terça-feira, 19 de setembro de 2023

Aniversário de La Salette e seu segredo: visão profética até o fim do mundo

Nossa Senhora de La Salette. Fundo explosão atômica
Nossa Senhora de La Salette. Fundo: explosão atômica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







No início do III milênio, pudemos tratar publicamente da mensagem, mais conhecida como Segredo, que Nossa Senhora transmitiu em La Salette, França, no remoto ano de 1846.

Na ocasião não podíamos imaginar a atualidade que iria ganhando essa mensagem a cada dia que passa.

Diversos obstáculos e mal-entendidos históricos fizeram a Santa Sé segurar a divulgação até encontrar os originais do Segredo, extraviado no Arquivo Segredo vaticano.

Felizmente foi redescoberto em 1999 e apresentado em tese de Doutorado, aprovada na prestigiosa universidade romana Angelicum da Ordem Dominicana.

Então todas as dificuldades foram dissipadas e hoje podemos lê-lo na mais plena paz de consciência.

E de fato, o crescente número de fiéis que tomou contato com dito Segredo ficou impressionado com a atualidade candente de seu conteúdo que parece ter sido destinado para nós e para nossa época.

A própria Melania, uma dos videntes que recebeu a mensagem confidenciou que no século XIX em que vivia, após um primeiro impulso de entusiasmo popular, as palavras de Nossa Senhora tinham caído no esquecimento.

Mas ela recomendava não se angustiar com isso, porque a mensagem que parecia “morta” haveria de “ressuscitar” na época para a qual estava destinada e ali sim haveria de se triunfar nas almas de bem a quem está dirigida.

Essa anunciada “ressurreição” parece estar acontecendo neste início de milênio. Este Nosso blog é apenas um exemplo. Não imaginaríamos tanto interesse.

Na montanha de La Salette a Rainha do Céu e da Terra, deu um 1846, dois anos depois da redescoberta do Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora redigido por São Luis Maria Grignon de Montfort, e que na nossa época conhece uma muito merecida difusão e posta em prática por incontáveis católicos.

Por ocasião da aparição única da Mãe de Deus em La Salette, Ela mandou que o segredo fosse tornado público no ano de 1858. E assim foi feito.

Ninguém então sabia que nesse ano Ela, sob o título da Imaculada Conceição, ia se aparecer uma vintena de vezes em Lourdes e inaugurar um torrente de graças e milagres que perdura sem interrupção até hoje.

O santuário de Lourdes é visitado todo ano por milhões de romeiros, e incontáveis réplicas da Gruta de Masabielle local das aparições, foram erigidas em igrejas e locais públicos de todo o planeta.

Não houve apenas uma mera concordância de datas, mas as duas manifestações de Nossa Senhora são como dois elos de uma mesma corrente: La Salette e Lourdes são marcos frisantes de uma série de aparições de Nossa Senhora.

Todas as aparições de Nossa Senhora – falamos obviamente só das autênticas, aprovadas pela autoridade eclesiástica – foram marcadas pela bondade e pelo perdão, convidaram ao enlevo e à veneração pela inefável Virgem Santíssima.

Nessa aparição, como mãe extremosa, deu aos homens um poderoso instrumento sobrenatural para a conversão com uma profunda, suave e atraente mudança de vida: a Medalha Milagrosa.

Por meio dessa Medalha, torrentes de graças desceram e descem sobre os que a usam com devoção.

Em 1846, em La Salette a Mãe de Deus voltou a insistir com bondoso desvelo. Como a mãe que vê o filho se afundar mais e o chama a juízo com um longo e amoroso apelo, mostrando com pormenores como ele está indo mal e todas as desgraças que está atraindo sobre si.

Ainda Ela apareceu em Lourdes no mesmo ano em que o segredo de La Salette se tornoue público: 1858.

Nossa Senhora voltou a aparecer, não mais na França. Desta vez em Fátima, Portugal. Como a mãe que sente que as anteriores admoestações não surtiram efeito no filho transviado.

Rue du Bac, La Salette, Lourdes e Fátima são elos de um processo concatenado de apelos misericordiosos de Nossa Senhora, alertando maternalmente contra a mesma e colossal tragédia histórica.

La Salette, na sua mensagem pública e especialmente no seu segredo, contém a explicação mais extensa e detalhada dos males que atraem os castigos vindouros, como também do perdão celestial prometido para os que fizerem penitência.

La Salette não se limita a nossos tempos. Vai mais longe: descreve um panorama arquitetônico da História que percorre todos os Últimos Tempos e vai até o fim do mundo.

Um apelo como o de La Salette deveria ter sido pregado com toda a força da eloquência sagrada, todo o zelo apostólico, toda a autoridade da Hierarquia eclesiástica.

Porém, o segredo de La Salette foi objeto de uma oposição ativa, felizmente tornada oca no início deste século XXI em que o segredo de La Salette reapareceu em toda sua autenticidade e começou a ser divulgado.

Assim o véu de silêncio foi levantado e o segredo de La Salette ressurge da noite do silêncio, mais expressivo do que nunca neste novo milênio!

Este segredo, caro leitor, agora está em suas mãos falando-lhe o que tal vez não imaginava, mas fazendo sentir a doçura do perdão materno.



Uma visita a La Salette




segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Por que Deus salva imagens, mas permite
que a obra dos homens em volta seja arrasada?

Nossa Senhora do Monte Carmelo, diante da escola do mesmo nome, após o furacão Katrina, New Orleans, EUA, 2005.
Nossa Senhora do Monte Carmelo, diante da escola do mesmo nome,
após o furacão Katrina, New Orleans, EUA, 2005.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Com relativa frequência chegam até nós comentários, que tal vez não sejam de fonte católica, mas certamente fazem sentir a necessidade de maior fé.

Esses dizem: se Deus tem poder de impedir que suas imagens, de Nossa Senhora ou dos santos sejam poupadas em catástrofes, por que é que Ele não impede essas mesmas catástrofes poupando seres humanos, suas vidas, suas dores e seus bens também?

Que Deus é esse? conclui a objeção um pouco apressadamente.

Não somos teólogos nem religiosos. Mas o sermão do arcebispo emérito de Nova Orleans (EUA) Mons. Philip M. Hannan para os fiéis flagelados pela gigantesca calamidade provocada pelo furacão Katrina, fornece esclarecedoras respostas.

E por isso a reproduzimos a seguir.

Mons. Philip M. Hannan, arcebispo de Nova Orleans explicou que o pecado causou o castigo divino do do Katrina.
Mons. Philip Hannan, arcebispo de Nova Orleans
explicou que o pecado atraiu o castigo divino.
Também nesse cataclismo histórico a mão de Deus todo-poderoso protegeu imagens de sua predileção e impediu, de modo admirável para os homens, que os elementos desencadeados as destruíssem.

