segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Bispo descreve experiências exorcizando demônios

Mons Andrea Gemma, bispo de Isernia-Venafro
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Em diversos posts reproduzimos o pensamento do Bem-aventurado Pe. Francisco Palau y Quer O.C.D. a respeito da influência do demônio em nossos dias. CONFIRA

Vendo-a descrita como sendo tão grande, poderia se achar que o santo autor foi levado pelo seu fervor e pelo seu temperamento espanhol.

Não teria ele exagerado com boas intenções didáticas ou de oratória?

Para atender à questão, achamos oportuno apresentar o livro “Eu, bispo exorcista”, de Mons. Andrea Gemma, bispo emérito, de Isernia-Venafro, Itália.

Nele o bispo descreve suas experiências de exorcista e as surpreendentes conclusões a que foi levado durante uma década de prática do Exorcistado

(D. Andrea Gemma, “Io, vescovo esorcista” (“Eu, bispo exorcista”), Editora Mondadori, Milão, 2002, 208 pp. Todas as citações do post são extraídas desse livro. Não sabemos se o livro foi vertido ao português)

D. Andrea Gemma escreveu o livro quando estava à testa da diocese de Isernia-Venafro, narrando suas experiências na prática do exorcismo.

Ele deixou a diocese a seu sucessor em 2007, quando atingiu o limite de idade fixado pelo Direito Canônico.

Na manhã de 29 de junho de 1992, o novo bispo de Isernia-Venafro, D. Andrea Gemma, saía da Basílica Vaticana, olhando pensativo para a Praça de São Pedro.

As palavras de São Mateus, ”as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16,18), ecoavam em seu espírito com um atrativo sobrenatural. E lhe inspiravam graves considerações:

1) a ação do demônio não só não diminuiu, mas multiplicou-se;

2) o demônio é consciente de que dispõe de pouco tempo;

3) Nosso Senhor Jesus Cristo deu à Igreja enorme poder contra Satanás;

4) para não ser derrotado, o demônio faz tudo para agir no silêncio;

5) chegou o momento de desmascarar a ação insidiosa de Lúcifer e enfrentá-lo de viseira erguida, com as armas de que a Igreja dispõe. (pp. 11-12).

Por que não se fala da necessidade de exorcismo?

Voltando à sua diocese, a 170 km de Roma, D. Andrea decidiu pôr em prática o mandato divino “expulsai os demônios” (Mc 16,17).

Porque, explica ele, para o bispo, exorcizar “não é uma escolha, é obrigação” (p. 21).

Dever grave de instituir exorcistas
E cita o Pe. Gabriele Amorth que foi durante muitos anos exorcista oficial da diocese de Roma:

“Um bispo que não estabelece pelo menos um exorcista na sua diocese não está isento de pecado mortal por grave omissão” (p. 24).

O resultado foi surpreendente. O poder do inferno se lhe revelou em todo o seu horror e em toda a sua extensão.

“Quantas vezes — escreve o bispo —, nos meus colóquios cotidianos, frequentemente difíceis, com os doentes de todo tipo, esta verdade se punha diante de mim:

‘Por que não nos falaram antes destas coisas? Por que não nos alertaram com uma adequada instrução? Por que não nos preservaram a nós, grei de Cristo, da devastação dos lobos famintos?” (p. 113).

“Se todos os bispos fossem como você, estaríamos completamente vencidos, e imediatamente” (p. 12), gritou-lhe um demônio por meio de uma mulher possessa, acrescentando com desdém em uma outra ocasião: “[mas] vocês são poucos” (p. 62).

Poder da promessa de Nossa Senhora em Fátima

Em 1992, o bispo publicou a pastoral As portas do inferno não prevalecerão. Nela, alertava:

“A ação infestante e obscura de Satanás [...] está, acreditai-me, mais difundida e é mais nefasta do que se possa pensar” (p. 15).

Na pastoral, D. Andrea convocou a diocese para “uma luta sem quartel, concertada e eficaz contra o mal e as suas artes” (p. 16).

O bispo promoveu orações públicas que congregavam multidões vindas de muito longe.

O Maligno se externava visivelmente, e aqueles que sofriam alguma ação diabólica eram levados à sacristia para serem objeto de exorcismos específicos.

Mons Andrea Gemma e Nossa Senhora de Fátima
O bispo não imaginava que sua pastoral daria a volta ao mundo.

Ela foi traduzida em várias línguas.

Por meio de cartas ou da imprensa, pessoas de toda Itália e até do exterior, apelaram a seu socorro porque sentiam alguma ação diabólica ou estavam possessas.

Isso lhe mostrou que muitos fiéis estavam esperando algo do gênero, diz no livro.

Nos exorcismos, D. Andrea pôde constatar o enorme poder de Nossa Senhora e da Igreja sobre as potências do abismo:

“Se quero ver o demônio realmente furioso, basta jogar-lhe água benta, pronunciando esta minha doce certeza: ‘por fim, o Coração materno de Maria triunfará’.

“‘Sim!!!’, me responde, sempre rangendo os dentes.

“Mas algumas vezes acrescenta um desafio: ‘neste meio tempo, quantos levaremos conosco’...” (p. 63).

D. Andrea interrogou várias vezes os demônios possuidores:

— ”Vós, que vexais as vossas vítimas, tirais algum proveito ou alívio disso?

— Não, pelo contrário, nós sofremos um maior agravamento das nossas penas.

— E, então, por que o fazeis?

