segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Cardeal Pie: no dia em que o Papado
parecerá sucumbir nas mãos do mal

O Cardeal Pie, bispo de Poitiers, teve luzes proféticas.
O Cardeal Pie, bispo de Poitiers, teve luzes proféticas.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Notícia histórica do Cardeal Pie


O Cardeal Luis Eduardo Pie (1815 – 1880), foi bispo de Poitiers, França, elevado ao Cardinalato pela brilhante apologia da infalibilidade pontifícia no Concílio Vaticano I. Ele ficou famoso pelo seu “ultramontanismo” [literalmente = além das montanhas, apelativo dado aos franceses defensores do Papado] e pela sua ativa apologia do reinado social de Cristo Rei.

No Grande Seminário de Saint-Sulpice, em Paris, se destacou na polêmica contra os eclesiásticos “galicanos” [defensores de falsas prerrogativas do governo leigo francês, ou “galo”]. Ele foi ardido pregador contra o liberalismo, o relativismo e o livre pensamento condenado pelos Papas.

Em 12 de julho de 1843 escreveu uma carta que definia sua orientação autenticamente católica: “O partido neo-católico liberal é um filho da Revolução; e a Revolução é satânica na sua essência”.

Foi vigário da catedral e vigário geral da diocese de Chartres. Em 28 de setembro de 1849, o Papa Pio IX o nomeou bispo da diocese de Poitiers, ilustrada pelo ensinamento de Santo Hilário, Doutor da Igreja.

Ele resumia sua ação com a frase de São Paulo: instaurare omnia in Christo.

Exerceu grande influência sobre o conde de Chambord, pretendente legítimo ao trono da França. Foi muito hostilizado pelos bispos favoráveis a uma conciliação com o liberalismo positivista anticristão. Esses bispos defendiam um carunchado e insincero “cristianismo moderado”.

O bispo de Poitiers lhes respondia que “o diabo se chacoalha violentamente no seio do cristianismo moderado”, o qual segundo ele, era uma das mais danosas formas de subversão.



Ele tentou influenciar o imperador Napoleão III e lhe abrir os olhos diante do perigo que crescia contra a Igreja e contra a sociedade. Após infrutífera audiência em 15 de março de 1859, Mons. Pie anunciou profeticamente ao chefe de Estado o fracasso de seu reinado. O imperador foi deposto em setembro de 1870 após catastrófica derrota contra a Prússia protestante e iluminista.

Mons. Pie comparava o contrarrevolucionário Papa Pio IX ao próprio Cristo dizendo que o furor do inferno e do laicismo se desencadeou contra o Pontífice. Ele punha no boca do governo francês as insensíveis e cruéis palavras de Poncio Pilatos: Ecce homo !

Cardeal Pie: “a Revolução é satânica na sua essência” Gravura da execução do rei Luís XVI.
Cardeal Pie: “a Revolução é satânica na sua essência”
Gravura da execução do rei Luís XVI.
Ele preveniu bispos e governantes para a vinda não remota do Anticristo preanunciada pela dissolução geral da sociedade cada vez mais liberal.

Mons. Pie foi perseguido e condenado pelo governo. Em 1863, denunciava a perseguição anticristã dizendo:

“O objetivo da Revolução [se referindo em primer lugar à Revolução Francesa de 1789 e seus sucedâneos] é o esmagamento do cristianismo na vida pública, a derrubada da ortodoxia social.

“Destruir os últimos restos do edifício antigo da Europa cristã. E, para que a demolição seja definitiva, abater a pedra angular em volta da qual ainda poderiam se articular os últimos restos subsistentes.

“Eis a obra na qual convergem abertamente as mil vozes da impiedade da nossa geração: a caotização à qual nos assistimos”.

Em 29 janeiro de 1879 foi elevado à dignidade de Cardeal pelo Papa Leão XIII. Roma quis premia-lo pelo seu brilhante atividade no Concílio Vaticano em favor do dogma da infalibilidade pontifícia, felizmente aprovado.

O cardeal Pie – “meu Mestre”, dizia São Pio X – profetizou, e eis aqui alguns textos que é bom redescobrir nestes dias.

A concordância com as mensagens de La Salette e Fátima se impõe por si mesma e dispensa comentários.

(Fonte: verbete Louis-Édouard Pie, Wikipedia, e idem).



