Soror Catarina de Jesus Herrera Campusano OP (1717-1795). Quadro exposto em seu mosteiro. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A Venerável Serva de Deus Soror Catarina Jesus María Herrera Campusano O.P. (1717-1795) nasceu em Guayaquil, Equador, em 22 de agosto de 1717 e faleceu em Quito no dia 29 de setembro de 1795.
Ela foi religiosa do Mosteiro de Santa Catarina de Quito onde ficou célebre por suas virtudes e dons místicos, suas visões e milagres atribuídos.
Entre esses se contam os obtidos mediante o chamado “banco da fertilidade”, que pertenceu à religiosa, e onde as mulheres e os casais que têm problemas de fertilidade, se sentando e rezando invocam a graça desejada: os filhos.
Mas muitos outros ainda pedem por diversos problemas de saúde. O “banco de la fertilidad” é levado à igreja por causa do grande número de devotos. Ver vídeo embaixo.
Ingressou no convento de Santa Catarina de Siena em 1741. Ela escreveu sua autobiografia por ordem do confessor Frei Tomás Corrales, O.P.: Secretos entre el alma y Dios.
O livro é muito apreciado ainda hoje pelo estilo simples, formoso e ameno, rico de recursos literários e idiomáticos. Cfr Herrera Campuzano, Sor Catalina de Jesús (1717-1795).
O “banco de la fertilidad” de Sóror Catarina de Jesus. |
No que se refere ao tema deste blog focado na Aparição e no segredo e La Salette, a Providência quis lhe conceder favores que, de um modo colateral mas muito expressivo, confirmam alguns dos aspectos mais polêmicos da mensagem de La Salette.
Com efeito, La Salette foi muito perseguida e até chegou a ser interditada temporariamente. O motivo alegado para essa hostilidade foi uma denúncia de Nossa Senhora contida no Segredo de La Salette que os 'progressistas' da época achavam forte demais.
Em verdade, eles se sentiram apanhados:
“Os sacerdotes, ministros de meu Filho, pela sua má vida, sua irreverência e impiedade na celebração dos santos mistérios, pelo amor do dinheiro, das honrarias e dos prazeres, tornaram-se cloacas de impureza.
Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho!
A cela de sóror Catarina de Jesus no mosteiro de Quito.
Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança.
E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo.
Não há mais almas generosas, não há mais ninguém digno de oferecer a vítima imaculada ao [Pai] Eterno em favor do mundo”.
A fama da religiosa levou os Correios equatorianos a fazerem um selo em sua memória. |
Dessa maneira, almas de escol que não se conheceram, nem viveram na mesma época, e ainda separadas por uma distância geográfica e cultural colossal, receberam análogas lamentações e advertências.
Uma visão confirma a outra.
Em todos os casos, Nosso Senhor convidou a rezar e expiar para mudar esses vícios que tanto O ferem.
Se La Salette não tivesse sido tão hostilizada e silenciada pelos religiosos que se sentiram aludidos, quiçá a situação da Igreja e do clero seria muito melhor ou, pelo menos, não estaria tão complicada.
Ouçamos a confidente equatoriana de Jesus nos contando o que viu e ouviu:
Fachada da igreja do mosteiro de Santa Catarina em Quito. |
“De toda perdição do mundo são causa os Sacerdotes, Religiosos e Religiosas.
“Os eclesiásticos são causa da perdição das pessoas seculares.
“Na Lei da Graça eu os coloquei como exemplo, para que contivessem os deslizes do século.
“E como por seus maus costumes deixaram que se lhes perdesse totalmente o respeito, já o mundo não faz nenhum caso deles, razão pela qual não é de nenhum proveito o que pregam.
“Se eles vivessem como devem, meu Espírito infundiria por seus lábios fervor nas pessoas do mundo. E daí se seguiria a moderação nos costumes.
“Mas como as pessoas do mundo veem que eles fazem as mesmas coisas que os outros, foi-se introduzindo o hábito de desprezá-los, e fica sem efeito a sua Doutrina.
“Se algum servo meu vem a dizer a verdade, o mundo o ouve com admiração.
“Mas as pessoas muito pouco ou nada aproveitam, porque já estão arraigados os maus costumes, causados pelos demais Religiosos e Eclesiásticos, envelhecidos nos vícios, e que desde muito antes deram os maus exemplos.
“Eles constituem o principal motivo pelo qual meu Braço quer descarregar sua Justiça.
“Outro pecado há, minha filha, nos conventos de Religiosos e Religiosas, que me deixa muito irritado e vai provocando minha Justiça, para que nos conventos Eu não venha a deixar pedra sobre pedra”.
Ignorava eu que pecado fosse esse. E contando isto ao meu confessor, perguntei-lhe do que se tratava. E ele, dando um suspiro, disse: “Ai filha! Para que o queres saber? Pede só a Deus que destrua esse pecado”.
Outras vezes o Senhor me dava a entender: “Este pecado é causa de que pereçam as Ordens Religiosas. E nas Ordens femininas causa-me asco ouvi-las dizerem-se minhas esposas. Isto faz com que Eu não habite nos conventos.
Uma religiosa do mosteiro beija os pés do Cristo das Misericórdias, no claustro do convento. Queira Ele ter pena dos maus sacerdotes e religiosos nesta época tão perturbada. |
“Uma noite Vos pedia, Senhor, que destruísses aquele pecado que me dizias que havia nas Ordens Religiosas e que eu não conhecia […]
“Nesse tempo ouvi como a entrar pela cela um grande Carro que se dirigia em velocidade para o Oratório onde eu estava e ia entrar dentro dele.
“Conhecendo o que vinha dentro do Carro, fiquei horrorizada e me escondi, levando junto os papéis nos quais estavam anotados vossos favores.
“E quando percebi que o Carro estava junto à porta do Oratório, eu Vos disse: “Senhor, detém esse monstro do lado de fora, pois não tenho ânimo para vê-lo”.
“Deteve-se o Carro à porta e não entrou. Entendi que vinha triunfante no Carro aquele horrendo pecado em forma de um grande monstro que não tinha pés nem cabeça, tão horrendo e negro, coberto por uma fumaça espessa. E ao redor do carro serviam a este monstro muitos meninos religiosos (religiositos niños).
“Conheci que o monstro abrigava dentro de si a muitos Religiosos de maior idade e Sacerdotes e também muitas Religiosas, de Ordens de ambos os sexos.
“Conhecendo aqui aquele pecado, que era tão horroroso, feio, sujo e desordenado, foi tanto o meu pavor que eu inteira tremia de horror.
“E sem que ele tivesse chegado até onde eu estava, somente com conhecer que estava do lado de fora, pensei que ia morrer, e Vos dizia: “Basta, Senhor, basta. Tira de junto de mim esta horrenda visão”. E então ele desapareceu”.
(Fonte: Autobiografia de la Venerable Madre Sor Catalina de Jesús Herrera, Edit. Santo Domingo, Quito, 1954, pp. 271/2).
O mosteiro de Santa Catalina, Quito, onde viveu a confidente de Deus: