (...) Se ela quiser francamente combater a Revolução [N.R.: o padre escreve em tempos do czarismo], tem apenas um partido a tomar: colocar-se sob o estandarte católico e reconciliar-se com a Santa Sé”
(Pe. Ivan Gagarin S.J., La Russie sera-t-elle catholique?, Charles Douniol, Paris 1856, pp. 63-65).
Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
É tão grande o poder da Rússia que quase não há meios humanos de sujeitar ao império de um só homem vastidões tão grandes sem que a todo momento haja tentativas de sublevação ou de formar um povo independente.
O Czar não podia acompanhar a execução das obras que ordenava em seu império. Precisava de uma burocracia gigantesca, mas tão grande que fez do Estado uma entidade canhota das duas mãos.
O Estado burocratizado é um Hércules cujas duas mãos são esquerdas.
Quer dizer, quando quer fazer o bem saem coisas tortas. Mas o mal que faz é real. O mal que faz é profundo; o bem é superficial.
Este Estado era obrigado a soluções simplistas que deixam pasmo.
Um Czar das últimas décadas do século XIX, estava discutindo interminamente com os seus ministros a maior estrada de ferro do mundo de Moscou até o Oceano Pacífico.
Ninguém chegava à uma conclusão. Então o Czar se levantou e disse: “eu vou traçar esse plano”.
Colocou uma régua sobre o mapa e traçou uma linha reta de São Petesburgo até o Oceano Pacífico.
E disse: “esta é a estrada de ferro Transiberiana, vai em linha reta e não se discute”.
Quanto acerto! Quanto erro! Quanta bobagem!
Tudo que é feito quadradamente na linha reta, não é feito com muito erro? Não é preciso saber desviar? É possível desprezar tanto os jeitinhos?
É possível funcionar na base de um mero ato de força de vontade quadrada desacompanhada de raciocínio: “eu quero! eu faço! e minha própria vontade sirva de razão! Não tem outra razão!”?
Lá vai estupidamente a linha reta. Não é o fracasso de uma administração incapaz de utilizar seus recursos intelectuais, elaborá-los e chegar a planos bem pensados?
Por causa disso realizava paradas e exercícios militares impressionantes, mas era incapaz de um esforço guerreiro grande e esmagador.
Era um mamute de ossos quebrados que andava mancando sobre pernas colossais. Gigante e débil: colosso de pés de barro. Se alguém acertasse nos pés, o gigante cairia. Assim era a Rússia.
Todos os membros do império russo viviam numa espécie de escravidão. Um exemplo.
Fosse grão-duque ou simples príncipe nenhum deles podia sair da Rússia sem licença do Czar.
De maneira que um príncipe ou uma princesa que resolvia ir à Europa para se distrair, estudar ou aperfeiçoar sua cultura, às vezes levava meses para vir a autorização porque o Czar não tinha tempo de despachar os papéis.
Outras vezes era por birra do Czar. Ele não queria que a pessoa fosse e não mandava licença.
A pessoa ficava mofando em São Petersburgo ou em Moscou sem direito de perguntar por que não vinha a licença.
“Sua Majestade não se definiu, fique quieta porque do contrário vai para a prisão!”
Esse regime acentuou os defeitos morais do cisma e preparou as condições para o comunismo cavalgá-lo e com seus imensos recursos estabelecer o reinado de Lucifer no mundo.
“A Rússia e a Prússia, por um acordo secreto, mas verdadeiro, dividiram o império do mundo inteiro ao meio.
“Rússia e Prússia, dizemos, e esse outro termo é equivalente: cisma e apostasia.
“A Prússia entrega à Rússia o Oriente, as Índias, China, Palestina, Egito, África.
“E, por sua vez, essa entrega o Ocidente a seu companheiro, ou seja, França, Itália, Espanha, Inglaterra, Bélgica e, como na Áustria, está dividida entre as duas pela metade.
“Com esse plano, Satanás marcha para a formação de um único império dividido em dois, mas que se unirá em um único homem quando chegar a hora”".
(“Programa de politica en Europa”, El Ermitaño, Ano III, nº 164, 30 de dezembro de 1871
A Igreja Cismática contribuiu para resignar Rússia ao comunismo
O Dr. Plinio contou um fato muito ilustrativo do estado psicológico da Rússia antes da Revolução Bolchevista de 1917. O fato deu-se em 1912.
Um fato que minha mãe gostava de contar porque a tinha emocionado muito.
Ela estava hospedada em Paris num hotel chamado Hotel Royal. E como tinha feito uma recente operação na Alemanha que tinha abalado muito seu físico levava em Paris uma vida dependente de conselho médico.
O hotel tinha um médico que era um jovem russo, e ela se servia dele. Se fosse mais grave chamava um grande médico. Mas para coisas fáceis de diagnosticar, ela se tratava com esse médico.
Com a afabilidade dela e com a comunicatividade desse médico que falava francês na perfeição, entraram em relações cordiais, e muitas vezes a consulta se transformava em conversa particular.
Uma ocasião ela notou que ele estava transtornado. O rapaz era fino e com boa apresentação.
Ela perguntou: “Doutor, eu estou achando o senhor de tal maneira provado, que não posso me impedir de lhe perguntar se por ventura eu poderia ajudar em alguma coisa, etc.”
Ele disse:
“Madame, a senhora não conhece a tragédia de minha vida. A senhora me trata de Doutor mas eu sou escravo e dependo inteiramente do meu dono.
“Acabo de receber um telegrama dele ordenando-me que volte para tal aldeia para ir exercer o ofício de médico para o qual ele me dera ordem de vir estudar aqui na França.
A Igreja cismática russa preparou os espíritos para se resignar ao comunismo. Na foto: obedecendo Stalin o Patriarcado de Moscou roubou os bens da igreja greco-católica em 1946. |
“Quando esse telegrama que está aqui – ele desdobrou e mostrou para ela, que não entendeu porque estava em russo – é de meu dono.
“Ele o manda-me dizer que volte para a Rússia no prazo de poucos meses porque eu estou formado e daí por diante a minha vida terá que transcorrer na aldeiazinha em que nasci e, portanto, acabou Paris.
“Toda essa maravilha que eu conheci se fecha num buraquinho: naquele pessoal bêbado, ignorante, religioso de uma religiosidade esquisitíssima, que vive sem querer melhorar em nada.
“Eu vou afundar dentro desse poço minúsculo e o horizonte se fecha sobre minha cabeça. Acabou, eu vou voltar para a Rússia”.
Minha mãe disse:
“Mas, doutor, por que o senhor não procura a imprensa e não pede a órgãos internacionais que intervenham?”
Ele disse:
“Madame. Se eu procurar o governo francês e pedir a liberdade, o governo me dá na hora.
“A questão é a opressão que vão sofrer meus pais, parentes e irmãos enquanto eu não voltar. E na Rússia eu apanho porque levei tempo para voltar”.
O peso, a modorra, a tristeza, a falta de progresso, pesam sobre essa imensa população estendida até o Oceano Pacífico, Sakalinas, China, etc.
Ai vê-se também os pecados da população.
A igreja cismática russa é chamada igreja ortodoxa (IO). Mas o adjetivo ortodoxo vem de ortos, quer dizer regra, e doxus, doutrina, ensinamento. Então a igreja que tem o reto ensinamento.
Mas, isso ela não tem. A verdadeira Igreja ortodoxa é a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana. Só Ela tem o privilégio de ensinar a verdadeira doutrina em nome de Deus a todas as almas.
Durante o czarismo essa IO era um tal caos contínuo que o embaixador francês Maurice Paleologue conta que antes da I Guerra Mundial, seus seminários tinham muitos candidatos, mas a IO não tinha força para que perseverassem solteiros.
Enquanto o fulgor do celibato sacerdotal brilhava na Igreja Católica, a IO não tinha virtude nem espírito sobrenatural para segurar um grande número de sacerdotes célibes.
A submissão ao ditador do momento explica o 'Patriarcado de Moscou'. Desde Stálin, funciona como instrumento de repressão religiosa. |
Porém sua existência nadou na confusão. Nas chacinas da guerra civil que sucedeu à revolução de Lenine o número de sacerdotes diocesanos cismáticos caiu de 50.960 para 5.665. Por volta de 90.000 monges também foram massacrados ficando apenas algumas centenas.
Das 40.500 igrejas e 25.000 capelas que possuía o clero cismático sobraram apenas 4.255 devastadas pelo ódio dos sovietes contra tudo que falava de religião.
O ‘Patriarcado’ protestou contra a imensidade dos crimes e destruições antirreligiosas. Como punição, em 5 de maio de 1922 Tikhon foi encarcerado.
