segunda-feira, 11 de junho de 2018

Vitória de Fátima após 'guerra terrível'
profetizada quinhentos anos antes das aparições! (3)

Nossa Senhora de Fátima. Fundo da montagem: capela octogonal de Tomar
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









Fátima e circunvizinhanças estavam profundamente impregnadas pela irradiação marial cisterciense e pelo espírito de cruzada templário. Esses emanavam de dois grandes polos abaciais: Alcobaça e Tomar.

Tal irradiação redundou na construção de múltiplas fortalezas da Ordem do Templo e abadias, igrejas e capelas dedicadas a Nossa Senhora, em plena época de cruzadas.

“A luta contra o Islã – confirma o Cônego Barthas – continuou ao longo de todo o século XII.

“Vários dos belos feitos de armas que fizeram de Portugal o cavaleiro da Cruz contra o Crescente se desenrolaram na região que circunda Fátima”. (Cônego C. Barthas e Pe. G. da Fonseca SJ, Fatima, merveille inouïe, Fátima, Ed. Toulouse, 1943, p. 20)

Fátima estava localizada num cruzamento das rotas que ligavam os castelos de Leiria, Tomar, Santarém, Ourém e Porto de Mós, percorridas por reis, nobres e cavaleiros templários.

Uma velha tradição, ainda viva em 1917, contava que, passando o Beato Nun'Álvares Pereira por Fátima em 1385, seu cavalo “teria ajoelhado e, à vista disso, D. Nuno teria dito: 'aqui há de dar-se um grande milagre'”. (Pe. Luciano Coelho Cristino, Descobrir o passado, preservar o futuro, Ajefatima, 1999, p. 12.)


Na Serra de Fátima, o bem-aventurado condestável teria planejado a histórica batalha de Aljubarrota, que garantiu a independência de Portugal.

Castelo de Porto de Mós
Na origem da cidade de Fátima figura um pequeno mosteiro erigido por cistercienses vindos de Alcobaça.

Daquele cenóbio só restam os fundamentos, que servem de base para a atual igreja paroquial, erigida no século XVIII.

As tradições locais também fazem numerosas referências a antigas capelas junto às quais moraram outrora ermitões com fama de santidade.

Além do mais, a rainha Mafalda incentivou a criação de numerosas abadias e igrejas em outras localidades do reino, várias das quais ainda existentes.

Qual delas teria sido “a igreja construída por Mafalda (ou Matilde) de Sabóia, irmã do Beato Umberto e primeira rainha de Portugal, em honra e por devoção à Santíssima Virgem, no lugar chamado 'Rocha de Fátima'“, que Felipe foi visitar, e de que falam os documentos? (documento 1)

É difícil dizê-lo. Ficamos aguardando esclarecimentos que as pesquisas históricas possam trazer.

O Príncipe Felipe morre sem encontrar a filha

O fato é que o Príncipe Felipe, após anos de ausência, voltou para a sua terra natal. Apresentou-se primeiro ao bispo de Tarantasia, D. Eduardo de Saboia (+ 1395), seu tio. Depois iniciou a procura de sua filha, dissimulado sob pseudônimo.

Hautecombe abadia e mausoleu dos duques da Saboia
Hautecombe: abadia e mausoleu dos duques da Saboia
Os anos passaram-se. As rugas surgidas na face, as roupas de mendigo, nada lembravam em Felipe o jovem e temido chefe de armas que outrora fora. Ninguém o reconheceu.

E sua procura foi infrutífera, apesar de visitar casas de familiares.

Entre elas a da sua sobrinha, a Bem-aventurada Margarida de Saboia-Acaia.

A Bem-aventurada Margarida de Saboia-Acaia (21-6-1390 – 23-11-1474) , foi filha de Amadeu I de Sabóia-Acaia, Senhor do Piemonte e irmão do Príncipe Felipe. Casou-se com Teodoro II Paleologo, Marquês de Monferrato.

Viúva aos 28 anos, fundou o mosteiro de dominicanas de clausura de Santa Maria Madalena, em Alba.

Sendo venerada como santa, São Pio V aprovou em 1566 seu culto no mosteiro, e Clemente X estendeu-o a toda a Ordem Dominicana. Foi proclamada Beata em 1-9-1838.

Em dezembro de 2001, com aprovação da Congregação dos Santos, o seu corpo foi exumado, verificando-se estar incorrupto, sem sinais de embalsamamento.

