domingo, 8 de novembro de 2020

“O Ermitão tinha razão”!!! (Beato Palau)

“O Ermitão tinha razão”!
“O Ermitão tinha razão”!
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







No dia 7 de novembro a Igreja comemora a festa litúrgica do bem-aventurado Francisco Palau y Quer O.C.D.

O religioso nasceu no dia 29 de dezembro de 1811 em Aitona, na província espanhola de Lérida, e faleceu em 20 de março de 1872 em Tarragona esgotado pelo socorro prestado às vítimas de uma epidemia.

A missão do Beato Palau perpassa os séculos, porém é muito menos conhecida do que merece.

Sua Aitona natal é uma minúscula cidade. A casa onde nasceu se conserva como um pequeno museu-relicário penetrada de imponderáveis católicos e de tradições espanholas.

Chamado ao sacerdócio ingressou no seminário diocesano de Lérida. Nessa cidade havia uma igreja do Carmo que passou a frequentar porque sentia uma atração profunda.

Quis ingressar no Carmo, mas os religiosos julgavam que não tinha vocação. Até que certo dia, enquanto os frades rezavam no coro e o seminarista Palau assistia nos bancos dos fiéis, Santo Elias, o profeta fundador do Carmelo teria descido do altar principal e lhe imposto a capa branca carmelitana.

Foi então enviado a principal casa carmelitana da Catalunha, o convento de São José em Barcelona. 

Padre Palau, quando era seminarista diocesano

Ainda noviço estourou uma das tantas revoluções anticlericais e antimonárquicas que perturbaram toda sua vida com contradições e perseguições.

O superior, temendo o pior, dispôs que os mais novos fugiriam a um esconderijo previsto enquanto o Prior e os mais velhos resistiam às hordas comunistas.

Os que ficaram morreram mártires e os fugitivos, entre os quais o noviço Palau, salvaram a vida, mas acabaram presos.

O governo revolucionário proibiu as ordens contemplativas e o noviço Palau se recluiu na gruta Cueva del Padre Palau que hoje é local de romaria.

Ali viveu como sempre desejou: como um ermitão, isolado do mundo, entregue à oração, à penitencia, ao estudo dos grandes problemas teológicos e os horizontes apocalípticos que os fatos políticos mundiais vinham desvendando.

Especialmente desenvolveu sua devoção à Igreja considerada enquanto pessoa mística, atacada pela Revolução comandada por Satanás desde a primeira revolta no Céu.

Também completou seus estudos sacerdotais e foi ordenado sacerdote secular pelo bispo de Barbastro.

Entre as orações, estudos e reflexões, atendia sacramentalmente aos pastores e camponeses dessa região montanhosa pirenaica, que também assistiam à sua Missa.

Os populares lhe atribuíam milagres, mas ele não gostava falar disso. 

Sua fama crescia e três jagunços foram pagos para eliminá-lo. Ele os enfrentou e convenceu de que o que eles precisavam era da confissão. Os confessou e partiram em paz.

A 'Cueva del Padre Palau', Aitona, Espanha
A 'Cueva del Padre Palau', Aitona, Espanha

Mais uma turma de assassinos a soldo apareceu outra vez e ele achou que eram seus últimos momentos. Ajoelhou-se ante a imagem da ermida e fez as orações dos moribundos. 

Os bandidos invadiram o local, andavam em todas as direções e não o viam e ele os via. Afinal saíram correndo atrás dele pela estrada, evidentemente errada.

O bispo lhe aconselhou se exilar na França, onde passou onze anos até 1851.

Lá restaurou ou criou várias ermidas, algumas das quais são santuários muito frequentados como o de Notre Dame de Livron e associados à sua memória.

Na França, sua fama de santidade se espalhou entre o povo e a nobreza. Isso foi tomado como pretexto para também ser perseguido: o clero o acusava de lhe roubar as esmolas e a polícia partiu em sua procura.

Voltou à Espanha em 13 de abril de 1851 e usou o resto de sua vida o hábito carmelita proibido por baixo de uma batina de padre secular.

O bispo de Barcelona lhe deu a paróquia de Santo Agostinho num populoso bairro onde organizou o movimento católico “Escola da Virtude” de extraordinário sucesso. 

Nossa Senhora das Virtudes era devoção preferida da Escola do Pe. Palau

Ele conquistou o povo para a Fé inclusive nas periferias urbanas da Barcelona sempre mais industrializada, comercializada e rica, e o arrancou da influência revolucionária anticristã.

Passeatas anticlericais socialistas e comunistas pediam seu banimento do país até que um governo liberal fechou a Escola e desterrou o Beato na ilha de Ibiza, local de degredo.

Ali ele permaneceu durante seis anos e fundou um oratório consagrado à Mãe de Deus do Carmo. A igreja hoje restaurada, é centro de romarias.

Após ser inocentando pela Justiça retornou a Barcelona, mas a Escola da Virtude continuou proibida.

Santo Antônio Maria Claret confessor da rainha Isabel II, convidou-o a pregar a Quaresma para a Corte.

Sua eloquência brilhante, fogosa, sapiente mas inflexível empolgou o mais alto cenáculo de Espanha. Assim passou a ser chamado para pregar em todo o país.

Mas, logo uma revolução anticatólica derrubou a monarquia e Espanha entrou em guerra civil.

Os religiosos que fossem identificados na rua com suas batinas ou hábitos riscavam ser assassinados.

Mas nosso Beato não arredou, e intensificou sua prédica católica contrarrevolucionária antiliberal.