Sobre algumas dessas admiráveis, ou milagrosas de imagens, proteções confira nossa página especial:

Imagens intactas nas catástrofes. Por que?


O sermão explicativo do arcebispo de Nova Orleans


“Tenho pregado nas paróquias locais, disse o arcebispo, e venho dizendo que somos responsáveis perante Deus não apenas pelas nossas ações pessoais, referiu na oportunidade o site LifeSiteNews. 

“Somos também cidadãos de uma nação, e no Antigo e Novo Testamentos está dito que somos co-responsáveis pela sua moralidade.

“Como cidadãos, somos responsáveis pela atitude da nação em questões sexuais, pelo desrespeito aos direitos da família, pelo uso de drogas, pela morte de 45 milhões de crianças abortadas, pelo procedimento escandaloso de alguns sacerdotes.

“Portanto devemos compreender que certamente Deus tem o direito de castigar.

O Sagrado Coração de Jesus foi posto para proteger a casa. E resistiu ao furacão Katrina, Nova Orleans, EUA, 2005.
O Sagrado Coração de Jesus foi posto para proteger a casa.
E resistiu ao furacão Katrina, Nova Orleans, EUA, 2005.
“Se me perguntarem se Deus tinha conhecimento dessa que foi a maior tempestade em nosso país, direi que certamente Ele a permitiu.

“Negá-lo, seria uma tolice tão grande quanto afirmar que Henry Ford não conhecia como funciona o automóvel”.

Estas graves e transcendentes lições religiosas foram dadas por Mons. Philip M. Hannan, de 92 anos, arcebispo emérito de Nova Orleans (EUA), em declarações à TV local.

Ele esteve à frente da diocese durante 23 anos. Agora é diretor da rede católica WLAE TV e Focus Worldwide TV. Ele é tão respeitado na cidade, que foi chamado de “o Papa de Nova Orleans”.

Os fiéis querem conhecer a verdade inteira

Mons. Hannan ficou na cidade durante e após o furacão Katrina, e dedicou-se a socorrer vítimas e visitar as igrejas devastadas.

Segundo ele, o povo “está começando a reagir, afinando com a moral".

Quando ele pregou a noção de castigo, num domingo em Mandeville, diante de 1.000 fiéis, “o povo aplaudiu intensamente. Eles queriam que lhes fosse dita a verdade.

“Atingimos um grau de imoralidade nunca visto, e o castigo foi o Katrina.

“Devemos contar à nossa posteridade como ele foi terrível, para que ela entenda que se tratou de um castigo, o qual deve melhorar nossa moralidade.

“Eu penso que nos corresponde pregar muito fortemente, sinceramente e diretamente que isto foi um castigo de Deus.

“Deus nos deu direitos e tudo o mais. Mas também nos deu deveres. Nós temos que prestar atenção neste castigo. [...]

Nossa Senhora das Graças não foi levada pelas águas que destruíram Nova Orleans.
Nossa Senhora das Graças não foi levada pelas águas que destruíram Nova Orleans.

“Para quem lê seriamente as Escrituras, não há como escapar disso. Todos os que eu conheço, sacerdotes e bispos, acreditam nisso também”.

No arvoredo de um jardim atrás da catedral de Nova Orleans há uma bem conhecida imagem do Sagrado Coração de Jesus com os braços abertos.

As árvores foram arrancadas de vez, mas a imagem ficou miraculosamente em pé. Só perdeu dois dedos, logo recuperados e entregues ao arcebispo emérito.

“Os protestantes ficaram muito impressionados pelo fato de que as árvores caindo não a tivessem derrubado”, explicou o prelado.

Nessa proteção surpreendente pôde-se apalpar mais uma vez que a mão de Deus guiou o arrasador furacão.

Silenciar o castigo divino é gravíssima omissão

Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora veio pedir penitência, e até chorou miraculosamente pelo mundo em Nova Orleans, em 1972, por meio de sua imagem.

Pregações destemidas e seriamente fundadas nas Escrituras, como a de Mons. Hannan, atendem ao apelo lancinante de Nossa Senhora.

Também vão ao encontro das necessidades das almas sinceras, predispondo-as a mudar de vida e rumar para o Céu.

Entretanto, não se pode dizer o mesmo daqueles que — leigos, sacerdotes e até altos prelados —, nessas circunstâncias, timbram em pregar que o bom Deus jamais pune. Para onde levam eles as almas?

Seria natural que a mídia, sobretudo a mídia católica, desse proporcionado espaço a declarações como essas, indispensáveis aliás para interpretar o que houve.

Mas fez-se um silêncio como que universal. Da participação de Deus nesse flagelo, nada foi dito.

A imoralidade generalizada e sistemática segue se espraiando sobre a Terra, e a “fumaça de Satanás” – para empregar os termos de Paulo VI – não cessa de penetrar na Santa Igreja.

Em frente da catedral São Luís, Jesus atraiu as árvores que caiam e até perdeu um dedo, Katrina, Nova Orleans, 2005.
Em frente da catedral São Luís, Jesus atraiu as árvores que caiam
e até perdeu um dedo, Katrina, Nova Orleans, 2005.
A pregação do arcebispo emérito de Nova Orleans por certo há de ficar inscrita nos anais da História da Igreja, por sua oportunidade e veracidade.

A imprensa americana fez frequentes alusões à dimensão bíblica da tragédia.

O presidente do Conselho de Nova Orleans, Oliver Thomas, após ouvir uma comparação da situação dos costumes da cidade com os de Sodoma e Gomorra, confidenciou: “talvez Deus vá nos purificar”.
Santo Afonso Maria de Ligório redigiu sermões para serem pregados em tempos de grandes calamidades. Num deles diz:

“Alguns veem os castigos e fingem não vê-los.

“Outros ainda, diz Santo Ambrósio, não querem ter medo do castigo se não veem que já chegou.

“Irmão meu, quem sabe se esta é a última chamada que Deus te faz”.

Quando o pecador reconhece a sua culpa e glorifica a Justiça divina, atrai sobre si as doces e inefáveis torrentes de misericórdia de Nossa Senhora.

Porém, quando se torna indiferente ao castigo, só atrai maiores e mais terríveis punições.

Portanto, a culpa do acontecido não pode ser posta em Deus, mas sim no pecado e na impenitência dos homens.

Mas, as imagens intactas, ou quase, estão aí para nos ensinar que Ele nunca nos abandona até mesmo na hora dos mais impressionantes castigos que Ele envia para nos corrigir e salvar.


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Sóror Catarina de Jesus O.P.: equilíbrio entre a Justiça e a Misericórdia de Deus

Capela com a urna dos restos de Sóror Catalina Jesús Herrera OP (1717-1795), no mosteiro de Santa Catalina em Quito.
Capela com a urna dos restos de Sóror Catalina Jesús Herrera,
no mosteiro de Santa Catalina em Quito.




