segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Segredo de La Salette desaparece
e é redescoberto inesperadamente

Beato Pio IX
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





continuação do post anterior: La Salette recebe o reconhecimento oficial da Igreja




A longa e complicada história do Segredo de La Salette


O Bem-aventurado Papa Pio IX aprovou enfaticamente a mensagem de La Salette.

Se a mensagem de Nossa Senhora fosse de pouca transcendência, a decisão do Santo Padre e o solene e excepcional reconhecimento da aparição por parte do bispo diocesano teria posto fim às polêmicas.

Porém a tempestade, longe de amainar, recrudesceu ao máximo.

Vendo que a obra de Nossa Senhora progredia com a bênção do Papa, tais maus católicos, eclesiásticos e leigos, passaram à contestação e à difamação aberta, com intrigas e escritos desabonadores.

Eles eram uma minoria, mas muito ativa e com fortes cumplicidades no governo e nos antros anticlericais.

Novo bispo de Grenoble se volta contra La Salette

Mons. de Bruillard defendeu a autenticidade da aparição e a difusão da mensagem. Mas, sendo já muito idoso, teve que renunciar à diocese.

O imperador Napoleão III e o Cardeal Jacques Mathieu, líder dos bispos galicanos que contestavam prerrogativas irrevogáveis da Santa Sé, impingiram seu candidato para a sucessão: Mons. Jacques Ginoulhiac.

Assim que o Vaticano foi informado disso, desaprovou a nomeação do novo bispo e urgiu ao Núncio Apostólico em Paris para que impedisse a posse.

A Concordata da época, infelizmente, concedia regalias, abolidas depois, ao governo civil para a designação de bispos. O novo prelado tomou posse da diocese antes de chegar o veto de Roma.

D. Jacques-Achille Genouilhac, novo bispo de La Salette foi contra a mensagem
Mons. Ginoulhiac voltou-se contra o Segredo de La Salette
e contra o próprio Papa
O Beato Pio IX tinha razões por demais graves para não aprovar a nomeação: Mons. Ginoulhiac era um líder liberal.

Posteriormente foi grande opositor à proclamação do dogma da infalibilidade pontifícia, a ponto de abandonar Roma para não participar do dia glorioso da promulgação desse dogma no Concílio Vaticano I.

Era também acérrimo inimigo da mensagem de La Salette.

Não muito tempo depois da instalação do novo bispo, dois eclesiásticos da diocese publicaram sem licença um libelo difamatório contra os videntes, com a assinatura de mais 50 padres.

O Papa exortou Mons. Ginoulhiac a permanecer dentro dos limites do Direito Canônico e lhe pediu que defendesse a aparição de Nossa Senhora em La Salette.

Mons. Ginoulhiac condenou o libelo e aparentou aceitar a solicitação do Pontífice. Mas continuou empenhado em abafar a mensagem e silenciar os pastorinhos.

Católicos liberais, poderes civis e associações anticatólicas sabiam que se a mensagem fosse bem recebida, a causa da Revolução estava perdida.

Para complicar ainda mais o quadro, vários pseudo-videntes espalhavam mensagens parecidas, mas falsas.

Uma pretensa mística, a condessa Pauline de Nicolay, dizia transmitir revelações que desclassificavam moralmente os pastores.

Propôs sibilinas fórmulas, avidamente endossadas pelo bispo liberal, no sentido de que o papel de Mélanie e Maximin havia terminado antes de 1858, ano no qual deviam revelar a íntegra do segredo.

Segundo essa falsa vidente, eles deveriam ser afastados e interditados de voltar a falar do caso. Dessa maneira eles nunca poderiam revelar o segredo como Nossa Senhora pediu.

Acresce que inimigos velados de La Salette, aventureiros ou políticos interesseiros colocaram em circulação versões embaralhadas da mensagem e até adulteradas.

Pretendiam justificar posições políticas previamente adotadas ou simplesmente desmoralizar as palavras de Nossa Senhora.


Proibição da mensagem de La Salette e maravilhosa redescoberta no século XX


Papa Bento XV, Library of Congress
S.S. Bento XV. Foto: Library of Congress
Após a publicação do segredo de La Salette na data prescrita, os inimigos da mensagem exacerbaram ainda mais a oposição.

A polêmica entre os franceses atingiu uma tal confusão, que a Santa Sé, por meio de decreto do Santo Ofício de 21 de dezembro de 1915, proibiu a publicação de toda a versão do segredo.

Esta decisão, entretanto, de maneira alguma desencorajava a devoção a Nossa Senhora de La Salette.