Mas foi liberado logo, em 1923, após prometer que “a partir de agora não sou um inimigo do poder soviético”. Tikhon morreu em 1925, quiçá envenenado, e do ‘Patriarcado’ ficou uma sombra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin precisava motivar o povo a combater numa guerra muito mortífera e impopular. Então, o ditador soviético reinstituiu o espúrio ‘Patriarcado’ em 1943 em troca de sua colaboração com o poder comunista e apoio a seu engajamento na II Guerra Mundial.
O ‘Patriarcado de Moscou’ serviu a propaganda do regime fazendo-o aparecer tolerante com a religião diante das nações estrangeiras, sobre tudo os EUA.
Stálin precisou também do ‘Patriarcado’ para submeter às comunidades cristãs e outros 'patriarcados' cismáticos nos países e territórios anexados ou ocupados pela União Soviética no conflito mundial.
Desde então, o ‘Patriarcado’ subsistiu como instrumento de consolidação do socialismo soviético.
Ele foi o agente da URSS para a perseguição do rito greco-católico ucraniano, confiscando seus bens com o falso pretexto de que todo o clero católico tinha aderido ao 'Patriarcado'.
Cfr. Wikipedia, verbete Igreja Ortodoxa Russa
A profunda decadência e degradação dos “popes” da IO
Os “popes”, como se denomina aos sacerdotes da I.O., ganhavam dinheiro para ouvir confissão. E lá era diferente: o “pope” e o penitente ficavam em pé.
O penitente cochichava nos ouvidos do “pope” que, no fim dava uma absolvição e o habilitava a comungar.
Mas, com frequência, quando o “pope” censurava os maus costumes, o penitente dizia: “Lá fora eu vou te esperar, e eu vou pagar em você o que você está me dizendo agora”.
Lá fora, procurava o “pope” que frequentemente estava bêbado e metia uma surra nele.
Nos seminários havia frequentemente revolta dos alunos contra os professores puxadas a tiro de revólver em que os mestres tinham que sair correndo e se esconder nos dormitórios para não serem massacrados pelos alunos.
Foi assim que quando a revolução social começou a ferver, o descontentamento pululou, e o partido comunista foi fermentando.
Por quê? Por causa de um pecado enorme. Qual? Estavam rompidos com Roma.
Por orgulho, o patriarca de Constantinopla que era iniciou o cisma que deu na Igreja russa, se colocou em declarada independência contra o Papa.
E daí veio a ruptura da unidade da Cristandade. Houve duas Igrejas cristãs: a Igreja Católica verdadeira e a igreja herética que são os cismáticos.
A igreja herética caiu nesse abismo moral, enquanto no Ocidente a Igreja Católica ia voando nos céus da Idade Média, com os seus santos, seus doutores, suas catedrais e mosteiros, e com a civilização cristã florescendo na Europa.
O monge curandeiro Rasputin foi um exemplo do poder satânico sobre a Rússia por meio da Igreja Cismática |
Mas, o Beato Palau não via nisso apenas a decadência de uma seita separada da Igreja.
Denunciava que o demônio se tinha apossado dela e tinha feito dela um de seus instrumentos mais poderosos no plano da conquista diabólica da Cristandade. E da Igreja Católica portanto.
O profético bem-aventurado deplorava a curteza de vista dos católicos que não viam quanto o cisma russo servia o plano da Revolução satânica.
Ele via então a cada vez mais premente necessidade do exorcismo para derrotar os poderes infernais.
Porque esses poderes são os que transmitem ordens e forças às forças revolucionárias.
E então, como se um destino inelutável as conduzisse, as minorias revolucionárias vão derrubando monarquias, democracias e quaisquer outros regimes legítimos nascidos sob a bênção da Igreja Católica.
Então a luta pela restauração dos governos legítimos em todas as suas formas históricas, desde as mais nobres monarquias até os mais simples e simpáticos governos de democracia direta como os cantões suíços, pressupõe a vitória da Igreja sobre os grandes malfeitores infernais.
O Beato Palau pensava muito na sua Espanha natal, onde o legitimismo carlista teve tudo para restaurar a ordem tradicional.
Porém foi vencido por um “fado fatal” que não era outra coisa senão um bafo infernal que impulsionava os revolucionários.
Por toda parte, os melhores sistemas, amados pelos povos, caíam como por desgraça. Mas, não era má sorte e sim a obra de conjurados ao serviço da Revolução dos espíritos satânicos.
“A revolução ultimamente [N.R. : segunda metade do século XIX] se nos apresentou armada com exércitos formidáveis e vemos que o Papa virou prisioneiro depois de perder a coroa de rei de Roma.
Rasputin com hierarcas do Patriarcado de Moscou em Tsaritsyn, 1906
O imponderável fez pensar a muitos num conciliábulo das trevas.
“Nessas guerras, do que nos serviram as armas, usadas pela política dos católicos?
“De nada: os católicos foram impotentes, cegos, errantes; nossos reis sucumbiram: a Igreja por si só é impotente para nos salvar dessas armas.
“Porque o fato histórico é que Satanás dirige o trabalho da Revolução, a sustenta, lhe dá força, poder, forma.
“Mas, a Igreja será coerente: o atacará numa guerra ofensiva e o derrotará. (...)
“Com que armas?
“Com aquelas que Cristo lhe deu, armas diretas contra seu inimigo jurado.
“Quais são essas armas?
“Pergunte a um exorcista que pratica, pergunte a ele como vencer o diabo.
“Ele responderá: na fé, no poder que temos sobre ele, no cumprimento de uma missão marcada neste preceito: “expulsai os demônios”.
(“Incendio de barracas en Barcelona”, El Ermitaño, Ano IV, nº 170, 8 de fevereiro de 1872)
Haveria de passar quase meio século desde a morte do Beato Palau até o cisma russo aderir formalmente ao comunismo, a fase mais aguda dessa Revolução iniciada por Lúcifer no Céu.
E haveriam de vir outras fases revolucionárias, como a inaugurada pela revolução de Maio de 1968, e o caos em que estamos mergulhados que, na visão do Pe. Palau, preparariam a vinda do Anticristo.
“Nos séculos X, XI e XII tudo foi cisma. Os costumes e a luz da fé foram corrompidos pelo cisma grego que se espalhou pelo norte e pelo leste da Europa:
“a Igreja grega caiu e as trevas estão longe de se dissipar das cortes da Grécia e dos czares da Rússia, pelo contrário, com o tempo elas se condensaram mais”.
(“Curso de la noche y el dia en el mundo intelectual”, El Ermitaño, Ano II, nº 4, 14 de fevereiro de 1869).
Degradação psicológica na IO introduzida por obra diabólica
A princesa Zinaida Nikolaevna Yusupova vestida com roupas da nobreza russa do século XVII, mãe do príncipe que matou a Rasputin.
A princesa Zinaida Nikolaevna Yusupova vestida com roupas da nobreza russa.
PASSE O MOUSE PARA VER EM CORES
O horrível crime dá ideia do ambiente religioso na igreja cismática russa.
Custa imaginar como um povo que podia gerar tanta cultura pudesse afundar sob o poder do diabo.
Compreende-se que Nossa Senhora o tenha apontado como flagelo do mundo, mas também quisesse converte-lo após terríveis correções, como falou em Fátima.
É difícil imaginar o poder que pode adquirir o príncipe das trevas sobre a psique de um povo inteiro, mas o Beato Palau insistia na realidade dessa posse diabólica de nações e até de igrejas inteiras.
O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou um exemplo da degradação psicológica introduzida pela influência diabólica e que em Ocidente pareceu mais uma peculiaridade psicológica do povo russo.
Tratou-se de um fato narrado pelo literato revolucionário francês Alexandre Dumas, que reproduzimos a continuação seguindo o relato de Dr.Plinio:
O grande romancista revolucionário, Alexandre Dumas, estava pela Rússia no século XIX colhendo material para sua reportagem, e visitou as masmorras dos cárceres russos para ver o sistema penitenciário.
Então contaram para ele o caso de um homem que tinha cometido um crime político e passou 30 anos isolado sem possibilidade de sair. Não falava com ninguém. Não tinha agasalho. Tinha apenas um cobertor ensebado que se desfazia. Ele vivia já meio gagá.
Depois veio o julgamento: condenado à morte. E lhe disseram: “Venha e suba porque são ordens do imperador”. Ele se enrolou como pôde naqueles trapos sujos e subiu.
Disseram-lhe: “Suba até o alto, tem ali um barco com uma guarnição militar”. Ele não ousou perguntar o que era, nem não era, nem nada. Subiu e encontrou o barco. Sinal do pessoal do barco: “entra aqui”. Ele entrou.
O barco andou pelo rio até onde as águas estavam paradas e geladas. Fizeram a ele sinal para descer e fizeram um sinal para ele abrir um buraco com uma pá.
Ele abriu o buraco afanosamente, quando terminou olhou para o chefe da guarnição do pelotão militar. Disseram a ele: “Jogue-se no buraco!”