No post anterior – Sóror Catarina de Jesus O.P.: “maus sacerdotes, religiosos e religiosas são causa de toda a perdição do mundo” – reproduzimos trechos de uma visão dessa santa religiosa equatoriana que concordam notavelmente com palavras de Nossa Senhora em La Salette.

A Venerável Serva de Deus Soror Catarina Jesus María Herrera Campusano O.P. (1717-1795) nasceu em Guayaquil, Equador, em 22 de agosto de 1717 e faleceu em Quito no dia 29 de setembro de 1795.

Ela foi religiosa do Mosteiro de Santa Catarina de Quito onde ficou célebre por suas virtudes e dons místicos, suas visões e milagres atribuídos. Mas ela não é muito conhecida no Brasil.

Por isso apresentamos o artigo seguinte que nos fornece dados complementares da vida e dos favores místicos com que foi agraciada uma tão bela e venerável alma.


Uma religiosa nos fala através dos séculos


A Justiça é uma das virtudes mais esquecidas no mundo atual. Que Deus é misericordioso, todos concordam avidamente, mesmo porque têm razões pessoais para necessitar de misericórdia.

Entretanto, Deus é também justo e pune aqueles que abusam de sua misericórdia, e isso não se quer reconhecer.

Dois fatores se acumpliciam contra a aceitação da justiça divina: no campo temporal a presente doutrina dos direitos humanos, e no campo espiritual uma ideia sentimental de misericórdia.

Pela presente noção de direitos humanos, fartamente propagandeada, é preciso defender os direitos dos bandidos, dos adúlteros, dos terroristas, dos blasfemadores, dos invasores da propriedade alheia e de outras categorias que tais, deixando para segundo plano a punição de seus crimes.

Modelo de uma cela religiosa no convento onde morou Sóror Catalina. Museu  monacal de Santa Catalina de Quito.
Modelo de uma cela religiosa no convento onde morou Sóror Catalina.
Museu  monacal de Santa Catalina de Quito.
Por detrás dessa mentalidade está a afirmação, clara ou insinuada, de que não há pessoas más, apenas
indivíduos ou coletividades equivocados, arrastados por circunstâncias invencíveis, e outras mesmices do gênero. Não cabe tratá-los com justiça.

No campo espiritual é a mesma ideia com outro invólucro. O pecador é sempre um coitado que precisa ser compreendido, nunca uma pessoa que ofendeu a Deus e violou seus Mandamentos.

Todos são bons. Pode haver extravios, escorregões, coisas da vida, nunca maldade. Conclusões que levam a uma religiosidade baseada apenas nos sentimentos, e não na fé e na razão.

Como se houvesse oposição entre misericórdia e justiça! A misericórdia sem justiça é sentimentalismo barato que destrói toda virtude e leva Nossa Senhora a chorar.

Essas reflexões nos vieram à mente lendo a autobiografia de Catalina de Jesus Herrera (1717-1795), freira da ordem dominicana, do convento de Santa Catarina de Quito (Equador), em processo de beatificação (cfr. Autobiografía de la Venerable Madre Sor Catalina de Jesús Herrera, Edit. Santo Domingo, Quito – Ecuador, 1954).

Catalina foi agraciada com favores celestes insignes, teve visões e revelações, dons proféticos, chegava a conhecer o interior das almas das pessoas com quem mantinha contato.

Igreja do mosteiro de Santa Catalina, Quito.
Igreja do mosteiro de Santa Catalina, Quito.
Famosa por suas grandes virtudes, foi também muito perseguida pelo demônio, mas sempre amparada por Nossa Senhora e Nosso Senhor.

Certa feita em que passava pela provação de sentir-se desamparada por Deus, alguns demônios se apresentaram diante dela como vítimas, também eles injustamente abandonados por Deus. Procuraram tentá-la pela via do sentimentalismo. Relata Catalina:

“Logo aparecia o demônio com outras tentações: ‘Olha-me, (dizia ele, muito dolorido), como Deus foi terrível conosco, pois sem nos dar tempo, nos lançou no Inferno. A mim (disse-me um outro) sem culpa me precipitou com os demais culpados’.

“Queriam com isso que eu ficasse com pena deles e julgasse mal a Misericórdia de Deus e a sua Justiça. Então eu dizia: ‘Senhor, eu te confesso como justo e misericordioso, e venero teus altos e secretos juízos’” (p. 118).

Catalina se acusa de ter passado por um período de tibieza, quando ainda bem jovem, antes de entrar no convento. Nessa ocasião, após ter sido advertida por Jesus uma primeira vez, Ele lhe aparece novamente:

“Ó Senhor, apareceste à minha alma como na primeira vez, mas não tão manso como naquela ocasião. Com o braço ao lado do coração me chamavas, e na mão direita tinhas uma espada de Justiça.

“Seu rosto mostrava ao mesmo tempo Justiça e Misericórdia. E assim me falaste: ‘Alma ingrata, se te negas ao apelo deste braço de misericórdia, queres que com este outro de minha justiça te lance nos abismos do inferno? Se assim perseveras, tem por certa tua condenação àqueles calabouços’.

“E logo me fez ver com os olhos da alma um caos profundo de confusão, onde habitam as almas que perdem a Deus” (p. 32).



segunda-feira, 24 de julho de 2023

Sóror Catarina de Jesus O.P.: “maus sacerdotes, religiosos e religiosas são causa de toda a perdição do mundo”

Soror Catarina de Jesus Herrera Campusano OP  (1717-1795). Quadro exposto em seu mosteiro.
Soror Catarina de Jesus Herrera Campusano OP  (1717-1795).
Quadro exposto em seu mosteiro.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A Venerável Serva de Deus Soror Catarina Jesus María Herrera Campusano O.P. (1717-1795) nasceu em Guayaquil, Equador, em 22 de agosto de 1717 e faleceu em Quito no dia 29 de setembro de 1795.

Ela foi religiosa do Mosteiro de Santa Catarina de Quito onde ficou célebre por suas virtudes e dons místicos, suas visões e milagres atribuídos.

Entre esses se contam os obtidos mediante o chamado “banco da fertilidade”, que pertenceu à religiosa, e onde as mulheres e os casais que têm problemas de fertilidade, se sentando e rezando invocam a graça desejada: os filhos.

Mas muitos outros ainda pedem por diversos problemas de saúde. O “banco de la fertilidad” é levado à igreja por causa do grande número de devotos. Ver vídeo embaixo.

Ingressou no convento de Santa Catarina de Siena em 1741. Ela escreveu sua autobiografia por ordem do confessor Frei Tomás Corrales, O.P.: Secretos entre el alma y Dios.

