terça-feira, 11 de outubro de 2022

A solução está em Aparecida e não em Brasília

Nossa Senhora Aparecida
Nossa Senhora Aparecida
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Nossa Senhora Aparecida 305 anos depois

Existem devoções nacionais a Nossa Senhora, como é o caso de Aparecida, da mesma maneira que há grandes invocações que têm uma realeza entre as invocações de Nossa Senhora, como é o caso de Nossa Senhora do Rosário.

Quase não existe um país da Terra que não tenha uma grande devoção a Nossa Senhora e de que Ela não seja, debaixo de algum título, a Padroeira.

Também existem as invocações a Nossa Senhora das regiões e das cidades, como é, por exemplo, Nossa Senhora da Penha, em São Paulo.

E, às vezes, ainda há imagens de Nossa Senhora particularmente invocadas numa paróquia, numa parte de uma cidade, etc.

Há até famílias que têm uma devoção especial por alguma imagem de Nossa Senhora por alguma relação especial dEla com aquela família.

Por exemplo, na minha família paterna há devoção a Nossa Senhora da Piedade, é mais uma acomodação desse trato de Nossa Senhora com os homens, individualmente.

E depois, existe ainda, para cada um uma invocação especial de Nossa Senhora por alguma graça pessoal ou algum fato que liga a pessoa a essa imagem.

Nossa Senhora, com aquela índole materna que é característica dEla se faz grande com os grandes, e se faz pequena com os pequenos.

Se faz universal para as grandes coletividades e se faz regional para grupos humanos menores.

Nós podemos admirá-La em todas as dimensões: como Rainha das grandes coletividades e como Mãe das pequenas unidades.

É dentro dessa linha que nós devemos ver a devoção a Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil.

A América Latina inteira tem como padroeira a Nossa Senhora de Guadalupe, e, no Brasil, nós temos Nossa Senhora Aparecida.

Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil! Que é que, propriamente, deve significar para nós?

Nós sabemos o ponto de partida dessa devoção: na segunda quinzena de outubro de 1717 uns pescadores estavam pescando no Rio Paraíba quando eles recolheram, de repente, um tronco de imagem. Depois, mais adiante, pescaram uma cabeça.

Nossa Senhora Aparecida, réplica na Basílica velha
Nossa Senhora Aparecida, réplica na Basílica velha
E a pesca, que era inútil até aquele momento, passou a ser, então, muito abundante. E eles, junto do rio, construíram uma capelinha para aquela imagem que tinham encontrado.

As graças alcançadas ali foram extraordinariamente numerosas. Então, construiu-se a Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

O povo começou e a afluir em quantidade, recebendo graças extraordinárias, entre as quais se conta a de um escravo perseguido por seu senhor e que, rezando a Nossa Senhora Aparecida, viu que suas algemas se partiram.

E seu senhor, que ia puni-lo com grande ferocidade, viu-se desarmado e deu ao escravo a liberdade. Disseram-me que as correntes desse escravo ainda se conservam na sala dos milagres de Nossa Senhora Aparecida.

De lá para cá, a devoção a Nossa Senhora Aparecida se tem generalizado.

O ambiente em Aparecida é de grande afluência de povo pobre e do povo sofredor. E Nossa Senhora Aparecida atendendo e concedendo, continuamente, graças extraordinárias.

Ao mesmo tempo, a devoção a Nossa Senhora Aparecida foi marcando a vida da Igreja.

E no pontificado de São Pio X acabou sendo coroada solenemente Rainha do Brasil, por todo o episcopado nacional, num ato oficial.

E a coroa foi colocada sobre a imagem de acordo com um decreto da Santa Sé, e a Santa Sé autorizou a que Nossa Senhora Aparecida fosse considerada Rainha do Brasil!

Então, essa devoção nascida tão humildemente, acabou fazendo seu caminho, culminando num ato que é um verdadeiro jurídico.

É jurídico pelo emprego do Poder das Chaves! A Santa Sé tem o direito de constituir uma Padroeira. Ela tem o direito de erigir uma realeza que estabelece um vínculo especial de um povo com Nossa Senhora.

E de Nossa Senhora com esse povo! O poder de desligar e ligar na Terra e no Céu que Nosso Senhor concedeu a São Pedro tem esse efeito, entre outros.

Nota do blog:

Na Bolivia, o ditador Evo Morales
presenteia o Papa com foice e martelo em lugar de Cruz
No Terceiro Centenário: O grande ausente

A visita do Papa Francisco no grande aniversário de nossa Mãe comum foi aguardada até o último momento pelo Brasil católico.

Sua descumprida promessa e a recusa de insistentes convites, foi atribuída por alguns à derrocada do PT e amigos.

Nós preferimos implorar empenhadamente para que Nossa Senhora Aparecida que toque seu coração e aja como só Ela, Mãe extremosa, sabe fazer nas circunstâncias complexas.

Nossa Senhora ficou sendo no Céu, advogada e Rainha do Brasil pelo poder das Chaves do Papa, que nessa época era o grande São Pio X.

