Os “erros da Rússia” se generalizaram e se agigantaram inclusive na Igreja |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: A chave das profecias no século da “guerra dos profetas” (1917 – 2017)
O que dizem os “erros da Rússia”?
Faltaram pregadores, sacerdotes, teólogos, bispos ou autoridades de condição e conhecimento ainda mais elevados que explicassem para o povo o conteúdo desta “contraprofecia”.
Se esse escuro conteúdo tivesse sido desvendado e condenado pela Igreja, poderia ter sido evitado o afundamento como que irreversível do mundo no caos.
O fato é que, os que sabiam, pouco ou nada ensinaram. E enquanto a humanidade foi durante décadas se deliciando com os prazeres da vida quotidiana, decaindo moralmente, afundando sempre otimista e displicente, o monstro girava em torno de sua casa e entrava pela porta dos fundos.
Os “erros da Rússia” se generalizaram e se agigantaram inclusive na Igreja, e hoje tentam o assalto final com as blasfêmias, heresias e profanações mais inauditas.
A maioria dos homens ouve seus uivos assombrada. Alguns tentam reagir, mas não entendem a natureza do mal que os agride. É imprescindível compreendê-lo para saber o que está acontecendo e agir com propriedade.
Para não nos alongarmos, citaremos apenas alguns excertos da petição assinada por 213 Padres Conciliares de 54 países, pedindo ao II Concílio Ecumênico Vaticano a condenação do comunismo.
Ela constitui uma rara exceção ao silêncio destruidor que apontamos e sintetiza os “erros da Rússia” afirmando:
“Serpeiam entre católicos numerosos erros e estados de espírito que encontram sua origem na Revolução Francesa e são espalhados pela propaganda bolchevista; eles tornam os espíritos propensos a aceitar as doutrinas marxistas e a estrutura social e econômica do comunismo. (os grifos são nossos). [...]
“Os principais erros e desvios de espírito são os seguintes:
1 – Dia a dia se torna mais comum a opinião de que é injusta toda superioridade social ou econômica, de modo que só a onímoda igualdade de fortuna entre os homens é que seria conforme ao Evangelho, erradicada, ademais, qualquer outra diversidade social. [...]
“entendem esses católicos que todos os outros homens, que gozam de bens além da medida do estritamente necessário para viver, devem renunciar não só aos bens supérfluos, mas até aos que lhes são absolutamente necessários para poderem conservar o modo de vida segundo a posição social, que lhes é próprio.
“Por isso, para tais católicos, toda opulência familiar ou nacional deve ser sempre tida por roubo e injusta retenção de bens que pertenceriam às classes mais modestas.
“Daí deduzem [...] que as classes mais modestas têm estrito direito aos bens que devem ser considerados necessários [...] e podem tomá-los pela força.
“O que, quando aplicado ao convívio dos povos, resulta em que as nações de menor riqueza têm direito de exigir das nações mais cultas e ricas participação nos bens que estas possuem, quer de cultura, quer de fortuna. [...]
“2 – a Santa Sé deve distribuir para ajudar os pobres e os necessitados, os tesouros do Vaticano e das Basílicas romanas, assim como as obras de arte que possui.
“Os bispos, os mosteiros e os presbitérios deveriam renunciar a todas as riquezas, conservando tão somente aquelas que fossem necessárias para manter estritamente a vida.
“3 – Tais erros são difundidos por muitos mestres pertencentes às fileiras do Clero.
“Propagando-se sob aparências de justiça e de caridade, induzem numerosos fiéis a admitirem falsas doutrinas e princípios, criam um espírito infenso à ordem social católica e tendente ao igualitarismo social. [...]
“A sagacidade dos comunistas vem aplicando nos últimos anos um novo método estratégico.
“Proclama o governo russo a necessidade da coexistência pacífica, e ostenta uma liberalidade fictícia.
“Esta momentânea diminuição do rigor do sistema político cria a ilusão de uma certa evolução das nações comunistas, que, insensivelmente caminhariam para um tipo de sociedade que poderia ser tolerado e até desejado pelos católicos. [...]
“Consideram, realmente, insanáveis os abusos do capitalismo, e por isso dizem que em nada interessa à causa católica que vivamos sob um regime ocidental livre, ou sob a servidão comunista. [...]
“Essa geral infestação de ideias e de mentalidade marxista exige absolutamente do Concílio uma palavra que possa tranquilizar a consciência cristã.
“Essa palavra, segundo me parece, não pode ser omitida sem gravíssimo dano das almas.
“Realmente, o marxismo e o comunismo devem ser considerados como as maiores e mais perigosas heresias deste século; os fiéis, portanto, ficariam perplexos se o Concílio não tocasse em questão tão momentosa”.
“Rogo [...] que o Santíssimo Padre determine a elaboração e o estudo de um esquema de constituição conciliar no qual:
“1 – se exponha com grande clareza a doutrina social católica, e se denunciem os erros do marxismo, do socialismo e do comunismo, sob o aspecto filosófico, sociológico e econômico;
“2 – sejam profligados aqueles erros e aquela mentalidade que preparam o espírito dos católicos para a aceitação do socialismo e do comunismo, e que os tornam propensos aos mesmos”.
O objetivo da petição foi “obter a paz para nossa época conturbada, remover as causas profundas de apostasia, conseguir a conversão dos que aderiram ao comunismo, impetrar a intercessão d´Aquela que ‘sozinha esmagou todas as heresias em todo o orbe’, obter a liberdade das nações nas quais a Igreja é perseguida, promover ubérrimos frutos de renovação da vida cristã dos fiéis” .
Se a condenação e a consagração tivessem sido solenemente efetivadas, o Concílio Vaticano II teria sido gloriosamente inscrito na linha dos desejos da Santa Mãe de Deus expressos em Fátima.
A conversão da Rússia a teria arrancado das mãos das trevas e seria afastado do mundo o imenso flagelo comunista. Veremos o que aconteceu.
P.S.: Este artigo já estava no prelo quando foi divulgado o esquema de documento conciliar elaborado no pontificado de Pio XII condenando o comunismo por extenso.
Os padres do Concílio Vaticano II, como é bem sabido, recusaram os esquemas preparados sob a orientação daquele Pontífice.
E se sentiram livres sob o pontificado de João XXIII para elaborar os documentos que acabaram sendo aprovados. Neles, o comunismo é censurado de passagem. A grande, urgente e necessária condena não saiu.
Conferir em: “As condenações do comunismo perdidas pelo Vaticano II”
continua no próximo post: Os apóstolos de Fátima resistem diante dos “profetas” dos “erros da Rússia”
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