— Por ódio, por ódio, por ódio” (p. 61).


continua no próximo post: D. Gemma: o demônio entra nas almas e nas sociedades pela porta do laicismo


Vídeo: Dom Andrea Gemma fala sobre o exorcismo (em italiano)
Bispo emérito da diocese de Isernia-Venafro, Itália, responde a perguntas sobre o exorcismo. Descreve também exemplos de sua vida de exorcista. (Em italiano)



Nossa Senhora destrói o pacto assinado pelo monge Teófilo com o demônio




















segunda-feira, 7 de outubro de 2024

La Salette: a devoção ao Rosário é a devoção dos predestinados

Nossa Senhora do Rosário com São Domingos e Santa Rosa de Lima,anônimo, Peru
Nossa Senhora do Rosário com São Domingos e Santa Rosa de Lima,
anônimo, Peru
Luis Dufaur
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A Festa de Nossa Senhora do Rosário foi instituída em comemoração da vitória de Lepanto (1571), alcançada contra os turcos que ameaçavam a Europa. E foi estendida à Igreja universal em ação de graças.

Em primeiro lugar, esta devoção tem como maior mérito ter sido revelada por Nossa Senhora a São Domingos, e nascer, portanto, de uma das revelações particulares que os inimigos da Igreja tanto abominam.

A devoção se estendeu por toda a Igreja Católica e foi considerada por São Luiz Grignion de Montfort de devoção característica dos predestinados.

É distintiva de muitas ordens religiosas, que em seu hábito traziam o Rosário à cintura e passou a ser o objeto de piedade de todo verdadeiro católico.

Tempo houve em que todo verdadeiro católico levava normalmente o Rosário consigo o dia inteiro.

Pois o um instrumento bento que faz de corrente de ligação com Nossa Senhora e cuja posse física afugenta o demônio, e atrai as graças de Nossa Senhora.

Há episódios de lutas contra o demônio em que exorcistas e outras pessoas com o Rosário o demônio foge correndo.

O que vem a ser o Rosário?

Ele se compõe da meditação dos Mistérios da vida de Nossa Senhora e de Nosso Senhor de maneira que quando pronunciamos as orações vocalmente meditamos a respeito do Mistério.

Nesta conjunção da oração vocal e da meditação enquanto os lábios proferem uma súplica, o espírito se concentra num ponto. Nesta dupla atividade, o homem faz tudo o possível na ordem sobrenatural.

Por esta forma ele se liga intimamente a Deus porque é por meio da Medianeira de todas as Graças que a pessoa se dirige a Deus.

Há um tesouro de teologia que faz do Rosário uma obra prima de Doutrina Católica como deve ser entendida.

Nossa Senhora do Rosário, Santa Maria Sopra Minerva, Roma
Nossa Senhora do Rosário, Santa Maria Sopra Minerva, Roma
Não feita de emoções, mas séria, sólida, pensada, com razões de ser, firmes que fazem do Rosário uma devoção suculenta, substanciosa e de grande valor.

De outro lado, cada uma das dezenas tem um Mistério que confere graças próprias. Há graças que nós podemos obter por causa do Mistério da Anunciação; outras, pelo Mistério da Visitação; outras, Mistério da Ascensão.

Nós, rezando e meditando sobre esses Mistérios, atraímos sobre nossas almas todas as graças da Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. É, um périplo que enche a nossa alma.

Ele é raciocinado e ponderado para a vida espiritual do varão católico que é feita de pensamento, de reflexão com base na Fé, de conclusões que constituem sistema.

Há algo mais. Deus governa o Universo com conta, peso e medida.

Por todas as graças que ele tem alcançado para a humanidade, Nossa Senhora quis, entre muitas outras devoções, resolveu realçar esta, e conceder a propósito dela, graças muito especiais.

Além do mais há um motivo histórico. Vemos que esta devoção tem sido uma oportunidade enorme para graças em que Nossa Senhora se afirma como soberana, que paira acima das contingências, com um suprassumo da sabedoria. E nisso nós temos a super-excelência do Rosário.

No dia da Batalha de Lepanto, 07 de outubro, o Papa olhou para a janela e teve a visão da vitória. A notícia só chegou a Roma em 21 de outubro.

Entre outras graças insignes alcançadas pelo Rosário, está a graça da vitória de Lepanto alcançada enquanto São Pio V tinha a visão do triunfo católico.

Ele estava muito aflito, numa reunião de cardeais, e saiu um pouco junto à janela, preocupado porque a derrocada da Cristandade estava iminente.

São Pio V ordenou que a 7 de outubro de todos os anos se comemorasse uma festa em honra de Nossa Senhora das Vitórias, título alterado posteriormente em Nossa Senhora do Rosário, pelo Papa Gregório XIII.

Outra vitória assinalada, no mesmo gênero e contra o mesmo inimigo – o Crescente – foi em 1716, na Hungria.

Nossa Senhora quis obter para a Cristandade duas grandes vitórias contra o grande inimigo da Igreja no tempo, como hoje é o Comunismo.

Nossa Senhora dol Rosário,vitoriossa em Lepanto, Granada
Nossa Senhora do Rosário,vitoriosa em Lepanto, Granada
Nós podemos concluir que, pela devoção do Rosário, que deverá durar certamente até o fim dos tempos, a Igreja poderá alcançar, na luta contra o Comunismo, vitórias também espetaculares.

E nós podemos concluir que a recitação assídua do Rosário por aqueles que lutarem pelo Reino de Maria, conforme as profecias de Fátima, talvez, marcará o momento culminante da plena realização dos acontecimentos ali profetizados.

O Santo Rosário é um penhor de vitórias futuras.

Santo Afonso de Ligório, um santo, bispo, fundador de uma ordem religiosa [os redentoristas], já muito velho, andava de cadeira de rodas levado por um irmão.

Uma vez disse ao irmão que não tinha rezado o Rosário inteiro:

“- Se um dia se passar sem que eu reze o Rosário, eu tenho medo pela minha salvação eterna.”

O Rosário cotidiano é a grande garantia da perseverança final.

O Rosário bem pausadamente rezado, é um elemento magnífico para nos alcançar a perseverança que deve nos levar à fidelidade suprema.

Nesta espécie de prolongado Lepanto que vivemos, o Rosário tem um papel verdadeiramente capital.