Nesse ato jurídico nós devemos ver um prenúncio do Reino de Maria.

A partir do momento que Nossa Senhora foi aclamada Rainha do Brasil, ficou juridicamente declarado o Reino de Maria no País.

Para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres, Nossa Senhora tem direitos jurídicos sobre o Brasil ainda maiores do que os que Ela teria se fosse uma rainha temporal, ainda que muito santa.

Por causa disto nós temos uma obrigação especial de cultuar, de dar glória a Nossa Senhora, de espalhar Sua devoção por toda parte, de lutar junto aos outros povos do mundo que não queiram receber o culto de Nossa Senhora.

De fazer, portanto, cruzadas em nome de Nossa Senhora!

É toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil a partir precisamente dessa coroação de Nossa Senhora como nossa Rainha.

Daí decorre que se o Brasil não fosse o pobre país agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria que, para determinados efeitos, a capital verdadeira do Brasil, fosse Aparecida.

Depois de Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, eu não concebo a possibilidade que os grandes atos da vida nacional se façam em outro lugar que não em Aparecida!

Reconstituição do achado milagroso da imagem no Paraíba. Crédito foto Thiago Leon
Reconstituição do achado milagroso da imagem no Paraíba.
Na segunda quinzena de outubro de 1717.
Crédito foto Thiago Leon
A promulgação das leis célebres, a declaração das guerras, os tratados de paz, as grandes solenidades das grandes famílias do país; todas estas coisas, eu só concebo como sendo realizados na Aparecida!

E no momento que tanto se discute sobre o que acontece em Brasília, nós esquecemos o verdadeiro polo.

E o verdadeiro polo é Aparecida.

A verdadeira capital do país, para os grandes efeitos, deveria ser Aparecida. Aí temos bem a perspectiva de como Aparecida deveria ser.

É inútil dizer o contrário. É uma grande baixa de nível, em comparação com considerações desta elevação.

O que seria bonito é a gente imaginar como seria a Basílica de Nossa Senhora Aparecida quando for instaurado o Reino Maria no Brasil.

Que honra, que pompa, que grandeza, que nobreza, que elevação esta basílica deveria ter!

Que grande conjunção de ordens contemplativas deveria se estabelecer ali; que grandes confessores deveriam ir ali para fazer bem às almas; que centros especiais para cursos para intensificação da devoção mariana; enfim, quanta e quanta coisa!

Essas são coisas que não estão no reino dos sonhos! Estão no reino dos ideais!

Para nós, que confiamos na Providência Divina, nós sabemos bem a diferença que há entre um sonho e um ideal.

Para o homem que não confia na Providência, todo ideal não é senão um sonho.

Para o homem que confia na Providência, muita coisa que parece sonho é um ideal realizável!

Eu acho que nós devemos apresentar a Nossa Senhora Aparecida o desejo de que Ela faça realizar estas coisas. De que Ela apresse o dia em que essas coisas se realizarão.

E que a constituição em Aparecida de uma ordem de coisas como deve ser, seja o sintoma e o efeito da remodelação de todas as coisas no Brasil e no mundo para o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”.

É para o triunfo do Coração Imaculado de Maria, que no Brasil se apresenta sob a devoção de Nossa Senhora Aparecida, que nós devemos rezar afincadamente e cheios de confiança de que Ela atenderá nossa oração!



(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra em 5.10.64, sem revisão do autor)


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Pe.Reus: certeza dos fenômenos místicos litúrgicos surpreendentes

Servo de Deus João Batista Reus SJ 16, No quartel, como aspirante a oficial, em 1890. Seu espírito reto era muito afim com o perfil militar
Servo de Deus João Batista Reus SJ,
No quartel, como aspirante a oficial, em 1890.
Seu espírito reto era muito afim com o perfil militar
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior: Pe.Reus e a transverberação, fenômeno místico excepcional



O Pe. Reus, por natureza, não era inclinado para o misticismo ou fenômenos extraordinários sobrenaturais.

Esses, entretanto, começaram a lhe acontecer e até num grau comparável ao dos máximos místicos da Igreja Católica. Ele se inclinava a atribui-los a enganos do demônio, mas todas as tentativas de esclarecimento que ele procurou, confirmaram que eram autenticamente sobrenaturais.

Acrescia que o mau cheiro do progressismo que subverte hoje a liturgia com fenômenos estranhos, enganosamente atribuídos à divindade ou a forças supostamente sobrenaturais já se infiltrava na Igreja como energias divinas resultantes de práticas litúrgicas relativistas ou heterodoxas.

A primeira preocupação do Pe. Reus foi se abrir com as autoridades de sua ordem, a jesuítica. Esta prática apela a um juiz que determinará se são obra ou não do diabo e assim afasta o demônio.

Em 1º de agosto de 1942, o Pe. Reus rendeu contas de consciência ao Pe. Provincial. “Ele aprovou tudo e pediu que continuasse fazendo minhas anotações, como o Provincial anterior, Pe. Leopoldo Arntzan, já havia solicitado. (...)