O livro é muito apreciado ainda hoje pelo estilo simples, formoso e ameno, rico de recursos literários e idiomáticos. Cfr Herrera Campuzano, Sor Catalina de Jesús (1717-1795).

O banco da fertilidade de Sóror Catarina de Jesus.
O “banco de la fertilidad” de Sóror Catarina de Jesus.
Esta venerada religiosa foi beneficiada com visões e revelações relativas a seu tempo e aos vindouros, com dons de milagre e profecia.

No que se refere ao tema deste blog focado na Aparição e no segredo e La Salette, a Providência quis lhe conceder favores que, de um modo colateral mas muito expressivo, confirmam alguns dos aspectos mais polêmicos da mensagem de La Salette.

Com efeito, La Salette foi muito perseguida e até chegou a ser interditada temporariamente. O motivo alegado para essa hostilidade foi uma denúncia de Nossa Senhora contida no Segredo de La Salette que os 'progressistas' da época achavam forte demais.

Em verdade, eles se sentiram apanhados:
“Os sacerdotes, ministros de meu Filho, pela sua má vida, sua irreverência e impiedade na celebração dos santos mistérios, pelo amor do dinheiro, das honrarias e dos prazeres, tornaram-se cloacas de impureza.

A cela de sóror Catarina de Jesus no mosteiro de Quito.
A cela de sóror Catarina de Jesus no mosteiro de Quito.
Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho!

Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança.

E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo.

Não há mais almas generosas, não há mais ninguém digno de oferecer a vítima imaculada ao [Pai] Eterno em favor do mundo”.

A fama da religiosa
levou os Correios equatorianos
a fazerem um selo em sua memória.
No mesmo sentido, no século anterior à aparição de La Salette, Nosso Senhor Jesus Cristo desvendou essa dolorosa realidade para a venerável Catarina de Jesus.

Dessa maneira, almas de escol que não se conheceram, nem viveram na mesma época, e ainda separadas por uma distância geográfica e cultural colossal, receberam análogas lamentações e advertências.

Uma visão confirma a outra.

Em todos os casos, Nosso Senhor convidou a rezar e expiar para mudar esses vícios que tanto O ferem.

Se La Salette não tivesse sido tão hostilizada e silenciada pelos religiosos que se sentiram aludidos, quiçá a situação da Igreja e do clero seria muito melhor ou, pelo menos, não estaria tão complicada.

Ouçamos a confidente equatoriana de Jesus nos contando o que viu e ouviu:


Fachada da igreja do mosteiro de Santa Catarina em Quito.
Fachada da igreja do mosteiro de Santa Catarina em Quito.
Ó meu Jesus, começastes a me dar a entender quão irritado estavas com os homens. E me dizias:

“De toda perdição do mundo são causa os Sacerdotes, Religiosos e Religiosas.

“Os eclesiásticos são causa da perdição das pessoas seculares.

“Na Lei da Graça eu os coloquei como exemplo, para que contivessem os deslizes do século.

“E como por seus maus costumes deixaram que se lhes perdesse totalmente o respeito, já o mundo não faz nenhum caso deles, razão pela qual não é de nenhum proveito o que pregam.

“Se eles vivessem como devem, meu Espírito infundiria por seus lábios fervor nas pessoas do mundo. E daí se seguiria a moderação nos costumes.

“Mas como as pessoas do mundo veem que eles fazem as mesmas coisas que os outros, foi-se introduzindo o hábito de desprezá-los, e fica sem efeito a sua Doutrina.

“Se algum servo meu vem a dizer a verdade, o mundo o ouve com admiração.

“Mas as pessoas muito pouco ou nada aproveitam, porque já estão arraigados os maus costumes, causados pelos demais Religiosos e Eclesiásticos, envelhecidos nos vícios, e que desde muito antes deram os maus exemplos.

“Eles constituem o principal motivo pelo qual meu Braço quer descarregar sua Justiça.

“Outro pecado há, minha filha, nos conventos de Religiosos e Religiosas, que me deixa muito irritado e vai provocando minha Justiça, para que nos conventos Eu não venha a deixar pedra sobre pedra”.

Ignorava eu que pecado fosse esse. E contando isto ao meu confessor, perguntei-lhe do que se tratava. E ele, dando um suspiro, disse: “Ai filha! Para que o queres saber? Pede só a Deus que destrua esse pecado”.

Outras vezes o Senhor me dava a entender: “Este pecado é causa de que pereçam as Ordens Religiosas. E nas Ordens femininas causa-me asco ouvi-las dizerem-se minhas esposas. Isto faz com que Eu não habite nos conventos.

Uma religiosa do mosteiro beija os pés do Cristo das Misericórdias, no claustro do convento. Queira Ele ter pena dos maus sacerdotes e religiosos nesta época tão perturbada.
Uma religiosa do mosteiro beija os pés do Cristo das Misericórdias,
no claustro do convento. Queira Ele ter pena
dos maus sacerdotes e religiosos nesta época tão perturbada.
“Só a força de minha palavra me faz habitar sacramentado, sofrendo tanto desacato naquelas que se chamam minhas Casas. Eu as deixarei sem a Casa que assim ultrajam”. […]

“Uma noite Vos pedia, Senhor, que destruísses aquele pecado que me dizias que havia nas Ordens Religiosas e que eu não conhecia […]

“Nesse tempo ouvi como a entrar pela cela um grande Carro que se dirigia em velocidade para o Oratório onde eu estava e ia entrar dentro dele.

“Conhecendo o que vinha dentro do Carro, fiquei horrorizada e me escondi, levando junto os papéis nos quais estavam anotados vossos favores.

“E quando percebi que o Carro estava junto à porta do Oratório, eu Vos disse: “Senhor, detém esse monstro do lado de fora, pois não tenho ânimo para vê-lo”.

“Deteve-se o Carro à porta e não entrou. Entendi que vinha triunfante no Carro aquele horrendo pecado em forma de um grande monstro que não tinha pés nem cabeça, tão horrendo e negro, coberto por uma fumaça espessa. E ao redor do carro serviam a este monstro muitos meninos religiosos (religiositos niños).

“Conheci que o monstro abrigava dentro de si a muitos Religiosos de maior idade e Sacerdotes e também muitas Religiosas, de Ordens de ambos os sexos.

“Conhecendo aqui aquele pecado, que era tão horroroso, feio, sujo e desordenado, foi tanto o meu pavor que eu inteira tremia de horror.

“E sem que ele tivesse chegado até onde eu estava, somente com conhecer que estava do lado de fora, pensei que ia morrer, e Vos dizia: “Basta, Senhor, basta. Tira de junto de mim esta horrenda visão”. E então ele desapareceu”.

(Fonte: Autobiografia de la Venerable Madre Sor Catalina de Jesús Herrera, Edit. Santo Domingo, Quito, 1954, pp. 271/2).