A minha indicação é de um veemente esforço para rezarmos o Rosário inteiro todos os dias, superando alguma fraqueza ou cansaço.

A Lepanto da vida de cada um de nós, está ligada à recitação diária do Rosário.

Não adianta vir com essa coisa: “Mas afinal, essa devoção ou outra, não é igual?”

Há um ato de humildade em rezar o Rosário entre tantas devoções tão excelentes; porque Nossa Senhora prefere essa devoção; e porque essa devoção é a mais combatida.

Em muitos lugares há a tradição de sepultar os mortos levando na mão um pequeno crucifixo; e que se completou entrelaçando nas mãos do morto um Rosário.

A ideia é essa: o morto se apresenta ao Céu com a Cruz e o Rosário porque o Rosário passou a ser o elemento inseparável da verdadeira piedade cristã.

Os inimigos da Igreja – internos ou externos – não atacam nenhuma devoção a Nossa Senhora tanto quanto atacam o Rosário.

O demônio sente e sabe que Ela quis, por meio do Rosário, dispensar muitas graças.



(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra proferida no dia 7 de outubro de 1964. Sem revisão do Autor. Fonte: PlinioCorrêadeOliveira.info)


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

No aniversário da aparição de Nossa Senhora em La Salette

Há 166 anos, em 19 de setembro, Nossa Senhora apareceu em La Salette e deixou uma mensagem
Em 19 de setembro de 1846, Nossa Senhora apareceu em La Salette
e deixou uma mensagem
Luis Dufaur
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Em 19 de setembro de 1846, há exatamente 178 anos, Nossa Senhora apareceu em La Salette.

Ela deixou uma mensagem da mais alta importância. Essa mensagem, mais conhecida como o Segredo de La Salette, encontra-se transcrita na integridade e em diversas línguas neste blog.

Enquanto Nossa Senhora falava, o magnífico panorama alpino do local se transformou. E as crianças viram nele a efetivação do que Nossa Senhora dizia.

Mas, Nossa Senhora falou também pelo olhar. E disse coisas que as palavras são insuficientes para transmitir.

Mélanie descreveu assim esse olhar de Nossa Senhora:

Olhar de Santa Gemma Galgani
Olhar de Santa Gemma Galgani
“Os olhos da Santíssima Virgem, nossa terna mãe, não podem ser descritos por língua humana.

“Seria preciso um serafim, seria preciso a linguagem do próprio Deus, desse Deus que criou a Virgem Imaculada, obra-prima de sua onipotência.

Olhar de Santa Teresinha
Olhar de Santa Teresinha, OCD

“Os olhos da augusta Maria pareciam mil vezes mais belos que os brilhantes, os diamantes, as pedras preciosas mais procuradas.

“Eles brilhavam como sóis. Eram doces, feitos da própria doçura, luminosos como um espelho.
Olhar de Santa Bernadette Soubirous

“Em seus olhos via-se o Paraíso, eles atraíam a Ela.

“Ela parecia querer dar-se e atrair. Quanto mais eu a olhava, mais a queria ver.


Olhar de São Pio X, Papa
Olhar de São Pio X, Papa
“Quanto mais a via, mais a amava com todas minhas forças.

“Os olhos da bela Imaculada eram como a porta de Deus, de onde se via tudo que pode inebriar a alma.


Olhar de Santa Teresa de los Andes, OCD
Olhar de Santa Teresa de los Andes, OCD
“Quando meus olhos se encontravam com os da Mãe de Deus e minha, sentia dentro de mim uma feliz revolução de amor, uma promessa de amá-la e de me desfazer de amor.

“Quando nos olhávamos, nossos olhos conversavam à sua maneira.

Olhar da Beata Elisabeth de la Trinité, OCD
Olhar da Beata Elisabeth de la Trinité, OCD
“Eu a amava tanto, que teria querido osculá-la entre os olhos.

“Eles enterneciam minha alma e pareciam atraí-la e a fundir com a minha.

“Seus olhos inculcaram um suave tremor em todo o meu ser.
Olhar de São Luís Orione (Don Orione)
Olhar de São Luís Orione (Don Orione)

“Eu temia qualquer movimento que lhe pudesse ser desagradável, por menor que fosse.

“A simples visão dos olhos da mais pura das virgens teria bastado para tornar-se o céu de um bem-aventurado.
Olhar de São João Bosco
Olhar de São João Bosco

“Teria bastado para que uma alma se unisse plenamente com a vontade do Altíssimo, permanecendo assim em meio aos eventos da vida mortal.


“Teria bastado para que esta alma praticasse contínuos atos de louvor, de ação de graças, de reparação e de expiação.
Olhar da Beata Jacinta Marto (vidente de Fátima)
Olhar da Beata Jacinta (vidente de Fátima)

“Esta simples visão concentra a alma em Deus e a torna como uma morta viva que olha todas as coisas da Terra, até as que lhe parecem mais sérias, como se fossem brinquedos de crianças.

Olhar de São Pio de Pietrelcina (Padre Pio)
Olhar de São Pio de Pietrelcina (Padre Pio)
“Ela não desejaria senão ouvir falar de Deus e do que toca na sua glória”.




Enquanto Nossa Senhora falava, no imenso panoarma alpino viam-se os acontecimentos  que Nossa Senhora anunciava e os males que queria evitar para a humanidade pecadora
Enquanto Nossa Senhora falava, no imenso panoarma alpino viam-se os acontecimentos
que Nossa Senhora anunciava e os males que queria evitar para a humanidade pecadora




quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Assunção de Nossa Senhora: o momento de maior glória dEla na Terra

Assunção de Nossa Senhora. Beato Angélico (1395 – 1455). Google Cultural Institute
Assunção de Nossa Senhora. Beato Angélico (1395 – 1455). Google Cultural Institute
Luis Dufaur
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“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”

Com essas imorredouras palavras, o Santo Padre Pio XII definiu o dogma da Assunção da Santíssima Virgem ao Céu em corpo e alma, solenemente proclamado no dia 1º de novembro de 1950, pela Constituição dogmática “Munificentissimus Deus”.