O czar Nicolas II e a czarina Alexandra, últimos imperadores
assassinados numa explosão de ódio diabólico por mãos comunistas
Ele fez um sinal de que queria rezar. Ajoelhou-se, fez o nome do Padre, e durante um minutinho ele rezou qualquer coisa que ninguém sabe. Fez novamente o nome do Padre, chegou perto do buraco e jogou-se, e as águas do Neva o cobriram por toda eternidade.
Só quando os corpos ressuscitarem se saberá o que foi feito desse homem.
Pode haver destino mais cruel? Entretanto, a sujeição a que estavam expostos esses homens em geral, era dessa natureza. Vejam o que é um país governado de ponta a ponta nesse sistema.
O ilimitado poder imperial hipertrofiou a monarquia
Os Czares eram odiados pelos revolucionários da Europa inteira, que detestavam especialmente uma monarquia hipertrofiada até o pesadelo mais negro.
A autoridade imperial, que por sua natureza deve ser paterna e benévola à maneira dos monarcas do Ocidente, era, no fundo, a autoridade de um chefe de senzala mandando sobre milhões e milhões de escravos.
Esse ódio dos revolucionários levou-os a publicarem muita coisa exagerada, suspeita e unilateral a respeito do regime russo, mas não falsa.
Havia lugares onde entre o senhor e os escravos havia muita amizade, muita solidariedade, etc. Até o Czar era mais benquisto precisamente pelo povinho porque sentia menos o peso da sua autoridade.
No meio disso, a IO foi abandonando princípios dos mais sagrados para não ter complicações.
Por exemplo, o divórcio muito antes da Primeira Guerra Mundial. Por quê? Porque para a vida alegre e dissoluta do pecado, o divórcio é muito mais conveniente.
Os senhores têm aí a ideia do pacote enorme de pecados que os demônios depositaram na balança da Justiça de Deus inclinando-a para a condenação da Rússia na visão impressionante do Beato Palau no Ermitaño.
E o valor dos sacrifícios oferecidos por ela que levarão Deus a converte-la como a São Paulo, se cumprindo a profecia de Nossa Senhora em Fátima.
Mas até que o enviado de Deus, caracterizado pelo "espírito de Elias", não quebre o chefe infernal da Revolução, as tentativas de restauração de monarquias legítimas, e a legitimidade em geral, serão frustradas pelo poder dos anjos revolucionários.
“Vã é a esperança dos católicos nesse ou naquele outro príncipe.
“Repetimos; os reis católicos não voltarão a ocupar seus tronos enquanto Satanás não seja expulso do meio das nações que possui.
“Ele é dono da Turquia pelo Alcorão,
“pelo cisma ele é dono da Rússia,
“ele possui o centro da Europa por meio do protestantismo, em primeiro lugar pela Prússia e pela Inglaterra,
"Ele é dono da França, da Espanha e da Itália, pelo que chamamos de Revolução,
"Ele é dono das outras nações pelo paganismo antigo e moderno,
"Ele possui o corpo da sociedade atual por causa da apostasia de seus reis,
"Ele é dono até do povo católico pela corrupção dos costumes que o avilta,
“Nas altas regiões do poder, ele possui tronos, cetros e coroas.
“Mas não pôde derrotar a Mulher do Cordeiro, que com um punhado de homens corajosos aguarda impaciente o momento solene de lhe dar batalha e aniquilá-lo.
“Estes são os verdadeiros católicos: aqueles que mantêm a fé católica inteira e pura e não sufocaram o ardor da caridade que incendeia seus peitos.
“Quando eles entrem na batalha contra o verdadeiro inimigo da raça humana, todos os elementos católicos se porão em ação e vencerão”.
(“Porvenir de Roma”, El Ermitaño, Ano III, nº 93, 18 de agosto de 1870)
A Fé inabalável do Beato Palau se manifestou, entre outras coisas, na certeza que a Revolução anticristã, malgrado reunisse as maiores forças da iniquidade sobre a Terra, seria derrotada pelos Apóstolos do Últimos Tempos que Deus vai suscitar para essa missão.
“Em matéria de religião, as nações estão divididas em mil fragmentos ... lá temos o Alcorão na Turquia, o cisma na Grécia e na Rússia que reúne numa só cabeça o pontificado eclesiástico e o poder real,
“Existe a apostasia na Alemanha, na Inglaterra, pelo protestantismo, que não reconhece o império espiritual na cabeça do Papa,
“Existe a revolução que emancipa o homem de toda autoridade em nome da razão.
“Confundido o padre católico e misturado entre a multidão de apóstolos mentirosos, o homem fica envolto na mais completa escuridão.
“Antes que o império do mal se organize e forme como um só corpo, Deus enviará os últimos apóstolos, e eles direcionarão sua Palavra a judeus, mouros, cismáticos, protestantes, revolucionários, católicos infiéis, cristãos e anticristãos”. (...)
(“Cismas”, El Ermitaño, Ano IV, nº 175, 14 de março de 1872)
O BEATO PALAU E AS EPIDEMIAS:
CASTIGOS PELA MOLEZA DOS CATÓLICOS
E VINDA DOS APÓSTOLOS DOS ÚLTIMOS TEMPOS
se afasta com as bênçãos da Igreja!
Triunfo da morte, detalhe. Pieter Bruegel o Velho (1525-1530 – 1569). Museu do Prado, Madri |
Diversamente da falta de fé hodierna, o Beato – como, aliás, boa parte do clero – agia corajosamente no fulcro do drama para atender espiritualmente os doentes com Sacramentos, bênçãos, sacramentais, procissões, adorações e conselhos espirituais em igrejas, ruas, casas e hospitais.
Esse cumprimento heroico da ordem dada por Jesus Cristo aos Apóstolos de curar os doentes acabou apressando sua morte, acontecida no dia 20 de março de 1872 em Tarragona, extenuado em decorrência de seu intenso esforço e do contágio da febre amarela, que estava quase debelada.
“Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!” (São Mateus, 10, 8)
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No ano de 1870, ele observou um fato singular: a epidemia popularmente denominada “febre amarela” voltara, só que com pouca intensidade e fazendo um número reduzido de vítimas numa cidade de industrialização acelerada, mas com serviços básicos insuficientes.
Nessa peste fraca, contudo, ele notou que um pânico desproporcionado tomou conta da população e alterou sua conduta.
O pânico transformou a imensa urbe “num deserto”, as carruagens sendo usadas apenas para a fuga dos indivíduos e seus pertences. O exército ocupava as ruas para impedir saques.
Quadro do Beato Francisco Palau em Congresso a ele dedicado no Vaticano. Instituto Teresianum, novembro 2018 |
“O pânico, o terror, o temor, esses fantasmas expulsaram os habitantes de Barcelona. O que está acontecendo?” — perguntava o santo carmelitano.
“A epidemia se apresentou como um fantasma tão feio, aterrador e horrível que, de medo de serem pegos em suas garras, todos fogem”.
Entretanto, não havia “em Barcelona motivo para tanto susto”. Com o seu esvaziamento a epidemia provavelmente não se difundiria e o fantasma da guerra civil pendente se dissiparia pela falta de combatentes.
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O Beato Palau continuou fiel ao seu ministério sacerdotal, atendendo os enfermos e assegurando o atendimento pastoral com Missas e cerimônias nas paróquias sempre abertas.
Mas a relativa calmaria permitiu-lhe refletir sobre o que acontecia.
“O que é a epidemia?” — perguntava-se.
“É a morte que chega por ordem da Justiça de Deus para castigar um país.
“Quem a acompanha? Por certo, não é um anjo de paz.
“Não, é um anjo de trevas, exterminador. Ele vem trazendo tudo aquilo que serve para castigar, destruir, matar. E os demônios, quando têm permissão divina, fazem seu ofício às mil maravilhas.
Beato Palau
“Deus os deixou neste mundo para que sirvam ante sua justiça como verdugos, instrumentos de ira, de anátema e de vingança. A morte vem com eles e eles vêm com a morte.
“Por isso — dizia ele —, convém que nos armemos para recebê-los com as armas na mão”.
E que armas são essas?
Ele explicava que são em primeiro lugar os sacramentais da Igreja bentos pelos sacerdotes, como a água benta, o sal bento, ou ainda a arruda (alecrim) também benta, queimando-a para que sua fumaça penetre na casa.
“Se a epidemia é uma maldição, a bênção impedirá que ela entre na casa. [...] Se nesta a maldição não couber, ela fugirá. É questão de fé! fé! fé! e armas”.
(“La peste en Barcelona” El Ermitaño, ano III, nº 98, 22 de setembro de 1870)
As armas sagradas contra a epidemia
Em 1870 ainda grassava a epidemia denominada tifo icteroide ou febre amarela, com alguns casos sendo atendidos nos hospitais, mas a cidade de Barcelona continuava deserta.
“Na verdade — comentava o Beato Palau, que vivia assistindo religiosamente aos doentes — não há motivo para tanto pânico e terror”.
