Pe. João Baptista Reus SJ e sua assinatura |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Fiel à disciplina face a prenúncios de tempestade na Igreja
Mas a contestação de que falamos no post anterior não era geral, poderia ser atribuída com propriedade às minorias que ansiavam pela revolução eclesiástica que vinha se incubando e provocou a crise religiosa e litúrgica atual.
Um bom número de seminaristas ficou encantado com seus ensinamentos, criando uma nomeada de professor sério de Liturgia que se espalhou por todo o país de modo sem precedentes, como veremos.
Um deles escreveu: “O que nos penetrava o coração da instrução religiosa, eram as suas palavras cheias de unção, palavras que traiam íntima familiaridade com as coisas de Deus. Quantas vezes, depois da aula, eu ia à capela para agradecer a graça de ser aluno de um santo” (Kohler, op.cit, p.91).
Outros ressaltaram a “profunda emoção” que lhe suscitavam as matérias litúrgicas que ensinava e externava a vontade de consagrar o Brasil e a América a Deus.
Insistia na ordem, pontualidade, atenção e aplicação. “Seu olhar calava fundo, de modo que muitos achavam que ele lia na alma”, mas nas exposições sabia usar uma mímica, uma viveza e até uma veemência que, de caso pensado, provocava sonoras gargalhadas (Kohler, op.cit, p.92)
Era grande admirador do canto gregoriano e promoveu a compra discos para iniciar os seminaristas nesse sublime canto.
Todas aquelas contrariedades, dolorosas porque provinham até de irmãos de vocação em nada mudaram sua vida mística que foi crescendo em desconhecida proporção.
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Objetos vinculados ao Padre Reus SJ |
Em 11 de fevereiro do mesmo ano “vi um forte raio de luz saindo dos estigmas” (AeD, vol2, nº 1164).
Em 27 de outubro de 1924, indo para a chácara dos padres jesuítas “Mal saíra de casa, o Amado Salvador já estava ao meu lado esquerdo, um pouco à frente. Não o vi com olhos corporais, porque eu o via mesmo com os olhos fechados” (AeD, vol2, nº 1182)
Em 24 de novembro de 1927 lhe foi comunicado que seria preservado do purgatório, após rezar as palavras da Santa Missa para antes da Comunhão: A Te nunquam separari permittas – Jamais permitas separa-me de Ti (AeD, vol2, nº 1242). A promessa divina foi renovada em diversas ocasiões e lhe fez compreender a eficácia real daquelas palavras da Missa.
Desde então as palavras – em latim, único rito latino usado – da Missa começaram a ser ocasião de fenômenos místicos reveladores do efeito sobrenatural da Missa bem rezada.
Sua integridade de costumes e trato com os alunos lhe atraiam cada vez mais as oposições inclusive de seus superiores religiosos já minados pelo relativismo que daria no desfazimento moral geral de nossos dias.
O Dr Plinio Corrêa de Oliveira agindo no setor leigo da Ação Católica também constatou a sorrateira luta dessa relativização crescente nos costumes, nas doutrinas e no respeito da hierarquia no movimento católico como ficou consignado em suas memórias autobiográficas.
Mais um testemunho de líder católico contemporâneo do Pe. ReusDr. Plinio via germinar com décadas de antecipação a explosão que depois devastou o laicato católico no período pós-conciliar. O Pe Reus, no ambiente clerical e numa situação diversa e sem conexão com Dr. Plinio, reagia no mesmo sentido.Confira: "Minha Vida Pública": uma prodigiosa fonte de informação exclusiva para compreender a história do Brasil e da Igreja.
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O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que foi aluno dos jesuítas no Colégio São Luis, na atual avenida Paulista em São Paulo comentou do Pe. Reus:
O Prof. Plinio foi presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo e manteve estreitas relações com os líderes eclesiásticos e civis católicos do Brasil todo. Tirou da insignificância e dirigiu o jornal “O Legionário” – hoje “O São Paulo” – com difusão nacional.
É uma testemunha privilegiada contemporânea do Pe. Reus e cultivou valiosas amizades com padres jesuítas de São Paulo e também alguns de São Leopoldo.
Pela amizade com alguns noviços ou ex-noviços de São Leopoldo ouviu relatos da vida e dos fenômenos místicos extraordinários do Pe. Reus que corriam de boca em boca.
“O jesuíta alemão Pe. Reus que viveu 47 anos no Rio Grande do Sul onde morreu tinha a cara mais simpática que uma pessoa possa ter.
“Mas a cara simpática de um homem de alta ascese, de princípios muito firmes e reto”, disse dele.
“Os estudantes pintavam o caneco. O padre Reus disciplinava. Os jovens reclamavam e o Diretor do Colégio lhes dava razão.
– Pe. Reus, a gente não apanha moscas com vinagre, mas com mel! O senhor quer atrair esses meninos para Nosso Senhor, seja a imagem da doçura de Nosso Senhor. Então não aperte. Não insista nas coisas que são duras.
– Pe. Superior, isso eu não posso. É contra a minha consciência, porque a Doutrina Católica manda outra coisa.
– O senhor não compreende? Os tempos mudaram!
– Mas, Pe. Superior, mudou a doutrina?
– Vai lá com as irmãzinhas, e por toda parte e o Sr encontra esse espírito.
“Ele foi sendo posto de lado quando estava em plena fase de produção, recebendo continuamente as mais admiráveis visões de Nosso Senhor e de Nossa Senhora!
“A respeito das quais o Superior lhe deu ordem de registrar todas.
“Eram visões extensas, passava horas escrevendo.
“Assim foi mais ou menos até a morte dele, o resto da vida”.
(Anotações de palestra de 17/1/89, sem revisão do Autor)
Um outro exemplo em 1933 “o Prefeito Geral falou de seu modo de agir com confiança em relação aos alunos. Eu, no entanto, sabia das dificuldades que surgiram sob sua direção. ...
“Essa exagerada ênfase na confiança eu já não denominaria mais de confiança, porém de ‘credulidade’. ... o Prefeito Geral apresentava essa metodologia em oposição à já usada comumente na Companhia de Jesus.
“Esta pede confiança, mas confiança cautelosa. Foi exatamente desta forma que atuou Dom Bosco, o experiente Mestre da Educação Moderna” (AeD vol2, nº1380).
Escritos e murmurações se multiplicaram contra o fiel filho de Santo Inácio sempre martelando contra seu comportamento íntegro tradicional.
Mais um caso em 1934: foi encomendado para a biblioteca o livro ‘Santo Agostinho’ de Papini.
Giovanni Papini (1881 –1956) foi um escritor italiano cético que se se declarou católico fervoroso, mas seus livros geraram grandes discussões e controvérsias.
Dirigiu revistas todas elas consideradas de vanguarda, e em verdade suspeitas. Foi mais um arauto da revolução que serpejava nos ambientes católicos. Cfr. Wikipedia, verbete Giovanni Papini.
“Notei logo, escreveu o Pe Reus, que a juventude do santo [N.R.: período de heresias e vida imoral que Santo Agostinho chorou a vida inteira] está representada com falta de critério, com observações eventualmente fortes, que estimulam a sensualidade.
“Pode-se dizer a verdade total e abertamente, sem ser tão sensual ... Não permiti que fosse usado para uma leitura comunitária” (AeD vol2, nº1542).
Em São Leopoldo as tensões cresciam impulsionadas pelas tendencias revolucionárias relativistas se abrindo ao pecado.