As aparições do Anjo de Portugal prepararam a Mensagem de Fátima. |
“As revelações de Fátima sobrepujam tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História”
“O Império Romano do Ocidente se encerrou com um cataclismo iluminado e analisado pelo gênio de um grande Doutor, que foi Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta, São Vicente Ferrer.
“A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta, e ao mesmo tempo grande Doutor, São Luís Maria Grignion de Montfort.
“Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens.
“Santo Agostinho não pôde senão explicar para a posteridade as causas da tragédia que presenciava. São Vicente Ferrer e São Luís Grignion de Montfort procuraram em vão desviar a tormenta: os homens não os quiseram ouvir. Nossa Senhora a um tempo explica os motivos da crise e indica o seu remédio, profetizando a catástrofe caso os homens não a ouçam.
“De todo ponto de vista, pela natureza do conteúdo como pela dignidade de quem as fez, as revelações de Fátima sobrepujam pois tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História.
“Os diversos pontos das revelações relativos a este tema constituem propriamente o elemento essencial das mensagens. O mais, por importante que seja, constitui mero complemento.”
Plinio Corrêa de Oliveira
A mensagem de de Fátima,
essa grande desconhecida
essa grande desconhecida
Antonio Augusto Borelli Machado
Não é fácil discernir o que há de mais central na Mensagem de Fátima.
Revelada aos poucos por desejo expresso de Nossa Senhora ou por determinações humanas, é tão rica em aspectos relevantes que, conforme o feitio próprio de alma de cada um, ele se deterá ora num, ora noutro desses aspectos, sem fixar-se em nenhum como o seu substrato fundamental.
Ora, quando num assunto qualquer não se discerne o ponto essencial, sua compreensão fica gravemente prejudicada. Nessas condições, pode-se dizer que a Mensagem de Fátima é desconhecida do grosso do público, mesmo do público devoto, no que ela tem de mais próprio a mover as almas.
O presente artigo é escrito na suposição de que o leitor tenha conhecimento ao menos genérico das aparições, bem como dos diversos aspectos que compõem a Mensagem, em particular as passagens mais significativas das quatro principais Memórias escritas pela privilegiada vidente, a Irmã Lúcia.
Muito em particular o conteúdo dos assim chamados três Segredos — na realidade um Segredo único constituído de três partes distintas, as duas primeiras dadas a conhecer em 1941, e a terceira escrita em 3 de janeiro de 1944.
Em síntese, Nossa Senhora diz que a sociedade humana se encontra em tal oposição às vias de Deus que, caso não se emendar, um grande Castigo se abaterá sobre o mundo, reduzindo-o a ruínas.
Para ser preciso, “meio em ruínas”, o que nos dá a esperança de que preciosos monumentos da Cristandade serão preservados.
Ademais, como Mãe misericordiosa, Nossa Senhora não se limita a anunciar o Castigo: ela aponta os meios que os homens podem empregar para evitá-lo.
Indica meios tradicionais, válidos para qualquer época histórica, e ações concretas aplicáveis aos dias de hoje.
Oração e penitência
Começando pelos tradicionais, não poderiam ser outros senão aqueles mesmos já apregoados por seu Divino Filho no Evangelho: oração e penitência.
E para estimular os três pequenos videntes — Lúcia (dez anos), Jacinta (sete anos) e Francisco (nove anos) — a se engajarem nessa via, mostra-lhes o inferno, para onde vão as almas dos que morrem impenitentes (primeira parte do Segredo).
Ademais, fala-lhes de guerras que produzirão ruínas muito grandes — várias nações serão aniquiladas (segunda parte do Segredo) — e perseguições aos bons, os quais serão martirizados aos pés de uma Cruz.
E pelo célebre princípio enunciado por Tertuliano, segundo o qual o sangue dos mártires é semente de novos cristãos, o sangue dos mártires dos tempos atuais não se perderá, infiltrando-se inutilmente pela terra.
Para que isso não aconteça, esse sangue é recolhido em regadores de cristal por dois Anjos postados sob os braços da Cruz, e em seguida derramado sobre homens ignotos que vão se reaproximando de Deus (terceira parte do Segredo).
Com estes restos da humanidade que misteriosamente se esgueiravam despercebidos à margem do confronto entre bons e maus que ocorria em torno deles, reconstituir-se-á a civilização cristã do futuro, como continuidade da civilização cristã medieval destruída pela revolução anticristã (veja-se Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-revolução, São Paulo, 1959).
As perspectivas apocalípticas aqui enunciadas parecerão a mais de um leitor fruto de alguma mente visionária!
Não obstante, elas desfecham numa perspectiva muito coerente e plena de sentido. Nossa Senhora mesma a anuncia (no final da segunda parte do Segredo): “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Lúcia, Francisco e Jacinta: em cima, antes da visão do Inferno; embaixo, logo após a visão |
Segundo ele, o Reino de Cristo se estabelecerá, ipso facto, nesta Terra, com o triunfo do Imaculado Coração de Maria! (cfr. Tratado da Verdadeira Devoção, n° 217).
Laicismo, para não dizer ateísmo…
Ora, o processo revolucionário que se desencadeou no fim da Idade Média tentou — e conseguiu, através de etapas e métodos vários — minar a unidade da Igreja e introduzir-se até em seu seio, levando a sociedade humana a descristianizar-se, a ponto de disseminar o princípio da laicidade do Estado por toda a Cristandade.