A solene proclamação desse augusto dogma veio coroar séculos de devoção a Nossa Senhora enquanto tendo sido levada aos Céus em corpo ressurrecto e alma.

Na difusão desta verdade e desta devoção a Idade Média deu um contributo fundamental.
Assumpta est Maria, col. De Ricci, MS 090, f. 1.
A fé na Assunção vem dos tempos apostólicos.

As primeiras referências escritas se encontram na liturgia oriental que no século IV já comemorava a subida ao Céu de Nossa Senhora na festa da “Lembrança de Maria”.

A festa passou a ser denominada “Dormição de Maria” no século VI e o imperador bizantino Maurício fixou a data de 15 de agosto, apenas confirmando um costume preexistente.

Diversos Padres e Doutores da Igreja forneceram a justificação teológica.

Mas, a doutrina da Assunção de Nossa Senhora foi verdadeiramente aprofundada nos tempos medievais.

No século XII o tratado Ad Interrogata, atribuído incorretamente a Santo Agostinho defendeu a assunção corporal da Mãe de Deus.

Santo Tomás de Aquino e outros grandes teólogos medievais declararam-se decisivamente em favor desta verdade.

Coroando estas aspirações, no século XVI, o Papa São Pio V reformou o Breviário e incluiu orações que defendiam essa verdade largamente espalhada nos séculos medievais precedentes.

Ouça: Maria subiu ao Céus (Assumpta est Maria in Coelo. Vésperas. Gregoriano)


In festo Assumptionis B M Virginis,
Columbia University, UTS MS 15.
Não espanta pois que quando o Papa Pio XII consultou o episcopado do mundo em 1946 na carta Deiparae Virginis Mariae, a resposta quase unânime é que deveria ser proclamada dogma.
“O dogma da Assunção de Nossa Senhora foi ardentemente desejado pelas almas católicas do mundo inteiro, porque é mais uma das afirmações a respeito da Mãe de Deus que A coloca completamente fora de paralelo com qualquer outra mera criatura e justifica o culto de hiperdulia que a Igreja lhe tributa.

“Nossa Senhora teve uma morte suavíssima, tão suave que é qualificada pelos autores, com uma propriedade de linguagem muito bonita, a “Dormição da Bem-Aventurada Virgem Maria” (Dormitio Beatae Mariae Virgine), indicando que Ela teve uma morte tão suave, tão próxima da ressurreição que, apesar de constituir verdadeira morte, entretanto é mais parecida a um simples sono.

“Nossa Senhora, depois da morte, ressuscitou como Nosso Senhor Jesus Cristo, foi chamada à vida por Deus e subiu aos Céus na presença de todos os Apóstolos ali reunidos, e de muitos fiéis.

“Essa Assunção representa para a Virgem Santíssima uma verdadeira glorificação aos olhos dos homens e de toda a humanidade até o fim do mundo, bem como proêmio da glorificação que Ela deveria receber no Céu.

Assunção de Nossa Senhora, iluminura s. XV.
Columbia University, UTS MS 049
“A Igreja triunfante inteira vai recebê-la, com todos os coros de anjos; Nosso Senhor Jesus Cristo a acolhe; São José assiste à cena; depois Ela é coroada pela Santíssima Trindade.

“É a glorificação de Nossa Senhora aos olhos de toda a Igreja triunfante e aos olhos de toda a Igreja militante.

“Com certeza, nesse dia, a Igreja padecente também recebeu uma efusão de graças extraordinárias.

“E não é temerário pensar que quase todas as almas que estavam no Purgatório foram então libertadas por Nossa Senhora nesse dia, de maneira que ali houve igualmente uma alegria enorme. Assim podemos imaginar como foi a glória de nossa Rainha.

“Algo disso repetir-se-á, creio, quando for instaurado o Reino de Maria, quando virmos o mundo todo transformado e a glória de Nossa Senhora brilhar sobre a Terra”.


Vídeo: Festa da Assunção de Nossa Senhora, Cantillana, Espanha



segunda-feira, 29 de julho de 2024

Predileção de Nossa Senhora pela França explicada por São Pio X

Nossa Senhora de Paris, catedral Notre Dame, Paris.
Nossa Senhora de Paris, catedral Notre Dame, Paris.
Luis Dufaur
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Com relativa frequência ouvimos perguntar por que Nossa Senhora tem tanta complacência com a França e fala tantas vezes para e sobre ela.

Ela apareceu na Rue du Bac, em Paris, capital da França, entre julho e novembro de 1830 como Nossa Senhora das Graças e deu a Medalha Milagrosa a Santa Catarina Labouré.

Também na França, nos Alpes mais perto da Itália, apareceu em La Salette para transmitir sua mensagem em 19 de setembro de 1846.

E ainda em 1858 Nossa Senhora apareceu 18 vezes em Lourdes, no sudoeste da França, ao pé dos Pirineus perto da fronteira da Espanha, para Santa Bernadette Soubirous. E ali abriu um torrente de graças e milagres que não cessa de crescer até nossos dias.

Em todas essas aparições destinadas ao mundo a França aparece como tendo um lugar central nas preocupações, afetos e previsões da Santíssima Virgem.

Não falaremos de muitas outras manifestações da Mãe de Deus em solo francês mas de menor repercussão,

Muitos argumentos autorizados já foram apresentados para explicar essa predileção pela nação conhecida a justo título como “filha primogênita da Igreja”.

E aqui temos mais um.

Uma carta do Papa São Pio X endereçada ao bispo de Orléans por ocasião da publicação do decreto dos milagres reconhecidos de Santa Joana d'Arc, no dia 13 de dezembro de 1908.

Ela nos fornece uma explicação e um ensinamento superabundante que dispensa comentários. Reproduzimos a parte principal a continuação:

A coragem, de fato, não tem sua razão de ser, se não enquanto tem por fundamento uma convicção.