Na última vez que o Príncipe Felipe esteve com ela, em dezembro de 1418, desvendou-lhe sua verdadeira identidade, narrou-lhe o milagre na hora da execução e a vida posterior.

Por fim, confiou-lhe a sua mais preciosa relíquia – a medalha do Beato Umberto –, pedindo que a entregasse à sua filha, caso ela aparecesse.

“Uma vez feita esta extrema revelação – diz um dos documentos -, por disposição divina, ele expirou na noite seguinte na igreja de São Francisco, sobre o sepulcro do irmão Ludovico de Saboia, enquanto ansiava voltar ao túmulo do Beato Umberto em Altacomba [Hautecombe em francês]”.( documento 1)

Holocausto aceito e o prenúncio de Fátima

A Beata Margarida ficou com a medalha. A filha do Príncipe Felipe tinha, juntamente com sua genitora, desaparecido havia muito tempo.

“Um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade”,
que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima
Na realidade, ela entrara “junto com a mãe no mosteiro Santa Catarina de Alba, tomando o nome de Soror Filipina, pelo pai que ela acreditava morto”. (documento 3)

Anos depois, a Bem-aventurada Margarida foi a Alba. Ali fundou o mosteiro de Santa Maria Madalena.

Certo dia, Soror Filipina pediu sua transferência para o novo mosteiro. Tinha para isso uma autorização do Papa Nicolau V, datada de 16 de janeiro de 1448.

Mas apenas na hora da morte confessou à abadessa ser sua prima.

Também foi só nesse momento que Soror Filipina tomou conhecimento, por meio da Beata Margarida, da virtuosa morte de seu pai, por cuja salvação oferecera sua vida religiosa, assim como da passagem dele por Fátima. E enlevada, recebeu a milagrosa medalha.

Soror Filipina passou toda a sua vida na ignorância da aceitação de seu sacrifício.

Na hora da morte, a admirável arquitetonia de sua vida se lhe apresentou de modo fulgurante.

Mais ainda. O Céu premiou-a com a visão do triunfo futuro de Nossa Senhora sobre “um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade”, [...] que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima, se todos os homens a tivessem invocado com grande penitência”.(documento 2)

Providencial conservação dos documentos

A história, entretanto, não termina aí. Como foi dito, em 1454 todos os presentes lavraram documento para a posteridade, narrando a portentosa visão de Soror Filipina.

Dois séculos depois, em 1638, o Padre Jacinto Baresio O.P. publicou uma história da nobre família Sabóia, a pedido da Duquesa de Mântua, Margarida de Sabóia-Gonzaga, então vice-rainha (regente) de Portugal.

Na hora de escrevê-lo, o Pe. Baresio analisou a crônica de Soror Filipina e julgou que o episódio da execução do Príncipe Felipe poderia macular a reputação da dinastia. Então simplesmente queimou o escrito !

Porém, assim que ele partiu, a abadessa e as mais antigas religiosas do mosteiro, que tinham lido o original, reconstituíram seu conteúdo, rubricando cada uma o texto em sinal de autenticidade, em 7 de outubro de 1640.

Em 1655, uma religiosa que só anotou suas iniciais deixou mais um documento escrito, confirmando tudo quanto dizia o anterior, nos seguintes termos:

“Dizem as memórias escritas que lá, na Lusitânia, há uma igreja numa cidadinha que se chama Fátima, edificada por uma antepassada de nossa Santa Fundadora Margarida de Sabóia, Mafalda rainha de Portugal e filha de Amadeu terceiro de Sabóia,

e que uma estátua da Virgem Santíssima falará sobre acontecimentos futuros muito graves, porque Satanás fará uma guerra terrível; porém perderá, porque a Virgem Santíssima Mãe de Deus e do Santíssimo Rosário de Fátima, 'mais forte que um exército em ordem de batalha', vencê-lo-á para sempre”.


A. D. 1655. São Domingos, te confio estas folhas.

Soror C. R. M.” ( Documento 2)




2 comentários:

  1. Ola
    Muito bonito seu blog
    Bem escrito e maravilhosamente bem ilustrado
    Voltarei sempre que puder
    aguardo seu precioso comentario.
    Espero sua visita em breve
    crisma2012matao.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Óptimo blog! Muito bem organizado, acolhedor, sugestivo, motivador! Mas não nos faça esperar tanto pelo próximo post! A não ser que seja um teste à nossa paciência ou à nossa curiosidade! ☺️

    ResponderExcluir