O mosteiro de Santa Catalina, Quito, onde viveu a confidente de Deus:







segunda-feira, 3 de julho de 2023

A história do 'Exorcista do Papa': Pe. Gabriele Amorth

O Padre Gabriele Amorth foi exorcista da diocese de Roma durante 30 anos
O Padre Gabriele Amorth foi exorcista da diocese de Roma durante 30 anos
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Um filme criado a partir de dois livros do pranteado exorcista de Roma Pe. Gabriele Amorth (1925-2016) — “Um Exorcista Conta” (1990) e “Novos Relatos de Um Exorcista” (1992) —, voltou a suscitar comentários sobre os casos de possessão diabólica que se tornam cada vez mais preocupantes e frequentes nas nossas sociedades que estão abandonando a fé. Confira a longa reportagem da BBCNews.

O Pe. Amorth no livro “O Último Exorcista” (Ecclesiae, 2012) compara o ritual de exorcismo a uma batalha. Sua armadura consiste apenas numa estola roxa que no início do 'combate' apoia sobre a pessoa a ser exorcizada.

O gládio do exorcista é o crucifixo, e o do Pe.Amorth traz a medalha de São Bento. Outras armas são os sacramentais como a água benta e o óleo santo além do sinal da cruz em sua testa.

Uma característica do Pe. Amorth é que foi soldado que lutou na Segunda Guerra Mundial e chegou a ser condecorado com uma medalha por bravura militar. Formado em Direito e Jornalismo decidiu seguir a vocação sacerdotal que batia na sua alma desde que tinha 12 anos, por incentivo do Beato Pe. Tiago Alberione (1884-1971), fundador da Pia Sociedade de São Paulo.

Amorth foi ordenado sacerdote em 24 de janeiro de 1954 e nomeado exorcista no dia 11 de junho de 1986. Ao ser indagado sobre sua decisão, respondeu: “Não decidi nada.”

Padre Gabriele Amorth e Padre Tiago Alberione, o fundador de sua congregação
Padre Gabriele Amorth e Padre Tiago Alberione,
o fundador de sua congregação
Quem decidiu foi o bispo vigário de Roma, o cardeal Ugo Poletti (1914-1997). Os bispos tem o poder de delegar aos padres de suas dioceses o poder conferido por Jesus de expulsar demônios.

Em 1986, o Pe. Amorth visitou o bispo de Roma quem inesperadamente começou a escrever em silencio e lhe entregou um envelope com um sorriso dizendo: “Parabéns!”

A carta dizia: “Eu, cardeal Ugo Poletti, arcebispo vigário de Roma, nomeio o padre Gabriele Amorth, religioso da Pia Sociedade de São Paulo, exorcista da diocese. Ele colaborará com o padre Cândido Amantini enquanto for necessário.”

O Pe. Amorth gaguejou mas o cardeal foi imperativo: “a Igreja tem desesperada necessidade de exorcistas. O senhor fará bem o trabalho. Não tenha medo”.

Ainda pensando “Quem sou eu para combater o príncipe das trevas?”, o Pe. Amorth entregou a carta com a nomeação do bispo ao Pe. Amantini. Esse pegou um exemplar do Rituale Romanum, do Papa Paulo 5º, e o entregou ao Pe. Amorth.

“Leia as 21 regras que precedem o rito. Decore-as. Sem essas regras, será derrotado”, advertiu.

Os principais sinais de possessão, ensina o livro de 1614, são falar línguas desconhecidas, manifestar fatos ocultos e demonstrar força superior à sua condição física.

Certa vez, durante uma sessão, Amorth viu um menino de 11 anos ser segurado por quatro homens robustos. “O rapazinho os fazia voar”, ilustra. Noutra ocasião, um menino de dez anos levantou uma mesa pesada acima da cabeça. “Jamais teria conseguido sozinho”, atesta.

Mas o sintoma mais grave é a aversão ao sagrado. Caso da pessoa que desmaia quando vai à missa ou espuma de ódio quando vê um padre.

O ritual recomenda que os possuídos sejam exorcizados na igreja ou em outro local religioso, desde que longe das multidões.

Se o possuído estiver doente, pode ser realizado em sua casa. Por medida de segurança, a pessoa que será exorcizada deve ser acomodada numa poltrona, nos casos mais leves, ou numa maca, nos mais graves. Durante o ritual, o exorcista poderá ser ajudado por leigos — poucos e preparados.

Uns o ajudarão a segurar o possuído. Outros, a rezar o rosário e a invocar a intercessão dos santos. Nenhum deles, porém, deve dirigir a palavra ao endemoniado.

O exorcista, prossegue o breviário em latim, não deve se perder em demasiadas palavras ou fazer perguntas desnecessárias. Mais do que um diálogo, o exorcismo é um interrogatório.

“Qual é o teu nome?”, “estás sozinho?” e “quando sairás?” são algumas das perguntas a serem feitas. O objetivo do exorcismo é obrigar o endemoniado a revelar seu nome — Satanás, Lúcifer, Asmodeu...

“Para ele, dizer o nome representa uma grande derrota”, explica Amorth. E, principalmente, ordenar ao demônio, em nome de Jesus, que liberte o possuído.

Padre Cândido Amantini e Padre Gabriele Amorth, exorcistas oficiais da diocese de Roma
Padre Cândido Amantini e Padre Gabriele Amorth,
exorcistas oficiais da diocese de Roma
Gabriele Amorth realizou o primeiro de seus mais de 60 mil exorcismos no dia 21 de fevereiro de 1987. Naquela manhã, padre Cândido Amantini recebera mais um pedido de ajuda. Dessa vez, de um frade franciscano chamado Maximiliano. Um camponês de 25 anos, explicava ao telefone, precisava ser exorcizado.

“Não tenho tempo”, avisou. “Mandarei o Amorth”. “Está certo de que estou pronto?”, perguntou.

“Ninguém nunca está. Mas, você está suficientemente preparado. Toda batalha tem seus riscos. Tem de enfrentá-los um por um”, orientou.

O exorcismo foi realizado na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma. Logo ao chegar, uma surpresa: além do padre e do camponês, uma terceira pessoa.

“Quem é o senhor?”, perguntou Amorth. “O tradutor”, respondeu o homem. “O tradutor?”, repetiu, atônito.

Padre Maximiliano se apressou em explicar: “Quando entra em transe, só fala inglês”. E foi na língua de Shakespeare que o lavrador italiano começou a gritar as primeiras blasfêmias. Não foi a única vez. Noutra ocasião, uma mulher analfabeta proferiu ofensas num idioma que Amorth desconhecia.

“Tive de fazer com que vários sacerdotes participassem dos exorcismos. Até que um deles desvendou o enigma: era aramaico.”