A vontade é uma potência cega quando não é iluminada pela inteligência; não se pode caminhar com pé firme em meio às trevas.

Mas, se a geração atual tem todas as incertezas e dúvidas do homem que marcha a tentas, é sinal evidente que não se tem em conta de tesouro a palavra de Deus, que é a lanterna que guia os nossos passos, é a luz que ilumina nossos sendeiros, lucerna pedibus meis verbum tuum et lumen semitis meis.

A coragem virá quando a Fé estará viva no coração, quando se praticarão todos os preceitos que são impostos pela Fé, porque é impossível a Fé sem obras, como é impossível imaginar um sol que não da luz.

São Pio X
São Pio X
E de esta verdade são testemunhas os mártires que temos comemorado, porque não é de se crer que o martírio seja um ato de simples entusiasmo, no qual se entrega a cabeça ao machado para ir direto ao Paraíso; mas supõe o exercício longo e penoso de todas as virtudes, omnimoda et immaculata munditia.

E para falar de aquela que é melhor conhecida por Vós, a donzela de Orléans, de ela que, da mesma maneira que na sua humilde aldeia natal, entre as licenças das armas se conservou pura como um anjo, soberba como um leão em todas as provações da guerra, e caridosa em relação aos miseráveis e infelizes.

Simples como uma menina no sossego dos campos e no tumulto da guerra, ela estava sempre recolhida em Deus, e era todo amor pela Ssma Virgem e pela Ssma Eucaristia como um Querubim ‒ vós o tendes dito bem, Venerável Irmão.

Chamada pelo Senhor a defender sua pátria, respondeu à vocação com uma empresa que todos, e ela mesma, acreditavam impossível; mas isto que é impossível para os homens é sempre possível com a ajuda de Deus.

Não se exagerem portanto as dificuldades para praticar quanto a Fé nos impõe, para cumprir nossos deveres, para exercitar o apostolado frutífero do exemplo, que o Senhor espera de cada um de nós, unicuique mandavit de proximo suo.

As dificuldades provêm de quem as cria e as exagera, de quem confia em si próprio sem as ajudas do Céu, de quem cede vilmente atemorizado ante os escárnios e burlas do mundo.

Pelo que é necessário concluir que, nos nossos dias mais do que nunca, a força principal dos maus é a vileza e a debilidade dos bons, e toda a medula do reino de Satanás consiste na fraqueza dos cristãos.

‒ Oh! se me fosse permitido, como o fazia em espírito o profeta Zacarias, de perguntar ao Redentor divino: o quê são essas chagas no meio de tuas mãos? Quid sunt plagae istae in medio manuum tuarum?

A resposta não deixaria muita dúvida: estas me têm sido feitas na casa de aqueles que me amavam: His plagatus sum in medio eorum qui diligebant me: por meus amigos, que não têm feito nada para me defender e que em cada encontro se fizeram cúmplices dos meus adversários.

E de esta repreensão, feita aos cristãos indolentes e covardes de todos os países, não se podem eximir muitos cristãos da França, a qual, embora fora por meu predecessor, como vós, Venerável Irmão o tendes recordado, chamada a nobilíssima nação missionária, generosa, cavalheiresca.

São Luís rei, na batalha de Taillebourg, 21-07-1242. Ferdinand-Victor-Eugène Delacroix 1798-1863, Galerie des Batailles, Versailles.
São Luís rei, na batalha de Taillebourg, 21-07-1242.
Ferdinand-Victor-Eugène Delacroix 1798-1863, Galerie des Batailles, Versailles.
Eu acrescentaria à sua glória quanto escrevia ao rei São Luíz o Papa Gregório IX:

“O Deus ao qual obedecem as legiões celestes, tendo estabelecido aqui embaixo reinos diferentes de acordo com as diversidades de lugar e de climas, tem conferido a muitos governos missões especiais para o cumprimento dos seus desígnios.

“E como outrora preferiu a tribo de Judá de entre os outros filhos de Jacó, e a dotou de bênçãos especiais, assim elegeu a França, preferindo-a de entre todas as outras nações da terra, para a proteção da Fé católica e para a defesa da liberdade religiosa.

Por isto, a França é o reino do próprio Deus, e os inimigos da França são os inimigos de Cristo.

Por isto, Deus ama a França, porque ama a Igreja, que atravessa os séculos e recruta as legiões para a eternidade.

Deus ama a França que nenhum esforço tem podido jamais separar inteiramente da causa de Deus.

Deus ama a França, onde em nenhum tempo a Fé tem perdido seu vigor, onde os reis e soldados jamais hesitaram em enfrentar os perigos e em dar seu sangue pela conservação da Fé e da liberdade religiosa”.

Até aqui Gregório IX.

Portanto, vós, Venerável Irmão, no vosso retorno eis de dizer aos vossos connacionais que, se amam a França, devem amar a Deus, amar a Fé, amar a Igreja, a qual é mãe estremosíssima de todos, como de vossos pais.

Santa Joana d'Arc. Catedral de Reims, França.
Santa Joana d'Arc. Catedral de Reims, França.
Eis de dizer que tenham em conta de tesouro os testamentos de São Remígio, de Carlos Magno e de São Luiz, que se compendiam nas palavras tantas vezes repetidas por vossa heroína de Orléans: Viva Cristo, que é o rei dos Francos.

A França é grande entre as nações somente a este título, neste pacto Deus a protegerá tornando-a livre e gloriosa.

Sob esta condição poder-se-á lhe aplicar quanto nos livros Santos é dito de Israel: “que não se encontrou ninguém que insultasse este povo, a não ser quando se afastou de Deus”, et non fuit qui insultaret populo isti, nisiquando recessit a cultu Domini Dei sui.

Não é, pois um sonho o vosso, Venerável Irmão, mas uma realidade, nem em mim há somente a esperança, mas a certeza do piedoso triunfo.