Em 9 de maio de 1923, uma edição do segredo com imprimatur do bispado de Lecce, na Itália, datado de 15-11-1879, foi inscrita no Index de livros proibidos.

Pareceria assim que nosso século não conheceria o segredo revelado em La Salette.

Para deslindar a controvérsia, impunha-se conferir os documentos originais dos videntes.

Entretanto havia uma dificuldade aparentemente insuperável: os originais redigidos pelos videntes e enviados à Santa Sé tinham desaparecido no próprio Vaticano.

A proibição vaticana baseava-se precisamente na impossibilidade de conferir com os originais autênticos as versões em circulação. Com isso pareceu que toda difusão pública tinha ficado bloqueada, talvez para sempre.

No ocaso do século XX o sacerdote francês Pe. Michel Corteville preparava sua tese de doutorado, e escolhera o tema La Salette.

Informado de que a Congregação para a Doutrina da Fé tinha liberado ao público os arquivos anteriores à morte do Papa Leão XIII, ocorrida em 20-11-1903, obteve licença para pesquisar neles.

Porém as informações dos bibliotecários foram desanimadoras. Os documentos de La Salette que ele procurava estavam definitivamente perdidos! O Pe. Michel mudou então o foco de suas pesquisas.

Découverte du secret de La Salette, Laurentin-Corteville
Livro dos padres Laurentin e Corteville
Em 2 de outubro de 1999 o Pe. Michel abriu mais uma caixa contendo velhas pastas de arquivo e maços de papel amarrados e mal identificados.

Do lado de fora de uma delas estavam escritas datas do pontificado de Leão XIII.

Mas dentro – ô surpresa! – havia pastas do tempo de Pio IX.

E numa delas, todo o dossiê com os documentos originais relativos a La Salette, inclusive as várias redações do segredo!

Quando o Pe. Michel contemplava maravilhado os velhos documentos do pacote recém-aberto, o sino anunciou o fim do horário de consultas.

Ele voltou à sua residência com uma alegria inexprimível: acabava de redescobrir os documentos oficiais de La Salette, encaminhados ao Beato Papa Pio IX e à Santa Sé em diversas datas.

A partir de então o Pe. Michel pôde estudar minuciosamente esses documentos e dissipar as dúvidas que pairavam sobre o assunto.

Os resultados desse trabalho formam parte da tese de teologia que ele defendeu com sucesso no dia 26 de outubro de 2000 na célebre Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino "Angelicum", da Ordem Dominicana, em Roma.

Essa tese (Pars Dissertatio ad Lauream Facultatis S. Theologiae apud Pontificiam Universitatem S. Thomae de Urbe, Roma 2000), de mais de mil páginas, foi publicada sob o título A Grande Notícia dos Pastores de La Salette (La Grande Nouvelle des bergers de La Salette), em dois tomos.

Tomo 1: La Grande Nouvelle des bergers de La Salette - L’apparition et les secrets, éd. Téqui, Paris, 2008, 2ª edição, 560 páginas; e

Tomo 2: La Grande Nouvelle des bergers de La Salette - Mélanie et l'appel des 'Apôtres des derniers temps', éd. Téqui, Paris, 2008, 720 páginas)

A tese foi resumida e publicada em livro com a colaboração do Pe. René Laurentin, sob o título A descoberta do Segredo de La Salette (Découverte du secret de La Salette, Paris, Fayard, 2002).

O livro tem o Imprimatur de Mons. Michel Dubost, Bispo de Evry, e o nihil obstat de Dom Bernard Billet, da abadia de Notre Dame de Tournay.

É por intermédio deste trabalho que podemos agora ler tranquilamente o segredo completo de La Salette, com a certeza de termos em mãos a mais autorizada e completa versão.


continua no próximo post: “Morte” e “ressurreição” de La Salette foi profetizada por Mélanie


3 comentários:

  1. Algumas fontes dizem que a perseguição à mensagem de La Sallete deu-se principalmente não pela objeção dos eclesiásticos, senão pela livre interpretação das palavras do segredo feitas por iluministas, maçons e laicistas franceses que utilizavam as frases da Virgem Santíssima para desestruturar a credibilidade do Santo Padre da época, bem como dos Estados Pontifícios.

    Caríssimo, essa informação procede com os fatos?

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  2. Após o concílio a fumaça de Satanás entrou no Vaticano. Poderia estes a trabalho para a Sinagoga de Satanás ter adulterado ou mesmo adicionado algumas partes ao original. Creio na aparição, mas sabendo da profecia do anto Cristo fiquei com um.pé atrás. Mas como católico as aparições não são um dogma, vou me recusar a acreditar na parte só anti cristo dessa profecia, boa parte encontrada e editada após 1962.

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