O juízo dos superiores

O padre Ferdinand Baumann, seu consciencioso biógrafo, que o conhecia pessoalmente, relata o seguinte:

“Todos viram no Padre Reus um homem sério, razoabilíssimo, firme nas suas atitudes, de mentalidade crítica, enérgico, livre de sentimentalismo e exaltação.

“Todos conheciam sua veracidade inabalável e sabiam que se devia dar crédito incondicional ao que dizia.

“Os superiores conheciam suas virtudes heroicas: penitências e mortificações extraordinárias, adorações noturnas, permanente e notório recolhimento e autocontrole. Não poderia ter praticado tudo isso sem ser misticamente agraciado”.

Como prova convincente da autenticidade de suas visões, o Padre Reus declara:

“... não dependem de mim. Sobrevêm frequentemente, em dias comuns, e não nas festas comemorativas (por exemplo Sexta-feira Santa), quando a alma está repleta do mistério do dia. Também não me é possível modificar algo nas visões, circunstâncias mencionadas também por Santa Teresa”.

Por outro lado, o Padre Reus não desejava o extraordinário. Rezava e pedia ao seu Senhor e Deus: “Sabeis que não procuro coisas extraordinárias, admito-as, unicamente, porque Vós mas enviais”. (apud “As visões e êxtases do Padre João Batista Reus”)

“Do dia 8 de julho de 1937 até 16 de agosto de 1941, por ser necessário para as anotações, contei 414 visões, das quais, com exceção talvez de seis, nenhuma foi totalmente igual às outras.” (AeD, vol.4, nº3943)

Esta prática dominou toda sua vida. Mais tarde escreveu que falando com o Pe. Provincial,

“em muitas visões, não há nenhum vestígio de algo impróprio; assim, é impossível uma dúvida fundamentada sobre a autenticidade. O Pe. Provincial esteve de acordo e fundamentou isso argumentando com a Sagrada Escritura” (AeD, vol.4, nº4736)

Acresce que seus fenômenos místicos eram estritamente sobrenaturais. Por isso confessou: “Nunca pelo que sei, vi algo com os olhos do corpo” (AeD, vol.4, nº4739)

E em espírito de humildade, acrescentou: “eu tenho, como parece, uma graça especial: a de distinguir o verdadeiro e o falso” (AeD, vol.4, nº4737)

As certezas que lhe davam os juízos dos superiores, foram um constante conforto espiritual:

“Os superiores aprovam meu comportamento e minhas visões” (AeD, vol.4, nº4741)

 O próprio Jesus Cristo quis premiá-lo pela sua observância das regras litúrgicas


Anjos seguram a coroa de Cristo sobre o Pe. Reus. Desenho do Pe.Reus
Anjos seguram a coroa de Cristo sobre o Pe. Reus.
Desenho do Pe.Reus
Ele conta que quando cumpria 51 anos de Ordenação Sacerdotal, no Credo da Missa “vi dois anjos que seguravam uma coroa sobre mim, a qual pende como condecoração da dignidade sacerdotal” (AeD, vol.4, nº4713)

“Ambos os anjos tomaram do amado Salvador e a ergueram sobre mim até o final da santa Missa. E, então, devolveram a coroa ao amável Salvador.

“Aí eu observei também como o Pai Celestial e o Espírito Santo permaneceram com sua coroa, enquanto o Divino Salvador punha a dele à disposição de seu sacerdote no altar, ...

A coroa é o poder do sacerdote, porém o verdadeiro Senhor dela é Cristo Sumo e Eterno Sacerdote. Ele a compartilha com seus servos escolhidos.

“Ele realmente dá a sua coroa ao sacerdote no altar. Esse amor é sem limites. Infelizmente muitas vezes é desprezado”. (AeD, vol.4, nº4713)

Cristo coroa de espinhos na Missa ao sacerdote que celebra seriamente como o Pe. Reus
Cristo coroa de espinhos na Missa
ao sacerdote que celebra seriamente
como o Pe. Reus
E não somente foi coroado com uma coroa de glória divina, mas simbolicamente com a coroa de espinhos, em contradição com a procura de coroas de sensações que se espalhava nas “experiências litúrgicas” que apareciam subterraneamente na Igreja à procura de um enganoso 'espírito comunitário'.

Em 19 de setembro de 1944 “depois da Consagração, pareceu-me que tivessem colocado a coroa de espinhos sobre mim.

“Vi a coroa de espinhos entre mim e o trono da Santíssima Trindade
; ... vi o Menino Jesus com a cruz à direita da Santíssima Trindade, cercado de santos anjos. (AeD, vol.4, nº4773)







Fonte: “Autobiografia e Diário do Padre Reus”, editora Unisinos – Livraria e Editora Pe. Reus, Porto Alegre, 1999, 5 volumes. Fundamentamos estes posts nos cinco volumes desta autobiografia, que citaremos por brevidade como AeD. Em caso de recorrermos a outra fonte, faremos menção completa dela.