“Insistimos que esta epidemia não é senão o fogo da ira de Deus transmitido materialmente aos corpos humanos pelos agentes de sua justiça. [...]
Procissão da Irmandade penitencial do Cristo da Bona Morte, Zamora, Espanha
“Falamos isto apoiados na fatal experiência”.
“Uma vez reconhecida sua verdadeira e única causa, são conhecidos seus remédios.
“Quando aplicados no momento adequado, eles são tão seguros e eficazes que não se deve temer a morte, inclusive em casos fulminantes”.
Ele falava em primeiro lugar dos remédios espirituais:
“A oração, a penitência, os atos de culto público, as procissões, as rogativas públicas. Por meio desses remédios, como lemos na história eclesiástica, a ira de Deus foi aplacada”.
Também recomendava as bênçãos ordenadas no Ritual Romano.
Como exemplo, cita a bênção da arruda (alecrim), planta que se usava para aspergir água benta:
Bem-aventurada sejas, arruda, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que sejas o extermínio dos demônios e de todos os seus companheiros.
Por Aquele que há de vir para julgar os vivos e os mortos, e o mundo pelo fogo. Amém
A aspersão da água benta pela casa toda, a oração do Santo Rosário pela família reunida são outras medidas de preservação muito seguras e eficazes.
Sobretudo quando se lhes acrescentam à frequência dos sacramentos, outras orações e a abstinência de tudo aquilo que desagrada a Deus.
O Beato Palau recomendava as práticas sanitárias da época, explicando que alguns podiam morrer por falta de fé, mas outros por desobediência às normas prudenciais.
Por falta de celeridade na prevenção, o auxílio médico agia demasiadamente tarde. Quando os enfermeiros chegavam, o mal já era incurável.
Cardeal Raymond Leo Burke |
Nos tempos de epidemia do coronavírus, o Cardeal Raymond Burke lembrou muitos desses recursos espirituais contra a epidemia que continuam tendo plena vigência e utilidade.
De fato, no Missal Romano, há textos especiais na Missa Votiva pela Libertação da Morte em Tempo de Pestilência (Missae Votivae ad Diversa 23). Na tradicional Ladainha dos Santos, rezamos: “Da praga, da fome e da guerra, ó Senhor, livrai-nos”.
Nós, bispos e sacerdotes, precisamos reivindicar publicamente a necessidade para os católicos de orar e render culto em suas igrejas e capelas, e seguir em procissão pelas ruas e caminhos, pedindo a bênção de Deus para Seu povo que sofre tão intensamente. (...)
No passado, de fato, os governos entendiam, acima de tudo, a importância da fé, da oração e do culto do povo para vencer uma pestilência.
Muitas de nossas igrejas e capelas são muito grandes. Eles permitem que um grupo de fiéis se reúna para rezar e adorar sem violar os requisitos de “distância social”.
O confessionário com a tela tradicional é geralmente equipado com um véu fino, e se não houver poderá facilmente ser colocado, o qual pode ser tratado com desinfetante, para que o acesso ao Sacramento da Confissão seja possível sem grandes dificuldades nem o risco de transmissão do vírus. (...)
Que nosso lar, durante esse período de crise, reflita a verdade de que Cristo é o convidado de todo lar cristão.
Vamos nos voltar para Ele através da oração, especialmente o Rosário, e outras devoções. Se a imagem do Sagrado Coração de Jesus, juntamente com a imagem do Imaculado Coração de Maria, ainda não estiver entronizada em nossa casa, agora seria a hora de fazê-lo. (...)
Para aqueles que não podem ter acesso à Santa Missa e à Sagrada Comunhão, recomendo a prática devota da Comunhão Espiritual.
Regime que há anos está fechando as igrejas proibiu o abafamento do surto em tempo e puniu médicos |
Ao mesmo tempo, se estivermos conscientes de ter cometido um pecado mortal e formos incapazes de ter acesso ao Sacramento da Penitência ou Confissão, a Igreja nos convida a fazer um ato de perfeita contrição, isto é, de pesar pelo pecado “quando procedente do amor de Deus, amado sobre todas as coisas”.
Um ato de perfeita contrição “obtém o perdão dos pecados mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à confissão sacramental” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1452).
(...) a razão, inspirada pela fé, (...) deve dar prioridade à oração, à devoção e ao culto, à invocação da misericórdia de Deus sobre Seu povo que sofre tanto e está em perigo de morte. (...)
A Virgem Mãe de Deus, os Santos Arcanjos e Anjos da Guarda, São José, Verdadeiro Esposo da Virgem Maria e Padroeiro da Igreja Universal, São Roque, a quem invocamos em tempos de epidemia, e os outros santos e bem-aventurados, a quem nos voltamos regularmente em oração, estão ao nosso lado. (...)
(Fonte: « Mensagem do Cardeal Burke sobre o combate ao coronavírus », ABIM, 24 de março de 2020).
O pânico, ou O colosso, atribuído a um seguidor de Francisco Goya (1746-1828), Museo del Prado, Madri |
Mas também do ponto de vista da Misericórdia Divina são grande ocasião para os homens se voltarem a Deus esquecido e obterem a remissão das culpas e o fim dos males.
“Insistimos que esta epidemia não é senão o fogo da ira de Deus materialmente transmitido aos corpos humanos pelos agentes de sua justiça.
Sacerdotes administram sacramentos aos agonizantes.
Hoje, mesmo os melhores, cumprem o mandato de Cristo aos Apóstolos?,
La Ilustración Española y Americana, Barcelona, 25.11.1870
“[...] a oração, a penitência, atos de culto público, procissões, rogativas públicas. Por meio desses remédios, como lemos na história eclesiástica, a ira de Deus foi aplacada”.
(Fonte: “Las profecias”, El Ermitaño, ano III, nº 101, 13 de outubro de 1870)
Porém, por trás desta dimensão religiosa escondia-se outra não menos religiosa, misteriosa e muito mais abrangente, imperceptível até para heroicos eclesiásticos de espírito de fé sobrenatural.
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Para isso, o levava ao morro mais alto de Barcelona e lhe apontava as grandes capitais europeias.
Por cima de Paris, Berlim, além da própria Barcelona, o anjo lhe mostrava que pairava “um fantasma atrás do qual vinham a morte, a devastação, a anarquia e um cataclismo social horroroso”.
Esse espectro, marchando sobre montes de cadáveres, esvoaçando pelos ares na noite, enchia de luto e de pranto as casas mais bem fechadas.
Sem vê-lo propriamente, todas as nações intuíam sua presença, e ele não se ocultava totalmente.
O pobre mortal foge da cidade, mas o fantasma o persegue obstinadamente, invade desde o palácio do rei até a miserável choupana do camponês.
A fuga precipitada revelava o terror que inspirava esse fantasma que estamos apenas desenhando.
Mas o que é esse monstro? — perguntava-se o santo carmelita. Não será apenas uma fantasmagoria, uma ilusão, uma mera sombra?
E o anjo lhe desvendou uma ponta do mistério:
“Nem tudo é sombra, há certa realidade. Queres ver qual é?”
O anjo lhe apontou Paris e Roma e lhe explicou que, vistos da terra, os acontecimentos humanos têm certo aspecto.
Contemplados do Céu, à luz radiante da verdade pura, eles têm outra cor.
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Olhados do inferno, precitos e demônios os julgam de outro modo.
Quando avaliados por homens materialistas, são pesados de modo diferente.
Depois de lhe dar essa visão panorâmica — que na verdade não respondia ao enigma —, o anjo imaginado por ele dá a explicação.
Ei-la:
“Satanás sabe que sua hora está chegando e que restam poucos dias ao seu império na terra.
“Então, antes de ser precipitado aos infernos com os seus, ele pretende acabar com o gênero humano.
“Essa é a razão pela qual ele promove guerras, epidemias, fome, confusão, anarquia e dissolução social, dividindo e subdividindo cada nação em mil fragmentos político-partidários e religiosos. Por qualquer razão, ele faz um país atacar o outro.
“E eis o castigo das sociedades que perderam a fé: as legiões infernais fazem sua obra de demolição sem serem incomodadas.
“Os homens — especificamente aqueles elevados à ordem eclesiástica — possuem as armas para derrotá-las, mas por incredulidade não as empregam e, em vez de combatê-las, fogem.
“E os gênios do mal arrastam a humanidade para uma horrenda catástrofe, aliados a homens perversos que querem se vingar de Deus, ferindo e matando o homem feito à imagem e semelhança divina.”
(Fonte: “Un fantasma ¡guerra! ¡peste!”, El Ermitaño, ano III, nº 99, 29 de setembro de 1870)
As pragas, epidemias e outras catástrofes coletivas não visam primariamente os indivíduos, mas os povos que se afastam de Deus com leis iníquas, governos ímpios, costumes sociais dissolutos, etc.
Hoje exemplificaríamos com as leis do aborto, da agenda LGBT, das leis socialistas ou estatistas, a penetração da influência chinesa e russa, o comuno-progressismo na Igreja, etc.