Amorth dedica o segundo capítulo de “O Último Exorcista” ao seu primeiro exorcismo. “Em Minha Primeira Vez Contra Satanás”, descreve o episódio que classifica como aterrorizante.

A certa altura, os olhos do rapaz viraram para dentro e sua cabeça pendeu sobre as costas da cadeira. Pouco depois, a temperatura no aposento caiu horrores e Amorth passou a sentir um frio glacial.

Mais adiante, o possuído começou a levitar. “Meio metro acima da cadeira”, observa Amorth. “Aí, permaneceu imóvel, suspenso no ar por vários minutos.”

A primeira batalha de Amorth chegou ao fim cinco meses após iniciada, ou seja, no dia 21 de junho de 1987, às 15h. Foram necessárias 20 sessões, uma por semana.

“Libertar um possuído em tão poucas sessões é um milagre”, admite. O exorcismo mais curto de seu ministério durou inacreditáveis dez minutos. O mais longo? Quase 30 anos! “Já fico satisfeito quando um caso se resolve em quatro ou cinco anos”, dizia.

'Nunca encontrei um diabo ateu'


Um exorcismo nunca é igual ao outro. Às vezes, o possesso salta de uma parede para outra como se fosse um macaco ou rasteja pelo chão como uma serpente. Outras vezes, o endemoniado ruge como um leão, uiva como um lobo ou mia como um gatinho.

Houve uma ocasião em que Sabrina, como se fosse a coisa mais natural do mundo, começou a caminhar pela parede, subindo rumo ao teto.

Volta e meia, Amorth ganhava um presentinho: um empurrão aqui, um soco ali, uma mordida acolá...

“Certa vez, um chute que não me pareceu tão forte me deixou com a perna engessada quarenta dias”, relata.

Cusparadas? Nem se lembra mais quantas levou. Quando exorcizou uma religiosa italiana chamada Gisella, viu ela cuspir objetos de ferro, como pregos, parafusos e tesouras. Sim, padres, freiras e religiosos não estão imunes à possessão.

“Amorth saiu de algumas batalhas com hematomas pelo corpo. É impressionante como o diabo empresta força extraordinária a seres fisicamente fracos. Felizmente, alguns dos fenômenos que ele testemunhou ao longo de seu ministério são bastante raros. Como foram raros também os casos em que Amorth conseguiu libertar o possesso com uma única sessão. Apenas dois em mais de 60 mil!”, revela Tosatti.

Certa ocasião, um padre dos EUA chamado Andrew perguntou a Amorth se ele tinha medo de Satanás.

“Não sou eu que tem medo dele. Ele é que deve ter medo de mim. De mim e de todos que vivem em Jesus Cristo”, respondeu Amorth.

O bom humor era um de seus traços marcantes. Quando alguém lhe dizia que “acreditava em Deus, mas não era praticante”, fingia concordar: “Ah, sim! Os diabos também... Creem em Deus, mas não são praticantes. Aliás, nunca encontrei um diabo ateu”, disparava, sarcástico como sempre.

'Satanás não dorme nunca'


Em 1991, Gabriele Amorth teve a ideia de fundar uma associação de exorcistas.

E, na condição de exorcista da diocese de Roma, quis comunicar sua decisão a um determinado cardeal, que ele preferiu não divulgar o nome.

“Nós dois sabemos que Satanás não existe, não é verdade?”, observou Sua Eminência, com uma piscadela marota.

“O que quer dizer com 'sabemos que não existe?”, perguntou Amorth.

“O senhor sabe melhor do que eu que tudo isso é uma superstição”, continuou o cardeal. “Não quer me fazer acreditar que crê nessas coisas, não é?”.

“Bem, o senhor deveria ler um livro que talvez possa ajudá-lo”, sugeriu o padre. “Ah, sim? Qual livro, padre Amorth?”, perguntou o cardeal.

“O Evangelho!”, respondeu, para o espanto do cardeal. “É o Evangelho que nos diz que Jesus expulsa os demônios. Então, o Evangelho também é uma superstição?”.


“Os bispos que não nomeiam exorcistas, apesar da necessidade de suas dioceses, estão em pecado mortal”, afirma Amorth.

“A Igreja Católica dorme. Mas deveria saber que Satanás não dorme nunca. Está sempre acordado, preparado para atacar”.

A Associação Internacional dos Exorcistas (AIE) foi reconhecida pela Igreja Católica no dia 13 de junho de 2014.

Hoje, fazem parte dela cerca de 500 exorcistas. O Monsenhor Rubens Miraglia Zani, da Paróquia Nossa Senhora do Líbano, em Bauru (SP), é um dos 20 brasileiros.

Nomeado exorcista em 2013, conheceu o Padre Amorth um ano antes, durante o curso de formação para exorcistas, promovido pelo Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma.

“Era uma pessoa culta, alegre e inteligente”, descreve. “Seu senso de humor era agudo, mas não ferino.”

“O maior equívoco é pensar no exorcismo como um ritual de magia: basta que se recite mecanicamente o rito, uma única vez e o demônio é obrigado a ir embora, não importando a fé e a colaboração do possesso, nem a fé e a santidade do exorcista”, pondera Zani, delegado coordenador da Secretaria de Língua Portuguesa da AIE.

“O primeiro exorcista de uma pessoa é a própria pessoa que será exorcizada. Se ela não colabora, rezando o terço, meditando a Palavra de Deus e participando da missa, sua situação se arrasta e o exorcista pouco pode fazer.”

'A grande inimiga de Satanás'


O Beato Palau está na origem do retorno à prática do exorcismo
O Beato Palau está na origem do retorno à prática do exorcismo
Em seus últimos anos de vida, Gabriele Amorth realizava uma média de cinco exorcismos por dia.

Mas houve um tempo em que chegou a praticar de dez a quinze.

Por essa razão, gravou um recado em sua secretária eletrônica, reduzindo os pedidos de exorcismo a uma hora semanal: “Telefonemas para agendamento são aceitos apenas às segundas-feiras, das 18h30 às 19h30. Quem não pertence à diocese de Roma, por favor, dirija-se ao seu bispo.”

Em abril de 2016, Amorth ouviu o recado de William Friedkin. O diretor de “O Exorcista”, clássico do gênero adaptado do romance de William Peter Blatty (1928-2017), solicitava autorização para registrar um exorcismo.

“Sou grato a 'O Exorcista'“, disse Amorth em “Investigação sobre o Demônio”. “Embora um tanto sensacionalista, com cenas irreais, é substancialmente exato. Atingiu um público vastíssimo e divulgou a figura do exorcista.”

Autor do livro que deu origem ao filme e do roteiro que ganhou o Oscar, Blatty inspirou-se na história real de um menino de 14 anos que sofreu uma possessão e foi exorcizado por um padre jesuíta chamado William Bowden. O caso aconteceu em 1949 na cidade de Cottage City, no Estado de Maryland.