Morria o Papa, em Valence, quando a França, desconhecida e esmagada a autoridade, proscrita a religião, abatidos os templos e os altares, exilados, perseguidos e dizimados os sacerdotes, tinha caído na mais detestável abominação.

Não passam dois anos da morte de quem deveria ser o ultimo Papa e a França ré de tantos delitos, encharcada ainda com o sangue de tantos inocentes, voltou piedosa os olhos em direção a quem, elegido prodigiosamente Papa, longe de Roma, em Roma foi entronizado, e a França implora com o perdão o exercício de aquele divino poder que, no Papa, tinha tantas vezes contestado: e a França foi salva.

É possível a Deus tudo o que parece impossível aos homens. E em esta certeza me confirma a proteção dos mártires que deram o sangue pela Fé, e a intercessão de Joana d'Arc, que, assim como vive no coração dos Franceses, assim repete continuamente no céu a oração:

“Grande Deus, salvai a França!”

 
(Fonte: PII X PONTIFICIS MAXIMI ACTA, Vol. IV, Romae, ex Typographia Polyglotta Vaticana, 1914, págs. 309-313).


segunda-feira, 10 de junho de 2024

Sinais magnos nos céus pressagiam algo imenso?

Aurora austral na Tasmania, 10 de maio de 2024
Aurora austral na Tasmânia, 10 de maio de 2024
Luis Dufaur
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Uma sucessão de tempestades solares as mais poderosas vistas em mais de duas décadas atingiram a Terra nos meses de maio e junho resultando em espetaculares auroras polares, boreais e austrais, que ameaçaram o funcionamento de satélites e redes elétricas e digitais do planeta inteiro.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA [NOAA] qualificou a tempestade geomagnética de extrema, a maior desde outubro 2003, quando várias semelhantes provocaram apagões na Suécia e danos na infraestrutura energética na África do Sul.

As auroras de excepcional beleza foram fotografadas em latitudes sul e norte onde normalmente não são visíveis, incluindo localidades mediterrâneas europeias, na Austrália e na Nova Zelândia.

As tempestades também geraram espetáculos de luz deslumbrantes em partes da América Latina, incluindo uma inusual aparição no México.

Aurora boreal sobre o Mont Saint-Michel na noite de 10 a 11 de maio 2024
Aurora boreal sobre o Mont Saint-Michel na noite de 10 a 11 de maio 2024
No Chile, as auroras austrais foram muito fotografadas no céu a cidade de Punta Arenas, extremidade sul da Patagônia pintado de vermelho e magenta. Na Terra do Fogo, Argentina, foram tiradas fotos com tons semelhantes iluminando a cidade de Ushuaia.

Operadores de satélites, companhias aéreas e responsáveis pelas redes elétricas adotaram medidas de precaução contra eventuais perturbações derivadas de mudanças no campo magnético da Terra.

A maior tempestade solar desde que há registros foi o “evento de Carrington”, de 1859. Ele destruiu a rede telegráfica nos EUA, provocou descargas elétricas e foi visível até na América Central. Se fosse hoje paralisaria o planeta.

Também iluminou os céus noturnos de Portugal a passagem de um espetacular meteorito, asteroide segundo alguns,

Milhares de portugueses viram um meteorito ultra-brilhante no céu nocturno de 18 a 19 de junho 2024
Milhares de portugueses viram um meteorito ultra-brilhante no céu noturno
de 18 a 19 de junho 2024
Estes magnos fenômenos atmosféricos levaram muitos a se perguntarem se não envolvem avisos da Providencia da efetivação dos castigos anunciados por Nossa Senhora em Fátima para uma humanidade que positivamente não emendou seus maus costumes.

De fato, Nossa Senhora avisou que uma enorme luz no céu anunciaria o início da II Guerra Mundial. Ela foi vista em 1938 nos céus da Europa.

Não há menção a que estes fenômenos tenham sido sequer mencionados posteriormente, porém a analogia dos fenômenos foi muito sugestiva.


segunda-feira, 29 de abril de 2024

Santa Francisca Romana viu o inferno

Santa Francisca Romana (1384-1440) com um anjo protetor.
De nobre e rica estirpe, teve três filhos
e fundou as Oblatas de Maria.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Santa Francisca Romana (1384-1440), de nobre e rica família, casou-se muito jovem, teve três filhos, fundou as “Oblatas de Maria” e em março de 1433 também fundou o mosteiro em Tor de' Specchi, perto do Campidoglio (Roma).

Quando seu marido morreu, em 1436, ela se mudou para esse mesmo mosteiro e se tornou a prioresa.

Ernest Hello, em sua obra “Physionomies de saints”, escreve o seguinte sobre a santa:

“A vida de Francisca reside nas visões. Suas visões mais singulares, mais estupendas, mais características, são as visões do inferno. Inúmeros suplícios, variados como os crimes, lhe foram mostrados no conjunto e nas minúcias”.

“Santa Francisca Romana viu o ouro e a prata derretidos, acumulados pelos demônios nas gargantas dos avarentos”.

Ela descreveu o inferno, onde reina uma ordem às avessas, quer dizer a desordem como o princípio constitutivo da anti-ordem de satanás:

O que é uma pessoa passar uma hora com ouro ou prata derretidos e quentes dentro da garganta, sem anestésicos, sem os mil cuidados dos nossos hospitais?

Então, imaginem o que é passar a eternidade com ouro e prata derretidos na garganta. Querer engolir e não poder, queimaduras horrorosas, sensações atrozes.

Tudo isto Santa Francisca Romana viu como martírio dos avarentos.

“Viu as hierarquias de demônios, suas funções, seus suplícios e os crimes a que eles presidem”.

“Viu Lúcifer, consagrado ao orgulho, chefe geral dos orgulhosos, rei de todos os demônios e de todos os condenados. Esse rei é muito mais desgraçado do que todos os seus súditos”.

