Santo Aníbal Maria Di Francia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: O Calvário de Mélanie
Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927), apóstolo da oração pelas vocações sacerdotais, considerava Mélanie como co-fundadora de suas religiosas, as Filhas do Divino Zelo do Coração de Jesus, conhecidas como rogacionistas.
O santo teve o desejo de que as orações e sacrifícios destas religiosas pelas vocações sacerdotais preparasse a vinda dos apóstolos dos últimos tempos.
Santo Aníbal pronunciou o elogio fúnebre da vidente nas catedrais de Altamura e Messina, na Itália, por ocasião do enterro.
Também abriu uma casa das Filhas do Divino Zelo em Altamura, para guardar os restos de Mélanie numa capela da ordem.
Ele preparou o processo diocesano de beatificação da vidente, mas não pôde introduzi-lo, pois foi chamado ao Céu.
O testemunho de Santo Aníbal Di Francia é excepcional, pois foi diretor espiritual e confessor da vidente durante os últimos anos da sua vida.
Conheceu muitos segredos de consciência e pôde analisar as qualidades de sua alma.
Santo Aníbal pronunciou um histórico sermão, em 19 de setembro de 1920.
A ocasião foi o traslado dos restos mortais de Mélanie ao monumento fúnebre que o santo preparou na igreja da Imaculada, na cidade de Altamura, onde jazem até hoje.
Destacamos alguns tópicos desse histórico sermão:
“Vós não ignorais como, tendo ela atingido a idade de 15 anos, aconteceu sobre a montanha de La Salette, na França, a famosa aparição da Santíssima Virgem Maria (...)
“Assim que foi conhecida, aquela aparição abalou com um sagrado terror os dois mundos.
“As ameaçadoras palavras da Mãe de Deus, a forma como apareceu, de Senhora em prantos imersa na maior das tristezas, os flagelos que anunciou, os dois misteriosos segredos que confiou aos dois pastorinhos, tudo contribuiu a impressionar as almas dos fiéis das cinco partes do mundo, a comove-los, a penetrá-los de um salutar temor de Deus.
“Em pouco tempo surgiram igrejas dedicadas à Santíssima Virgem de La Salette na França, na Itália, na Áustria, na Espanha, em toda a Europa católica e até nas longínquas Américas.
“Foram feitas estações e imagens sacras que a representavam nas três posições: sentada sobre uma pedra, com o rosto entre as palmas das mãos; ereta em pé, falando com os pastorinhos; e elevando-se aos céus para desaparecer numa nuvem de esplendor.
“Bem cedo formaram-se confrarias com o título de La Salette, foram estabelecidas festas anuais, oratórios sagrados de onde refulgiam as glórias da Dolorosa Senhora dos Alpes franceses. (...)
“Mas, em meio a todo este espetáculo de devoção e amor geral, uma criatura aparecia ante o olhar de todos como um ideal de inocência que se eleva ao céu, uma criatura que se transformava quase num anjo, como refletindo em si os raios sobre-humanos da Rainha do Céu e da Terra: Mélanie!
“Este nome, que é tão belo, doce e suave de pronunciar, estava nos lábios de todos.
“Uma pastorinha que ia solitária sobre montanhas inacessíveis dos solitários Alpes da vertente da Sabóia, que guiava tenros cordeirinhos e mansas vacas, foi ali maravilhosamente visitada pela Grande Mãe de Deus, que lhe falou, que lhe confiou um segredo, que a cativou com sua presença, que lhe encravou no seu tão jovem coração um dardo da dor que traspassa a dolorida Mãe de Deus e dos homens.
“Veem-na assim os fiéis do mundo inteiro, por meio da comovedora narração daquele sagrado evento.
“Tudo isso, oh meus senhores, atraía, arrebatava os corações com sentimentos de afeto, de simpatia sagrada, íntima, em nada profana, em relação à privilegiada donzela.
“Oh! quantos desejaram vê-la, ouvi-la falar, dar um beijo na franja de seu vestido!
“Ela me disse um dia, com tanta simplicidade: Foi-me dito uma vez que depois da aparição eu seria transformada num sinal de louvor e admiração, mas não percebi nada!
“Todos acreditaram que foi a aparição da Santíssima Virgem que abriu a mente da humilde filha de Pierre Calvat para o conhecimento das coisas do Céu.
Mélanie, imagem no santuário de La Salette
“E que, por isso mesmo, depois da aparição ela foi aceita e instalada numa escola de freiras para ser instruída. Mas enganam-se.