"A festa das bruxas" ilustra o conúbio de espíritos malignos e homens perversos. Francisco de Goya y Lucientes (1746 -1828) Museu Lázaro Galdiano, Madri |
Todo ele estava cheio de barracas dos fugitivos do pânico – nunca concretizado – da epidemia em Barcelona.
Para lá iam, empurrados pelo pânico de não se sabe o que, os populares que não possuíam chácaras nem sítios.
Acampamento dos fugitivos da epidemia. 15.11.1870. La Ilustración Española y Americana |
Numa elevação fora erigido um altar, e de manhã cedo se tocavam os clarins convocando o povo, que acorria para assistir à Missa, enquanto militares prestavam honras e continências ao Santo Sacrifício.
O Beato exclamava que o espetáculo era tão belo, magnífico e comovedor, que o país parecia ter retornado aos séculos XV e XVI.
Porém, ele não se deixava iludir.
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Mas, serviam à revolução republicana e laicista de setembro de 1868, “filha abortiva” da Revolução Francesa e irmã da Revolução que invadiu Roma e arrancou do Papa os Estados Pontifícios. Uma contradição.
Análoga contradição se dava na Itália, onde o rei usurpador Vitor Manuel invadiu Roma com o pretexto de proteger o Papa das turbas garibaldinas.
Esse rei se fazia passar como eminente católico, mas na prática ele roubou os Estados Pontifícios, cuja existência era uma condição da independência da Igreja.
Hoje, se reconhece a independência do Estado da Cidade do Vaticano, mas com um efeito quase só simbólico.
Também na Espanha, políticos liberais, maçons, revolucionários e anticlericais como Serrano, Prim e Topete, que estavam no topo da Revolução dita “setembrista”, bancavam de católicos, se dizendo até mais que o próprio Papa Pio IX.
Na França, Napoleão III, fautor da forma mais sagaz da Revolução Francesa naquele momento, mãe de todas as outras, fazia circular que também ele era católico, talvez não tanto quanto o Beato Papa Pio IX, embora tivesse desamparado os Estados Pontifícios entregando-os à sacrílega invasão das tropas revolucionárias.
Como esses supostamente “católicos” que se diziam não-exagerados ou conservadores podiam enganar a massa dos católicos, constituída na verdade por prudentes, centristas, conservadores sinceros, monarquistas liberais, republicanos conservadores ou monarquistas constitucionalistas?
Por que os bons católicos não abriam os olhos para esse gigantesco embuste?
O próprio santo carmelita dava a resposta:
“Satanás entrou no santuário e encheu-o de abominações, sustentado por poderes que se rotulam católicos e que a partir do próprio santuário nos movem uma guerra atroz, a mais perigosa jamais enfrentada pela Igreja”.
Essa era a explicação.
Havia começado a era dos falsos católicos que assumindo ares de conservadores, depois de democrata-cristãos e ainda outros rótulos, e até usando com ostentação objetos de piedade, na realidade abriam com sua moleza as portas legais dos países e da Igreja aos inimigos encapuzados, mas declarados sob o capuz, de Jesus Cristo.
“Mas isso pouco importa; afirmava o Beato Palau cheio de fé, Satanás e os falsos católicos cúmplices dele acabarão sendo postos para fora do catolicismo com todos os seus poderes.
Satanás e os falsos católicos cúmplices dele acabarão sendo postos para fora do catolicismo
Queda dos anjos rebeldes. Nicolás Francés (1390 - 1468). Cincinnati Art Museum
“E sua queda será uma catástrofe inesperada, imprevista, será um golpe de mão da parte de Deus.
“Então começará a regeneração social.
“O inimigo tira proveito combatendo contra nós dentro de nossa fortaleza, por isso usa o uniforme de católico.
“Ele se nos apresenta em certos atos religiosos com o nome de católico para fascinar as turbas e levar, se possível, a confusão até o Céu”.
(Fonte: “Un fantasma ¡guerra! ¡peste!”, El Ermitaño, ano III, nº 99, 29 de setembro de 1870)
Por “Céu” ele talvez entendesse o próprio Papado, que é o que existe de mais alto e semelhante ao Céu neste mundo.
Nos males coletivos que se abatiam sobre os homens, como guerras e epidemia, o Bem-aventurado Palau apontava haver um castigo divino ao fato dos católicos não olhar de frente a confabulação de espíritos infernais e de homens maus que denominava Revolução. Cfr.: Um profeta de ontem para hoje, para amanhã, e para o fim dos tempos
E explicava: “O que é a Revolução? – explicou – É hoje na Terra aquilo mesmo que aconteceu no Céu quando Deus criou os anjos: Satanás (...) seduziu todos os reis e governos da terra e com a bandeira ao vento dirige seus exércitos na guerra contra Deus,
“(...) isto é revolução, isto é anarquia entre os homens e guerra contra Deus” (“Triunfo de la Cruz”, El Ermitaño, Nº 125, 30-3-1871.).
“Satanás é o pai da Revolução, essa é a obra dele, iniciada no Céu e que vem se perpetuando entre os homens de geração em geração.
“Por primeira vez após seis mil anos ele teve a ousadia de proclamar diante do Céu e da Terra o seu verdadeiro e satânico nome: Revolução!
“A Revolução tem como lema, a exemplo do demônio, a famosa frase: não obedecerei! Satânica em sua essência, ela aspira a derrubar todas as autoridades e seu objetivo derradeiro é a destruição total do reino de Jesus Cristo sobre a terra” (“Adentros del catolicismo – abominaciones predichas por Daniel profeta en el lugar santo: Apostasía”, “El Ermitaño, nº 21, 25-3-1869.).
Em 1848, em La Salette, Nossa Senhora falou longamente de essa ação conjugada entre anjos e homens entregues à iniquidade.
E também denunciou os castigos que esse processo atraia sobre o mundo, especialmente sobre catolicismo, clero e povo, amolecido e decadente. Cfr.: O segredo de La Salette, texto completo em português
Nossa Senhora em Fátima em 1917 voltou a falar desse processo de corrupção dos costumes da humanidade e da necessidade de se afastar dele pela penitencia.
Se essa não era feita, viriam castigos em que até nações inteiras desapareceriam e em que a Rússia cismática-comunista seria o feroz flagelo.
O que é que é essa Revolução em breves termos?
Mons. Louis-Gaston de Ségur (1820 – 1881) |
Malgrado a cegueira que o atingiu no início de uma brilhante carreira eclesiástica, foi um exímio apologista católico do século XIX.
Seus escritos católicos abundantes e de uma concisão didática admirável se difundiram por centenas de milhares.
Ele fornece uma clarividente e resumida explicação no opúsculo “A Revolução explicada aos jovens” (“La Révolution expliquée aux jeunes gens”). Ali diz:
A Revolução não é apenas uma questão religiosa, mas é a grande questão religiosa do nosso século.
Para se convencer, basta pensar e esclarecer.
Tomada em seu sentido mais geral, a Revolução é a revolta erguida em princípio e em lei.
Não é apenas a revolta, porque sempre houve revoltas. É o princípio da revolta tornado lei, regra prática e fundamento das sociedades.
É a negação sistemática da autoridade legítima; a teoria e a apologia do orgulho e da revolta, a consagração legal do próprio princípio de toda revolta.
Tampouco é a revolta do indivíduo contra seu superior legítimo; essa revolta é simplesmente a desobediência. Trata-se da revolta da sociedade enquanto sociedade porque o caráter da Revolução é essencialmente social e não individual.
Existem três graus na Revolução:
1. A destruição da Igreja como autoridade e sociedade religiosa, protetora de todas as outras autoridades e sociedades.
Neste primeiro nível, a Revolução é a negação da Igreja erigida em princípio e formulada em Direito.
Revolucionários decapitam o rei da França
A separação entre Igreja e Estado a fim de desproteger o Estado e privá-lo de seu apoio fundamental;
2. A destruição dos tronos e da autoridade política legítima, uma consequência inevitável da destruição da autoridade católica.
Essa destruição é a última palavra da democracia moderna revolucionária e do que hoje é chamado de soberania popular;
3. A destruição da sociedade, isto é, da ordem que ela recebeu de Deus.
Em outras palavras, a destruição dos direitos da família e da propriedade, em favor de uma abstração que os pregadores revolucionários chamam de Estado.
É socialismo, a última palavra da revolução perfeita, a última revolta, a destruição do último recurso.
Nesse nível, a Revolução seria a destruição total da ordem divina na Terra, o reino perfeito de Satanás no mundo.
(Autor: Mgr. Louis-Gaston de Ségur (1820 – 1881), “La Révolution”, Paris, Ed. du Trident, 1994)
São João Evangelista: “Satanás será solto da prisão. Sairá para seduzir as nações” De Ricci MS 044, f 13. Columbia University, New York. |
E isto porque, nas Sagradas Escrituras e nas profecias particulares, Deus revelou os acontecimentos muito graves e gravíssimos que afetarão a Igreja e a sociedade humana até o fim dos tempos.