Viu, portanto um quadro completo: a hierarquia existente, o que cada demônio faz, os suplícios que sofrem e os crimes a que presidem.

Visão do inferno de Santa Francisca Romana Mosteiro de Tor de'Specchi, pintura de Antoniazzo Romano, 1468.jpg
Visão do inferno de Santa Francisca Romana.
Mosteiro de Tor de'Specchi. Pintura de Antoniazzo Romano, 1468.
Normalmente, todo rei deve ser mais feliz do que seus súditos, mora num lugar de delícias, está num trono. Um demônio, não; é mais infeliz; o rei da desgraça tem que ser mais desgraçado e, por causa disso, é ordenado que Lúcifer seja mais infeliz de todos.

“O inferno é dividido em três partes: o inferno superior, o inferno médio e o inferno inferior. Lúcifer está no fundo do inferno inferior”.

“Sob Lúcifer, chefe universal, acham-se subordinados três chefes a ele e prepostos aos demais”.

É claro, é o rei das trevas e da desordem. Nas coisas que são de Deus, o rei está acima. Mas o rei da desgraça, do crime, da infâmia, está abaixo de todos.

Ele é uma espécie de “vigário geral” para cada um dos setores do crime...

“Asmodeu, que preside os pecados da carne, era um querubim”.

“Mamon, que preside aos pecados de avareza, era um trono”.

“Belzebu preside aos pecados da idolatria”.

Os senhores vejam as tristezas: um querubim que brilhava como um puro espírito, santo aos olhos de Deus e que se transforma no demônio do pecado da carne.

Todo crime ligado às práticas de magia, do espiritismo etc., é da alçada de Belzebu. Naturalmente, a heresia, as más doutrinas, os erros contra a fé etc., são da alçada de Belzebu.

Então, vemos os quatro pecados: impureza, orgulho, avareza e idolatria. Essas são as grandes avenidas da infâmia, do crime e do inferno.

“Belzebu é particular e especialmente o príncipe das trevas. É torturado pelas trevas e é por meio das trevas que tortura suas vítimas”.

Ele está uma cegueira profunda e irremediável, num embotamento do espírito total e trágico, em que nada adianta nada. Ele mesmo sente sua própria insuficiência mental e, com isto, atormenta também as vítimas dele que caíram no inferno.

Santa Francisca Romana: visão do inferno. Mosteiro de Tor de'Specchi, Roma. Antoniazzo Romano, 1468, detalhe superior.
Santa Francisca Romana: visão do inferno.
Mosteiro de Tor de'Specchi, Roma. Antoniazzo Romano, 1468, detalhe superior.
“Uma parte dos demônios fica no inferno; outra reside no ar e outra reside entre os homens, buscando a quem devorar”.

“Os que ficam no inferno dão as suas ordens e enviam seus deputados; os que residem no ar agem fisicamente sobre as perturbações atmosféricas e telúricas, lançam por toda parte influências más, empestam o ar física e moralmente”.

Há, portanto, três “habitats” de demônios.

A ideia do ar moralmente empestado é muito reveladora. Em certas grandes metrópoles, por exemplo, quando a gente avista ao longe São Paulo, vê-se uma espécie de névoa pairando sobre a cidade e que é a síntese de todas as poeiras, sujeiras e impurezas danosas para a respiração.

Os médicos legistas, nos necrotérios, vendo o pulmão do morto sabem se a pessoa morou em uma metrópole ou no interior do Estado. O pulmão de quem morou no interior é rosado e o de quem morou, por exemplo, em São Paulo é carregado desses ares poluídos.

Tem-se a impressão de qualquer coisa de maldito pairando no meio dessas influências físicas más. Isto é o resultado da ação de demônios dessa natureza.

“O seu escopo é principalmente debilitar a alma. Quando os demônios encarregados na terra veem uma alma debilitada pela influência dos demônios do ar, atacam-na no seu esmorecimento para vencê-la mais facilmente”.

“Atacam-na no momento em que ela desconfia da Providência”.

Por vezes passando por algum lugar percebe-se que ele é mais propício ao pecado. Não é absurdo admitir que aquele lugar seja infestado por algum demônio do ar, que o empesta, que cria ali condições inconvenientes para a prática da virtude.

Sete demônios lhe aparecem sob a forma de ovelhas elogiando suas virtudes, mas ela zombou deles. Então se transformaram em lobos que tentavam devorá-la (Mosteiro de Tor de Specchi, Roma)
Sete demônios lhe aparecem sob a forma de ovelhas elogiando suas virtudes,
mas ela zombou deles. Então se transformaram em lobos
que tentavam devorá-la (Mosteiro de Tor de Specchi, Roma)
Depois, um demônio da terra atua ali mesmo e na ação que ali desenvolve, atormenta, persegue a alma, já debilitada, para ela cair mais depressa.

Por isso é tão recomendável o “Livro da Confiança” (do Abbé Thomas de Saint Laurent). Porque quando se desconfia da Providência é a hora em que todas as tentações vêm. Enquanto a pessoa é confiante, a tentação pode vir, mas tem um âmbito restrito.

“Esta desconfiança de que os demônios do ar são especialmente inspiradores preparam a alma para a queda que os demônios da terra dela vão solicitar”.

Essa tentação pode vir assim: “Não adianta resistir... Você vai cair mesmo... Renda-se, entregue-se!...” Isto já é o demônio da terra que está preparando o campo para o pecado próximo.

“A partir do momento em que ela esteja enfraquecida pela desconfiança, inspira-lhe o orgulho, em que ela tanto mais facilmente cai, quanto mais débil se encontre”.

“Quando o orgulho lhe tenha aumentado a fraqueza, chegam os demônios da carne que lhe insuflam seu espírito; quando os demônios da carne a enfraqueceram ainda mais, chegam os demônios incumbidos dos crimes de dinheiro”.