Segundo este princípio, o Estado proclama-se oficialmente laico em matéria de Religião, não se pronunciando sobre qual seja a religião verdadeira e concedendo a liberdade de culto a todo agrupamento religioso.
Nessa concepção, aparentemente neutra em matéria de Religião, o Estado só interviria para manter a ordem pública.
Porém, essa pretensa neutralidade religiosa do Estado laico não passa de uma falácia.
Na prática, os fatos se passam muito diferentemente.
Como mostrou o Papa Leão XIII na encíclica Immortale Dei, de 1° de novembro de 1885, “nessa situação política, que muitos favorecem hoje em dia, há uma tendência das ideias e das vontades para expulsar inteiramente a Igreja da sociedade, ou para mantê-la sujeita e acorrentada ao Estado. [...] Relativamente à religião, pensar que é indiferente tenha ela formas disparatadas e contrárias equivale simplesmente a não querer nem escolher nem seguir qualquer delas. É o ateísmo menos o nome” (n°s 35 e 37).
Assim, na realidade dos fatos, do pretenso indiferentismo religioso apregoado pelo Estado laico passa-se ao ateísmo tout court.
E daí a uma perseguição religiosa ostensiva, com o intuito de remover da legislação do Estado laico todos os princípios da moral natural e da teologia católica, com a admissão do aborto, da eutanásia, da Ideologia de Gênero, etc.
Apostasia silenciosa dos católicos
Entretanto, passa-se algo em certo sentido mais grave. Se pelo menos as populações católicas se mantivessem imunes e firmes na observância da moral e da doutrina em que foram formadas!…
O efeito prático da implantação do Estado laico/ateu é o deslizamento paulatino das fileiras católicas para a aceitação de situações totalmente condenadas pela Moral católica, como o convívio pré-matrimonial, seguido, na melhor das hipóteses, depois de algum tempo, da realização do matrimônio na Igreja.
Num grande número de casos, a intenção de casar na Igreja fica para as calendas gregas…
Tal fenômeno corresponde ao que está sendo chamado — e de fato é — uma “apostasia silenciosa” (cfr. João Paulo II, Ecclesia in Europa, 28 de junho de 2003, n° 9), que atinge todos os campos da vida católica, inclusive a própria liturgia!
“Certos aspectos da cultura de massa pós-moderna — contrariamente a certas batalhas ideológicas filhas do Iluminismo, que permaneceram patrimônio de elites muito restritas por todo o século XIX e parte do século XX — levam a reconhecer influências externas muito difusas sobre a liturgia, e que são propriamente não-cristãs ou diretamente anticristãs” (Giannicola D’Amico, Il canto gregoriano: itinerario storico-giuridico, in Alla scuola del canto gregoriano, a cura di Fulvio Rampi, Musidora, Parma, 2015, p. 168).
Não falar do Castigo para não assustar…
Nesta perspectiva concreta e realista, surpreende que muitos dentre os mais denodados propagandistas de Fátima omitam este aspecto fundamental. Sobretudo na Hierarquia eclesiástica, muitos estimaram que o anúncio de tão grande castigo assustaria muita gente!…
Sem dúvida, muitos se assustariam. Porém, de outro lado — fenômeno auspicioso! — cresce pouco a pouco o número dos que percebem o desconcerto geral que afeta o mundo moderno, tendo-se criado uma situação tão desprovida de remédio humano, que sem uma intervenção extraordinária da Providência não tem mais conserto!
A originalidade da Mensagem de Fátima é justamente esta: Nossa Senhora veio anunciar ao mundo que Deus preparou uma saída divina para uma situação humana sem saída.
Ela envolve uma alternativa drástica: a) ou o mundo moderno se converte, faz penitência e assim o castigo é afastado; ou b) não se converte e será castigado com uma destruição de proporções apocalípticas.
Mas nesta alternativa se discerne a Misericórdia divina: uma nova civilização autenticamente católica se reconstituirá sobre os escombros do mundo laico e ateu, que hoje nos constrange.
Fátima se revela uma mensagem de esperança que supera de muito a tragédia que anuncia.
continua no próximo post: Há exato um século: o Anjo de Portugal introduzia o grande anúncio
Gostaria de ler algum livro que contemple as mensagens de Fátima. Alguém pode me indicar algum.
ResponderExcluirO autor deste post, o Dr. Antonio Augusto Borelli Machado, escreveu um dos melhores trabalhos sobre as mensagens de Fátima: "Fátima - Mensagem de tragédia ou de esperança?"
ExcluirEsse livro foi traduzido a muitas línguas e vendeu milhões de exemplares. Está reproduzido integralmente em páginas do nosso blog. Começa na página http://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/p/fatima.html
Atenciosamente
Eu recomendo "Memórias da Irmã Lúcia". Lúcia narra as situações vivenciadas por ela e os primos desde as aparições do Anjo. Como os fatos aconteceram e como lidavam. Eu conheci Fátima através deste livro...E fiquei apaixonada pelos pastorinhos. Diante do que fizeram e passaram, dá até vergonha da nossa miséria...
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