Se lermos com fé as Escrituras e os mensagens das almas dotadas do dom de profecia, descobriremos que muito do que nos está acontecendo já foi anunciado e alertado nos livros divinos e nas advertências particulares.
Mas quais desses muitos textos se aplicam aos nossos dias?
O Beato Palau escolhe um versículo de São João, que ele considerava prenunciador do que estava acontecendo.
“O solitário de Patmos retrata a situação presente e a futura com estas simples palavras:
“Depois de se completarem mil anos, Satanás será solto da prisão. Sairá dela para seduzir as nações dos quatro cantos da terra e reuni-las para o combate” (Apocalipse, 20 ; 7-8).
“Hoje esse texto se vê realizado. Todas as nações representadas pelos governos atuais apostataram de Deus: o autor dessa obra é o diabo.
“Temos, pois, a Satanás como cabeça e chefe de todos os poderes políticos atualmente existentes, combatendo toda autoridade, toda ordem e conduzindo a sociedade humana para a mais espantosa anarquia”
(“Las profecias”, El Ermitaño, ano III, nº 101, 13 de outubro de 1870)
Não era essa a visão do profético sacerdote carmelitano.
Ele via se aproximar da terra um horizonte resplandecente inaugurado por um maravilhoso triunfo da Igreja e da Civilização Cristã.
Não teria incorrido em flagrante contradição com tudo o que ele descreve sobre o poder das trevas e de seus sicários, da poltronice de tantos católicos, eclesiásticos e leigos?
Não só não há contradição como temos uma resposta esclarecedora e tranquilizadora nas Escrituras e nas profecias privadas aprovadas pela Igreja.
No horizonte: os Apóstolos dos Últimos Tempos
Assim o explica o bem-aventurado Palau:
“Em nosso pobre parecer, esta é a solução.
“Quando menos a gente pensar, aparecerão os apóstolos novíssimos, e à testa deles Santo Elias e Santo Enoc, que prenderão o diabo e o expulsarão da sociedade humana.
“Sua prisão será a queda do império que esses poderes têm sobre a terra.
“Então os revolucionários não terão mais poder; já não se verá mais reis e governos ateus ou pagãos.
Santo Elias, estátua no Monte Carmelo, Terra Santa
“Então, e só então, levantar-se-ão os tronos dos reis católicos, e se levantarão para não cair mais até que desça a ação do fogo do Juízo universal.
“Pela mão dos apóstolos novíssimos, Satanás será precipitado para fora do seio do catolicismo, onde é sustentado e amparado pelos próprios que se dizem católicos.
“Prim ou Vittorio Emanuele não se dizem católicos? Não dizia sê-lo Napoleão III?
“A prisão do diabo será uma catástrofe tão estranha e tão extraordinária, virá de maneira tão imprevista, que encherá de estupor até os mais leais defensores do catolicismo.
“Enquanto isso não acontecer, percam as ilusões os carlistas e demais partidários dos reis católicos, porque não se reerguerão.
“Enquanto essa fera terrível não for expulsa da corte dos governos que a seguem e adoram, as nações continuarão marchando para um horrendo cataclismo na política e na religião.
“A sociedade humana terá paz antes de concluir sua peregrinação na terra; e essa paz é impossível enquanto Satanás não for encadeado.
“Deus citará em juízo primeiramente os demônios; julgá-los-á, condená-los-á à eterna reclusão nos infernos.
“Então, o homem terá paz; paz que só será perturbada pelo som da trombeta do Juízo Final”.
(Fonte: “Las profecías”, El Ermitaño, ano III, nº 101, 13 de outubro de 1870)
Deus permite epidemias e calamidades para revelar a conjuração revolucionária
Em março de 1871, o Beato retomava suas reflexões sobre o poder do mal para provocar danos como as epidemias.
Como sacerdote, ele fazia exorcismos quando era solicitado, mas notava que estava cada vez mais difícil expulsar os demônios dos possessos.
Os exorcismos demoravam cada vez mais e os espíritos possuidores resistiam com maior ferocidade.
Ele julgava que o Exorcistado instituído pela Igreja não tinha o efeito fulminante que deveria ter na expulsão dos espíritos maus e na cura das doenças.
Tudo se passava como se os demônios que perturbam os homens, em geral de categoria inferior, recebessem reforços dos príncipes e das potestades que agem mais diretamente sob o comando de Lúcifer.
Alguma coisa havia acontecido que os tornava mais fortes contra o poder exorcístico do sacerdote devidamente autorizado.
E ele apontava para o que acreditava ser a causa do aumento do poder dos demônios, permitido por Deus.
A rede misteriosa que se espalha por toda a terra
COP 21 reuniu em Paris os chefes da Terra para aprovar plano de governança ecológica planetária |
Projeção sobre a basílica de São Pedro, marcou adesão do Vaticano ao governo verde planetário |
“Essa rede tem seus centros, suas escolas, seus mestres em todas as capitais do mundo.
“Sua obra está autorizada e sustentada por leis de livre culto e por autoridades pagãs, algumas das quais se apresentam com a aparência de católicas e outras como inimigas declaradas do catolicismo”.
Essa rede age contra Deus e é composta por homens que, de modos às vezes não tão secretos, trabalham no seio da sociedade, quer dizer, da vida política, sindical, cultural, e inclusive eclesiástica, minando, ridicularizando ou banindo as instituições e os costumes católicos.
Desse modo provocam a Deus e obtêm licenças que permitem ao demônio castigar a humanidade que não abre os olhos para essa conspiração.
“Tendo conseguido penetrar na sociedade humana através de suas cúpulas, os espíritos de maldade obtêm licença de Deus para sob mil formas envenenar os ares, produzir a peste, o cólera, o tifo, febres estranhas.
“Por meio desses chefes humanos jogam um povo contra outro, uma nação contra outra, inventam novas máquinas de morte contra o homem.
“Eles presidem assembleias e reuniões políticas e religiosas que visam à destruição do catolicismo, sustentam governos antissociais, desfazem os planos dos verdadeiros católicos para salvar a sociedade humana em consórcio com a Igreja.
“Esses anjos perversos aumentaram os poderes do homem mau e, aliados com esses iníquos, nos fazem a guerra envenenando, maleficiando, matando...”.
Está assim em curso uma guerra sub-reptícia envolvendo os anjos e os homens.
Beato Palau: o Céu exterminará a conjuração revolucionária de modo surpreendente
O maior problema, segundo o Beato, é que os homens decadentes não conseguem vê-la com propriedade, discernindo apenas seus efeitos na ordem visível das coisas.
É uma realidade secreta para muitos, não para todos.
Há os que percebem e lutam, como o próprio bem-aventurado, mas estão em inferioridade. Se os católicos amolecidos dessem seu apoio e até se unissem aos católicos resistentes, a ofensiva do mal seria conjurada.
Mas há de chegar o dia em que o Céu permitirá que a conjuração revolucionária se torne visível inclusive para os mais incrédulos dos católicos decadentes.
Quer dizer, para aqueles que negam a existência dessa sociedade de demônios com homens maus, dissimulada hoje por cortinas de mistério.
Nessa sociedade de demônios com homens maus “se monta a conspiração do mal contra a sociedade inteira que depois se evidencia no mundo visível.
“E a vítima é a massa do verdadeiro povo, todo ele dedicado ao artesanato e ao trabalho.
“Mas essa confabulação terá seu fim. Deus revelará sem tardança essa aliança entre demônios e certos homens, e se ouvirá então na terra o desgarrador gemido da iniquidade derrotada”.
(“Jesús y el diablo”. El Ermitaño, ano IV, nº 121, 2 de março de 1871)
FIM da série
“O Ermitão tinha razão”! |
O religioso nasceu no dia 29 de dezembro de 1811 em Aitona, na província espanhola de Lérida, e faleceu em 20 de março de 1872 em Tarragona esgotado pelo socorro prestado às vítimas de uma epidemia.
A missão do Beato Palau perpassa os séculos, porém é muito menos conhecida do que merece.
Sua Aitona natal é uma minúscula cidade. A casa onde nasceu se conserva como um pequeno museu-relicário penetrada de imponderáveis católicos e de tradições espanholas.
Chamado ao sacerdócio ingressou no seminário diocesano de Lérida. Nessa cidade havia uma igreja do Carmo que passou a frequentar porque sentia uma atração profunda.
Quis ingressar no Carmo, mas os religiosos julgavam que não tinha vocação. Até que certo dia, enquanto os frades rezavam no coro e o seminarista Palau assistia nos bancos dos fiéis, Santo Elias, o profeta fundador do Carmelo teria descido do altar principal e lhe imposto a capa branca carmelitana.