Como alertar os fiéis imprevidentes que constituíam a massa do catolicismo?

Criou, então, O Ermitão (“El Ermitaño”) um personagem literário que fatigado pela decadência do mundo morava num rochedo no Mediterrâneo: o mítico Vedrà. Desde lá escrevia um periódico semanal e enviava suas reflexões a Espanha.

“El Ermitaño” até a morte do Beato foi o porta-voz de suas proféticas reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja.

Ao ermitão acrescentou mais dois personagens literários: a própria sombra do anacoreta – “A sombra” – e uma prefigura de Elias Profeta retornado à Terra – “frei Onofre”

Os diálogos dessas figuras alimentavam profundas explicitações sobre o destino do mundo, suas convulsões, sua restauração e seu fim derradeiro. As hordas revolucionárias não iriam procura-los no Vedrà nem se incomodar com ficções literárias.

“El Ermitaño” era o boletím de guerra do beato carmelitano
“El Ermitaño” era o boletim de guerra do beato carmelita

O principal problema do Beato Palau residia na tibieza dos católicos. 

Ele via como os bons fiéis que assistiam à Missa e cumpriam seus deveres religiosos, podiam na tarde do mesmo dia assistir à Zarzuela, uma classe de opereta na moda leviana e histriônica.

A gravidade do estado do mundo, a penetração de Satanás nele, os artifícios políticos, militares, econômicos e culturais das forças secretas pareciam não lhes importar muito – se é que as percebiam.

Desde que a própria família e a própria vida estivesse bem, eles se davam por satisfeitos.

Para o Beato Palau, o mundo se encaminhava rumo a uma catástrofe universal cujo fundo é o inferno. 

Em situação análoga estava a Igreja Católica então governada pelo santo Papa Pio IX, mas Essa está amparada pela promessa divina “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela”.

Mas os católicos, achavam que cumprindo seus manuais de piedade não deviam levar as aparências ao trágico. Se a vida e a família pessoal estavam bem não seria necessário se engajar numa guerra heroica contra o mundo, a carne e o diabo.

Se o Beato apontasse aos tíbios com toda precisão a dimensão do mal que invadiu o mundo não seria ouvido, ou tido como um louco, alucinado, que via diabos até embaixo do colchão.

Por causa de seus longos estudos, ele poderia se explicar com escritos eruditos carregados de citações bíblicas, de trechos de Encíclicas, Concílios, Padres da Igreja, Doutores, Santos e grandes filósofos. Mas faria obras tão densas e pesadas que quase ninguém as leria.

Ele via que não seria ouvido nem mesmo por bispos e sacerdotes.

Ele concebeu, dirigiu, distribuiu e foi o principal redator do semanário “El Ermitaño”.

No “El Ermitaño” explorou o estilo literário com uma incrível imaginação e verve recorrendo deliberadamente a saborosas imagens e diálogos para exprimir o que pensava. 

Ele esperava que os poucos católicos íntegros que ficavam entenderiam a seriedade e gravidade de seus anúncios e denúncias que quase nenhum católico tíbio percebia no orbe católico.

“El Ermitaño” tinha razão!!!
No “El Ermitaño” concebeu redações didáticas que a maioria mole receberia como contos atraentes e divertidos de um bom sacerdote que tinham tal ou qual aplicação nos terremotos políticos da época, e prosseguiria adiante.

Mas ele previa zelosamente que suas previsões sobre o rumo do mundo e da Igreja ficavam registradas nas parcas páginas do “El Ermitaño” para o futuro entender como foi o percurso que levou os homens a um caos infernal.

Naquelas pobres páginas, que chegaram a ter grande difusão, ele deixou descrita a marcha da sociedade moderna rumo a um fabuloso caos e anarquia universal – a Revolução – que criaria o ambiente ideal para a manifestação do Anticristo.

Nessa hora futura que se assemelharia ao Fim do Mundo, o Beato esperava que os católicos que quisessem perseverar leriam o que estava escrito no “El Ermitaño”.

E então sim diriam: “o Ermitão tinha razão” porque em suas páginas lemos descrito como chegamos a esta horrível situação e como poderemos nos sair dela.

Eis a razão pela qual julgamos premente difundir o legado profético que ele nos deixou e comemorar sua grande festa que haverá de ser uma das maiores do santoral católico.

Beato Palau, rogai por nós!

8 comentários:

  1. Grande beato! É muito salutar ler sobre a sua vida! Obrigado por divulgar a vida e a obra dele!

    ResponderExcluir
  2. Salve Maria!
    Gostaria de partilhar uma pregação sobre o Beato Palau. Veja!

    As profecias do Beato Francisco Palau sobre o fim dos tempos - Frei Tiago de São José
    https://youtu.be/htpTFEi9Bvg

    ResponderExcluir
  3. Estou muito feliz com tanta sabedoria que ele nós deixou homem santo 🙏.

    ResponderExcluir
  4. Salve Maria!
    Onde se encontra o semanário El ermitano?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu acredito que você terá de entrar em contato com os religiosos Carmelitas descalços, Ordem à qual pertencia o Beato Palau, pois as edições de El ermitano devem fazer parte dos documentos da Ordem.

      Excluir
  5. Quando não são as revoluções, são as guerras que flagelam os cristãos.

    No território de Nagorno-Karabakh, os cristãos arménios tiveram que deixar o seu território, tendo inclusive que abandonar pesarosamente templos cristãos. Veja!

    O adeus ao mosteiro de Dadivank
    https://youtu.be/mPUEwsUQXhM

    ResponderExcluir