“E quando este (demônio do dinheiro) tenha nela diminuído mais ainda os recursos da resistência, chegam os demônios da idolatria que completam ou rematam o que os outros começaram. E assim é uma crise espiritual completa”.

Quer dizer, a pessoa tentada fica amuada e irritada, com seu orgulho ferido: é o demônio que está inspirando o orgulho à pessoa.

Portanto, há um espírito do demônio da carne que toma conta da pessoa quando ela não se prepara e não se fecha à tentação. Depois vem, então, o amor à ganância.

Começa pela desconfiança em Deus, passa para a impureza, depois ao orgulho, chega até a avareza e acaba na idolatria. E é o esboroar completo da alma através de ondas sucessivas de demônios que lhe vão atacando.

O demônio fingiu ser Santo Onofre para dissuadi-la de fundar as Oblatas.
O demônio fingiu ser Santo Onofre para dissuadi-la de fundar as Oblatas.
“Todos se combinam para o mal e aqui se tem a lei da queda: todo pecado no qual se apraz arrasta a outro pecado. Assim, a idolatria, a magia e o espiritismo aguardam no fundo do abismo aqueles que de precipício em precipício lhe escorregam nas cercanias.

“Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem licença de Lúcifer.

“Os demônios que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente a pena de fogo, mas aturam outros suplícios terríveis e particularmente à vista do bem que fazem os santos”.

O demônio fica atormentado ao ver o bem que fazem os santos e aqueles que não são santos, mas que procuram imitar os santos.

Os demônios sofrem terrivelmente vendo um ato público de virtude. Porque eles sofrem mais em ver o bem do que em todos os tormentos do inferno.

Houve um santo que chegou a dizer o seguinte: o fato de Deus mandar o demônio para o inferno, foi também um ato de misericórdia, porque o demônio sofreria muito mais se tivesse que ver a Deus.

Ele odeia tanto a Deus, que prefere os piores tormentos do que estar vendo a Deus. Por causa disso o tormento do ato de virtude lhe é crudelíssimo. O homem que faz o bem inflige ao demônio uma tortura tremenda.

“Quando Santa Francisca era tentada, sabia pela natureza e pela violência da tentação de que altura caíra o anjo tentador e a que hierarquia pertencera”.

Isto é entender do assunto!... Saber se foi tentado por um querubim, ou por um trono! Vejam que admirável! O que é o discernimento dos espíritos de uma santa!

“Porém, quando uma alma é salva, também o demônio tentador é escarnecido pelos outros demônios”.

“É conduzido perante Lúcifer que lhe inflige um castigo especial, distinto das suas outras torturas”.

Capela do Mosteiro de Tor de'Specchi das Oblatas de Santa Francisca Romana
Capela do Mosteiro de Tor de'Specchi das Oblatas de Santa Francisca Romana
Deve ser uma cena de uma molecagem infame quando um demônio volta frustrado para o inferno após haver fracassado!...

Uma sarabanda de caçoadas terríveis, de apodos etc., em que ele volta zombando também e todos os demônios se recolhem frustrados aos seus respectivos antros e lá ficam coaxando eternamente, até vir sobre eles um novo tormento igualmente merecido.

Assim se pode ter uma alegria a mais rechaçando o demônio tentador porque sabemos que aquele demônio vai para o inferno sofrer um tormento especial e que a alma tentada é vingada.

“Este demônio entra às vezes, em consequência, no corpo de animais ou de homens e então faz-se passar pela alma de um morto.

“Quando o demônio conseguiu perder uma alma, após a condenação dessa alma, torna-se o tentador de outro homem, porém é mais hábil do que na primeira vez. Aproveita a experiência que lhe deu vitória, é mais hábil e forte para perder”.

Isso fala em favor da tese de que há um “demônio da perdição” de cada um assim como existe também um Anjo da Guarda.

Isto é muito bom para adquirirmos um verdadeiro ódio ao nosso “demônio da perdição” e para tomarmos uma tática de combate em seu confronto.

Devemos pedir a Santa Francisca Romana que ela nos dê o suficiente discernimento para compreendermos quais ações são do demônio, para odiá-las e talhá-las logo que se iniciam.

Muitas vezes o demônio se apresenta por vias indiretas, sugere-nos coisinhas que parecem insignificantes, uma pequena ideia fixa a respeito de uma ninharia. Por exemplo, uma pessoa que nos olhou de modo “atravessado”.

E a gente começa a achar meio deleitável pensar nisto: “o que aquele fulano fez? Ele me olhou de atravessado!... Lembra-se de tal caso? De tal outro?”

É a ação do demônio... E como é que a gente faz? Corta essas coisas no começo! Há um princípio de sabedoria que diz “principia obstat”, corte no começo! Caso contrário, não adianta.

Tudo quanto é ideia fixa, gosto de ficar se remoendo com ideias que aborrecem, agitação, perturbação, isso é início da ação diabólica que deve ser cortado energicamente!

Vamos Santa Francisca Romana nos dê o discernimento de tudo isto e nos faça compreender como o católico precisa estar preparado para lutar contra essa pluralidade de influências.

E nos previna contra uma doutrina errada mas tão frequente de que a tentação do demônio só é aquela que nos leva diretamente para o pecado e que quando não leva para o pecado diretamente, isso não é do demônio.

Não senhor! Aquilo que prepara o ambiente para o pecado, já é tentação do demônio.

Então, as perturbações, as cóleras, as agitações, as fermentações da imaginação, facilmente podem ser tentações do demônio e a gente precisa se precaver contra elas.

Vamos pedir a Santa Francisca Romana que nos dê uma clara e lúcida visão dessas verdades.





Mons. Athanasius Schneider: o diabo existe e os impenitentes acabam no inferno (legendado em português)



Bispo auxiliar de Astana, capital do Cazaquistão, responde sobre a existência do demônio, do inferno e dos que vão para lá eternamente. (legendado em português)