Foi então enviado a principal casa carmelitana da Catalunha, o convento de São José em Barcelona.
Padre Palau, quando era seminarista diocesano |
Ainda noviço estourou uma das tantas revoluções anticlericais e antimonárquicas que perturbaram toda sua vida com contradições e perseguições.
O superior, temendo o pior, dispôs que os mais novos fugiriam a um esconderijo previsto enquanto o Prior e os mais velhos resistiam às hordas comunistas.
Os que ficaram morreram mártires e os fugitivos, entre os quais o noviço Palau, salvaram a vida, mas acabaram presos.
O governo revolucionário proibiu as ordens contemplativas e o noviço Palau se recluiu na gruta Cueva del Padre Palau que hoje é local de romaria.
Ali viveu como sempre desejou: como um ermitão, isolado do mundo, entregue à oração, à penitencia, ao estudo dos grandes problemas teológicos e os horizontes apocalípticos que os fatos políticos mundiais vinham desvendando.
Especialmente desenvolveu sua devoção à Igreja considerada enquanto pessoa mística, atacada pela Revolução comandada por Satanás desde a primeira revolta no Céu.
Também completou seus estudos sacerdotais e foi ordenado sacerdote secular pelo bispo de Barbastro.
Entre as orações, estudos e reflexões, atendia sacramentalmente aos pastores e camponeses dessa região montanhosa pirenaica, que também assistiam à sua Missa.
Os populares lhe atribuíam milagres, mas ele não gostava falar disso.
Sua fama crescia e três jagunços foram pagos para eliminá-lo. Ele os enfrentou e convenceu de que o que eles precisavam era da confissão. Os confessou e partiram em paz.
A 'Cueva del Padre Palau', Aitona, Espanha |
Mais uma turma de assassinos a soldo apareceu outra vez e ele achou que eram seus últimos momentos. Ajoelhou-se ante a imagem da ermida e fez as orações dos moribundos.
Os bandidos invadiram o local, andavam em todas as direções e não o viam e ele os via. Afinal saíram correndo atrás dele pela estrada, evidentemente errada.
O bispo lhe aconselhou se exilar na França, onde passou onze anos até 1851.
Lá restaurou ou criou várias ermidas, algumas das quais são santuários muito frequentados como o de Notre Dame de Livron e associados à sua memória.
Na França, sua fama de santidade se espalhou entre o povo e a nobreza. Isso foi tomado como pretexto para também ser perseguido: o clero o acusava de lhe roubar as esmolas e a polícia partiu em sua procura.
Voltou à Espanha em 13 de abril de 1851 e usou o resto de sua vida o hábito carmelita proibido por baixo de uma batina de padre secular.
O bispo de Barcelona lhe deu a paróquia de Santo Agostinho num populoso bairro onde organizou o movimento católico “Escola da Virtude” de extraordinário sucesso.
Ele conquistou o povo para a Fé inclusive nas periferias urbanas da Barcelona sempre mais industrializada, comercializada e rica, e o arrancou da influência revolucionária anticristã.
Passeatas anticlericais socialistas e comunistas pediam seu banimento do país até que um governo liberal fechou a Escola e desterrou o Beato na ilha de Ibiza, local de degredo.
Ali ele permaneceu durante seis anos e fundou um oratório consagrado à Mãe de Deus do Carmo. A igreja hoje restaurada, é centro de romarias.
Após ser inocentando pela Justiça retornou a Barcelona, mas a Escola da Virtude continuou proibida.
Santo Antônio Maria Claret confessor da rainha Isabel II, convidou-o a pregar a Quaresma para a Corte.
Sua eloquência brilhante, fogosa, sapiente mas inflexível empolgou o mais alto cenáculo de Espanha. Assim passou a ser chamado para pregar em todo o país.
Mas, logo uma revolução anticatólica derrubou a monarquia e Espanha entrou em guerra civil.
Os religiosos que fossem identificados na rua com suas batinas ou hábitos riscavam ser assassinados.
Mas nosso Beato não arredou, e intensificou sua prédica católica contrarrevolucionária antiliberal.
Como alertar os fiéis imprevidentes que constituíam a massa do catolicismo?
Criou, então, O Ermitão (“El Ermitaño”) um personagem literário que fatigado pela decadência do mundo morava num rochedo no Mediterrâneo: o mítico Vedrà.
Desde lá escrevia um periódico semanal e enviava suas reflexões a Espanha.
“El Ermitaño” até a morte do Beato foi o porta-voz de suas proféticas reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja.
Ao ermitão acrescentou mais dois personagens literários: a própria sombra do anacoreta – “A sombra” – e uma prefigura de Elias Profeta retornado à Terra – “frei Onofre”.
Os diálogos dessas figuras alimentavam profundas explicitações sobre o destino do mundo, suas convulsões, sua restauração e seu fim derradeiro. As hordas revolucionárias não iriam procura-los no Vedrà nem se incomodar com ficções literárias.
“El Ermitaño” era o boletim de guerra do beato carmelita |
O principal problema do Beato Palau residia na tibieza dos católicos.
Ele via como os bons fiéis que assistiam à Missa e cumpriam seus deveres religiosos, podiam na tarde do mesmo dia assistir à Zarzuela, uma classe de opereta na moda leviana e histriônica.
A gravidade do estado do mundo, a penetração de Satanás nele, os artifícios políticos, militares, econômicos e culturais das forças secretas pareciam não lhes importar muito – se é que as percebiam.
Desde que a própria família e a própria vida estivesse bem, eles se davam por satisfeitos.
Para o Beato Palau, o mundo se encaminhava rumo a uma catástrofe universal cujo fundo é o inferno.
Em situação análoga estava a Igreja Católica então governada pelo santo
Papa Pio IX, mas Essa está amparada pela promessa divina “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela”.
Mas os católicos, achavam que cumprindo seus manuais de piedade não deviam levar as aparências ao trágico. Se a vida e a família pessoal estavam bem não seria necessário se engajar numa guerra heroica contra o mundo, a carne e o diabo.
Se o Beato apontasse aos tíbios com toda precisão a dimensão do mal que invadiu o mundo não seria ouvido, ou tido como um louco, alucinado, que via diabos até embaixo do colchão.
Por causa de seus longos estudos, ele poderia se explicar com escritos eruditos carregados de citações bíblicas, de trechos de Encíclicas, Concílios, Padres da Igreja, Doutores, Santos e grandes filósofos. Mas faria obras tão densas e pesadas que quase ninguém as leria.
Ele via que não seria ouvido nem mesmo por bispos e sacerdotes.
Ele concebeu, dirigiu, distribuiu e foi o principal redator do semanário “El Ermitaño”.
No “El Ermitaño” explorou o estilo literário com uma incrível imaginação e verve recorrendo deliberadamente a saborosas imagens e diálogos para exprimir o que pensava.
Ele esperava que os poucos católicos íntegros que ficavam entenderiam a seriedade e gravidade de seus anúncios e denúncias que quase nenhum católico tíbio percebia no orbe católico.
Mas ele previa zelosamente que suas previsões sobre o rumo do mundo e da Igreja ficavam registradas nas parcas páginas do “El Ermitaño” para o futuro entender como foi o percurso que levou os homens a um caos infernal.
Naquelas pobres páginas, que chegaram a ter grande difusão, ele deixou descrita a marcha da sociedade moderna rumo a um fabuloso caos e anarquia universal – a Revolução – que criaria o ambiente ideal para a manifestação do Anticristo.
Nessa hora futura que se assemelharia ao Fim do Mundo, o Beato esperava que os católicos que quisessem perseverar leriam o que estava escrito no “El Ermitaño”.
E então sim diriam: “o Ermitão tinha razão” porque em suas páginas lemos descrito como chegamos a esta horrível situação e como poderemos nos sair dela.
Eis a razão pela qual julgamos premente difundir o legado profético que ele nos deixou e comemorar sua grande festa que haverá de ser uma das maiores do santoral católico.
Beato Palau, rogai por nós!
Estamos vivenciando esta época? O MEU IMACULADO CORAÇÃO TRIUNFARÁ! NOSSA SENHORA DE FÁTIMA VINDE EM NOSSO AUXÍLIO!
ResponderExcluirSem dúvida! Estamos vivendo essa época, sim!
ExcluirSem dúvida!
ExcluirOBRIGADA! GOSTEI MUITO!
ResponderExcluirCarissimo Sr. Dufour,
ResponderExcluirSalve Maria!
Muito obrigado por estes "posts", as profecias de Beato Palau. Sao muitas iluminadoras.
Que Nsa. Sra. lhe recompensa e que obtenha por todos de nos a graca do "grande perdao".
Prometo de lembrar o sr. hoje em uma maneira especial e peco o obsequio de oracoes.
In Jesu et Maria,
Quanto tenho aprendido!
ResponderExcluirLouvado seja Deus em todos os recantos da Terra
Ele é a força do poder é o poder da Força.