Gabriele Amorth pediu a Friedkin alguns dias para pensar. Por fim, autorizou a filmagem.

Mas impôs três condições ao cineasta: ele deveria ir sozinho, levar uma única câmera de vídeo e não interferir no ritual. O resultado do exorcismo de Cristina, uma arquiteta italiana de 46 anos, realizado no dia 1º de maio de 2016, quatro meses antes da morte de Amorth, pode ser conferido em “O Diabo e o Padre Amorth”, disponível na Netflix.

Sabrina, Gisella, Cristina... A cada dez exorcismos que Amorth fazia, nove eram de mulheres. Devoto de Nossa Senhora de Fátima, ele nunca soube explicar bem o motivo. Mas, tinha lá seu palpite: o demônio queria se vingar de Maria.

“Por que te assusta mais quando invoco a Nossa Senhora do que quando invoco a Jesus?”, perguntou Amorth, durante uma sessão, em diálogo descrito no livro Novos Relatos de Um Exorcista (Palavra e Prece, 2011).

“Por que me humilha mais ser derrotado por uma criatura humana do que por Ele”, respondeu Satanás.


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Exorcistas do mundo apelam a “encher os céus com orações”

O rei do inferno invade a Terra. Em Boston lhe foram abertas as portas
O rei do inferno invade a Terra. Em Boston lhe foram abertas as portas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A Associação Internacional de Exorcistas (AIE) pediu aos católicos uma ofensiva que inunde “os céus com orações” para expulsar os demônios que invadiram a Terra por meio do evento satânico “SatanCon 2023”, no hotel Boston Marriott Copley Place em Boston, EUA.

Esse pretendia ser “o maior evento satânico da história”, promovido pela seita que se diz “igreja” Templo Satânico, segundo ACI Digital.

A AIE sublinhou a introdução da noite de Walpurgis que faz parte do calendário das 'festividades' do satanismo de hoje. Dita noite refere-se à reunião das bruxas em desafio a Deus, na véspera de 1º de maio.

O evento satânico incluiu uma série de “conferências, mesas redondas e momentos de entretenimento sobre temas aberrantes para corromper a sociedade, negar a mensagem cristã e de salvação, degradar a condição de criatura dos filhos de Deus e destruir a fé cristã”, disse a AIE.

Santa Marina (Líbano, século VI) modelo de combate ao demônio. Restos venerados na igreja Santa Marina Formosa, Veneza. Icone grego, século XIX
Santa Marina (Líbano, século VI) modelo de combate ao demônio.
Restos venerados na igreja Santa Marina Formosa, Veneza.
Ícone grego, século XIX
O bispo auxiliar de Boston, Mons. Mark William O'Connell, agiu de modo dialogante com os ‘sacerdotes’ de Satanás e apelando a um errado ecumenismo pediu em nome do arcebispo, cardeal Sean O'Malley, que os fiéis não protestem.

Depois de pedir que as igrejas estejam muito atentas a qualquer tentativa de profanação, o bispo auxiliar de Boston incentivou a fazer a oração a São Miguel Arcanjo que o Papa Leão XIII mandou rezar no fim das Missas, e ainda se reza nas tradicionais, mas que foi suprimida nas liturgias modernas:

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio.

Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós príncipe da milícia celeste, pelo Divino Poder, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

A invasão da Terra pelos demônios não é palhaçada (e não por isso menos prezada por Belzebu e os anjos rebeldes) como pode parecer a “SatanCon 2023”. Ela foi prevista e denunciada muito seriamente por santos e beatos sobretudo no século XIX.

O Bem-aventurado Palau OCD pediu ao Bem-aventurado Papa Pio IX a convocação de todo o clero mundial para uma Cruzada exorcística sob o comando do próprio Papa.

O rei do inferno invade a Terra saíndo do abismo com suas legiões. Tapeçaria d Angers
O rei do inferno invade a Terra saindo do abismo com suas legiões. Tapeçaria d Angers
O Sumo Pontífice o recebeu e pediu a redação de um trabalho que seria submetido ao Concílio Vaticano I que estava prestes a se realizar.

Assim fez o Beato Palau e o escrito foi distribuído entre os padres conciliares. Porém a interrupção de dito feliz Concílio pela guerra franco-prusiana e a invasão de Roma, forçou a dissolução da Assembleia Conciliar e o texto não foi votado.

Inicia aquele escrito intitulado “El Exorcistado” que sobrevive íntegro até nosso dias em que foi republicado, dizendo:

“O inimigo do gênero humano como um leão rugindo procura a quem devorar [1 Pe 5,8].

“Disso nos adverte o Apóstolo; e Pio IX no discurso de abertura do Concilio acrescenta: “Acometeu e continua acometendo à Igreja Santa com raiva e furor à testa de uma formidável propaganda dos ímpios”.

“Ataca, nos diz o Papa Pio IX; e já deu o assalto; ataca e já se romperam as hostilidades; a guerra é um fato histórico; e é horrorosa, porque se jogaram nela por um lado todos os poderes políticos da terra coligados com as potestades do inferno e de outro lado todos os elementos e forças católicas reunidas sob um só Príncipe visível que é o Papa e o invisível que é Cristo”. (Pii IX Pontificis Maximi, Acta. vol. V, pp. 237-240)

No século XX, o renomeado Pe. Gabriele Amorth, lendo este ensaio se sentiu confirmado na decisão de consagrar sua vida ao exorcismo e fundou a referida Associação Internacional de Exorcistas (AIE).

Na aparição de La Salette, Nossa Senhora anunciou: “No ano de 1864, Lúcifer e um grande número de demônios serão soltos do inferno.

“Eles abolirão a fé pouco a pouco, até nas pessoas consagradas a Deus.

“Eles as cegarão de tal maneira que, salvo uma graça particular, adquirirão o espírito desses maus anjos”.
O Beato Cestac viu os demônios invadindo a Terra e Nossa Senhora lhe inspirou uma oração
O Beato Cestac viu os demônios invadindo a Terra
e Nossa Senhora lhe inspirou uma oração

Por volta dessa data o Bem-aventurado Luís Eduardo Cestac (1801 - 1868), fundador das Servas de Maria, escreveu ao seu bispo “ter sido repentinamente atingido como por um raio de luz divina que lhe mostrou demônios se espalhando pela terra, causando uma destruição inexprimível”.

Ao mesmo tempo, a Virgem Maria lhe revelou que o poder dos demônios fora desencadeado em todo o mundo e, curiosamente, usando termos quase idênticos aos de La Salette.