Cardeal Pie: abalo restaurador no mundo
no dia em que o Papado parecerá sucumbir nas mãos do mal


Cardeal Pie: “os golpes que as nações desferiram contra a Igreja se voltaram contra essas nações”. Quadro alegórico da Comuna de Paris.
Cardeal Pie: “os golpes que as nações desferiram contra a Igreja
se voltaram contra essas nações”.
Quadro alegórico da Comuna de Paris.
Quem negará que o germe do mal, apontado há tempos pela sentinela apostólica, se desenvolveu espantosamente desde o início através de fases progressivas de revoluções e confiscos? Eis que tocamos agora os seus derradeiros extremos.

Todos os golpes que as sociedades e as nações desferiram contra a Igreja de Jesus Cristo se voltaram contra essas nações e contra as próprias sociedades.

A França, particularmente, ficou abandonada à sua própria fortuna, na medida em que abandonou Roma. Jamais talvez, sob o reinado da Nova Aliança, o Céu aplicou de uma maneira mais sensível, mais exata e mais contínua a lei e a pena de Talião.

Mas a última palavra da ruína ainda não foi pronunciada.

O dia em que o Papado for expulso do lugar que Deus escolheu para ele, aguardai um abalo como não houve depois da hora do Calvário.

O Evangelista nos ensina: quando a vítima santa soltou seu último brado, houve um terremoto tão violento que as pedras se racharam: Et terra mota est, et petrae scissum sunt. (Math., xxvii, 51).

Isso devia acontecer, diz nosso grande doutor [Santo Hilário de Poitiers] na sua incomparável linguagem: “A terra tremeu, a terra se agitou até em seus fundamentos: pois, por mais vasta que seja sua capacidade, ela não tinha espaço para receber semelhante morto”: Movetur terra: capax enim hujus mortui non erat (Comment, in Matth., c. XXXIIII 7).

Um morto que é Aquele pelo qual todas as coisas foram feitas e por quem todas as coisas vivem; um morto que é o início e o fim de toda vida; um morto desse tamanho, nem a superfície nem a profundeza da Terra são suficientemente grandes para Lhe cavar ou construir um sepulcro: Movetur terra: capax enim hujus mortui non erat.

Ora, aqui embaixo, Pedro é o vigário, o representante, a pessoa continuada de Cristo.

E se a hora da agonia bate de novo para Cristo na pessoa de seu vigário, se o chefe da Cristandade é atingido pela morte civil, haverá na Terra comoções, abalos, convulsões sem igual.

Pois, quaisquer que sejam as dimensões do nosso planeta, ele não tem absolutamente lugar para acolher semelhante morto: Movetur terra: capax enim hujus mortui non erat.

Errando de cidade em cidade, de reino em reino, o Pontificado Romano transbordará sempre do contexto em que se quiser inseri-lo.

Quando o Papado parecerá morto nas mãos do inimigo anticristão um colossal abalo restaurador, reparará a desordem
Quando o Papado parecerá morto nas mãos do inimigo anticristão
um colossal abalo restaurador, reparará a desordem.
A queda de Babilônia. Tapeçaria de Angers
Na organização social da Europa e do mundo cristão, que é obra de Deus e dos séculos, a função do Papado é ser a fonte de onde tudo se irradia, e o centro para onde tudo converge e se realiza.

Ora, é lei para todos os seres não poder durar muito, nem encontrar repouso, se ficarem separados de sua causa ou desviados de seu fim.

A Terra tremerá em seus fundamentos e agitar-se-á em suas entranhas, não encontrará onde se encaixar até que um estremecimento favorável repare a perturbação e a desordem introduzidas no equilíbrio político do mundo cristão pelo desaparecimento de sua cabeça. Movetur terra: capax enim hujus mortui non erat.

Essa reparação virá. Aquilo que um choque funesto derrubou, um choque melhor reerguerá.

Após o tremor de terra que acompanhou a morte de Cristo, houve um segundo mais forte que o primeiro: Et ecce terrae motus factus est magnus (Matth, XXVIII, 2).

Era o sepulcro que se abria, que rachava, que fazia voar em cacos a pedra com a qual o tinham selado, e que devolvia à vida o morto poderoso que a terra não podia conter.

“A quem vós procurais entre os mortos, Aquele que está vivo?” Quid quœritis viventem cum mortuis? (Luc., XXIV. 5)

“O Jesus que foi depositado no sepulcro anteontem? Ide à Galileia, e vós o encontrareis cheio de vida e resplandecente de glória, como Ele próprio vos tinha anunciado” (Marc, XVI, 7).



(Autor: Cardeal Louis-Édouard-François-Desiré Pie (1815 – 1880), “Homilia pronunciada na catedral de Poitiers na solenidade de Santo Hilário presidida pelo Núncio Apostólico (14 janeiro 1872)”, in Oeuvres de monseigneur l'évêque de Poitiers, Tomo 7, Bibliothèque Nationale de France)


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