Só Ele pode tirar nos deste fosso diabolizado.
Obrigada
Bem hajam
Excelente post! Como sempre Luis Dufaur brilhante na explanação das profecias deste grande Santo Católico Beato Francisco Palau y Quer, por que não foi ele canonizado pela Igreja Católica Apostólica Romana ? Será que é por ele ter profetizado a vinda do anticristo e a tomado do poder pelo falso profeta nos finais dos tempos ? Quais foram os milagres realizados pelos Papas João XXIII para ser canonizado, e a beatificação do Papa Paulo VI que consolidou as heresias do Concílio Vaticano II ? Deus está em todas as religiões ? Todas as religiões tem uma parte da verdade ? MENTIRA! A VERDADE É JESUS CRISTO: "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA"! "QUEM ESTÁ COMIGO NÃO É CONTRA MIM, QUEM AJUNTA COMIGO NÃO ESPALHA", DIZ O DEUS TODO-PODEROSO, AQUELE QUE É, QUE ERA E QUE VEM O DOMINADOR! MARANATHA! VEM SENHOR JESUS!
ResponderExcluirExcelentes revelações
ResponderExcluirArrepiam
Obrigada
Caro Luis Dufaur,
ResponderExcluirEsta série de posts renderá um livro?
Att.
Adriano
Prezado Adriano,
Excluirhá matéria e desejo para isso. Mas não acabei de preparar os posts seguintes! Quem sabe com o tempo consigo tudo.
Att
Obrigado! Ficamos no aguardo.
ResponderExcluirAtt.
Adriano
Os dois profetas serão duas pessoas propriamente ditas ou dois movimentos? A revolução não seria também uma liturgia deturpada de um novo culto dentro das Igrejas, por exemplo uma celebração (missa) falsa?
ResponderExcluirIsso já vem ocorrendo em alguns lugares, não entendo o porquê, mas vejo que alguns sacerdotes (normalmente ligados a maçonaria), ao invés de consagrarem a hóstia a Cristo, acabam fazendo algo satânico, pois as pessoas recebem possessões diabólicas durante a missa. Esta bem difícil.
ExcluirEm vista das profecias do querido Santo Palau observemos que neste momento a Turquia e Israel se encontram em conflito armado usando a síria como palco da guerra, poque ambos querem Jerusalém! Erdogan quer tornar Jerusalém internacional, e dividi-la em Jerusalem oriental e ocidental, o que de certa forma já vem sendo. E os governantes de Israel quer tomar Jerusalém de volta para seu território e ao mesmo tempo construir o 3º templo de Salomão. As movimentações civis e agressivas dos grupos muçulmanos na França e nos países do Oriente Médio nos aponta para o agigantamento dessas movimentações. São visíveis indicativos de que algo está próximo de acontecer até mesmo em Roma.
ResponderExcluirHouve sempre essa protecao do papado sim, mas a Biblia e profecias prediram que nos ultimos dias - os nossos - o papado seria usurpado por um importor: bergoglio !
ResponderExcluirEspero que voces ai ja tenham aberto os olhos para esta realidade.
Este homem quer destruir a Eucaristia atravez da triviliazacao da Comunhao, ou seja, ele usa uma falsa definicao de mesiricordia para aceitar na Comunhao todos aqueles que vivem em estado de pecado mortal e nao querem mudar.
Mais, como gnosticista, bergoglio usa truques de semantica; o que ele promove sao doutrinas pagas, mas usa termos cristãos para enganar as pessoas. Ja os primeiros gnosticistas dos primeiros séculos faziam o mesmo.
Bergoglio nao e confuso nem ambiguo; todos os padres apostatas usam este truque de serem ambíguos de propósito, pois e uma defesa com a detecao dos seus ataques ao dogma e tradição...sendo ambíguos de propósito, tem sempre um certo espaco para se defenderem se forem atacados por aqueles que conseguem discernir as suas heresias.
Deus vos abençoe
Vejo o mesmo no papa atual. Ele já falou alguns absurdos! Entretanto, ele ainda não é o último, mas está preparando lugar para aquele que virá, e que nunca deveria ser o papa.
ExcluirEstes temas trazem verdades que eficazmente nos retiram do mundo laicizado de hoje e nos dão perspectivas de eternidade.
ResponderExcluirArrepia este final de tempos .
ResponderExcluirObrigada
Muito obrigada por tantas referências bíblicas. Muito tenho reaprendido .
ResponderExcluir“Sem a mão de um profeta produziriam o mesmo efeito que as epidemias e as guerras. "bem verdade ,hoje mais do que nunca ,o mundo satanizado precisa da mão de um profeta.
Estamos vivendo tempos difíceis e precisamos muito do auxilio do ceu !!! Nòs que somos catolicos e confiamos na Misericòrdia de DEUS peçamos A ELE auxilio para esse tempo !!!!
ResponderExcluirPrezado Luis, gostaria de partilhar com o senhor e com seus leitores uma entrevista recente com o exorcista espanhol Padre Fortea; a data de publicação do vídeo é de 08 de julho de 2018.
ResponderExcluirEntrevista a un EXORCISTA | Padre José Antonio FORTEA
https://youtu.be/LbMOGEtXUHQ
Agradecemos e incluímos na página EXORCISMOS E EXORCISTAS https://aparicaodelasalette.blogspot.com/p/blog-page.html
ExcluirObrigado também! :-)
ExcluirVive -se uns tempos tão feridos.
ResponderExcluirO que me assusta é o desprezo pelos princípios cristãos.
Guerras e mais guerras.
Até quando o inimigo vai triunfar?
Sr. Luis Dufaur, bom dia. Por favor esclareça minha dúvida. Tem um membro dos Arautos do Evangelho que insiste em dizer para mim que eles são os apóstolos dos últimos tempos e que tem profecias que comprovam este "fato", porém ele não menciona quais são essas profecias. Este é um fato real ou não está claro para nós católicos quem são os apóstolos dos últimos tempos? Obrigada.
ResponderExcluirFoi uma luta tbm ler este texto mas elucidativo. Grato.
ResponderExcluirOnde consigo acessar o conteúdo completo do El Ermitaño, Nº 122, 9-3-1870?
ResponderExcluirMuchas gracias Sr Luis Dufaur por este post que acabo de recibir porque es actualisimo con la guerra entre Rusia y Ucrania que ANSIAMOS ARDIENTEMENTE sea el continuar de estás Profecías pues también en un artículo de Catolicismo sobre la Beata Elisabetta Canori Mora, Jesús le preguntó "cuando crees que sucederá esto?". Ella respondió "unos doscientos cincuenta años", y Jesús le dijo "No será tanto como tu crees". Y me parece que con la pandemia y ahora la guerra se están cumpliendo esos castigos que tan necesarios son para que POR FIN TRIUNFE EL INMACULADO CORAZÓN DE MARÍA!!!!
ResponderExcluirBoa noite. Onde o senhor achou o conteúdo do jornal "ele ermitaño"? Como saber se o beato realmente escreveu isso que o senhor diz, se não tem o exemplar?
ResponderExcluirPrezado Victor Bruno,
ResponderExcluirComo eu já tive ocasião de explicar repetidas vezes, um conhecido espanhol possuía uma copia completa da coleção de "El Ermitaño" sobre a qual pude trabalhar muito tempo e recolher as informações.
Ele retornou a seu país. Se v. quer ter em mãos o "El Ermitaño" v. pode fazer o que fazemos, aliás penosamente, todos os estudiosos para trabalhar sobre documentos antigos.
A solução consiste em ir às bibliotecas públicas, criadas especialmente para isso, e procurar nelas.
Para ajudar a te tranquilizar, acrescentarei no subtítulo dos "Três dias de trevas" uma fotocopia da primeira página do nº 119 do "Ermitaño" e depois da página do mesmo número onde nosso Beato sacerdote começa a tratar do assunto.
Atenciosamente
olá. Desculpe me, mas o senhor teve acesso a esse material valioso de uma profecia tão valiosa pra você e tirou foto somente de uma página? você deu mole...
ResponderExcluirVictor, não ofenda a quem está na pobreza material.
ExcluirDesculpe-me não sabia que estava passando necessidades. Rezarei pelo senhor, forte abraço.
ExcluirNão sei se ouviram falar do padre Oliveira (não é seu nome real) do Rio Grande do Sul que tem tido visões e sonhos com premonições, ele teve sonhos com os três dias de trevas por 16 anos seguidos e há um indicativo de uma data próxima a 2029 mais ou menos. É revelação particular, ou seja católicos não precisam acreditar. Só mesmo uma curiosidade neste sentido.
ResponderExcluirPoderia falar mais sobre esse Moisés com espírito de Elias? Conhecido Como Moisés da Lei da Graça. Será esse Moisés que tirar os Justos da Escravidão da Revolução? A Igreja . Restabelecer o temporal e espiritual como assim é seu espírito sacral! Antítese desde mundo .
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