“Mélanie Calvat, como ela própria escreveu em suas memórias, redigidas por ordem da obediência, texto que transborda a mais estrita veracidade, desde a tenra idade de um ano via o Menino Jesus.
“Ela saía cambaleante, impulsionada por um misterioso instinto, até um bosque vizinho, onde acabava caindo e o Menino Jesus a levantava e a reconduzia à casa. Ela não entendia nada disto.
“Mas o compreendeu bem quando atingiu a idade de três anos. Expulsa da casa paterna, refugiou-se no bosque e ali permaneceu vinte dias.
“Numa visão sublime que teve na primeira noite, o Menino Deus lhe mostrou todo seu futuro cheio de espinhos e de cruzes de toda espécie.
“Foi naquele bosque que o Divino Mestre, chamando-a de irmã, – irmã de meu coração – a alimentava, dando-lhe de comer violetas, e a instruía sobre os rudimentos da Religião cristã, a começar pelo sinal da cruz.
“Foi naquele bosque que Ela a convidava a recolher flores.
“Foi naquele bosque que uma outra vez – ouvi bem, oh senhores! e ficai pasmos – foi naquele bosque que, não tendo ela completado cinco anos o Menino Jesus apareceu com a mesma idade para Mélanie.
“Depois de lhe ter narrado sua dolorosa Paixão, depois de ter suscitado nela o mais ardoroso desejo de ser crucificada com Ele, ela disse: Dai-me, dai-me, irmão meu, tuas chagas, teus espinhos.
“O divino Mestre coroou-a com os espinhos e atravessou suas mãos pequeninas, seus pequenos pés e seu coraçãozinho com os sagrados estigmas.
“Admirabilíssima, singularíssima, talvez única graça é receber estas feridas de amor na idade de cinco anos incompletos! (...)
“Dois anos antes de lhe aparecer a Santíssima Virgem sobre a montanha de La Salette, ela teve uma maravilhosa visão da Santíssima Trindade, na qual Deus Filho, na presença de Deus Pai e do Espírito Santo, assistido pela Santíssima Virgem Maria e por fileiras de Anjos, de Virgens e de Santas, lhe pôs o anel de esposa.
“Ela estava nesse momento ajoelhada num campo solitário, onde pastoreava o rebanho de seus patrões.
“Mas a aparição de La Salette a tirou de sua amada solidão e a expôs à vista de todo o mundo. Então abriu-se para ela um novo gênero de vida, cheio de tribulações por um lado, mas também de novos carismas divinos por outro lado. (...)
La Salette, litografia de Charpentier, Nantes, 1852
“Não acreditamos que tenha acabado nossa missão em relação à piedosa Serva do Senhor.
“Temos tomado o cuidado de proceder à inumação dos restos mortais de Mélanie Calvat com todo o rito requerido pela Santa Igreja para aqueles que morrem em odor de santidade, a fim de que se possa iniciar o processo informativo das virtudes heroicas e dos prodígios da Serva do Senhor.
“E os prodígios não demoraram a aparecer. Parece que Mélanie tenha tido em vida o dom dos milagres, e o tenha tido até depois da morte.
“Já tem feito um milagre estrepitoso em Taormina, província de Messina onde temos uma casa para órfãos, na pessoa de uma jovem que morria por causa de uma grave úlcera no estômago, e que já tinha recebido o viático e a extrema-unção.
“Ela lhe apareceu em pessoa, dizendo: Eu sou Mélanie, e venho te curar. Tocou-a e a curou instantaneamente. A súbita e total cura foi atestada pelos dois médicos responsáveis. Existem outras graças prodigiosas. (...)
“Não deixeis no olvido tamanho tesouro. Vinde a este túmulo, aguardai alguma coisa da intercessão da Serva do Senhor.
“Sabei que a França inteira ficará tomada de uma santa inveja para convosco no dia em que, como queremos esperar, este túmulo será glorificado não mais com o simples concurso vosso, altamuranos e futuras filhas deste pio instituto, mas com o concurso de peregrinos de diversos povos que, além da própria França, aqui virão para prestar honras à afortunada pastorinha de La Salette, quando a Santa Igreja a terá elevado aos altares, rodeada com a luminosa auréola dos Santos!”
continua no próximo post: Papas São Pio X e Beato Pio IX falaram de La Salette
Realmente a vida de Mélanie foi de predestinada desde a tenra infância. Aguarda-se um segundo milagre para sua canonização. Foi isso que compreendi.
ResponderExcluirTanta religiosidade que se dissipou pelos tempos .
ResponderExcluirNos tempos actuais como se necessita deste apego ...creio que já nem se sabe orar ...
Obrigada ,PROFESSOR.