O mesmo Beato Cestac compôs então a oração famosa “Augusta Rainha dos céus” pedindo que Nossa Senhora pusesse fim a essa arrasadora invasão satânica:

“Augusta Rainha dos Céus e Soberana Senhora dos Anjos, Vós que, desde o princípio, recebestes de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de satanás, humildemente Vo-lo pedimos, enviai as legiões celestes dos santos Anjos a perseguirem por vosso poder e sob vossas ordens os demônios, combatendo-os em toda parte, confundindo-lhes a insolência e lançando-os nas profundezas do abismo!

“Quem como Deus?

“Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos!

“Ó boa e terna Mãe, sede sempre o nosso amor e a nossa esperança! Amém”.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Na festa da Beata Ana Maria Taigi

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A contemplativa da luta entre a Luz e as Trevas


A Beata Anna Taigi (1769-1837) foi uma alma a quem Deus revelou a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução, da qual a fez participar através de um especial devotamento ao Papado.

Em 29 de maio de 1769, na poética Siena, num lar popular rico de tradições cristãs, veio ao mundo uma menina sobre a qual pesariam os destinos da Igreja.

Ao invés da tranquilidade e das consolações decorrentes de uma vida ordeira e laboriosa, ela teve em troca cruzes de extraordinário valor sobrenatural.

O infortúnio financeiro levou seus pais a se mudarem para Roma em busca de melhor sorte. Mas eles logo morreram, deixando Ana Maria órfã numa cidade “estrangeira”, pois Roma e Siena pertenciam na época a países diferentes.

Sem saber ler nem escrever, a jovem foi trabalhar no palácio da nobre família Maccarani, onde conheceu seu futuro marido, Domenico Taigi, pajem no palácio dos príncipes Chigi, na cêntrica Piazza Colonna – hoje sede do primeiro ministro da Itália.

Domenico era trabalhador e sério, mas deu-lhe muita ocasião para praticar a paciência. Tiveram sete filhos, três dos quais morreram em sua primeira infância.

Ana Maria Gesualda Giannetti de Taigi (29/05/1769 – 09/06/1837) foi uma excelente dona de casa, dedicada a todos, apesar de seus exíguos recursos.

Muito piedosa, ingressou na Ordem Terceira da Ordem da Santíssima Trindade – os trinitários – com sede na igreja de San Carlo alle Quattro Fontane.

O sol misterioso

Desde a sua adolescência, Ana Maria foi aquinhoada por Deus com um favor único: o de ter sempre presente diante de seu olho esquerdo um sol, qualificado de “místico”, mas muito voltado para as realidades temporais.

O Pe. Bouffier S.J. nos fala desse sol misterioso onde Deus quis lhe mostrar “os fios secretos dos movimentos do mundo”:
O livro do Pe. Bouffier SJ. Fala-se muito da beata,
mas muitos poucos livros lhe foram dedicados.
E com razão: Deus falou por meio dela coisas graves demais.
“Era uma maravilha ouvir uma boca tão apagada narrar com serena candura as agitações das sociedades, as convulsões dos povos, a derrubada das dinastias, e até nesses grandes acontecimentos da História, os detalhes íntimos e escondidos dos corações que só o olhar de Deus pode penetrar. (...)

“Sob essa luz ela via o estado das consciências, a situação das diversas nações da terra, as revoluções, as guerras, os planos dos governos, as maquinações das sociedades secretas, as armadilhas montadas pelos demônios, os crimes, os pecados, as superstições dos idólatras, os flagelos que Deus havia preparado para punir as prevaricações humanas”.

O sol lhe apareceu pela primeira vez por volta de 1790, quando ela se flagelava em seu pequeno oratório doméstico.

E nunca se afastou de sua vista, acompanhando-a por toda parte, dia e noite, até a sua morte, acontecida 47 anos depois.




Visões da Beata Ana Maria Taigi
concordam com La Salette


Beata Ana Maria Taigi
Após apontar para a decadência moral e o progresso da Revolução anti-crista, no mundo em geral e do clero em particular, Nossa Senhora fez anunciou em La Salette grandes castigos purificadores da terra.

Esses anúncios não são exclusivos de La Salette.

No mesmo século XIX, poucas décadas antes do acontecimento de La Salette, Deus revelou à Beata Ana Maria Taigi esses mesmos castigos.

A comparação é especialmente sugestiva porque não houve contato de nenhuma espécie entre a Beata e os videntes de La Salette.

Mons. Natali anotou as visões em milhares de folhas
Mas, quando haveria de se verificar esse triunfo?

A qual época histórica está reservado saudar esse grandioso acontecimento que tantos fiéis da humanidade toda há muito tempo aguardam?

Eis o misterioso enigma, sobre o qual a Beata Taigi veio deitar, se não me engano, um raio de luz que conforta e tranqüiliza.”

Eis quanto Mons. refere textualmente a respeito dessa profecia:



“Desde os tempos de S.S. o Papa Pio VII, quer dizer no ano 1818, a Serva de Deus descreveu para mim a revolução de Roma e tudo o que aconteceu, e a seguir falou-me muitas vezes, aliás, de um modo muito mais espantoso, dizendo que tinha sido mitigada pelas orações de muitas almas caras a Deus, que se ofereceram a Ele em satisfação da Justiça Divina.

“Porém, ela disse-me que a iniqüidade haveria de avançar triunfante e muitos que se acreditava serem bons teriam tirado a máscara, e que o Senhor queria descobrir a cizânia e que depois Ele teria sabido o que fazer dela.

“Que as coisas estariam de tal maneira convulsionadas que o homem já não seria capaz de as pôr em ordem, mas que Seu braço onipotente haveria de remediar tudo.

“Ela me disse que o flagelo da terra tinha sido mitigado, mas não o do céu que era horrível espantoso e universal.

“Que o Senhor não o tinha dado a conhecer nem às almas por Ele mais amadas nesta terra.

“Que teria chegado inesperadamente e que os ímpios teriam sido destruídos.

“Que antes desse flagelo todas as almas que na sua época tinham fama de santidade deveriam estar todas sepultadas.

“Que numerosos milhões de homens deveriam morrer por obra do ferro, uma parte nas guerras, outra parte em conflitos, e outros milhões de morte imprevista ‒ entenda-se que por todo o mundo.

“Que, em conseqüência, nações inteiras haveriam de voltar à unidade da Igreja Católica, muitos turcos, gentios e hebreus hão de se converter de um modo que surpreenderá aos cristãos que ficarão admirados pelo fervor e observância que mostrarão com sua vida.

“Numa palavra, ela disse-me que o Senhor queria purgar o mundo e Sua Igreja, e para isso ele preparava uma nova safra de almas que, desconhecidas, apareceriam para realizar obras grandes e milagres surpreendentes.

“Ela me disse que depois de que o Senhor tivesse varrido a terra com guerras, revoluções e outras calamidades, haveria de começar o céu e então teria lugar o fim de dito flagelo com uma convulsão geral de fenômenos meteorológicos os mais espantosos e com grande mortalidade.



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