Já não é tempo de calar, mas de combater. La Bible historiatus de Pierre [le Mangeur], BnF, Département des manuscrits, Français 155, fol 195r. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Perdoai a energia de algumas de minhas palavras.
Pode-se manter o sangue frio diante tudo o que se pratica hoje no mundo?
Será que das profundezas da consciência oprimida dos pastores não saem em certas horas brados que as circunstâncias ordenam que eles expliquem?
Não têm os profetas do Altíssimo o direito de permanecer em silêncio quando a iniquidade parece liberta e supera todos os limites de iniquidade, quando o machado está no pé da árvore secular do papado, quando a moral universal é ridicularizada publicamente, e quando o banditismo parece ter-se tornado o novo direito do povo?
A posteridade não irá nos acusar pelo excesso de nossa prolongada moderação, não recearemos que a autoridade dos grandes doutores nos censure por termos esquecido que os servos de Deus devem conciliar liberdade e submissão? (In Ps. LII, 14) (...)
Chegou o tempo de falar porque o tempo de calar acabou...
Olhando para as nuvens para ver se Cristo não vai aparecer, porque o Anticristo domina a Terra.
Chegou o tempo em que os pastores devem levantar a sua voz, porque Satanás se transformou em anjo de luz. (...)
O combate seria mais fácil contra inimigos declarados. Então não haveria dúvida alguma sobre as intenções dos perseguidores.
É no meio dos suplícios, sob a ameaça da espada, diante dos patíbulos que nós elevaremos a voz.
E os povos, testemunhas de uma perseguição manifesta, viriam a nós para nos seguir como a seus chefes e nos acompanhariam na confissão da verdade: et nos populi tanquam duces suos ad confessionem religionis, intelligentia persecutionis publicæ, comitarentur.
"Agora nós lutamos contra um perseguidor que engana, finge ser cristão" Trinity Apocalypse, Cambridge R.16 010r. |
Digo-te, Constâncio [N.T.: imperador romano fingidamente cristão que secretamente adorava uma deidade pagã. É prefigura de certos inimigos da Igreja], tu batalhas contra Deus, tu golpeias a Igreja, tu sacrificas a religião, tu tiranizas não apenas as coisas humanas, mas as coisas divinas.
Tu finges ser cristão, e tu és um novo tipo de inimigo de Cristo.
Tu antecipas o Anticristo e preludias surdamente seus mistérios de iniquidade.
Em tudo isso, tu és um perseguidor mais refinado que teus predecessores, porque tu operas tanto mal, arrastas tantas deserções e odeias fazer mártires; tu nos tiras a palma dos mortos gloriosos (S. Hilar. contr. Constant., I, A-7).
(Autor: Cardeal Louis-Édouard-François-Desiré Pie (1815 – 1880), “Éloge funèbre des volontaires catholiques morts pour la défense des États de l'Église, prononcé dans la cathédrale de Poitiers, a la suite du service solennel célébré à leur intention, 11 octobre 1860”, in Oeuvres de monseigneur l'évêque de Poitiers, Tomo 4, Bibliothèque Nationale de France)
Notícia histórica do Cardeal Pie
O Cardeal Luis Eduardo Pie (1815 – 1880), foi bispo de Poitiers, França, elevado ao Cardinalato pela brilhante apologia da infalibilidade pontifícia no Concílio Vaticano I. Ele ficou famoso pelo seu “ultramontanismo” [literalmente = além das montanhas, apelativo dado aos franceses defensores do Papado] e pela sua ativa apologia do reinado social de Cristo Rei.
No Grande Seminário de Saint-Sulpice, em Paris, se destacou na polêmica contra os eclesiásticos “galicanos” [defensores de falsas prerrogativas do governo leigo francês, ou “galo”]. Ele foi ardido pregador contra o liberalismo, o relativismo e o livre pensamento condenado pelos Papas.
Em 12 de julho de 1843 escreveu uma carta que definia sua orientação autenticamente católica: “O partido neo-católico liberal é um filho da Revolução; e a Revolução é satânica na sua essência”.
Foi vigário da catedral e vigário geral da diocese de Chartres. Em 28 de setembro de 1849, o Papa Pio IX o nomeou bispo da diocese de Poitiers, ilustrada pelo ensinamento de Santo Hilário, Doutor da Igreja.
Ele resumia sua ação com a frase de São Paulo: instaurare omnia in Christo.
Exerceu grande influência sobre o conde de Chambord, pretendente legítimo ao trono da França. Foi muito hostilizado pelos bispos favoráveis a uma conciliação com o liberalismo positivista anticristão. Esses bispos defendiam um carunchado e insincero “cristianismo moderado”.
O bispo de Poitiers lhes respondia que “o diabo se chacoalha violentamente no seio do cristianismo moderado”, o qual segundo ele, era uma das mais danosas formas de subversão.
Ele tentou influenciar o imperador Napoleão III e lhe abrir os olhos diante do perigo que crescia contra a Igreja e contra a sociedade. Após infrutífera audiência em 15 de março de 1859, Mons. Pie anunciou profeticamente ao chefe de Estado o fracasso de seu reinado. O imperador foi deposto em setembro de 1870 após catastrófica derrota contra a Prússia protestante e iluminista.
Mons. Pie comparava o contrarrevolucionário Papa Pio IX ao próprio Cristo dizendo que o furor do inferno e do laicismo se desencadeou contra o Pontífice. Ele punha no boca do governo francês as insensíveis e cruéis palavras de Poncio Pilatos: Ecce homo !
Ele preveniu bispos e governantes para a vinda não remota do Anticristo preanunciada pela dissolução geral da sociedade cada vez mais liberal.
Mons. Pie foi perseguido e condenado pelo governo. Em 1863, denunciava a perseguição anticristã dizendo:
“O objetivo da Revolução [se referindo em primer lugar à Revolução Francesa de 1789 e seus sucedâneos] é o esmagamento do cristianismo na vida pública, a derrubada da ortodoxia social.
“Destruir os últimos restos do edifício antigo da Europa cristã. E, para que a demolição seja definitiva, abater a pedra angular em volta da qual ainda poderiam se articular os últimos restos subsistentes.
“Eis a obra na qual convergem abertamente as mil vozes da impiedade da nossa geração: a caotização à qual nos assistimos”.
Em 29 janeiro de 1879 foi elevado à dignidade de Cardeal pelo Papa Leão XIII. Roma quis premia-lo pelo seu brilhante atividade no Concílio Vaticano em favor do dogma da infalibilidade pontifícia, felizmente aprovado.
O cardeal Pie – “meu Mestre”, dizia São Pio X – profetizou, e eis aqui alguns textos que é bom redescobrir nestes dias.
A concordância com as mensagens de La Salette e Fátima se impõe por si mesma e dispensa comentários.
Gostaria de ver essa bravura do Cardeal Pie na crítica que os bispos brasileiros deveriam ter em relação à Teologia da Libertação. Os bispos brasileiros são muito mornos em relação à Teologia da Libertação.
ResponderExcluirPrecisamos de um Cardeal Pie que pregue contra a Teologia da Libertação!!!
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